História Só por uma noite - Capítulo 3

~ Sakura ~
Quando acordei no outro dia parecia que minha cabeça iria explodir, eu estava com a mesma roupa de ontem à noite, porém Naruto havia me colocado na cama e me coberto, eu acho que desmaiei no carro dele. Vamos para festa Sakura você tem que se enturmar. Ta bom, eu poderia ter feito qualquer merda naquela festa desastrosa, menos me enturmar. Que vergonha, estava com vontade de gritar comigo mesma por ser tão idiota, sentei na cama e então... eu gritei. Mas gritei de verdade.
- Aaaaa! Q-qu-em é você!? – falei levantando e então levei outro susto. Primeiro, tinha um cara dormindo na cama de Ino apenas de cueca samba canção, segundo quando pisei no chão eu pisei em Naruto.
- Sakura? Qual o problema? – ele perguntou passando a mão no rosto e sentando. Aparentemente ele havia passado a noite ali, em cima de um tapete com uma de minhas almofadas e um cobertor.
- Quem é aquele cara? E por que você dormiu ai? – perguntei voltando a sentar na cama.
- Estava preocupado com você, e eu bebi um pouco de whisky então apaguei. Aquele é Sai, nosso amigo. Ino empresta a cama para ele de vez em quando, quando ela não dorme aqui. O alojamento feminino é mais próximo do salão de festa.
- E por que ninguém me falou isso antes? – perguntei assustada e então fiz careta sentindo a dor horrível em minha cabeça.
- Elas devem ter esquecido. Você está bem? Acho que deveria tomar um banho. – ele falou levantando e estalando a coluna.
- É eu também acho. Pode... pode deitar na minha cama, durma um pouco. Vou para o banho e depois vou ao mercado comprar algo para o almoço.  – falei procurando alguma coisa para vestir.
- Eu vou aceitar, porque esse tapete não é dos melhores. – eu sorri e ele também. Ele deitou em minha cama e se aconchegou nas cobertas.
- Você deveria ter ido para o seu alojamento. – falei sentando na cama com minhas roupas e toalhas nas mãos.
- E deixar você sozinha garota? Não, nem pensar.
- Mas...
- Sakura, amigos são para essas coisas. – ele disse sorrindo. Eu sorri em resposta e então decidi ir para o meu banho que só não seria gelado porque o dia já estava frio o suficiente.
Quando sai do banheiro, Naruto estava esparramado em minha cama e Sai estava enrolando um cachecol no pescoço.
— Bom dia querida. — ele disse sorrindo. O garoto era muito branco e tinha os cabelos escuros, era magro e um pouco mais alto que eu. — Sou Sai estou na sala da Ino.
— Sakura. Sinto muito pelo escândalo hoje cedo... Eu não sabia quem você era.
— Tudo bem, Ino aquela tonta deveria ter te avisado. — ele disse enquanto calçava um all star cheio de lantejoulas, eu tive que me segurar para não rir. Eu calcei minhas botas e vesti um casaco grosso, se o quarto já estava frio, lá fora deveria estar pior. — Você quer uma carona até o mercado? — ele perguntou bocejando.
— Ah sim. Eu nem sei onde fica. — falei sorrindo e ele riu também. Dei uma última olhada em Naruto e então saímos do quarto em direção a um dia extremamente gelado.
— Menina que frio horrível. — Sai falou enquanto caminhavamos pela calçada, eu apertei o casaco contra o peito e soprei minhas mãos para aliviar o frio.
— Em Suna o outono nunca é tão frio assim. Mas eu até gosto desse clima. – respondi sorrindo.
— Você veio de Suna? — ele questionou. Eu assenti. — Eu queria tanto morar lá... Adoooro o litoral. — eu sorri e então Sai pegou seu celular prendendo sua atenção a ele. Depois de um tempo em silêncio ele se pronunciou — Então você é a nova garota do Uzumaki? — e eu preferiria que ele tivesse ficado quieto, mas respirei fundo, estávamos a duas quadras do alojamento e eu já conseguia ver o mercado dali.
— Não, Sai. Somos só... amigos. — ele tirou os olhos do celular e me encarou.
— E ele já estava na sua cama? — ele levantou uma sobrancelha com uma expressão curiosa.
— Mas não dormimos juntos, você viu. Ele ficou lá porque eu estava realmente mal.
