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História Sold My Soul. - Gerard


Escrita por: mryiero

Notas do Autor


Oizinho, pessoinhas.
Eu sei que demorei um pouco desde a última vez, mas estou compensando com esse capítulo enorme e na íntegra. Não só por isso, aliás, mas por ter noção de que não daria muito bem pra cortar esse capítulo de hoje, com a quantidade de coisas que ocorrem nele... Ficaria confuso e é melhor despejar as coisas de uma só vez.
Com toda a modéstia do mundo, eu tinha me esquecido do quanto esse capítulo é bom. Acho que é porque eu gosto de escrever sobre a temática e misturar ação com umas coisas macabras, mas não lembrava de alguns pequenos detalhes que tinha escrito aqui (faz uns dois meses que esse capítulo tá escrito e eu sou péssima de memória) e me vi, algumas boas vezes, gritando com algumas partes e lembrando de todas as referências que eu coloquei para algumas coisas futuras. Então esse é um capítulo sobre referências e sobre Gerard e Frank AINDA que gire ao redor do caos que vai reinar nessa história.
Vocês vão entender o porquê de ser no POV do Gerard, do porquê d'ele ver CERTAS coisas e como isso vai desencadear ainda mais dúvidas e deixá-lo com a pulga atrás da orelha. É um capítulo com bastante ação, coisinhas engraçadas e muito sangue... Talvez o mais sanguinário até aqui, porém não assustador. Sold My Soul é BEM definida por esse capítulo, desde as coisas que vão acontecer futuramente, até o cenário, as atitudes e como, daqui pra frente, vão ser poucos os capítulos com filers. Até mesmo os do OTP vão ter alguma coisa pra agregar e encaixar as peças, então estou ficando muito contente com o resultado e em como esses personagens estão evoluindo.
No próximo capítulo já vamos ter mais algumas respostas, mais explicações sobre o porquê disso tudo estar acontecendo e, principalmente, dicas do quê tudo isso vai desencadear.
E ah, se preparem pra muitos gritinhos com Gerard e Frank, PRINCIPALMENTE com o Gerard e em como certas coisas já estão aflorando nele. E perdão, pela milésima vez, por ter terminado o capítulo dessa forma. Juro que a continuação é tão boa quanto, principalmente por uni-los cada vez mais. Enfim, é isso.

Boa leitura, demoninhos. ♥

Capítulo 12 - Gerard


Fanfic / Fanfiction Sold My Soul. - Gerard

Capítulo Oito – Gerard

 

“Is man merely a mistake of God’s? Or God merely a mistake of man?”

– Friedrich Nietzche

 

 

 

Lembrar-me de ter invadido uma delegacia de polícia em Bordeaux, há alguns dias, até então era a lembrança mais perigosa e “fora da lei” que minha santa mente poderia equiparar com qualquer momento jocoso que eu havia vivido. Sim, digno de piadas a respeito do quanto aquilo soaria insano e completamente inviável, se eu possuísse amigos além de Michael para os quais eu pudesse contar minhas aventuras recentes. Complementando esse último episódio, seria ainda mais ridículo mencionar que, além de ser, em tese, um foragido, eu entraria para o hall da história de pessoas completamente insanas e com uma mínima falta de noção do que eu estava fazendo com a minha vida.

 Afinal, eu estava prestes a invadir uma igreja... Aliás, uma catedral. E não só uma qualquer, mas um dos principais marcos religiosos e históricos da Escócia. E não era apenas isso, claro que não, sempre havia um “bônus” quando se tratava da minha amaldiçoada vida pós-sacristia: St. Giles ficava no território do parlamento escocês. Ou seja, com o perdão da palavra, eu estava fodido.

 Não só eu, claro. Robert também. E ele sabia, por seu silêncio sepulcral desde que entramos naquele táxi para descobrir que poderíamos ir até a catedral caminhando rapidamente, afinal, estávamos há cinco minutos à pé daquela construção. Piorou, obviamente piorou, assim que saltamos do automóvel, após eu largar alguns trocados para o motorista que parecia rir da nossa cara, e nos deparamos com o que iríamos enfrentar.

