História Só talvez. - Hidden

/ Oculto /

◤que está escondido, encoberto. Ignorados aos olhos de quem se recusa a ver.◥

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Olhei mais uma vez para o relógio em meu pulso e, assim como todos os que estavam comigo, suspirei. Há exatamente meia hora atrás, Louis havia mandado uma mensagem avisando que já estariam chegando. O tempo se passou, a música acabou, a bebida esfriou e eles ainda não chegaram. Emy está assustada, nem Louis ou Matthew atendiam seus telefones, por mais que chamasse. Estranhamente, a possível namorada de Matthew estava aqui. Loira, olhos claros e com um sorriso que chegava a ser irritante. Por apenas um momento, cheguei a ficar feliz pelos rapazes estarem demorando, só assim a loira parou de sorrir.

Estranhei, não era a irmã do Steve e muito menos a mulher que ele estava no pub no outro dia. Matthew trocava mais de namorada do que trocava de roupa.

"Minha boca já está ficando seca", "minha maquiagem já está estragando", " É bom que ele realmente tenha sofrido um acidente, apenas isso para eu desculpar ele!", isso era apenas o pouco das diversas frases que a namorada de Matthew fala a cada cinco minutos. Angie, era como ela gostava de ser chamada, por mais que seu nome verdadeiro fosse Candace, o que definitivamente não tinha nada a ver com o seu apelido.

—Talvez devêssemos procurar eles? — Emy perguntou, talvez um pouco inquieta. Não, ela estava realmente inquieta, era a terceira vez que ela perguntava isso.

—Vamos esperar mais um pouco. Uma hora eles vão ter que aparecer — respondi preocupado.

Aurora, que estava ao meu lado, passou a mão pela minha perna, em um gesto confortante, sorrindo fraco para mim. Suspirei novamente, me encostando no sofá. Havia uma quantidade boa de pessoas na sala, nem muita e nem pouco, apenas a quantidade exata para não deixar o clima desagradável. Aurora, Emy, uns três colegas de Matthew, Candace, vulgo Angie e eu.

Uma das colegas de Matthew usava um batom vermelho, isso me incomodava.

Ouvimos então alguns passos firmes vindo do corredor, e, após o que pareceu ser uma eternidade, as vocês de Louis e Matthew foram escutadas. Todos se levantaram as pressas, mesmo que preocupados, seguraram os lança confetes e esperaram, até a maçaneta da porta girar e ela se abrir. Matthew foi o primeiro a aparecer. Deu alguns passos para trás, assustado, após ouvir o estouro baixo do lança confetes. Sorri, exclamando em alto som um parabéns para Matthew, que olhava tudo surpreso. Ele sorriu, passando a mão pelo curto cabelo, enquanto recebia um forte abraço da Candace. Foi então que mais alguns passos fortes foram ouvidos. Olhei então para Emy, a única que havia ficado parada desde que eles chegaram, que andava rápido até a porta, empurrando Matthew, para assim poder dar um forte tapa no rosto de Louis, que se encontrava ainda no corredor.

Assim como todos, fiquei surpreso. Aurora me olhou, tão surpresa quanto eu, como se perguntasse o que estava acontecendo.

—Onde diabos você estava, Louis?! — Emy exclamou alto.

Louis apenas a olhava confuso.

—Você tem ideia do quanto nós estávamos preocupados?! — exclamou mais uma vez. Emy amenizou sua expressão, parecendo triste. Seus olhos estavam levemente lagrimejados e ela o olhava irritada — Você fez de propósito, não foi?

—Emy, o que você... — Louis falou mas logo parou, parecendo lembrar de algo — Não é nada disso, Emy...

—Isso não foi engraçado, Louis — ela falou, empurrando ele para o lado, andando a passos rápidos pelo corredor, saindo da nossa vista.

Louis xingou baixo e pediu desculpas, se afastando de nós. De repente o clima parecia ter ficado pesado, todos olhavam hesitantes, até mesmo Candace. Matthew entro no apartamento, fechando a porta atrás de si. Olhou tudo surpreso, tentando quebrar a tensão do local.

