História Só vejo você - Novas Emoções

POV MARIA EDUARDA

Depois que eu e Enzo andamos bem juntos para tentar escapar da chuva aquele dia, comecei a prestar mais atenção nele e ele não era tão mau assim, era até bonitinho, mas não fazia meu estilo, sempre gostei de homens mais fortes e mais velhos, e Enzo ainda tinha cara de menino, com a pele bem lisa como bumbum de neném. Ele ainda nem tinha barba e eu achava muito charmoso homens com a barba bem feita.

Eu sabia que tinha sido dura demais com ele no dia que ele se declarou, mas o que eu poderia fazer, apesar de dolorosa, a verdade era sempre melhor. Eu não podia ter dado uma desculpa esfarrapada, seria muito pior para ele. O problema foi que depois da verdade bem direta que dei para ele, ele simplesmente se afastou, e já estava fazendo isso havia uma semana. Preferia se sentar bem longe de mim, e toda vez que eu ia falar com ele, ele me evitava. Isso já estava me irritando e me deixando triste ao mesmo tempo.

Fui para o intervalo sozinha e comprei cinco barras de chocolate, um pacote de salgadinho, um refrigerante e fui me sentar. Já que eu não ia conversar com o Enzo sentimental, eu iria comer. Depois que fiquei amiga de Enzo parei de comer tanto, estava até começando a emagrecer, pois ele não me deixava em paz nunca. Na Universidade ele estava sempre atrás de mim para onde quer que eu fosse e em casa vivia me chamando nos chats, ou ia até lá para fazermos os trabalhos e estudarmos, e, com isso, eu esquecia de comer. Como eu estava perdendo uns quilos eu nem ligava, era bom ficar distraída, me fazia esquecer dos doces e salgados, porém, agora que eu estava só outra vez, voltei a comer quando não tinha o que fazer.

ㅡ Hummm, quanto chocolate, me dá um? ㅡ Nem precisei olhar para saber quem era. Peguei uma barra de chocolate e entreguei para Mel.

ㅡ Claro, Mel, senta aí.

ㅡ Tudo bem, Dudinha? ㅡ Mel sorriu e se sentou, abrindo o chocolate.

ㅡ Tudo e com você?

ㅡ Estou indo... onde está seu amigo? ㅡ Mordeu o chocolate após falar.

ㅡ Não sei, deve estar por aí, ele está assim agora.

ㅡ Assim como? ㅡ Mel ficou curiosa e pegou o pacote de salgadinho de minha mão, para pegar um pouco, deixando o chocolate de lado.

ㅡ Me ignorando desde aquele dia na balada. E a culpa é toda sua e da Beka, estou com vontade de bater em vocês. ㅡ Falei séria e peguei meu salgadinho de volta.

ㅡ Deixa de besteira, estávamos te ajudando. ㅡ Mel riu e pegou meu refrigerante, bebendo em seguida ㅡ Mas porque ele está te ignorando?

ㅡ Porque eu não quis ficar com ele, só por isso.

ㅡ Como assim você não quis ficar com ele, Duda? ㅡ Mel deixou a lata sobre a mesa e me encarou séria.

ㅡ Porque eu não sou obrigada, porque ele não faz o meu estilo. ㅡ Falei irritada e peguei meu refrigerante, bebendo-o todo de uma só vez.

ㅡ Quem não faz o seu estilo, Duda? ㅡ Bia chegou sentando e pegou um chocolate que deixei sobre a mesa e eu revirei os olhos, onde é que estava o respeito dessas meninas?

ㅡ O Enzo, que saco! Não fiquei com ele aquele dia porque não me interessava por ele e agora ele está me ignorando. ㅡ Fiz um resumão para deixar Bia por dentro do assunto de uma vez.

ㅡ Mas ele é um gatinho, achei ele uma graça, e parece ser bom, se eu fosse você daria uma chance para ele.

ㅡ Não adianta, Bia, a Duda enfiou na cabeça que não quer ele e agora está toda triste pelos cantos. ㅡ Mel deu a sua opinião e voltou a comer o chocolate.

