História Só talvez. - Devils.

/Demônios/

◤Utilizado, aqui, para referir-se à problemas, pensamentos, sentimentos e sensações ruins.◥

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Suspirei apoiando minha cabeça em minhas mãos entre minhas pernas. Estava sentado em um banco na praça que havia perto do apartamento que eu havia alugado. Estava frio demais para uma primavera, mas isso não era nenhuma novidade. Há dois dias atrás eu havia feito diversos planos para esses três dias, planos dos quais eu não poderia mais realizar. 

Eu havia feito besteira, eu sabia disso. Ontem a noite, depois do que aconteceu, foi tudo tão rápido; apenas tive tempo de ver Aurora sair correndo pela porta do apartamento. Não fui atrás dela. Deveria ter ido, mas não fui. Não sabia e ainda nem sei o que pensar. 

Foi estranho, não entendia o porquê dela ter feito aquilo. Não havíamos apenas dado um beijo, mas sim diversos deles. Nos separamos apenas quando o ar no faltou, mas logo juntávamos nossos lábios novamente. Mas, entre um dos nossos beijos, Aurora me empurrou e saiu correndo. Antes de ir seu olhar se encontrou com o meu, e pude ver o quão incríveis eles estavam. Suas feições demostravam arrependimento mas também luxúria, principalmente luxúria. Seus lábios estavam vermelhos e levemente molhados, foi algo surreal.

O pior de tudo foi vê-la sussurrar-me algo que ainda me recuso a acreditar que ouvi. Desculpa. Ela me pediu desculpa. Não sabia se havia entendido direito, seu sussurro foi tão baixo que ainda me questiono se não foi apenas um suspiro. 

Me mantive acordado até ela voltar. Escutei, as três da manhã, a porta abrir. Deitado na cama, com os olhos levemente abertos, vi Aurora entrar e deitar-se na sua cama. Estava tudo escuro, apenas pude ver sua silhueta. 

Passei a noite acordado, dessa vez nem me dei ao trabalho de se quer tentar dormir. Estava confuso, confuso e frustrado. O beijo havia sido incrível, eu ainda podia sentir seus lábios nos meus, e sentia uma enorme euforia ao  lembrar da sensação deles juntos aos meus. Mas por que ela havia ido embora?

Não fui atrás porquê imaginei que a deveria deixar um pouco só. Deveria eu ter a seguido? Creio do fundo do meu coração que não. Para ser sincero, essa é apenas uma hipótese, não estou nem conseguindo pensar direito no momento.

Me sinto rejeitado. Aflito, idiota e rejeitado. Não me lembro, em qualquer outro momento na minha vida, de que uma garota tenha fugido de um beijo meu. E o meu com Aurora havia sid diferente, eu havia colocado todos os meus sentimentos nele. Tentei, com todas as minhas forças transmitir o que sentia por ela através daquele beijo, mas creio que foi em vão.

Me levanto do banco e suspiro. Tinha que voltar, provavelmente ela iria querer ir para casa. Após chegarmos lá, ela iria me ignorar. Eu já sabia, já imaginava isso.

Céus, nunca havia me sentido tão idiota assim. Era só uma mulher, certo? Por que eu haveria de estar assim? Não, não era apenas uma mulher. Era Aurora, a mulher que irritantemente não saía da minha mente.
  Caminhei irritado novamente até o apartamento onde Aurora e eu estávamos. Rapidamente passei o cartão no leitor que permitia a passagem e entrei, caminhando rapidamente até o elevador. Apertei diversas vezes o botão, mas o elevador ainda estava 23° andares acima de mim. Bufei e fui até a escada, meu apartamento era no terceiro andar, não deveria se quer estar indo de elevador.

Retirei a chave do meu bolso a chave da porta e a destranquei, entrando no apartamento. Meu olhar logo foi posto em Aurora, que estava sentada, encolhida em sua cama. Ao ouvir o som da porta, sua atenção veio até mim e notei sua expressão surpresa. Caminhei até minha cama e sentei nela, olhando para Aurora. Quase que imediatamente Aurora fez o mesmo, sentando na beirada da cama, me encarando com seus grandes olhos castanhos.
—Eu... — Comecei a frase, mas logo em seguida parei por não saber o que falar. Pigarrei e então continuei. — Eu...

Mordi meus lábios quando notei que não poderia continuar a frase. O que eu deveria fazer? Pedir desculpas? Por Deus, não havia motivo para eu pedir desculpas.
—Por favor, não se desculpe. — Aurora sussurrou, atraindo minha atenção até a sua, mas sua atenção não estava posta em mim e sim no bordado do seu vestido, que nesse momento parecia ser a coisa mais importante do mundo para ela.
—Eu não ia pedir desculpas. — Esclareci, tentando ser o mais sincero possível. Não deveria enrolar, se quisesse entender ela eu deveria ser o mais claro possível. — Não me leve a mal, mas eu não me arrependo do que fiz. Pelo contrário, se pudesse faria novamente. 