 Aliás, aquele deveria ter sido o primeiro pensamento de McCracken. O meu foi diferente... Lembrar-me que eu já havia passado por St. Giles, há cinco anos atrás, em uma visita de seminaristas, despertou um sentimento de que havia algo destinado para mim naquele local. Não em uma forma romantizada, eu ainda era descrente de crenças que brincavam com a sorte humana, mas minha mente era um completo playground de ironia e contradição nos últimos dias. Mas atormentou-me lembrar-me daquele dia em questão, em um começo de tarde ensolarado e barulhento, completamente oposto a aquele começo de noite silencioso e nublado.

 A construção diante de mim era esplendorosa, criada há mais de três séculos, carregando uma história tão intensa e religiosa, que era como se eu pudesse sentir toda aquela carga bem diante dos meus olhos, quando assim encarei as paredes de pedra amarronzadas, a porta principal de madeira maciça e estátua antiga e esverdeada com o tempo de Walter Scott e toda aquela peculiaridade que transbordava pelas ruas escocesas desde que coloquei meus pés ali. A arquitetura gótica fez meus olhos brilharem, eu tinha certeza, da mesma forma com que brilharam há anos atrás, quando eu era apenas um rapaz sem jeito e sem muitas convicções... Antes de todo o famigerado pecado, as contrariedades e todos os demônios do mundo.

 Na primeira vez que pisei naquela entrada, eu estava cercado de companheiros seminaristas jovens com suas mentes ainda limpas e tão fáceis de moldar perante ideologias tão sólidas. Então eu lembrei, a sensação de torpor vagando por minhas juntas, ao que tracei um caminho diferente ao lado de Robert, partindo pela lateral da construção antiga, ao invés de sua entrada principal... Lembrei-me de uma das primeiras e mais perturbadoras memórias que conectavam-se diretamente com quem eu era de verdade. Era irônico, anos depois, eu perceber que tanta coisa havia mudado desde o Gerard acuado, andando com sua batina e terço enroscado em sua mão gorducha, para o homem que caminhava, trajando suas roupas sociais, mangas arregaçadas, um companheiro atípico e nada discreto ao seu lado, ambos prontos para destruir entidades corrompidas por aí.

 Mas eu era o mesmo Gerard de antes... Só mais livre, mais entregue ao mundo... E eu lembrava bem.

 Um jovem, correndo pelo outro lado da rua, próximo à entrada lateral da loja de St. Giles, meus olhos o seguindo atentamente e aquela sensação... A certeza de que era tão errado olhá-lo daquela forma, de que eu queimaria se o fizesse, mas eu continuei... Firmei meu olhar, quase sendo atropelado por meus amigos de seminário, arrancando risadas por minha distração, enquanto, em meu átimo, eu era a mais vil das criaturas por achá-lo bonito... Por grudar-me em seu sorriso, da mesma forma que a culpa se tornou um câncer dentro de mim, alastrando-se, tomando-me, até que eu buscasse a minha cura. Até que eu pudesse olhar homens como aquele, indo e vindo, e entender que eu não estava errado... Que fazia parte da minha essência e não havia religião ou falso moralismo que me protegesse da minha realidade.

 Minha memória era falha ao tentar recordar-me do rapaz, mas, conforme eu caminhava em passadas largas até a entrada mais viável e deserta, eu só conseguia visualizar um rosto: os olhos amendoados, ora opacos e ora brilhantes, o olhar marcante e sua expressão sempre anuviada por algo. Frank não era o rapaz que eu havia visto há anos atrás, mas poderia ser facilmente... Porém, agora ele era o rapaz que tinha toda a minha atenção há certo tempo. E, para piorar, que precisava da minha ajuda.

