Cameron congelou assim que sentiu o gélido metal contra sua garganta. Era uma longa espada, bonita e brilhante e, segurando-a, havia uma jovem tão bonita e brilhante quanto ela.
- Cameron, não é? – a moça riu – O que faz no meu navio?
Cameron engoliu em seco. A espada estava posicionada contra sua garganta de forma leve, mas o loiro sabia que o menor movimento resultaria em um corte fatal. Um gesto da mulher e sua cabeça iria ao chão.
Ante o silêncio de Cameron, a moça sorriu e abaixou a espada, movendo-a com naturalidade e habilidade, colocando-a no cinto depois de gira-la. Manteve, entretanto, uma das mãos apoiada no cabo da arma, preparada pra usa-la se fosse necessário.
- Meu nome é Ária, sou a capitã deste navio.
Cameron respirou aliviado ao não sentir mais o frio e o perigo que emanavam do metal contra sua pele. Olhou para a Capitã: Ária tinha longos cabelos castanhos, até pouco abaixo do quadril, com um brilho extremamente avermelhado, pele branca, traços simples e harmoniosos e olhos castanho-escuros. Usava uma roupa que Cameron nunca vira antes, uma camiseta preta decotada e um espartilho vermelho vinho, além de um shorts jeans escuro, meia-calça e botas. Tudo em um ótimo estado, como se fosse novo, coisa que o loiro nunca vira no tempos de penúria em que viviam. As roupas justas e curtas acentuavam seu corpo delicado, mas definido. Para completar, Ária tinha um desenho na maçã direita do rosto, um crânio com dois ossos cruzados em baixo, pequeno o suficiente para caber ali.
Apesar da situação em que se encontrava, Cameron não sentiu medo da capitã do navio. Dela emanava uma tranquilidade e casualidade raras de se encontrar e seus olhos não diziam nada a ele, eram como vazios, como se Ária nunca tivesse realmente vivido ou sentido. Ainda assim, a aura que se formava ao redor da pirata deixava o loiro relaxado e ele se demorou um bom tempo examinando-a.
- O que está fazendo no meu navio? – perguntou novamente, mas seu tom não exigia uma resposta, apenas demonstrava uma curiosidade inocente.
Cameron tirou sua atenção da aparência da jovem e levou os olhos ao seu rosto, estudando sua expressão antes de responder a pergunta:
- Você está com meus tripulantes.
- Ah! Então você é o capitão do outro navio?
- Não exatamente – falou, levando a mão direita para coçar a parte de trás da cabeça – Mas estou viajando naquele navio e você e seus marujos pegaram nossos tripulantes.
Ária abriu seus lábios finos em um sorriso irresistível:
- E você veio buscar eles.
- Isso – Cameron respondeu firme.
- Entendi – Ária aproximou-se de Cameron e parou quando estava quase encostando nele. Era mais baixa que o loiro, teve que levantar a cabeça para olhar em seus olhos e dizer quase num sussurro, ainda com o sorriso sedutor nos lábios – E se eu não deixar?
Continuou sério, inabalável com a atitude da capitã.
- Vou tirar eles daqui de qualquer jeito.
Ária afastou-se num pulo, rindo como se estivesse se divertindo muito. Talvez estivesse.
- Legal! Assim é mais interessante! – falou sorrindo assim que retomou a distância saudável que existia entre eles antes.
Cameron franziu o cenho, tentando entender o que se passava na mente da garota. Ela se afastou um pouco mais, ainda sorrindo e, sem tirar os olhos do loiro, de forma provocante, tirou o espartilho e o jogou no chão. A camiseta, antes justa, tornou-se um pouco folgada e o decote pareceu aumentar, como se saísse do lugar e fosse um pouco mais para baixo.
O que ela está fazendo?! – questionou-se Cameron, incrédulo com a atitude da capitã e suspeitando de suas intenções.
- Vamos lutar! – ela falou animada, agitada como uma criança que quer brincar.