— Nunca vi o Naruto fazer isso por uma menina... Você deve ser especial. — ele disse sorrindo enquanto parávamos em frente ao mercado. — De qualquer maneira, se precisar de conselhos amorosos eu sou melhor nisso do que Ino, ok querida? — ele disse mandando um beijo e já voltando a caminhar eu acenei e entrei no mercado tentando entender porque todo mundo achava que eu era tão "especial". Eu não tinha muito dinheiro e também não estava nada a fim de usar a cozinha do alojamento, então depois de um tempo para localizar o lugar dos alimentos peguei coisas práticas, paguei e voltei a passos rápidos porque eu não queria congelar.
~ Naruto ~
Acordei sentindo uma dor terrível de cabeça, mas de certa forma já estava acostumado com essa sensação chata de ressaca. Sentei nos lençóis macios de Sakura e percebi que nem ela nem Sai estavam mais ali, então lembrei de tê-la ouvido falar sobre ir ao mercado. Espreguice-me na cama e levantei devagar indo até as portas do armário que pertencia a Karin, eu precisava de um banho, e sabia que tinha uma toalha reserva ali para os dias em que eu deixava o quarto livre para ela e Sasuke. Tirei minha roupa e deixei sobre a cama para não correr o risco de molhar no banheiro e fui em direção a ele.
Deixei a água quente escorrer pelo meu corpo para tentar tirar aquele cheiro horrível de álcool, eu estava lavando meu exterior, mas sabia que por dentro continuava podre. Isso nunca mudaria, minha vida, minha história, eu, nada disso nunca mudaria. Passei as mãos pelos cabelos e então a lembrança de Sakura dançando voltou em minha mente, seu corpo mexendo com perfeição, seus olhos verdes me chamando, provocando. Droga, eu não poderia fazer isso, ela não era como as outras mulheres com quem eu já havia ido para cama, Sakura era linda, inteligente também, mas era outra coisa que me fazia ter certeza de que ela era diferente, a tristeza que ela tentava disfarçar, mas que eu enxergava muito bem no fundo dos seus olhos.  Sakura sabia bem o que era dor, de alguma forma eu tinha certeza disso. Eu cuidaria dela, protegeria, mas não poderia passar disso, eu não queria vê-la sofrer e queria ainda menos ser a causa disso tudo.  Lavei rápido meu corpo e cabelos, havia perdido tempo demais divagando e Sakura poderia chegar a qualquer momento o quê não seria bom, considerando que toda minha roupa estava do lado de fora. Sequei um pouco meu corpo e meus cabelos e enrolei a toalha na cintura, sai do banheiro, mas acho que fiquei lá mais tempo do que eu havia imaginado. Sakura já estava ali parada olhando para mim com os olhos arregalados.
- Baka! – ela disse e então juntou todas as minhas roupas e jogou contra mim. Eu apenas sorri do nervosismo dela. – Por que não levou a roupa para o banheiro?
- Eu poderia derrubar no chão, ensopar tudo e então teria que ficar pelado. – falei para provoca-la. Ela me encarou com raiva e de repente sua expressão mudou, e seus olhos fixaram-se em meu braço direito e meu peito. – O que foi?
- Eu posso? – ela perguntou apontando para minhas tatuagens. Aqueles desenhos estavam ali há tanto tempo que eu às vezes esquecia-me deles. Assenti e Sakura caminhou devagar até parar em minha frente. Seus dedos magros e pálidos tocaram minha pele e eu senti todo meu corpo arrepiar. Ela percorreu todo o contorno dos símbolos Maori que se estendiam da parte superior do meu braço até o peito, seus dedos passavam pelo desenho como se ela o estivesse refazendo, quando terminou seus olhos passaram para o meu braço esquerdo, ela puxou minha mão e ergueu o braço enquanto inclinava a cabeça para conseguir ler a frase que circundava um pouco abaixo do meu cotovelo.  – I am the architect of my own destiny. – ela leu, enquanto seus dedos passavam outra vez pelo contorno. – Que poético. Você gosta de ler? – ela questionou me encarando intrigada.
- Gosto. Mas isso tem mais a ver com minha vida mesmo. E faz sentindo considerando que...
- Você faz arquitetura. – ela terminou a frase. Sorri em resposta concordando. – Mais alguma?
