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História Sob o pretexto da guerra - Sobre sentimentos em conflito


Escrita por: ksnrs

Notas do Autor


Fate/Stay não me pertence e seus personagens também não.
O intuito dessa fanfic é totalmente interativo e sem fins lucrativos.
Por isso, não me processem, por favor. Não tenho como pagar uma fiança e da cadeia não dá pra postar.

Boa leitura!

Capítulo 31 - Sobre sentimentos em conflito


- Você sabe sobre o quê eles estão conversando? – a voz confusa e ansiosa de Saber era uma facada nos ouvidos de Archer. Ele estava visivelmente irritado por ter sido colocado pra fora da casa de Emiya junto com a sabre. Não respondeu, até porque, não sabia a resposta dessa pergunta. Saiu do templo com Rin, ouviu ela rir como louca algumas vezes no caminho, viu ela correr como uma desesperada naquele carro potente demais pra alguém desnorteada como ela, mas não soube o que se passava em sua cabeça brilhante. – Você não consegue ouvir o que eles estão falando? – ela insistiu, olhando pra ele com olhos de súplica.

Archer a olhou de volta, irritado.

- Se ela não quis que eu ficasse pra conversa, é porque não quer que eu saiba. Não vou ouvir desse jeito. – respondeu de modo ríspido.

Saber achou melhor parar de falar. Era bem óbvio que Archer estava tão frustrado quanto ela. Só que ele ficava em silêncio, fazendo cara feia, ruminando alguma coisa. Ela não conseguia. Andava de um lado pro outro, incapaz de esperar pra saber qual era essa grande solução que Rin tinha arrumado.

- Eu vou lá. – disse, por fim, saindo do quintal, decidida a invadir a casa, onde a amiga e o namorado conversavam. Foi impedida pela figura imponente do arqueiro, que parou na sua frente, de olhos baixos.

- Espera. – disse firme. Saber não se intimidou. Desviou de Archer, e foi novamente interrompida por ele, que a prendeu pelo braço. Só aí ela viu que ele não estava pra brincadeira. Bom... nem ela. Firmou os olhos e a expressão de luta. Se era pra ter um combate, que fosse. Não ficaria parada, vendo o próprio destino ser decidido por outras pessoas. Não de novo.

- Você vai me parar, Arqueiro? – seu tom era de desafio. Uma arrogância nata, da Rei dos Cavaleiros. Bem diferente da Saber ansiosa que tinha estado ao seu lado na última hora. Ele recuou. No fundo, estava do mesmo modo que ela. Soltou o braço da sabre, que o puxou em um movimento brusco. Os olhos dos dois se mantinham em um contato visual intenso. – Você vai entrar comigo, ou vai ficar aqui esperando a sua mestre chamar?

Ele não resistiu ao tom de sarcasmo. Deu uma risada maldosa, achando engraçado demais ela colocar as coisas nesses termos. Os dois eram os mais prejudicados nessa loucura em que tinham se metido. Claramente, estavam mais fodidos que os mestres. Se tudo desse certo e o pedido fosse feito, seriam livres, iriam embora e descansariam em paz pela eternidade. Se tudo desse errado e outro mestre fizesse o pedido, seriam jogados de volta em sua redoma particular, esperando ansiosamente até o momento em que fossem novamente invocados. Talvez por quem eles mais queriam. Talvez não. E o tempo todo ficariam pensando: como as coisas estão? Como eles estão? E se eles se entenderam? E se eles se apaixonaram? E se foi por outras pessoas? E se foi um pelo outro? Era engraçado demais, quando Archer parava pra pensar nas variáveis. Pra alguém como ele, pra alguém que sofreu com as balanças da vida, ao medir as possibilidades do que vivia agora, as chances de fracasso eram bem maiores que as de sucesso. Restava aproveitar o tempo que ainda tinha aqui, com a sua menina.

- Eu vou entrar. – respondeu de modo arrogante, colocando aquele sorrisinho superior que costumava ostentar.

Então voltaram, decididos a descobrir o que é que estava acontecendo entre os dois mestres. Qual era o tal plano de Rin, que tinha que ser discutido apenas com Shirou. Mas o que encontraram, o que viram, foi algo bem mais... desconfortável.

Quando pararam na porta da sala, se depararam com a cena de Rin sentada no colo de Shirou, abraçada com ele, em um carinho profundo, um abraço apertado, um perdido dentro do mundo do outro. Não faziam nada além disso. Apenas se abraçavam. Forte, duro, com intensidade, com calor, com cumplicidade. Olhos fechados, punhos cerrados, dedos agarrados nas roupas, prendendo os corpos com dureza, como se não pudessem se soltar. Eram um só, sentados naquela cadeira. Um só.

