Você deve se perguntar: o que esta história infantil pudera render? O que teria um boneco de madeira a falar? E se eu te disser que sei amar?
"Mas nem todos te entenderiam meu filho", já dizia meu querido pai e criador. Ele me conhecia por alma, ou melhor, por cada peça em meu corpo. Também me protegera dos cupins e do tempo. Pudera eu fazer o mesmo. Perdê-lo tornou-se o fim do meu frágil coração de madeira. Ele não está aqui para me consertar desta vez.
Enterro de pai.
Cemitério local. 16h00m.
Durante o enterro, Pinóquio fora posto para declarar as suas últimas palavras. Cabisbaixo, engole seco o seu choro e aceita.
Com certa repulsa, ele se encaminha para o lado do caixão, onde agora reside seu pai em estado mórbido.
-Hum... O que pudera um coração de madeira dizer? Como faria um ser não humano, humanizar a fala? Eu o perdi. Saibam que a dor é sentida... e...
- COM UM FILHO COMO VOCÊ, ATÉ EU MORRERIA! NEM SE FAÇA DE VÍTIMA, NÓS SABEMOS!
Gritou um homem que para Pinóquio não passava de um desconhecido.
E Pinóquio, mesmo sem coração, chegou a tremer.
Todos aguardavam uma réplica ou talvez uma negação. Pinóquio não o fez.
Ele já perdera quem mais amavava... o que poderia doer mais?
Pinóquio tinha mil respostas na ponta da língua, mas permanecera calado. Ali não era o local para isto. O seu velhote não merecia tal desrespeito.
Pinóquio insiste em continuar.
- Continuando... o meu coração era compreendido e aceito por ele. O mesmo me ensinou que sonhar e amar são coisas livres. Amá-lo é ter o poder de sentir liberdade em cada parte de minha madeira. Faz meu tronco PULSAR.
Todos estavam sentidos com tais palavras de Pinóquio... ninguém imaginara que dentro da madeira resistia um coração majestoso. Mas esta é a realidade, certo? Olhe ao seu redor.
- O irônico é que o mesmo material que me forma, está o levando de mim. Tal caixa de madeira... eu faria tudo para lhe trazer de volta.
As suas últimas palavras me impedem de desistir, de me permitir a desintegrar. Tais palavras não deveriam ter tal poder.
"Pinóquio... nunca desista. Pois se eu tivesse feito, não teria encontrado o meu motivo para viver. Você."
Ele me fizera totalmente feliz. O meu jeito de ser feliz. É isto que quero passar para cada um que se encontra aqui. Não desistam. Jamais.
E quando tudo não fizer sentido, não existir razões para continuar... Não desista.
E com o seu rosto escorregadio, inchado e vermelho pálido, Pinóquio descera da cadeira e partiu em direção ao caixão de seu pai.
- Obrigado por tudo. Nunca desista.
Descera uma lágrima, o tempo parara. Mas a dor, a infeliz, continuara.
Pinóquio se ajoelha, beija a caixa de madeira e diz adeus com os olhos. Olhar de quem não tinha mais um lar.
3 anos após o enterro.
Dias atuais.
Tac... tac... tac...
Pov: Rosalinda
Pov: Pinóquio
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