ㅡ Hey, eu não estou toda triste. ㅡ Me defendi logo, antes que Bia acreditasse nisso.

ㅡ Claro que está, sei muito bem que você só come compulsivamente assim quando está triste.

ㅡ Não é verdade, para de inventar coisas, Mel. ㅡ Mostrei a língua para ela e Bia começou a rir.

ㅡ Tudo bem Duda, vou acreditar em você. ㅡ Bia terminou a frase e fez um gesto para Mel, e eu fiquei muito brava.

ㅡ Idiotas, eu vi os gestos entre vocês duas,parem agora.

Ambas começaram a rir por eu ter gritado com elas e eu bufei de raiva. Era só o que faltava, duas bobocas me enchendo o saco. Abri um chocolate também e dei uma grande mordida, Mel tinha razão, eu só comia desenfreadamente quando alguma coisa me entristecia.

ㅡ Okay, vocês venceram. Alguma coisa aconteceu depois que ele começou a me dar esse gelo, eu estou sentindo a falta dele, o que eu faço?

ㅡ Eu não acredito! ㅡ Mel exclamou surpresa com cara de felicidade assim que ouviu o que eu disse.

ㅡ Nem eu. ㅡ Bia gritou também ㅡ A Duda está apaixonada!!! ㅡ Continuou me abraçando de lado, toda sorridente.

ㅡ Parem de gritar suas malucas, todo mundo vai ouvir desse jeito. ㅡ Pedi em desespero, vai que Enzo estivesse passando por perto.

As duas riram novamente, estavam se divertindo muito em me deixar constrangida. E apesar de eu estar muito irritada, amava tê-las por perto.

ㅡ Vai falar com ele, não o deixe escapar. ㅡ Bia falou se sentindo a conselheira e comecei a rir.

ㅡ Eu já tentei, mas ele está me evitando.

ㅡ Diga o que você está sentindo e ele não irá deixar de ouvir, eu tenho certeza. ㅡ Mel disse e deu uma piscadela.

Fiquei pensativa, elas eram mais experientes que eu e podia ser que se eu falasse com ele que eu estava com saudades ele me ouvisse. Eu teria que tentar. Mas eu iria fazer isso mais tarde e sozinha, enquanto isso eu só precisava mudar de assunto. Lembrei que Mel disse não estar muito bem e como eu era muito curiosa e não pude perguntar antes, agora era a hora.

ㅡ Mel, porque disse que não está muito bem?

ㅡ Eu estou bem, mas estou preocupada com a Beka.

ㅡ Porque, o que aconteceu com ela? ㅡ Indagou Bia apressada.

ㅡ A mãe dela descobriu que ela é lésbica e a expulsou.

ㅡ Meu Deus, porque ela fez isso? ㅡ Perguntei chocada, ser expulsa de casa era péssimo.

ㅡ A mãe dela é uma louca, ela bateu na Beka com cinto, deixou ela toda machucada. Ela chegou em casa desmaiando, sangrando, teve febre a noite. Nem consegui dormir. Aí hoje ela quis ir trabalhar, eu não queria deixar, mas ela é muito teimosa e foi. Eu não paro de pensar nela e o pior é que nem posso perguntar como ela está, porque ela deixou o celular na casa da Victória.

ㅡ Que mulher mais escrota, não é a primeira vez que ela bate na Beka. ㅡ Bia respirou fundo, fechando os punhos com força ㅡ Sempre falei para Beka que a mãe dela era uma péssima mãe, mas ela nunca quis denunciá-la.

ㅡ E ela ainda não quer, mesmo a Victória tendo feito o que fez. Ela tem medo do que possa acontecer com Lisa.

ㅡ Eu estou disposta a ajudar, pago um bom advogado, meu pai conhece vários. Não acontecerá nada com Lisa, os advogados do meu pai são ótimos.

ㅡ Vou falar com a Beka, mas conheço ela, sei que ela vai recusar.

ㅡ A Beka é uma cabeça dura. Preciso conversar com ela.