 Coloquei em minha cabeça que era um favor por ter salvado meu irmão... Mesmo irmão que me enchia de mensagens que eu preferia não ler para não despertar minha ansiedade e completa falta de estratégia ao que se dizia respeito de salvar Frank Iero daquela situação. Mesmo irmão que surgiu, na outra extremidade da catedral de St. Giles, recém correndo dos fundos desta para o nosso encontro. E ele viu, em minha expressão determinada, o meu instinto heróico e totalmente impulsivo aflorar (um tanto quanto raro, mas que existia)... Tudo o que a igreja havia tentado anular em mim e falhado em tentar designar meu caráter.

 Então, sem delongas, Michael correu um pouco mais, esbaforido, o olhar examinando a calçada rapidamente, inclusive do lado oposto da rua, aonde alguns jovens já transitavam, preparando-se para uma típica noite de diversão escocesa. Enquanto eu e os outros tentávamos salvar o mundo. O contraste era gritante.

 

- Frank está desacordado perto da fonte do anjo, dentro da catedral, não sabemos o que aconteceu, pra falar a verdade... Alicia está lutando com alguns caras, parecem possuídos e são incrivelmente fortes. – Meu irmão resumiu toda a situação com rapidez, ao que o alcançávamos e tomávamos um rumo diferente do qual havia surgido, afinal, eu me lembrava vagamente do local e tinha um pequeno plano. “O que você está fazendo aqui fora?!”, Bert perguntou, enquanto, na verdade, gostaria de saber o porquê de meu irmão não estar amparando seu melhor amigo, tinha absoluta certeza disso. Meu irmão o ignorou, empurrando uma automática em sua direção, obrigando-o a segurá-la a arma, antes que pudesse reclamar. – Nós dois vamos dar cobertura à Gerard... Você não faz ideia do que está acontecendo lá dentro. Pessoas gritando, sangue por todo lado... Padres sem saber o que fazer. É caótico. – Era irônico como a rua calma, diante da catedral, denunciava o oposto.

 

- Quantos vamos precisar derrubar? – Perguntei, percebendo a entrada da loja da catedral entreaberta, não muito longe de onde havíamos parado, e notando que era um local propício, obviamente utilizado pelo “lado inimigo” para aquela invasão ou uma fuga apressada. “Por volta de dez e mais de quinze inocentes... Alicia já derrubou alguns, mas parece que todos estão sendo tomados por criaturas absurdamente fortes...Você sabe o que fazer, não sabe?” Mikey já estava bem atrás de mim, ao que eu empurrava a porta pesada da entrada e já podia escutar gritos das mais diversas intensidades e causas vindos do interior da catedral. – Sim, eu sei... Eu vou mandar cada um deles para o inferno. – A determinação era clara em minhas palavras e cresceu dentro de mim como nunca.

 

 Meu papel de “salvador” tornou-se ainda mais nítido na certeza de que Frank estava inapto a praticar seus melhores serviços naquele momento. Eu teria que trabalhar em dobro e da forma mais intensa possível, o que era preocupante para alguém que sempre havia feito exorcismos de pequeno porte, ou melhor, com poucas pessoas. O máximo de demônios que eu já havia exorcizado não passava da casa de dois desafortunados números em uma só noite/vez... Mais do que isso não era só um desafio para as minhas habilidades. Era um suicídio para o meu psicológico.

 A tentativa de Michael em me dar a sua arma, uma automática assim como a que havia entregado a Robert, que eu preferia não saber a procedência ou se meu irmão possuía outra daquela escondida, foi contida com um simples olhar mais grosseiro em sua direção. Eu poderia estar insano em não aceitar algum método de defesa, ou melhor, ataque, mas eu não trabalhava com armas. Reformulando melhor o que estava por vir, eu não trabalhava de forma alguma com armas de fogo. 