—Uou... Eu realmente não esperava por isso — falou sem graça — Até por que meu aniversário é só amanhã...

Foi exatamente o que eu pensei!

—Mas se fizéssemos amanhã ficaria muito óbvio! — Candace esclareceu, o beijando em seguida.

Sorri, vendo Aurora fazer uma expressão de nojo.

—O que aconteceu? — perguntei, fazendo a pergunta que todos queriam a resposta.

—A avó da Aurora, foi isso que aconteceu — Matthew explicou, suspirando cansado.

—Como assim? — Aurora perguntou nervosa e confusa.

—Louis passou a tarde toda me incomodando, até que ele falou com alguém pelo celular e disse que tínhamos que vir até a casa do Harry. Foi então que encontramos a sua avó — explicou, olhando para a garota de nome bonito ao meu lado — Estávamos perto de um supermercado que ficava à uns nove quarteirões daqui. Ela nos parou e pediu ajuda para levarmos as compras dela para a casa.

—Deus... — Aurora murmurou, fechando os olhos.

—Estávamos a pé... — Matthew murmurou baixo, parecendo se lembrar do triste ocorrido.

Após outra ligeira conversa, finalmente começamos a cortar o bolo. E, depois de alguns minutos, tudo parecia estar normal. Aurora estava conversando com a garota de batom vermelho e Matthew parecia estar em um "bom momento" com Candace.
Peguei meu celular, tentando ligar para Louis. Não deu dois toques, Louis atendeu antes.

—Emy?! — Louis exclamou.

—Ahn... não — falei confuso.

—Droga...

—Você tem meu contato, porque achou que fosse ela? — perguntei.

—Onde ela está?... — respondeu, parecendo ignorar minha pergunta.

—Pode me explicar o que aconteceu? — perguntei novamente — Não acho que Emy iria dar uma dessas a toa.

—Claro que não... Isso é culpa minha — respondeu, suspirando — Tivemos uma discussão pela manhã e eu acabei dizendo algumas coisas ruins para ela.

—Oh, entendi... — murmurei — Bem, se precisar de ajuda em algo pode contar comigo.

—Certo, certo obrigada.

Encerrei a chamada e coloquei novamente o celular no meu bolso, respirando fundo. Minha vida havia mudado bastante, não apenas em relação à Aurora, mas também a todos em minha volta. Isso é algo que venho pensando bastante ultimamente, e parece nunca ser algo simples. 

Comecei a confiar nas pessoas com mais facilidade, e não tenho certeza se isso é algo bom ou não. Então penso na causa de tudo e apenas Aurora me vem a mente. Emy, Louis e outras pessoas e acontecimentos vieram a partir do momento que conversei melhor com ela. Era estranho pensar nisso agora, já que antes eu apenas tinha desejos sexuais por ela. 

Olhei para ela, no outro lado da sala, que sorria divertida enquanto conversava com outras pessoas. Agora não olhava mais apenas para o seu corpo, mas sim também para suas expressões, seu sorriso, seu olhar, para cada detalhe seu. Sua personalidade forte, seu jeito tímido e ao mesmo tempo tão sincero, sua imagem de mulher inocente que secretamente lê livros eróticos, tudo nela me deixava fascinado. 
Ela virou seu rosto para mim e sorriu assim que percebeu que eu já a olhava. Sorri de volta, fazendo um gesto com a mão, pedindo para que ela se aproximasse. Vi ela falar algo para as pessoas com quem conversava e caminhar em minha direção, me olhando com o rosto inclinado. Assim que seu corpo se aproximou do meu, abri meus braços e a apertei contra mim, revirando os olhos mentalmente por estar sendo tão emotivo.

—Qual o problema? — Aurora murmurou baixo, passando seus braços pelas minhas costas.

—Nada, apenas estou sentimental demais — respondi. Era complicado abraçar Aurora, pois sua altura não ajudava muito, apenas o suficiente para eu não ter que dobrar minha coluna para beijá-la.