- Tenho. Mas tem certeza de que quer ver? – perguntei sorrindo travesso para provocá-la outra vez. Então comecei a virar de costas para ela e vi seu olhar assustado. – Olha a panturrilha, sua tonta. – ela me lançou aquele seu olhar maligno, mas então encarou a rosa dos ventos com uma bússola no centro, toda sombreada. Seus olhos estavam vidros em minha perna. – Pode tocar Sakura. – ela titubeou, mas então ficou de “croque” e seus dedos começaram a percorrer o último desenho do meu corpo.
- É linda, os traços são perfeitos. – ela falou sorrindo.
- Por que parece que está tão surpresa? Nunca tinha visto uma tatuagem antes? – perguntei enquanto ela se levantava.
- É claro que já vi, baka. – ela falou ajeitando uma tiara em seus cabelos. – Em Suna não existem muitos tatuadores, e provavelmente nenhum desenha dessa maneira, mas claro que já vi. Tenho uma certa adoração por elas, por isso fiquei assim, gostaria de aprender a fazer. – ela respondeu pensativa.
- Você tem alguma? – ela negou com a cabeça. – Mas por quê? Já que gosta tanto... Deveria fazer.
- É difícil responder o porquê, e também acho que eu demoraria um bocado para escolher uma, e além de que eu gostaria de... Bom...
- Gostaria de tatuar a si mesma não é? – adivinhei, seus olhos me encararam surpresos. – Você é uma artista Sakura, não seria fácil para você aceitar alguém desenhando em sua pele não é? Eu entendo, seria a mesma coisa que eu pedir para alguém fazer o projeto da minha casa. – sorri e ela sorriu também.
- Vá se trocar, eu trouxe comida. – ela disse virando-se de costas, eu peguei minhas roupas no chão e voltei para o banheiro com aquele formigamento na pele, e rezando para que Sakura não tivesse percebido nada por fora de minha toalha.
~ Sakura ~
Pela aparência de bad boy de Naruto eu já deveria ter imaginado que ele teria algumas tatuagens, mas vê-lo ali daquela maneira foi extremamente diferente. Apenas de toalha com os cabelos e o corpo ainda úmidos, todos os traços incluindo os desenhos em seu corpo, eram perfeitos, senti-me tentada a dizer “Por favor, sente-se ai que agora vou fazer um quadro com sua imagem maravilhosa.” Mas, isso seria extremamente ridículo, eu não posso estragar as coisas pensando dessa forma em Naruto, eu nunca vou conseguir encontrar um amigo como ele, então eu tenho que lutar para não perde-lo, principalmente porque estou cansada de perder as coisas.
- Prontinho. – ele diz saindo do banheiro, está com a mesma roupa de ontem e o sorriso travesso de sempre.
- Ótimo, melhor assim.
- Tem certeza? – ele brinca aproximando-se demais. – Podemos tirar tudo rapidinho se você quiser. – ele me prensa contra a cômoda e chega mais perto, então desvia o rosto e sua mão pega um pão em cima da mesa improvisada que eu havia feito na parte superior da minha cômoda.
- Pare de fazer essas brincadeiras tolas Naruto-baka. – falo empurrando-o de leve para trás.
- Se eu parar que graça vai ter? – ele diz sorrindo e então começa a preparar um sanduiche, ou quase isso, porque eu só havia comprado pão, queijo, presunto e uma caixa de achocolatado. Depois que ele termina o seu, preparo o meu pão e pego um copo de achocolatado e me sento ao lado dele na cama. – Onde está o controle? – ele pergunta olhando para a Tv na parede oposta a minha cama, eu pego o controle em cima da cômoda e a ligo. Está passando Bob esponja e eu não mudo de canal pois, pelo que já sei sobre esse cara, ele deve amar desenhos. Quando ele termina de comer, arremessa o copo descartável na lata de lixo ao lado da cama de Ino, depois deita ao meu lado e enrosca suas pernas nas minhas, eu o olho desconfiada, mas ele parece uma criança se aninhando em alguém mais velho. – Termine logo esse pão garota, e eu vou te levar para almoçar de verdade.
- Naruto eu acabei de chegar, não estou esbanjando dinheiro e preciso de um emprego.
- Não quero saber dos seus problemas de vida, vamos resolver isso depois. Preocupe-se em comer esse sanduiche e então nós vamos almoçar.
- Naruto eu não...
- Eu não estou pedindo. – ele retruca me encarando e então sua atenção volta para o Bob esponja, eu respiro fundo e volto a comer meu pão. Naruto é o cara mais estranho que já conheci, mas de alguma maneira eu também sei que ele é o melhor.