 A loja da catedral era mínima, uma pequena anti-câmera da construção original transformada em mais um fruto de arrecadação “singela” da Igreja. Era uma sala amarronzada, cheirando a produtos de limpeza e plástico, com algumas estantes em suas paredes amadeiradas, repletas de figuras santas, pequenas réplicas de escudos e objetos medievais, o que era uma constante na estrutura e decoração daquela catedral por toda sua história de duques, cavaleiros, etc. As mercadorias pareciam intactas nas bancadas da lateral esquerda, próximas à porta, assim como nos expositores, que faziam pequenos corredores por aquela saleta mal iluminada... E com todas as luzes parcas, um resmungar constante de Robert e Mikey atrás de mim, o primeiro preocupado a respeito de como haviam arranjado aquelas armas (talvez Robert fosse realmente mais confiável do que eu imaginava), eu vi algo que fez acender em minha mente ideia bem clara. E talvez a pior que eu poderia ter em um momento como aqueles.

 É necessário frisar que St. Giles havia sido criada em uma época em que reis enalteciam seus cavaleiros, seu exército e todas as suas conquistas. Também é bom pontuar que sua arquitetura, além de datar do período gótico, contém homenagens constantes a cavaleiros, chefes de estado e qualquer tipo de poderio militar que havia passado pela Escócia. Armaduras não eram muito comuns no seu exterior, mas elementos que remarcavam sua criação eram dispostos entre cruzes, imagens santas e paredes de pedra bem estruturadas. E eu sabia muito bem, desde o momento em que eu havia entrado naquele prédio e negligenciado a arma que meu irmão havia me oferecido, que não tardaria para que eu confirmasse o que era óbvio: eu já não estava no meu melhor episódio psicológico há dias e ele só se estendia. Ao começar pelo tipo de coisa que eu estava proposto a fazer para salvar vidas.

 Uma vida, se eu precisava ser honesto, que fosse de uma só vez.

 Que Deus me perdoe por entregar-me à loucura tão facilmente.

 Uma armadura antiga, nitidamente uma réplica, de provavelmente do fim da Era Medieval, encontrava-se ao lado do balcão expositor de livros bíblicos. Revirei meus olhos ao tomar aquele rumo, logo cravando-os no meu destino, a armadura com direito a capacete, placas de ferro que deveriam ter quase o meu peso, era completa, até mesmo tendo uma penugem avermelhada no topo desta e um brasão forjado no centro do peitoral prateado desta. E quando eu dizia completa, sendo redundante, eu também queria dizer que possuía uma espada enorme ao seu lado, apoiada à parede, ao lado da estrutura amadeirada em que era exposta. Não havia proteção, nem qualquer sinal de que um alarme iria soar, no momento em que Michael começou a rir da minha cara e eu, idiota de marca maior que eu era, tomei a espada de punho cravejado de pedras falsas esverdeadas, podendo nitidamente escutar cornetas ecoarem em minha cabeça sob o ritmo de um chamado real ou qualquer bizarrice do gênero.

 Eu não acredito que estou fazendo isso.

 

- Eu não acredito que estou fazendo isso. – Repeti as palavras, em voz alta, o punho direito fechado sobre a arma, enquanto eu a erguia e verificava seu peso, antes de me sentir confortável para usá-la em um futuro não muito distante. Embora eu me achasse um completo idiota ao parar ali, com Robert e Michael logo atrás de mim, possivelmente me encarando e arquitetando os mais diversos comentários sarcásticos e comprometedores, sucessivamente, que poderiam formular.

 

- Se eu não estivesse tão preocupado e em estado de choque, eu faria um belo vídeo seu com essa merda nas mãos. – Michael pontuou, confirmando o que eu já sabia... Que seu maior divertimento era me ver constrangido, sentindo fogo queimar meu rosto, ao que eu me mantinha de costas e me direcionada até a porta, aparentemente fechada, que levava à capela.