Aurora então finalmente prestou atenção em mim. Parecia surpresa, mas suas sobrancelhas franzidas deixavam uma pequena duvida em mim sobre se eu havia dito algo ruim.
—Deveria estar tudo claro, Aurora. Desde quando conversei com você na biblioteca. Eu não estava brincando. — Falei, indiferente. — E, sinceramente, o que ocorreu ontem após o beijo está martelando minha cabeça. 

Suspirei e puxei meu cablo para traz, apoiando meus cotovelos nos joelhos. Olhei para Aurora e inclinei minha cabeça, tendo minha ação repetida por ela.

Aurora suspirou e abaixou a cabeça. Segundos depois, seu olhar novamente foi posto em mim e ela comprimiu os lábios. Parecia tão confusa quanto eu.
—Eu gostei de beijar você. — Respondeu rápido e quase me engasguei com a sua sinceridade. —Estava um pouco assustada e nervosa, tudo ocorreu tão rápido ontem e minha cabeça parecia que ia explodir!

Mentalmente, soltei um enorme suspiro de alivio. 
—Gosto de você, Harry. Muito, para ser mais precisa. — Murmurou e eu reprimi o sorriso, mas que não pôde durar muito. — Mas não acho que deveria rolar algo entre nós. Não acho que eu faço o tipo de mulher que você gosta, além dos demais problemas. 
—Como assim "demais problemas"? — Perguntei, confuso.
—Eu... — Ela parecia nervosa, parecia ter medo de falar. — São apenas alguns problemas, Harry.
—Aurora, por Deus, por  que esses problemas te impedem tanto de fazer as coisas? Te fazem ficar no estado que te vi lá na loja? — Perguntei, exasperado. Rapidamente sai da cama e me agachei em sua frente, segurando seu rosto firmemente em minhas mãos. — Me diga, o que tanto te assusta?
—Eu, Harry. Eu me assusto. — Respondeu tão exaltada quanto eu. Seu alto suspiro foi ouvido, suas mãos cobriram seu rosto e ela abaixou sua cabeça. — Eu sou uma mentira, Harry.
—Todos nós somos, Aurora. — A tranquilizei. Fiquei confuso ao ver sua cabeça balançando negativamente diversas vezes, enquanto ela novamente me olhava. — Algumas mentiras são pequenas, outras são maiores, mas no final todos...
—Não, Harry, você não está entendendo. — Sua voz rapidamente se elevou e seu corpo foi erguido, vi suas mãos se fecharam em punhos e seus olhos lacrimejarem. — Eu tenho depressão, Harry. Eu dou a droga de uma depressiva!

Mesmo confuso, não hesitei em abraça-la quando vi as diversas lágrimas escorrendo pelo seu rosto. Seu corpo parecia fraco, senti isso quando tive que a segurar para que ela não caísse no chão. 
—Minhas mentiras me assustam, Harry. Meus demônios me assustam. — Sussurrou com a voz abafada.

Apertei firmemente seu corpo contra o meu e beijei seus cabelos, passando levemente minha mão pela suas costas tentando tranquiliza-la. Eu não sabia o que pensar, não sabia se ela ter depressão era algo sério ou se eu não deveria me preocupar. Aurora não parecia ter depressão, apenas talvez estivesse com seu sistemo nervoso muito alterado. Eu à via todo o dia, via seu sorriso, seu bom humor e tudo que poderia indicar que ela não tinha depressão.
  Tentei pensar nas palavras certas para falar, tentar dizer a ela que deveria ser apenas uma faze ruim da sua vida, mas optei por não falar nada. 
—Está tudo bem, ok? — Murmurei em seu ouvido, me levantando junto com ela e deitando-me na cama junto à ela. — Eu vou ficar aqui com você, tente esquecer isso um pouco. Vai ficar tudo bem.

Ficaríamos aqui apenas durante três dias, mas não hesitei quando tomei a decisão de passar o dia com ela no apartamento. Não me incomodaria de passar o resto do dia assim com ela, pois sentia cada vez  mais que não a conhecia. Podia sentir suas pernas tremerem, sua respiração estava alto e rápida e isso me assustava. 
—Eu vou pegar um pouco de água para você, tudo be...— Falei, tentando me afastar, mas Aurora puxou-me novamente, encostando sua cabeça em meu peito.
—Eu não preciso de água. — Sussurrou com sua voz rouca. — Só fique aqui. 
—Certo, certo eu não vou sair daqui. — Respondi e novamente a abracei, vendo-a dormir enquanto minha cabeça trabalhava em milhares de suposições sobre o que havia acabado de acontecer.