Assim que separei meus lábios dos seus, ouvi um pigarrear vindo do nosso lado. Olhei e vi Matthew, que nos olhava com uma expressão divertida, segurando um copo com bitter.

—Não quero esse tipo de coisa numa festa minha — falou sorrindo.

—Ah, claro, fala o cara que quase estava comendo a namorada no sofá — respondi, revirando os olhos, fazendo ele bufar.

— Não queria ter que cobrar esse tipo de coisa, mas estou realmente ansioso — falou e logo eu me toquei do que se tratava.

—Oh, sim, eu trouxe — falei, me afastando de Aurora, pegando um pequeno papel no meu bolso — Está marcado para o dia 23 até o dia 1.

—Não está falando sério — Matthew murmurou surpreso, pegando o pequeno papel em minhas mãos.

—O que é isso, afinal? — Aurora perguntou.

—Bem, digamos que seu namorado me arrumou um dos convites para o melhor lugar do mundo — Matthew falou com falsa modéstia.

Sorri balançando a cabeça negativamente, puxando Aurora novamente para perto de mim.

—É uma entrada para um cruzeiro que vai ter durante o natal e o ano novo — olhei-a.

—E o que tem de mais nisso? — Aurora perguntou confuso. Céus, eu realmente não gostaria de explicar isso a ela.

—Não é um simples cruzeiro — Matthew interviu, antes que eu pudesse falar algo — Durante 10 dias estarei num cruzeiro repleto de mulheres que estarão dispostas a fazer tudo o que eu quiser. 

—O-o que? — ela perguntou chocada.

—Eu estava querendo isso há um tempo, mas não estava conseguindo arranjar um. Agora eu o tenho, graças ao Harold — sorriu, mandando-me uma piscada de olho.

—E a Candace? Você namora, não é? — Aurora perguntou novamente.

—Oh, irei terminar com ela está noite — respondeu com desdém — Bem, tenho algumas coisas para fazer, se divertam. 

Matthew se aproximou de mim, dando-me alguns tapinhas no ombros, sussurrando baixo "Mas não muito" antes de sair.

—Isso é realmente algo inacreditável — Aurora murmurou após Matt se afastar.

—É, ele é um bom amigo, mas é realmente terrível com as mulheres — concordei.

Passamos alguns minutos em silêncio, apenas  olhando o local. Lá fora estava escuro, o céu parecia estar limpo e da visão da janela não era possível ver a lua. Ainda neva e apenas tende a piorar com a aproximação do natal.

A garota de batom vermelho me encarava.

Voltei meu olhar para a garota em meus braços, que já me encarava com um pequeno sorriso no rosto. Franzi as sobrancelhas, sorrindo confuso para ela.

—Podemos ir amanhã comprar as coisas para a ceia — Aurora falou, encostando sua cabeça no meu peito, coberto pela fina camisa social.

—Sim, seria bom... — concordei, passando minhas mãos pelas suas costas.

Pude ouvir Aurora suspirar baixo, apertando mais seu abraço contra mim, enquanto nosso corpo balança de maneira lenta, seguindo a melodia do baixo som que ainda saía da TV.

Sorrindo divertido, desci minha mão pelas suas costas, trazendo-a até a sua cintura. 

—Hmm... — cantarolei assim que minha mão tocou a macia parte abaixo da sua cintura.

Aurora rapidamente afastou minha mão, me olhando incrédula. Sorri, piscando o olho para ela.

—Por Deus, Harry... — murmurou, balançando sua cabeça negativamente.

Segurei sua mão e a puxei para trás do balcão da cozinha, onde ficavam os copos e as bebidas. Coloquei um pouco de gim tônica para nós em copos, entregando um para Aurora, que agora estava sentada em uma das cadeiras do balcão, e ficando com o outro.

Foi então que ela entrou na cozinha. Lembrei de sua silhueta. A garota do meu sonho. Seus lábios vermelhos, seu rosto desfocado, sua voz fraca e suplicante. Ela estava aqui de novo e continuava a me olhar. Céus, eu odiava seu batom vermelho.