 

- Quer ajuda pra colocar a armadura também? Devo chamar os cavaleiros da Távola Redonda? – Robert completou, em questão de segundos, enquanto, mentalmente, eu revisava o que eu tinha que fazer e Michael resmungava para Robert um “Você deveria saber que o nome do meio dele é Arthur...”, que quase me fez arremessar a espada em meu irmão. Principalmente quando McCracken achou que poderia continuar a falar em um momento como aqueles. – Eu juro que estou tentando não fazer piadas sobre Excalibur e Merlin, mas você não está facilitando para o meu lado. – “Cale a boca.”, retruquei, ciente de que a arma que eu tinha em mãos poderia voar a qualquer instante na cabeça de um dos dois. Obtive como resposta, não o silêncio, mas uma completa contrariedade ao meu pedido ríspido e já transparentemente nervoso. – O que você vai fazer?

 

- Vou precisar acordar Frank pra me ajudar e... – Comecei, a mão espalmando a porta diante de mim, ao que eu fechava meus olhos e respirava fundo, sob a voz estridente e nada contida de Robert ao exclamar um “Você vai esfaquear o meu amigo?!”, que me fez virar imediatamente em sua direção. Ele e Michael estavam parados bem atrás de mim, causando-me uma sutil surpresa, olhos espantados e receosos diante de um completo maluco com uma réplica de uma espada medieval em mãos. – Quer calar a boca? Eu vou salvar o seu maldito amigo, só estou tentando arranjar algo para me defender sem precisar abrir buracos em pessoas... Essa espada é uma réplica, não está afiada. Eu não vou esquartejar ninguém. – Fui o mais claro possível, observando tanto Michael, quanto Robert movendo a cabeça em afirmação, talvez não acreditando muito em minhas palavras. E eu não as reforcei, eu já não fazia a menor ideia do tipo de coisa que eu faria dali para frente. – Vocês dois... Ajudem Alicia.

 

- Acha que é uma boa ideia? – A certeza de que Robert não sabia o momento de parar e que não reconhecia o famigerado limite era uma constante, principalmente quando voltou a tagarelar, meu irmão o olhando com seu ar quase tipicamente egocêntrico, como todo Way que se preze. – Eles são entidades demoníacas... Mesmo que você enfie essa merda na bunda deles, o que eu acho muito difícil, eles podem fazer picadinho de você num piscar de olhos. – Michael quase riu, não sei exatamente por qual razão, mas eu respondi Robert, em um misto de confortá-lo a respeito de trazer Frank de volta, e finalmente calar a sua boca, já me direcionando à porta, a mão sobre a maçaneta antiga, pronto para abri-la a qualquer segundo.

 

- Eu tive aulas de defesa pessoal no monastério, posso não saber lutar com uma espada, mas sei como machucar pessoas... – Senti meus dedos trêmulos sobre a maçaneta, empurrando-a gentilmente, a fim de não fazer muito alarde, enquanto o oposto crescia dentro de mim. Eu poderia me sentir um pouco mais confiante com uma espada em punho, mas isso não anulava a obviedade do que eu estava começando a sentir a respeito de Frank Iero... Desde a mensagem de meu irmão, desde que eu havia tido aquela manhã estranha ao lado daquele garoto em Bordeaux. Desde a primeira vez em que seus olhos amendoados prenderam-se aos meus, em meio a um exorcismo. – Confie em mim, seu amigo vai voltar são e salvo.

 

- Você esteve em um clubinho de orações ou na Scotland Yard? – McCracken deveria saber o exato momento de parar, então eu apenas me virei com rapidez para trás e o fuzilei com meus olhos, ao invés de fazer Robert minha primeira vítima com aquela espada. E havia sido o bastante para que entendesse, erguendo as mãos, uma delas com a arma entre os dedos, em sinal de rendição. Finalmente. – Okay, okay... Eu estou quieto.

