História Só vejo você - O Teatro De Ricardo

POV REBECA

Era com um sorriso tão grande que mal cabia em meu rosto, que eu estava dando banho em Lisa. Mel era meu amor perfeito, meu motivo para viver, minha jóia rara. Eu já não sabia mais viver sem ela. Não parava mais de recordar os momentos lindos que vivemos, até que Lisa jogou água em meu rosto me despertando e então voltei à vida real. Terminei o banho da loirinha, enrolei-a na toalha e a levei para o quarto. Conversava com ela enquanto a secava e a vestia com um pijama lilás, e era nítido o quanto Lisa estava mais esperta, sua fala estava cada vez melhor, entendia mais as palavras e seu vocabulário havia aumentado. Fazer Lisa frequentar a creche tinha sido a minha melhor escolha para ela, se dependesse da Victória, Lisa nunca iria para a escola, afinal, Victória nunca se importava com nada, só pensava em si mesma. Eu não conseguia entender o que se passava com ela, era uma incógnita e sempre dava tristeza pensar nisso.

Terminei de vestir Lisa e comecei a pentear seus finos cabelos loiros, mas ela não queria deixar, queria pegar a escova de minha mão, sorri e deixei ela pegar a escova.

Lisa abriu um sorriso ao pegar a escova e a levou até os cabelos, os escovou, jogando-os sobre os olhos me fazendo rir, pois eu estava achando a cena muito fofa. Ela parecia estar com sono, então levei-a para a cozinha e fiz uma papinha, para poder colocar ela logo pra dormir. Enquanto eu alimentava Lisa, Ricardo entrou na cozinha.

ㅡ Finalmente te encontro em casa, Beka. ㅡ Disse indo até a geladeira, abriu a porta e ficou olhando lá dentro.

ㅡ Quando estou aqui você está dormindo, por isso não me vê. ㅡ Fiquei olhando para ele sem acreditar que ouvi aquilo, afinal, ele passava o tempo todo na rua, não tinha porque reclamar.

ㅡ Não, ultimamente você não para mais em casa. O que anda fazendo? ㅡ Pegou uma cerveja e enquanto abria a lata, fechou a geladeira com o pé.

ㅡ Eu fico perguntando o que você faz por aí? ㅡ Era só o que faltava ele começar a querer satisfação da minha vida.

ㅡ Não, mas enfim, vou direto ao ponto, preciso de dinheiro. ㅡ Falou normalmente e tomou um gole de cerveja.

ㅡ E para que quer dinheiro? ㅡ Arqueei a sobrancelha direita, será que ele já usou todo o dinheiro que ele tinha ganho com a venda do anel?

ㅡ É que... bem... você vai me xingar. ㅡ Deu uma risadinha forçada.

Eu não disse nada, já sabia o que ele ia dizer, então me concentrei em Lisa e voltei a alimentar ela.

ㅡ Eu voltei a usar drogas e estou com uma divida muito grande. ㅡ Falou com tranquilidade, como se usar drogas fosse tomar um comprimido para gripe.

ㅡ E o que eu tenho a ver com isso? ㅡ voltei a olhar para ele séria, pousando a colher sobre o prato.

ㅡ Só você pode me ajudar, se me der aquele colar de...

ㅡ Não tenho mais o colar. ㅡ Cortei a frase dele e fiquei em pé.

ㅡ Como assim, você não tem mais? ㅡ Ricardo arregalou os olhos, colocando a garrafa sobre a pia.

ㅡ A Bia descobriu que eu te dei o anel e ficou muito chateada. Então me pediu que eu devolvesse as outras jóias.

ㅡ Eu não acredito nisso. ㅡ Ele ficou sério e cruzou os braços me encarando. ㅡ Bia é aquela morena gostosa?

ㅡ Não, Bia é a loira. Ela nos deu as jóias como símbolo de nossa amizade e não podíamos nos desfazer delas.

ㅡ Beka, você é uma otária. Não tem noção do quanto valia aquelas jóias?

