História Sobreviva e à mantenha viva. - Caindo a ficha

– E então praga, você está com fome? Tenho certeza que sua mamadeira está aqui em algum lugar.

Eu procuro mamadeira na bolsa da minha tia que eu consegui pegar no último minuto. Não tem nada de útil nessa bolsa, apenas a maquiagem dela. A mamadeira estava praticamente escondida no fundo da bolsa. Talvez se eu tivesse achado isso mais rápido o acidente não teria ocorrido.

Minha prima se alimenta com extrema serenidade. A inocência de uma criança. Ela não precisa se preocupar com nada e sequer sabe que quase acabou de morrer ou do que está acontecendo.

Mãe... Mesmo que ela tenha sobrevivido ao acidente aquela... coisa... deve ter matado ela. Eu estou completamente sozinho, quer dizer, tem a Dakota, mas não acho que ela vá fazer grande diferença.

Eu sinto algo incomodando minha perna. Meu celular! Eu pego o celular e o ligo. Cinco ligações perdidas do meu pai e uma mensagem de voz dele:

(Mensagem de voz) Marcel... Eu não sei o que está acontecendo... Mas eu não te verei de novo... Uma dessas coisas me atacou e... Eu estou me sentindo me perder aos poucos... Estou usando minhas últimas forças para te gravar essa mensagem... Filho... Esse é o momento que eu deveria te dar algum último conselho de pai, mas... Eu não sei o que está acontecendo e não sei como te ajudar... Tudo que eu posso lhe dizer é... Fique vivo e... Eu te amo.  (fim da mensagem)     

Lágrimas começam a descer do meu rosto. Eu o viro para que elas não caiam sobre Dakota. Eu começo a soluçar descontroladamente enquanto Dakota resmunga pelo leite ter acabado. Minha vontade é de gritar com ela, na verdade, é de joga-la bem longe de mim. Eu seguro Dakota próximo a do meu rosto e grito:

– Fique quieta! Pelo amor de Deus, só dessa vez, fique quieta, por favor!

Ela parece não se importar com os gritos, apenas coloca seus pequenos dedos em minha bochecha molhada, como se estivesse me consolando. Tudo que eu consigo fazer é pressionar sua cabeça contra a minha e continuar chorando.

Fico assim por alguns minutos até que eu ouço alguns barulhos lá fora. Gritos, gemidos, grunhidos que vão chegando cada vez mais perto. Eu arrumo Dakota no meu colo e me levanto.

– Tudo bem praga. Vamos fazer o que meu pai mandou. Ficar vivos.