- Hã? – o loiro deixou escapar com a mudança radical de atitudes da garota. Ele não esperava que essas fossem suas vontades desde o começo.
- Você me ouviu! Vamos lutar!
Cameron ainda estava perplexo, buscou uma maneira de escapar daquilo e gaguejou:
- Não tenho uma arma...
Antes mesmo que terminasse a frase, Ária arrancou uma das duas espadas que repousavam em seu cinto e jogou para ele. Cameron, pego de surpresa, apenas conseguiu segurar a arma desajeitadamente.
- Você está ferido – emendou logo depois da ação, medindo o loiro dos pés a cabeça – Seria injusto lutar com você assim.
A capitã tirou a espada remanescente de seu cinto, jogou-a para cima e a pegou habilmente, deixando-a no chão em seguida e chutando-a de leve logo depois. A arma deslizou pelo piso de madeira com um som arrastado e parou com um pequeno baque quando bateu contra uma das paredes do limitado espaço.
- Agora sim – falou sorrindo.
- Não vou lutar com você! – disse, incrédulo com todas as atitudes que Ária vinha tomando diante da situação deles.
- Não seja chato!
- Não estou sendo chato! Não vou lutar com você! Ainda mais se você vai ficar desarmada!
Ária abriu um sorriso extremamente provocante e colocou as mãos na cintura antes de dizer:
- Acha mesmo que consegue me vencer?
Algo na voz e na postura relaxada da garota fez Cameron estremecer da cabeça aos pés.
- Só vai levar seus tripulantes se me derrotar primeiro – a última frase soou seca embora o sorriso permanecesse em seu rosto.
O loiro percebeu que não teria como fugir. Quase que sem querer, lançou um olhar para Canela e viu: o rosto da menina era uma mascara de preocupação. Ela apertava tanto as barras da cela onde estava com outros prisioneiros que suas mãos começavam a adquirir um tom branco roxeado e seus olhos, cravados em Cameron, demonstravam seu medo. O loiro continuou sério, esforçando-se ao máximo para transmitir segurança para a pequena, não aguentava vê-la sofrer. Em pouco tempo ela também imitou sua expressão, contraindo os lábios, tentando parecer forte, e assentiu de leve com a cabeça. Era só disso que precisava.
Com a espada em riste, Cameron partiu para cima da capitã, a ponta da arma mirada em seu peito. Passou reto, no entanto, a espada cortando apenas o ar, e levou um tempo para perceber que a garota escorregara por baixo de suas pernas e agora estava de joelhos no chão, atrás dele, estendo a perna e girando para, num só golpe, derruba-lo.
O loiro soltou um curto gemido de dor ao cair e voltou a sentir a presença dos ferimentos no ombro e na cintura.
- Só isso? – disse Ária, levantando-se e puxando Cameron para cima.
O jovem sentiu-se extremamente envergonhado com aquilo, perdera para uma garota desarmada e ela ainda debochava dele.
- Claro que não – falou, sério, voltando à posição de combate.
Ária sorriu:
- Então me mostre o que sabe fazer.
Cameron dava tudo de si, aplicando golpes à direita e à esquerda com mais velocidade do que ele pensou que fosse capaz. Mas não passava de um inexperiente e seus ataques eram inúteis contra a capitã que apenas desviava, conseguindo acertar alguns golpes em Cameron com suas mãos ou pés vez ou outra.
O loiro já ficava cansado, mas nada do que fazia surtia efeito sobre Ária. Ela, por outro lado, parecia estar apenas brincando.
Quando seu fôlego acabou e a dor já se tornava insuportável, parou um pouco para respirar.
- Você é péssimo – disse Ária, transferindo o peso do corpo para o pé esquerdo.
Cameron levantou a cabeça, a franja comprida depois de meses no navio molhada de suor e da chuva que ainda caia do lado de fora, grudada na testa. Mal teve tempo de ver o rápido movimento que a garota fizera e tudo escureceu
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