ㅡ Ela ama a família dela, mesmo sendo toda torta. Ela tem um grande coração.

ㅡ Ai que raiva dessa mulher, estou com vontade de ir lá e acabar com ela. Fazer ela sentir na pele a dor que a Beka está sentindo.

Eu fiquei chocada com o Mel nos contou, como uma mãe tinha coragem de fazer isso com a filha. Meus pais eram bem sérios e antigos e também não gostavam nada de conversar quando o assunto era sobre gays, mas acho que eles nunca me bateriam caso eu gostasse de mulher. No máximo me deixariam de castigo e tentariam me fazer mudar de ideia. Beka devia estar sofrendo muito, ela sempre foi muito forte, mas por dentro ela era muito emocional.

Assim que tocou o sinal, nos levantamos e fomos cada uma para a sua sala. Enzo continuava sentado bem longe de mim, e eu só conseguia pensar em quais seriam as palavras que eu deveria usar. Pensei em mil maneiras de fazer isso, mas nada parecia ficar bom.

Guardei meu material e fiquei aguardando a aula terminar. Fui a primeira a sair da sala e fiquei esperando ele sair sentada numa mureta. Só de pensar na ideia de revelar meus sentimentos, eu já ficava toda embaraçada. Talvez se eu desistisse fosse a melhor coisa a ser feita. Outro homem mais interessante podia gostar de mim, Lorenzo não era o único no mundo. Pensei, pensei, pensei e decidi ir embora, se ele quisesse falar comigo eu iria estar aqui, não ia correr atrás dele, não mesmo.

Decidida me levantei e me virei bem rápido na tentativa de sair do campus o mais breve possível, porém, esbarrei em alguém e quando fui pedir desculpas e olhei para a pessoa, era ele quem estava atrás de com a maior cara de bobo. Seria o destino querendo nos juntar?

ㅡ Desculpa, Enzo! ㅡ Falei rápido, afinal, eu tinha desistido.

ㅡ Tudo bem… A culpa foi minha, eu estava distraído. ㅡ Falou e arrumou o óculos.

ㅡ Então eu te perdoo. ㅡ Vi Enzo rir e depois ficar sem graça. Ele ficava bonitinho sem graça, seus olhos sempre tentando fugir de olhar para os meus.

ㅡ Então, está indo para a casa? ㅡ Me perguntou, ele estava muito sem jeito, então para não deixá-lo ainda pior, apenas disse um sim sem graça e parei de olhar para ele. ㅡ Quer uma carona? Meu pai deixou o carro comigo hoje.

Meio que não acreditei no que ouvi, ele estava me ignorando há dias e agora estava me oferecendo uma carona, fiquei em dúvida se ele era muito cara de pau, se ele estava tentando voltar a ser meu amigo ou se era o destino outra vez metendo o bedelho na minha vida.

ㅡ Terra chamando… ㅡ Enzo falou e deu um tchauzinho muito perto dos meus olhos.

ㅡ Está bem, eu aceito. ㅡ Respondi, mas ainda estava em dúvida se eu devia dizer que estava com saudades ou não.

Tentando bancar a difícil, fui andando sem olhar diretamente para ele, o olhava de canto, podendo ver um sorriso no rosto dele misto com um nervosismo. Fomos em completo silêncio até o estacionamento onde o carro do pai dele estava, mas ele não abriu as portas do carro, ao invés disso ele parou na minha frente, respirou fundo e após alguns segundos disse:

ㅡ Olha, Duda, eu sei que fui um idiota esses dias fugindo de você, mas é que eu não conseguia mais agir naturalmente. Você sabia que eu gostava de você, e me deu um fora, e isso me deixava muito mal. Eu precisei me afastar e colocar as ideias no lugar. Mas conversei com minha mãe, e ela me falou que mesmo que eu não pudesse ter o seu amor, que eu fosse apenas seu amigo. Ela disse que amar é querer o bem, mesmo que eu não esteja ao seu lado. ㅡ Porque ele estava me falando isso? Só porque eu tinha desistido. Aposto que se eu ainda estivesse o esperando lá sentada, ele nem apareceria na minha frente. Esse destino era mesmo muito brincalhão. Agora ele falava essas coisas fofas e eu começava a achar ele bonito. ㅡ Eu só queria te pedir desculpas, e dizer que estou aqui, se você ainda quiser ser minha amiga, é claro, porque sei que não mereço.