ㅡ Nossa amizade vale muito mais do que coisas materiais. Prefiro ser amiga dela, que uma milionária solitária. ㅡ Otário era ele se pensava que eu iria acreditar naquilo outra vez.

ㅡ E agora, como vou pagar a dívida? ㅡ Descruzou os braços e pegou a cerveja outra vez, para sorver mais daquele líquido amargo.

ㅡ Se vira, não sou obrigada a te livrar de todos os seus problemas. Você tem que aprender a se cuidar e ter responsabilidade. Se quer ter vícios, vá trabalhar para sustentá-los. ㅡ Revirei os olhos.

ㅡ Beka, a dívida de agora é muito maior, eles vão me matar. Você quer me ver morto, é isso?

Outra vez ele estava fazendo aquele teatrinho, comecei a rir. Meu próprio irmão queria me passar a perna. Eu já estava cansada de ser boazinha com quem só mentia para mim.

ㅡ Você acha que vou cair nesse papinho outra vez? Eu sei de tudo.

ㅡ O que você sabe? ㅡ Me olhou com receio, provavelmente pensando se eu tinha descoberto suas armações.

ㅡ Que não tem dívida nenhuma e que são seus próprios amigos os bandidos. Que vocês armaram tudo isso, e venderam o anel para ficarem com o dinheiro. ㅡ Falei sem medo, eu não queria mais ser a boba da corte.

ㅡ Quem te disse isso? ㅡ Agora foi ele quem arqueou a sobrancelha, deu um passo à frente e colocou a lata sobre a pia outra vez.

ㅡ Eu ouvi você conversando com seus amigos no celular, outro dia. E não vou cair nessa história outra vez, por isso não perca seu tempo.

ㅡ Olha aqui, Beka... ㅡ Ricardo pegou em meu braco com força ㅡ ou você me dá logo essas jóias ou vou contar pra mãe que você pega sua amiguinha.

ㅡ O que? ㅡ O olhei com curiosidade, como ele sabia disso?

ㅡ Eu também te ouvi aquele dia que aquela morena gostosa estava no seu quarto, vocês estavam muito estranhas, fiquei ouvindo suas conversas atrás da porta e achei que estavam muito suspeitas. ㅡ Olhava para ele com vontade de encher ele de tapas, como ele teve a ousadia de invadir a minha privacidade dessa forma ㅡ Fiquei espiando vocês se despedirem e não tive mais dúvidas. Minha irmã é uma sapatona. ㅡ Ricardo apertou ainda mais meus braços, me fazendo gemer de dor. ㅡ Já imagino a cara da Victória quando ela souber disso.

ㅡ Pode contar para ela. ㅡ Falei puxando a mão dele de meu braço, mas ele era muito mais forte do que eu. ㅡ Victória não está nem aí para mim, ela não vai dar a mínima se eu sou uma sapatona ou não.

ㅡ Isso é o que veremos, Rebeca… ㅡ Ele soltou meu braço e uma mancha vermelha com o formato de seus dedos se formou no lugar.

ㅡ E como será a cara dela quando descobrir que você usa drogas, hein? ㅡ Falei séria, enquanto massageava meu braço marcado.

ㅡ Ela não vai acreditar em você, porque sou o filho preferido dela, já você… ㅡ Me olhou de cima para baixo e soltou uma gargalhada. Depois se virou, pegou a cerveja e saiu da cozinha.

Suas últimas palavras mexeram comigo, ele tinha razão, eu não era a filha preferida, eu não era nada para Victória. Segurei a vontade de chorar e olhei para Lisa, ela dormia sobre a cadeirinha. Tirei-a de lá e levei-a para o quarto, coloquei ela no berço e após cobrí-la, me sentei na cama. Pelo menos uma coisa boa aconteceu nessa conversa toda com Ricardo, ele agora sabia que não iria mais me enganar e iria parar de me encher.

Ouvi que chegou uma mensagem em meu celular e o peguei, era de Mel, sorri e abri a mensagem, que dizia:

“Beka, onde você está? Te liguei três vezes e você não atende, espero que esteja tudo bem. Me liga, preciso te contar uma coisa. Te amo!”