Tanto Archer, quanto Saber, engoliram uma saliva em seco ao ver aquilo. Ficaram um tempo parados, com os olhos arregalados, apenas observando os dois namorados, que não se mexiam. Até se tornar insuportável. Que porra tá acontecendo aqui?

- Rin! – Archer chamou firme, querendo acabar com o que quer que estivesse acontecendo ali.

Ela não se abalou. Ainda dentro do abraço de Shirou, deu um sorriso, reconhecendo aquela voz grave que ecoou pelo lugar. Se soltou minimamente do amigo, apenas pra encostarem as testas. Olhou com doçura pros olhos de cobre dele, que se abriram devagar pra ela, como se não quisessem ver aquilo.

- Vai dar tudo certo, você vai ver. – disse baixinho, como se quisesse consolá-lo, enquanto fazia um carinho em seu rosto.

Ele meneou a cabeça, balançando em negação.

- Eu não quero isso, Tohsaka. Não faz isso comigo, por favor... – pediu sussurrado, com a voz dolorida, se segurando pra não deixar um soluço escapar.

- É a única coisa que eu consegui pensar, Shi. – Rin respondeu com firmeza, mas ainda doce, tão diferente do comum.

Ele se apertou ainda mais à ela, deixando os corpos mais presos. Archer e Saber não entendiam o que estava acontecendo e, definitivamente, não gostavam.

- Nunca mais? – ele perguntou mansinho, quase se rendendo ao choro.

Rin deu um sorriso pequeno, amargo. Abraçou seu pescoço, apoiando o queixo no topo da cabeça de Shirou, deixando o rosto dele encostado em seu peito. Sentiu quando uma ou outra lágrima começou a umedecer o tecido da sua camiseta.

- Não, esquisito. Nunca. – respondeu com um sorriso triste. Deu um último beijo na cabeça dele, abaixou pra ganhar o dela e se levantou. – Fica calmo, vai dar certo. Eu tô fazendo isso pra ela vai ficar aqui com você. – e olhou pra Saber, sorrindo.

A sabre, que até então tava morrendo de ciúme, sentiu o coração abrandar. Sobre o que estavam falando? Conforme Rin se afastou de Shirou, ela chegou mais perto. Foi acompanhando a moça com os olhos, mas quando chegou ao lado do namorado, ele a prendeu pelas pernas, se deixando levar por aquela tristeza que ela nem sabia de onde vinha.

Rin também chegou mais perto de Archer, que a encarava confuso.

- Vamo pra casa, amor? – perguntou tranquila, como se a cena que ele tinha visto não desse margem pra nenhuma pergunta.

- Você não vai falar com a gente sobre o seu plano? – ele perguntou impaciente. Rin deu uma risadinha e foi saindo. – Rin!

- Não, Archer. Eu não vou. – ela disse de costas. Olhou pra ele e quando encontraram o olhar, o dela estava frio demais pro gosto dele. – Eu já falei com o Shirou, ele explica o que tem que explicar pra Saber e eu falo o que eu tenho que falar com você. Você vai comigo, ou quer ficar aí? – encerrou, sem saco pras muitas perguntas que ele planejava fazer.

Não tinha muito o que pensar. Girou nos calcanhares e foi pro lado dela. Sempre iria com ela.

-----

Os desenrolares da Guerra estavam satisfazendo muito Kazuo Inoue. Tinha conseguido colocar seu servo nos lugares mais específicos e utilizados das técnicas dele, sem precisar expô-lo ao desnecessário.

Era um bom servo, afinal. Realmente, sua regra de não matar, não tinha sido um obstáculo até agora. Era habilidoso e ágil, sem contar na inteligência incrível em combate. Nas poucas vezes em que mantiveram uma conversa, foi tentador à Kazuo, descobrir um pouco mais sobre aquele pequeno samurai. Tinha tanta história, tanta experiência e, ao mesmo tempo, uma expressão tão sofrida, tão dura. Só que quando se animava, parecia até um jovem comum, se esquecesse, por um momento, que era um Espírito Heroico da classe dos Assassinos. Nas raras vezes em que o viu sorrindo, ou que teve acesso aos olhos daquele rapaz, percebeu que ele era alguém que buscava algum tipo de redenção.

