História Só por uma noite - Capítulo 5

~ Sakura ~
Tudo começou com uma portada na cara, isso soa terrivelmente mal, mas é a verdade. Desde o primeiro dia, mesmo Naruto sendo um chato arrogante, eu não conseguia ficar longe dele. Já havia se passado um mês desde que cheguei a Konoha, Karin e Ino me ajudam em tudo, desde a encontrar uma farmácia até a loja mais cara da cidade (a qual eu nunca vou frequentar). Depois do fim de semana da festa dos calouros, Ino e Shikamaru começaram a sair e agora parece que estão evoluindo para um namoro. Ele é um cara legal mas bem fechado, o que me deixa curiosa em saber como os dois puderam ficar juntos. Shikamaru cursa sistemas e ele é simplesmente um gênio, Ino é a melhor quando o assunto é combinar roupas, acessórios e sapatos ou quando tem que criar um look novo, como esses dois podem funcionar juntos eu realmente não entendo, mas ao que parece estão indo bem. Karin e Sasuke não assumem nada, mas todos sabem que eles “ficam” para não usar um termo chulo, Sai e eu saímos muito nesses últimos dias, ele é um cara super legal e sempre me faz sorrir. Estou me acostumando a essa nova vida, mas a velha ainda me assombra as vezes, principalmente quando estou sozinha. Quanto a  Naruto,  eu o vejo nas aulas e sempre estamos com o pessoal no refeitório, nos domingos ele hiberna no meu quarto e há uma semana ele conseguiu um emprego para mim em uma pequena livraria dentro do campus, é simplesmente maravilhoso trabalhar lá. Algo que tem me atormentado é o que Naruto faz nos sábados ou quando some como no dia que fomos na hamburgueria. Nós estávamos almoçando juntos no último sábado e ele recebeu uma mensagem e então disse que tinha que ir e me abandonou no restaurante, isso não tem importância porque Naruto é assim mesmo, mas minha curiosidade está me matando. E desde então, estou tentando descobrir o que ele apronta.
- Qual é gente? Eu sei sou novata ainda, vocês já andam juntos ou ao menos se conhecem há dois anos, mas por que não podem me falar sobre isso? Não é como se Naruto fosse um traficante ou um corredor de rachas clandestino. – falei revirando os olhos. Shikamaru, Ino, Karin, Sasuke e Sai estavam sentados comigo no refeitório, uma chuva torrencial caia lá fora e não teríamos as ultimas aulas, Naruto não havia aparecido e eu estava tentando tirar informação deles. Quando terminei de falar todos se entreolharam e eu achei aquilo muito estranho. – Ei pessoal, vocês estão me assustando. Não me digam que Naruto está mesmo envolvido com drogas... – falei assustada.
- Não Sakurinha. – Sai respondeu preocupado. – Gente eu vou falar para ela. – Sasuke o olhou de cara feia. – Qual é Sasuke rei das trevas? Se o Naruto quiser depois que acerte as contas comigo. – Sai disse apontando para o peito, Sasuke o encarou com raiva mas não disse nada. – Você merece saber de tudo princesa rosa. – revirei os olhos para o apelido tosco, aparentemente Sai tinha esse “dom” de apelidar as pessoas das coisas mais ridículas. – Você estava certa com a segunda opção. – ele disse tocando minhas mãos e piscando seus cílios negros freneticamente.
- O quê foi que eu disse mesmo? – falei franzindo o cenho. Ino olhou ao redor falou um pouco baixo.
- Piloto de corrida. Naruto corre em rachas, todo sábado a noite e de vez em quando surge algo em outros dias ou horários... – ela disse respirando fundo e me encarando. Sai apertou mais minhas mãos como para evitar que eu tivesse um treco ali na frente de todo mundo, Ino colocou uma das mãos em meu ombro e apertou de leve. Parecia que todo mundo ali tinha pena de mim, como se eu tivesse sido traída ou algo do tipo.
- Não me olhem com essas caras, eu só estava curiosa. – falei, mas não pude deixar de sentir uma dor tremenda em meu peito. Naruto estava tentando esconder as coisas ruins de sua vida de mim, e isso me deixou muito irritada. – Estou indo para o alojamento, obrigada pelas informações pessoal. – falei já levantando, coloquei a mala nas costas e sai em direção a porta.
- Sakura espera! – Ino gritou e chegou até mim. – Não fique chateada, ele deve gostar de você por isso não contou.
- Não, não tente amenizar a situação Ino. Eu e ele somos amigos, e ele não confia em mim. É apenas isso.
- Sakura não o culpe. Se você soubesse como...
- Pois é Ino, se eu soubesse. Até depois, estou indo.  – virei as costas e sai do refeitório, necessitando urgentemente de minha cama.
Minha cabeça estava a mil, pensamentos horríveis passavam por ela, e se Naruto fosse como ele? Não, independente do que Naruto fizesse jamais seria como ele. Sai do campus sentindo a chuva gelada e forte em minha cabeça, corri pelo estacionamento a fim de pegar um caminho mais curto para chegar ao alojamento, mas algo me deteve. Naruto. Ele estava parado encostado em uma parede próximo a entrada do alojamento masculino, a pequena cobertura não impedia totalmente que ele se molhasse, estava fumando um cigarro e ao seu lado uma menina de cabelos platinados e baixinha (que me parecia familiar) gritava com ele, mas ele não parecia prestar atenção. Seus olhos estavam fixos no chão e na água que escorria por ele. Eu paralisei feito uma idiota, no meio do estacionamento e em meio aquela chuva toda. A menina parou de gritar, bufou e então o empurrou com força o que pareceu despertá-lo. Ele olhou para frente e me enxergou, seus olhos arregalaram e o cigarro caiu da sua boca, eu tentei me mover mas meus pés pareciam fixos no chão. Então ouvi uma buzina e olhei para o lado sentindo os faróis do carro praticamente me cegarem, o motorista tentava frear, mas o carro continuava deslizando no chão liso, e minhas pernas não se moviam. Então senti como se alguém pegasse e me jogasse para o alto, depois o impacto do meu corpo contra o chão e alguma coisa pesada em cima de mim. Abri os olhos lentamente e o peso havia desaparecido, na verdade só sentia o meu próprio e o das minhas roupas encharcadas.