Achando muito estranha essa mensagem, não pensei duas vezes e liguei para ela. No segundo toque ela atendeu.

ㅡ Beka, amor, onde você estava? ㅡ Mel disse apressada e até imaginei a cara que ela estava fazendo.

ㅡ Perdão, eu estava com a Lisa na cozinha e esqueci o celular no quarto. Está tudo bem com você?

ㅡ Está, mas quase que não fica tudo bem.

ㅡ Porque? O que aconteceu? ㅡ Ela estava conseguindo me deixar muito curiosa.

ㅡ Minha mãe viu a rosa e descobriu que estou namorando.

ㅡ Você contou sobre nós pra ela?

ㅡ Não, não consegui dizer a verdade… ela me pegou de surpresa, eu te chamava de ele, ela acha que você é um homem.

Eu entendia ela, sabia que era difícil contar a verdade, mas ouvir ela dizer que não tinha conseguido me deixou triste.

ㅡ Me perdoe, Beka, eu vou contar a verdade, é que hoje realmente não deu. ㅡ A voz dela agora estava manhosa, e se eu estivesse ao seu lado, provavelmente não iria resistir e daria um beijo nela.

ㅡ Está tudo bem, Mel, não tenha pressa, quando você estiver preparada para contar, se você quiser, eu te ajudo.

ㅡ Assim você me deixa ainda mais apaixonada…

Sorri, Mel tinha o dom de me fazer sorrir e esquecer todos os meus problemas.

ㅡ Eu sei, faço de propósito, porque amo ver você assim. ㅡ Mordi meu lábio inferior ao ouvir ela sorrir do outro lado.

ㅡ Boba…

ㅡ Eu sei… ㅡ Sorri e senti vontade de desabafar com ela, então comecei ㅡ Acredita que meu irmão sabe de nós duas?

ㅡ O que, como ele sabe?

Contei sobre minha conversa com Ricardo na cozinha, contei tudo e que no final tentou me chantagear, mas mostrei que não estava com medo.

ㅡ Own, amor, você foi muito corajosa. Isso mesmo, não demonstre medo, ele não vai poder fazer nada contra você.

ㅡ Eu quero só ver como ele vai fazer pra continuar bancando o vício dele.

ㅡ Talvez ele pare, já que não terá mais dinheiro para continuar.

ㅡ Deus te ouça Mel. ㅡ Sorri, eu realmente desejava que Ricardo parasse com as drogas e colocasse juízo em sua cabeça.

ㅡ Ele vai me ouvir, Beka… ㅡ Ouvi ela suspirar ㅡ Porque você não vem aqui dormir comigo?

ㅡ É tudo o que eu mais quero, Mel.

ㅡ É mesmo? ㅡ Ela sorriu, me fazendo sorrir também ㅡ E o que mais gostaria de fazer comigo?

ㅡEu estou com uma vontade louca de beijar sua boca novamente, e sentir o sabor doce que só você tem, e de massagear seu corpo todo, sentindo o perfume dos seus cabelos…

ㅡ Para, Beka… ㅡ Ela me interrompeu de repente me deixando curiosa.

ㅡ O que foi, Mel?

ㅡ Você fica falando assim, e está me deixando louca aqui, porque sabe que não vou poder te sentir.

ㅡ Me desculpe, Mel. ㅡ Comecei a rir ㅡ Mas foi você quem perguntou.

ㅡ É que eu fui imaginando conforme você falava e… bom… melhor mudarmos de assunto.

Mel me fez rir outra vez e como ela pediu voltamos a falar coisas normais, mas não demorou muito, logo estávamos trocando palavras fofas, como todos os namorados fazem ao conversarem por telefone. Por sorte, Mel me fez colocar um plano no celular onde podíamos conversar à vontade por horas sem acabar com os créditos, e isso estava nos ajudando muito, já que quando ligávamos uma para a outra não desligávamos mais, mesmo que a conversa fosse apenas para falar o quanto nos amávamos. Parecíamos duas crianças bobas, mas eu gostava dessa bobeira toda. Eu amava estar com Mel e fosse por telefone ou pessoalmente, estar com ela era a melhor parte do meu dia.