Não tinha como Kazuo não pensar nisso. Por mais que tentasse se manter frio e distante, a cada vez que se fazia necessário falar com o servo, mais sentia uma afinidade imensa pelo expressivo desagrado dele em cumprir essa função. Até aquela humildade exacerbada, o tornava alguém que Kazuo, em outras épocas, não hesitaria em apoiar. Em ajudar.

Pensava nisso. Pensava no servo. Se foi um erro invoca-lo. Quis trazer um Assassino, pois achou que o propósito dessa classe, seria mais compatível com o seu: seguir um objetivo, sem se importar com os meios pra obtê-los. Mas devia ter pensado que o Graal é ardiloso e nunca se engana. Por mais que tentasse manter essa casca dura por fora, por dentro Kazuo ainda era aquele mesmo homem de cinco anos atrás. Aquele que se importava. Aquele que era caridoso. Aquele que tinha prazer em ajudar a quem precisava. Aquele que usava de sua magia pra poder melhorar a vida das pessoas. E é lógico que o Assassino que invocou seria alguém que mexeria com o seu psicológico.

Abriu uma gaveta da grande mesa de seu escritório ricamente mobiliado e pegou uma caixinha pequena, de madeira, com entalhes bonitos e pinturas feitas à mão. Se permitiu passar o dedo por aqueles detalhes tão marcados, tão perfeitos, como se, com aquilo, tocasse quem os fez. Na verdade, sentia isso. Sorriu, como se tocasse os dedos de quem tinha pintado aquela peça tão delicada. Mas era pouco, tão pouco... Quis mais, pelo menos um pouco mais. Levantou a tampa da caixinha e tirou uma chave. Abriu a gaveta mais baixa de sua mesa, a mais escondida. Puxou de lá um embrulho, feito em um pano de seda, uma echarpe, talvez. Foi necessário a Kazuo levar aquele tecido ao nariz e, ao inspirá-lo, se perdeu no perfume que ainda se mantinha, mesmo depois de tanto tempo. Então olhou o que estava guardado. Uma foto, um casamento, dois noivos sorridentes. Um homem feliz. Uma mulher linda.

Colocou o porta retratos sobre a mesa e apoiou o queixo sobre as mãos, deitando sobre o tampo, e fitando com um sorriso abobalhado, aquelas duas figuras na fotografia.

- Oi Hana.

Hana era esposa de Kazuo. Se conheceram quando ainda eram muito jovens. Fizeram o mesmo colégio, mas depois ele foi pra longe, estudar em outro lugar. Quando voltou à Fuyuki, a fim de estabelecer sua empresa já consolidada, a reencontrou em uma social, noiva de um possível aliado comercial, que seria importante ter, caso quisesse um empreendimento de sucesso.

- Eu tô quase conseguindo, hime. Só faltam três servos.

Depois de reencontrá-la, foi muito óbvio pra Kazuo que ainda era apaixonado por Hana. E ela por ele. Hana terminou seu relacionamento, Kazuo perdeu seu parceiro comercial, mas eles engataram um romance lindo, cercado de amor e delicadeza. Eram perfeitos. Eram incríveis. Se casaram depois de três anos juntos e, após dois de casamento, estavam tentando o primeiro filho.

- Eu vou trazer você de volta. Espera só mais um pouquinho...

Eles nunca brigavam, nunca. Não sério, pelo menos. Tinham só as rusguinhas de casal, como todos tem. Até uma manhã maldita, quando ele levantou desgostoso por um negócio mal sucedido e frustrado por ter que encarar acionistas desagradáveis. Hana tentou animá-lo dizer que tudo estaria bem. Era sempre o seu sorriso que o trazia de volta das dificuldades, mas não aquele dia. Não se rendeu ao primeiro conforto que ela deu e ainda resmungou quando ouviu Hana perguntar se ele a acompanharia na consulta com o especialista sobre a gravidez que nunca vinha. Essas foram as palavras dele: “essa maldita gravidez que nunca acontece”. Hana se magoou. Não disse mais nada. Kazuo sabia que tinha passado do limite, mas estava estressado e, ao olhar no relógio, viu que além de tudo, estava atrasado pra reunião com os acionistas. Saiu sem se desculpar. Durante o dia, as coisas foram se acalmando. O resultado do encontro dele não foi tão ruim quanto o imaginado e Kazuo logo percebeu que tinha se irritado à toa. Pensou em fazer uma surpresa e encontrar a mulher no médico, quem sabe leva-la pra jantar depois, tomar um vinho bom, daqueles que ela gostava. Fez isso. Saiu da empresa, com destino ao consultório. No caminho, ficou preso no trânsito, congestionado por causa de um acidente. Ao passar pelo local, ainda lamentou pela pessoa que tivesse naquele carro retorcido. Era bem óbvio que tinha sido uma batida fatal contra a contenção de concreto. Já no médico, estranhou a esposa não ter chegado e ligou inúmeras vezes pro seu celular e pra casa. Foi aí que entendeu tudo.