 

 A espada em minha mão já estava preparada para ser arremessada a qualquer momento contra a primeira figura que avançasse sobre mim, assim que escancarei a porta e, com o ruído assustadoramente alto desta batendo contra a parede amadeirada da catedral, chamei toda atenção para aquele pequeno trio cujo qual eu fazia parte. Michael xingou baixo, engatilhando a arma em uma das mãos e já tratando de agir, seguindo por meu lado direito, onde vi, além de uma das pilastras e saltando dos bancos amadeirados da catedral, Alicia lutar, sem qualquer armamento, com dois homens que pareciam não ter vantagem alguma sobre ela. Antes que eu me atentasse a entender os tipos de movimentos que fazia, todos de uma leveza e profundidade grandes e que não podia compreender, Robert quase me empurrou, chamando por Frank, ao que parecia ter identificado, em outro ponto, um pequeno grupo de inocentes escondidos.

 Por segundos, foi engraçado ver Robert pular alguns bancos, muito longe da graciosidade e agilidade que Alicia possuía, sob gritos que vinham de todos os lados. Avistei seu desaparecimento rumo ao lado oposto da Igreja, onde o antigo altar amadeirado ficava, longe da figura decorativa de uma águia, sempre visitada por turistas e que estava a poucos metros de onde eu me encontrava, próximo a uma das coxias, onde pude ver uma pequena luta entre um velho padre e um rapaz de roupas sujas se iniciar. E ser separada por um Robert que não sabia usar a arma que tinha em mãos, mas parecia ser bom em empurrar, chutar e fazer sabe-se lá o quê para proteger o velho senhor e um grupo de beatas que tentavam se esconder.

 Em um primeiro momento, não encontrei Frank. Nem mesmo quando parei de ser um estagnado e segui o lado oposto dos outros dois, partindo por um corredor de bancos amadeirados e bem polidos, mas que haviam sido derrubados. Eu tentava cortar caminho, avistando a estátua do anjo, a referência dada pelo meu irmão, quando uma figura correu em minha direção. Pude escutar seus passos nada discretos pelo chão de mármore, então não foi uma completa surpresa, quando uma criatura, também de roupas manchadas, parou diante de mim, um sorriso ensanguentado pairando em seu rosto.

 As roupas pareciam com as dos vultos ensandecidos que atacavam Alicia a poucos metros dali... Um dia pareciam ter sido brancas ou de um tom bastante claro, agora eram pinceladas de algo que parecia lama (eu implorava para que fosse apenas lama mesmo) e sangue. Viscoso, avermelhado, porém com uma ligeira tonalidade e odor que me fizeram ser tomado por uma absoluta sensação de pavor. Não um medo direto e que me faria correr para longe dali, mas um pânico por saber que aquele sangue possivelmente não pertencia ao rapaz de cabelos claros (igualmente encardidos como suas roupas) e sorriso insano.

 Antes que eu fosse atacado, a espada encontrou um dos ombros do rapaz, em um baque que ecoou naquele ponto da catedral. A peça era pesada, meu esforço ao erguê-la e acertá-lo havia sido bastante digno, mas parecia não o impedir de tentar avançar sobre mim... O baque, um resmungo descontente do homem e, logo, ele estava me prestando o trabalho de precisar me defender. E digamos que, em partes, eu era até bastante diligente e articulado.

 Parte de mim pensou em correr, em um ato covarde e longe do que autoproclamei desde o momento em que decidi salvar Frank Iero e o resto da humanidade, mas, por ora, me restava tentar lutar e abrir caminho até aquele ponto, cujo fixei rapidamente com um olhar. A estátua do anjo, uma pequena fonte posicionada diante de um mural azulado e ladrilhado por vidros, em um mosaico customizado, não era difícil de se achar e muito menos estava muito distante. Apenas aquele homem, com seus olhos enegrecidos, corpo aparentemente forte demais para uma réplica de uma espada medieval sequer ferir e alma guardada em algum lugar daquele pobre coitado... Ou destruída, dilacerada pelo o que quer que estava o tomando e o moldando a tornar-se um assassino. Que, no caso, tinha eu como alvo e parecia necessitado em colocar suas mãos em mim.