POV BIANCA

Toda suada e com o corpo pegando fogo, foi assim que eu acordei depois de um sonho erótico que começou com Beka e terminou com Rafa. Fiquei alguns minutos olhando para o teto, onde reflexos da luz que batia na piscina dançavam sem parar. Minha respiração estava irregular e meu coração muito descompassado. O sonho tinha começado bem e terminou melhor ainda, foi uma mistura de doçura com selvageria que me tiraram do sério. Isso me fez pensar que um ménage com elas seria muito, mas muito bom, pena que Beka não iria aceitar. E Rafa, será que ela gostava de um sexo à três de vez em quando? Nunca tinha feito sexo com duas mulheres ao mesmo tempo, mas se com uma já era bom, com duas era ainda melhor. No próximo encontro com Rafa iria perguntar se ela toparia ou não, mas por ela ser bem doidinha talvez gostasse da ideia.

Eu ainda não sabia o que eu sentia por Rafa, ela era bonita, boa de cama, tinha um jeito marrento interessante, mas daquelas roupas horrorosas que ela usava, eu não conseguia gostar. Elas deixavam ela com um jeito bem desleixado, e isso me fazia sentir vontade de tirar elas o mais rápido possível. O lado bom da Rafinha era que em nenhum momento ela se mostrou grudenta, nenhum dia ela me ligou, era sempre eu quem ia até ela. Mas quando estávamos juntas ela mostrava estar bem interessada por mim. Eu conseguia ver nos olhos dela que ela estava apaixonada, mesmo que ela não admitisse, e perceber isso me deixava muito convencida de que eu era muito apaixonante. Sempre amei ver o quanto todos se apaixonavam por mim, até mesmo as pessoas mais grudentas e chatas que já conheci. Eu sempre soube que tinha esse poder e sempre o usava a meu favor, até mesmo para conseguir coisas. Ser eu era bom demais. Sorri e me levantei, eu já estava incomodada por estar me sentindo toda molhada, eu precisava de um banho. Fui até o banheiro, enchi a banheira e me despi, entrando logo na água morna, me sentei e fechei os olhos, a água estava perfeita.

Após relaxar, decidi brincar um pouco com a Rafa, pequei meu celular e digitei uma mensagem.

“Adivinha com quem acabei de ter um sonho erótico?”

Enviei a mensagem e fiquei rindo à toa, eu sabia que ela não iria demorar para responder, deixei meu celular de lado e despejei sais de banho com aroma de lavanda na água, depois fiquei balançando meus pés na água para formar espumas.

Ouvi uma mensagem chegando e peguei meu celular novamente, ao ler comecei a rir.

“Para ter me acordado a essa hora, eu espero que tenha sido comigo”

Digitei logo outra mensagem e enviei.

“Foi com você, sim, mas já pode voltar a dormir, só queria te mostrar uma foto”

Rafa respondeu e digitou tão rápido que me fez rir alto

“Que foto?”

Não respondi logo dessa vez, queria deixar ela bem curiosa, tirei uma foto minha sob a espuma que se formou rapidamente na banheira. Olhei a foto e estava perfeita, como imaginei, não dava para ver nada do meu corpo além dos meus joelhos, braços e acima do pescoço. Sorri e digitei uma legenda na foto: “Para você sonhar que está nessa banheira comigo. Boa noite!” esperei passar mais alguns minutos e enviei a mensagem.

Logo ela respondeu:

“Devia estar sem a espuma, mas eu sobrevivo. Boa noite!”

Sorri e cogitei a ideia de tirar outra sem a espuma, mas depois desisti. Ficar enviando fotos íntimas pela internet não era uma coisa boa, e eu não queria ter fotos nuas minhas rolando pela internet. Não que Rafa fosse sair enviando fotos minhas para todos, eu até que confiava nela e sabia que ela não faria isso, mas era melhor não correr o risco.

Continuei meu banho de espumas e quando meu sono voltou, saí da banheira e voltei para a cama, pegando logo no sono.