- Me perdoa, amor. Eu não devia ter gritado com você.

O acidente. Era ela. Era o carro dela. Tinha sido perspicaz em notar que uma batida daquele porte seria fatal. Foi mesmo. Perdeu a mulher no dia mais improvável de todos.

Depois disso, se dedicou todos os dias em uma busca incessante pra trazê-la de volta. Rodou o mundo atrás de alquimistas, magos, bruxos, charlatões, até descobrir que o modo mais fácil sempre esteve na sua própria cidade: pedir ao Graal. Só era preciso vencer uma Guerra. Mas, o que era uma Guerra, pra quem queria vencer a morte? Se aperfeiçoou, virou um mago ainda melhor do que era e torceu, rezou, pra ser convocado.

Kazuo é o tipo de gente que o Graal adora obter. Adora se alimentar desse tipo de pedido obscuro, dessas tragédias veladas, pra poder destruir o cerne da lucidez. Mas ele ainda não sabe disso. Quando os comandos surgiram e ele invocou o Assassino, já tinha essa casca fria que ostenta hoje. Só que, aos poucos, estava se lembrando de quem era.

- É isso que eu tenho que fazer, não é Hana? É te buscar?

Ele sabia a resposta dessa pergunta. Não existe esse tipo de coisa. O Graal seria capaz disso, claro. Mas trazê-la de volta, não era a ideia mais sensata do mundo e, aos poucos, Kazuo chegava à mesma conclusão. Ao mesmo tempo em que essa certeza ia crescendo no seu coração, mais ia se apegando à ideia do servo desgostoso com a própria condição. Talvez ele não merecesse tanto o pedido quanto a aliança Tohsaka-Emiya.

- Eu preciso tentar, hime. Me deixa pelo menos tentar.

Foi a última coisa que ele falou, antes de guardar a foto, embrulhada com o lenço, e trancar a gaveta. Olhar pra Hana era quase uma acusação. Kazuo sabia que se ela pudesse dizer alguma coisa, diria pra ele recuar e parar com isso. Mas não podia ouvi-la. Não mais. Não agora.

-------

Na última fortaleza onde era guardada o servo que ainda não tinha sido mostrado, a ansiedade não era a palavra reinante do lugar.

Fazia parte da estratégia sempre impecável dos Eizbern ter um mago que fosse frio o suficiente pra poder batalhar a Guerra do Graal sem se abalar com as intempéries que surgiam pelo caminho. Foi assim com Kiritsugu. Foi assim com Illya. Era, agora, com Karin.

Após a queda da família na última Guerra, o legado dos Eizbern tinha se perdido. Aquela coleção de homúnculos, criados pela mão de ferro do patriarca da família com a intenção de reproduzir e preparar os receptáculos para o Graal, pela lógica, tinha acabado. Mas isso não era viável à ele. Ao Graal. Como poderia ressurgir, sem o apoio da família que favorecia seu aparecimento?

Então foi proposta uma aliança aos Eizbern: uma nova chance pra que eles pudessem mostrar ao mundo da magia sua grandeza perante aos outros. Em troca, mais uma vez, o receptáculo seria doado de bom grado ao Graal, para que ele pudesse emergir no momento certo. E daí surgiu a ideia de trazer Illya como um servo que, mesmo morta, possuía um coração batendo.

O plano dos Einzbern era o mesmo de sempre. Um mago que fosse meticuloso e ardiloso o bastante pra leva-los até o cálice. No momento indicado, compeliria sua servo e se matar, utilizaria o coração e o pedido seria feito. Com isso, a honra da família seria refeita e o Graal restituiria os Einzbern no mundo. Sacrificariam, mais uma vez, Illyasviel. Mas isso, pra eles, nunca foi problema. E é exatamente o tipo de sentimento que o Graal adora explorar.

Por isso encontraram Karin. Ela, em tudo, lembrava Kiritsugu. Uma capacidade ímpar de liderança. Uma frieza nas ações, que permitia que enxergasse todas as variáveis de todos os possíveis problemas. Uma clareza no pensamento, que fazia com que seus atos fossem plenamente calculados. E uma mulher. Illya, ao vê-la, por mais que se sentisse confusa ao retornar pro mundo, ainda mais na condição de servo, teve um apego imediato. Foi mais um plano perfeito, arquitetado pelos brilhantes Eizbern.