ㅡ Realmente você não merece, Enzo, foi muito infantil se afastando, mas eu senti a sua falta. Eu gostava da sua amizade, eu sabia que se eu não te desse um fora você iria ficar chateado, mas aí você se afastou e isso me deixou muito mal. Também quero te pedir desculpas. ㅡ Eu consegui dizer, e não foi tão difícil como eu imaginei.

ㅡ Não precisa me pedir desculpas, Duda, eu que não devia ter misturado as coisas. ㅡ Enzo sorriu e olhei para a boca dele.

ㅡ Cala a boca, Enzo, vou te pedir desculpas sim. ㅡ Falei séria, mas agora eu estava sentindo vontade de experimentar aqueles lábios. ㅡ E preciso te dizer mais uma coisa… ㅡ Onde eu estava com a cabeça, eu não sei, só sei que eu dei um passo para a frente, puxei a gola da camiseta dele, fiquei na ponta dos pés e encostei meus lábios nos dele. A boca dele era macia, e o simples toque fez meu coração bater mais rápido. O beijo ficou apenas assim, e só quando parei o beijo, abri espaço entre nós e soltei a gola dele, percebi que ele estava parecendo uma estátua com olhos arregalados, completamente sem reação. Comecei a rir, isso estava muito engraçado.

ㅡ Porque… ㅡ Enzo finalmente falou, mas ainda estava todo bobo, endireitou o óculos me olhando assustado ㅡ Porque você me beijou?

ㅡ Porque senti vontade, eu fiquei repensando no seu pedido e percebi que eu não tinha nada a perder, só a ganhar, porque você é um bom homem. ㅡ Joguei meus cabelos de lado, fazendo um charme.

ㅡ Espera, Duda, eu estou entendendo direito? Você está dizendo que quer ficar comigo? ㅡ Ele realmente não estava acreditando em mim.

ㅡ Estou, Enzo, você quer ficar comigo, agora? ㅡ Dei um passo para a frente novamente, diminuindo a distância entre nós.

ㅡ Que… quero. ㅡ Enzo gaguejou e sorriu, levantou as mãos, mas hesitou se me tocava ou não. ㅡ Posso te beijar agora?

ㅡ Pode e deve, Lorenzo! ㅡ Sorri para ele e ele tocou em meu ombro com as duas mãos, se inclinou, me olhou nos olhos, deu um sorriso.

ㅡ Com licença, Duda… ㅡ Pediu me fazendo rir, e me beijou. Dessa vez não ficou como uma estátua, pelo contrário, me beijou gentilmente, muito educado. Foi como um príncipe encantado.

O beijo dele era muito bom, não sabia que ele beijava assim tão bem, ele sempre me pareceu ser tão bobinho, como se não tivesse experiência nenhuma, mas ele me surpreendeu, tanto, que fiquei chateada comigo mesma por não ter perdido tanto tempo.

ㅡ Uau… ㅡ Ele disse quando parou ㅡ Quero te beijar de novo…

Eu sorri e peguei na nuca dele, o beijando novamente. Dessa vez o beijo ganhou mais intensidade. Era como se a gente fosse duas crianças descobrindo as maravilhas do mundo. Foi um beijo melhor que o outro e ficamos assim por muitas horas. Não fomos para casa, ao invés disso fomos para um parque, e pude descobrir que tudo o que eu pensava sobre Enzo era preconceito. Por fora ele não era tudo o que eu sonhei, mas por dentro ele era lindo e sabia me deixar feliz. Na vida não basta apenas ter ideias formadas sem antes conhecer, é necessário se deixar permitir descobrir novas emoções, para poder se encontrar e ser feliz.