- Perdoe-me eu não consegui frear a tempo. – uma voz rouca e preocupada falou. Ele pegou em minhas costas me ajudando a sentar no chão frio e molhado. – Você está bem? – ele perguntou, eu não conhecia sua voz, e quando seu rosto ficou nítido aos meus olhos eu também não o reconheci.
- Uh-hum. – Esfreguei meus olhos e minha cabeça e então olhei para o lado. Naruto estava ali ofegante e me encarando.
- O que pensa que estava fazendo? – ele perguntou rude. Eu apenas abaixei o rosto. – Você poderia ter se machucado feio ou até... Merda, onde você anda com a cabeça? – essa era uma boa pergunta com certeza, mas eu não responderia nenhuma delas.
- Cala boca Uzumaki. – o outro rapaz disse, eu encarei-o assustada. Não sabia como ele tinha coragem para mandar Naruto calar a boca. Então ele pegou em meu braço me ajudando a ficar em pé, eu tirei o cabelo do rosto e olhei para ele, era ruivo, e seus olhos eram azuis mas quase pareciam transparentes. Usava uma jaqueta de couro marrom, botas da mesma cor e calças pretas. Ele era bonito, muito bonito. Mas sua voz me assustava, e eu agora estava pressentindo que isso daria merda. Ele aproximou-se mais de mim e levantou meu rosto pelo queixo, olhando nos meus olhos. — Tem certeza que está bem mesmo? Posso te levar ao pronto socorro se quiser.
— Ela já disse que está bem. — Naruto falou rude colocando-se entre nós dois e segurando a mão do rapaz com força.
— Eu não falei com você, Uzumaki. — ele retrucou com desprezo e puxou a mão obrigando Naruto a solta-lo.
— Me desculpem, eu estava distraída, a culpa foi toda minha. — falei saindo de trás de Naruto, mas ele segurou meu corpo com um braço e me empurrou para trás de novo. — Pare com isso Naruto! Obrigada por me salvar, mas esse cara não vai me matar, pode me soltar já! — falei me exaltando. Notei seu sorriso irônico.
— Foi um acidente Uzumaki. Está escuro e chovendo, eu não a vi. — ele tinha razão, mesmo com a luz do estacionamento e os faróis do carro era difícil de enxergar em meio àquela noite chuvosa.
— Claro Gaara, como se eu acreditasse em você. — Naruto respondeu cerrando os punhos, eu o puxei pelo braço fazendo-o virar para mim.
— Chega. Pare de brigar com ele. — ele semicerrou os olhos me encarando intrigado. Suas mãos relaxaram e ele entrelaçou seus dedos nos meus.
— Vou te levar para o alojamento. — ele disse começando a caminhar e me puxando com ele. Fiquei atônita e não sabia o que fazer, encarei o garoto ruivo que Naruto chamara de Gaara e mumurei um Desculpe, ele assentiu e sorriu e pude ler em seus lábios "A gente se vê." Então virei para frente e comecei a caminhar ao lado de Naruto. Atravessamos o estacionamento até chegar ao carro dele. Ele abriu as portas do carro e eu fiquei parada do lado de fora, ele empurrou a porta do carona para abri-la, mas eu não entrei.
— Entre logo Sakura, você vai pegar uma pneumonia. — ele disse me encarando de dentro do carro. Eu olhei para ele, apertei a blusa encharcada contra o corpo e voltei a caminhar em direção a rua que levava ao alojamento feminino. — Sakura! — ouvi ele gritar atrás de mim, mas não dei o braço a torcer comecei a caminhar mais rápido. Então ele puxou minha mala para trás quase me fazendo cair. — Qual é o seu problema garota?
— Qual é o meu problema? Cale a boca idiota! Estamos almoçando juntos, vendo filmes juntos, estudando juntos, até escovando os dentes juntos! E você não confia em mim! — soltei tudo de uma vez.
— Sakura o que você...
— Eu descobri ok? Foi realmente difícil porque seus amigos são leais, mas eu pensei que também fosse sua amiga. — ele franziu o cenho e então compreendeu.
— As corridas, é isso? — É isso? Ele falava como se não fosse nada demais. Revirei os olhos incrédula. — Sakura tem muita coisa que eu ainda não contei, sobre minha família, sobre eu mesmo. Mas é complicado...
— É complicado? Você não confia em mim!
— E você confia? Nunca me contou nada sobre sua vida, sobre sua história! Somos dois idiotas tentando deixar as coisas ruins de lado e enganando-se com as boas, mas uma hora isso iria acontecer.
— Eu não... Eu... — abaixei a cabeça derrotada. Ele tinha razão, como na maioria das vezes. Senti seus braços me envolvendo em um abraço caloroso, então ele me levantou do chão e me pegou no colo, eu fiquei em silêncio deixando ele me levar embora, senti minha bochechas molhadas, mas a chuva já havia parado, eu estava chorando, de novo. — Fraca. — sussurrei.
— Fique quieta sua boba, você é muito mais forte do que imagina. — sorri de leve e enlacei meus braços em seu pescoço, fechei os olhos e mais uma vez em minha vida desejei nunca mais ter que abri-los.