Naquela tarde, enquanto uns tomavam decisões difíceis e outros repensavam os próprios atos, Karin repassava o plano pela milésima vez na cabeça, sem encontrar a menor chance de falha. Caminhou pelo longo corredor do castelo reconstruído da família, até parar na porta do quarto da menina. Respirou fundo três vezes, juntando toda a pouca paciência que tinha. Ainda tinha que fazer isso ao lidar com Illya. Era a única coisa que não conseguia processar com clareza: por que raios tinha que fingir se importar com essa garota? Era só um servo. Tinha só uma função. Estalou o pescoço, uma mania irritante, mas que a acalmava quando estava tensa e entrou, com o sorriso mais forçado que tinha no rosto.

- Oi, querida! – disse sorrindo.

Illyasviel, ao vê-la, soltou a boneca com a qual brincava e veio correndo em sua direção. Agarrou as pernas de Karin, em um claro ato de carinho. A mulher rolou os olhos, impaciente com aquilo. Detestava esse tipo de demonstração cretina de afeto. Quando alguém ia avisar essa garota que ela não era uma menina comum?!

- Oi, tia! – ela respondeu sorrindo largamente.

- O que está fazendo? – perguntou e se arrependeu, já que, imediatamente, a menina a puxou pela mão, pra poder se sentar com ela pra “hora do chá”.

Aquilo era muito estranho. Muito. Até onde tinha pesquisado sobre Illya, ela sempre tinha sido uma garota fria, dura, forte. Tanto que foi por isso que aceitou participar dessa baboseira toda. Quando a invocou, na mesma hora a garota se jogou em seu colo, mostrando o completo oposto do que tinha sido informada. Só não voltou atrás porque Karin Haisck, não recua nunca. Ficou olhando aquela cena ridícula, da menina segurando uma xícara minúscula de plástico na mão, e sorrindo de modo falso, quando os olhares se cruzavam. O que o dinheiro não a obrigava a fazer?

- Toma, tia Karin! – ainda teve que fingir tomar e se deliciar com o chá imaginário em sua xícara cor-de-rosa demais pros seus padrões.

Por fim, decidiu dar um basta naquela insanidade.

- Illya, minha linda... a tia Karin veio aqui, pra te avisar que tá chegando a hora da gente sair pra pegar aquelas pessoas malvadas. Lembra que a gente conversou sobre isso? – disse com uma gentileza forçada, enquanto acariciava os cabelos brancos da menina.

Tinha sido uma estratégia de Karin manter Illya afastada. Ela sabia de todo o planejamento e da necessidade do coração da garota pra poder ativar o cálice. Foi uma decisão simples de se tomar, essa de evitar o confronto até o último segundo. Mas, agora, só tinha sobrado o Assassino, e os dois servos da aliança que, provavelmente, lutariam juntos. Tava na hora de dar as caras e pôr as cartas na mesa. Esse movimento tardio, tinha o único motivo de coloca-la como a dominante na situação. Chegava agora, com a servo da classe dos Feiticeiros, com um poder imensurável, com a situação dos outros estremecida, já que sabia que as muitas lutas eram bem capazes de ter mexido com o psicológico tanto dos servos quanto dos mestres. Isso, pra ela, que tinha o plano muito claro em sua mente, era só vantagem. Era a hora perfeita. Faria uma aparição de Illya, atrairia os três servos de uma vez, induziria a luta e acabava com essa palhaçada toda.

- Hoje? – ela perguntou desanimada. – Mas hoje eu tinha combinado com a minha boneca de fazer uma festa de aniversário pra ela.

Com o sorriso mais forçado do mundo e xingando todos os palavrões que conhecia em pensamento, Karin se obrigou a responder de modo gentil:

- A gente faz amanhã, pode ser? Eu te ajudo. – Illya ainda não estava satisfeita. Fez uma pequena manha. – Faz isso pela titia, meu amor?

Então os olhos da menina brilharam. Isso era cruel. Até Karin sabia disso. Manipular sentimentos era algo que ela fazia sem dificuldade nenhuma. Agora, com uma criança, chegava a dar quase uma... dó. Mas logo passou, quando viu Illya concordar, animada. Aquela dó foi substituída por satisfação e ela deu o primeiro sorriso sincero desde que entrou naquele quarto.

- Ótimo, Illya. Mais tarde eu venho te chamar. – e saiu, antes que a garota a fizesse tomar mais chá imaginário que, aliás, tinha um gosto horrível mesmo não existindo.



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