 Evitando que o fizesse, eu decidi continuamente atacar. As aulas de defesa pessoal eram de uma eficiência até que notável, uma vez que eu não continuei no monastério tempo o suficiente para me aprimorar. Mas eu sabia usar uma espada, desviar de alguns golpes, empurrar aquele homem em ataques defensivos e contidos e, principalmente, uma falta de paciência que se propagava por cada músculo meu e era reproduzida naqueles ataques nem sempre muito certeiros, mas que serviam de uma boa distração, até que eu arquitetasse a saída perfeita que não envolvesse sangue e morte.

 Não demorou muito para que eu lembrasse do que eu fazia melhor e que era meu objetivo imediato ali, antes mesmo de salvar Frank: aquele homem possuía um demônio dentro de si, um dos fortes, igualmente como dos outros que atacavam os inocentes ao meu redor, e eu era muito estúpido em ainda não ter dado um jeito de libertá-lo do corpo daquele pobre coitado. Se é que aquele homem ainda possuísse um pouco de si ou sequer estivesse vivo sob todas aquelas assombrosas circunstâncias. Afinal, ele parecia um dos zumbis dos filmes favoritos de meu irmão, inabalável, sem um arranhão sequer, a cada golpe que eu desferia com a espada, com todo o intuito de derrubá-lo e deixá-lo em guarda baixa.  

 Algo deveria ser feito e eu o fiz, sem pestanejar.

 

- Ecclesiae uni, sanctae, catholicae, et apostolicae, quam Christus ipse acquisivit sanguine suo. – Entoei as palavras, recebendo exatamente o que eu esperava daquela criatura. Os ataques, socos e tentativas de chutes dissiparam-se dando lugar a uma expressão angustiante e dominada por cada palavra em latim que eu passava a exclamar, quase gritar, permitindo que minha voz ecoasse por cada canto daquela catedral, na esperança de que aquelas criaturas não só o parassem, mas fizessem com que seus corpos encontrassem a redenção. – Humiliare sub potenti manu Dei; contremisce et effuge, invocato a nobis sancto et terribili nomine Jesu, quem inferi tremunt, cui Virtutes caelorum et Potestates et Dominationes subjectae sunt... – As palavras não estavam completamente contextualizadas, eu não estava com meu terço e minha bíblia em mãos, mas eu tinha fé. E eu a sentia percorrer meus dedos, ao que havia erguido a mão livre em sua direção. Não queria só libertá-lo, mas também prosseguir... A agonia de escutar os xingamentos de Mikey, berros de Robert e Alicia entoando enoquiano, em uma discussão com quem eu acreditava se tratar de ser seu irmão, eram quase como combustíveis para mim. E eu venci, em minhas palavras e gestos, empurrando o homem com a ponta da espada, até ajoelhar-se diante de mim, não só encurralado, mas frágil... O corpo aos meus pés tornando-se cada vez mais apático e imerso em convulsões. – Quem Cherubim et Seraphin Indefessis vocibus laudante, dicentes: Sanctus, Sanctus, Sanctus Dominus Deus Sabaoth! – Exclamei, o corpo inteiro tomado por algo maior que um dia já senti, a adrenalina da luta ainda estava em algum lugar dentro de mim, mas havia algo atroz e impetuoso ocorrendo dentro de mim. E eu não conseguia controlar.

 

 O que vi primeiro não foi o homem diante de mim perecer, muito menos seu corpo cair diante de meus pés, inanimado, ao que um líquido escuro, como sangue altamente coagulado, escorria dentre de seus lábios... Nem mesmo seus olhos tornando-se esbranquiçados e, em um ruído chiado, beirando o animalesco e o paranormal, algo dentro do homem queimar e esmaecer também dentre seus lábios, juntamente do líquido, em uma fumaça escurecida. Não, eu não vi nada daquilo de imediato... Eu vi Frank. O pequeno rapaz estava estirado no chão, logo atrás da estátua de anjo esculpida em toda sua beleza. E eu vi sangue. Muito sangue.

 Correr foi a opção seguinte, prevendo algo catastrófico, já podendo escutar Robert gritar comigo por não ter salvado seu amigo. Atingi um vulto com as mesmas roupas sujas que o homem que anteriormente quis se atravancar comigo, a espada rebatendo em um corpo tonto e que parecia estrebuchar, até que caísse diretamente ao chão, em meio a uma saga que girava em torno de me aproximar de Frank. Então, vi que ele se movia, arrastando-se, sob uma poça de sangue, com extrema lentidão. Estava ajoelhado sobre o chão de mármore encardido com o tempo e ocupava os dedos avermelhados em desenhar algo com, talvez, o seu próprio sangue. E fazia tudo aquilo resmungando uma espécie de cântico incompreensível, mantendo seus olhos fechados e longe do meu campo de visão, uma vez que abaixou a cabeça, sob o som dos meus passos mais bruscos, naquela corrida até onde estava.

  Com a proximidade, não demorei a identificar o que Iero estava fazendo atrás daquela imagem santa: um grande pentagrama ensanguentado manchava o chão da Catedral, rodeado de símbolos desconhecidos, uma única palavra em enoquiano desenhada no centro deste, grande o bastante para que uma pessoa do tamanho de Frank pudesse ter o diâmetro do círculo principal. A mão de Frank que finalizava um último traço em um símbolo menor e em espiral tremulava, ao que a livre, também suja de um sangue escarlate demais, o forçava a manter-se naquela posição, inclinando-se uma última vez, ao que sua voz grossa e melodiosa ecoava da mesma forma que antes: incerta e em um dialeto que me causava arrepios.

 Parte de mim não compreendia, mas uma boa fração estava quase assumindo o óbvio, ao olhar ao meu redor, averiguando a cena infernal ao meu redor. Michael estava seguro, ajudando Robert a puxar corpos desacordados para o outro extremo da igreja, todos aqueles homens desmaiados, sujos e com aparência cadavérica pareciam ter sidos arrebatados de uma só vez, enquanto Alicia e um rapaz, um pouco mais alto que Frank e Robert, travavam uma batalha dialética, uma discussão que fazia as paredes ao nosso redor tremular. Ela estava suja de sangue em alguns pontos, mas não estava ferida, parecia a mais apta a destruir todos aqueles homens de uma só vez, quando, ao perceber que todas as figuras religiosas daquela igreja, padres e beatas, tinham o olhar voltado em minha direção. Ou melhor, na direção de Frank.

 Fraco, ele respirava com dificuldade, o corpo ainda curvado, quase como se protege-se, ao que repetia incansavelmente as mesmas palavras, uma simples frase, que parecia endurecer mais e mais sob o tom gritado de sua voz. Então, toda aquela sensação que me tomou foi justificada, ao que me percebi aturdido, não como aqueles homens, mas como se uma quantidade exorbitante de energia vagasse meu corpo. E emanava dele, de suas mãos pequenas ligeiramente erguidas sobre o pentagrama desenhado, fazendo com que todas as testemunhas ao nosso redor fugissem pela porta da loja de St. Giles, restando apenas o nosso grupo tão atípico e o homem altivo demais para alguém que parecia não passar dos vinte anos. Então era isso... Frank estava praticando alguma vertente de ocultismo bem diante dos meus olhos, algo que o fazia ficar prestes a desmoronar, mas que trazia àquela Catedral uma energia cuja eu não consegui identificar. Mas que imediatamente compreendi o seu poder, logo que Iero exclamou uma última palavra, quase gritada, em uma voz tremida e que parecia não lhe pertencer, finalizando o que quer que aquilo fosse.

 Alicia foi a primeira a ser atingida, algo fazendo com que seu corpo desmoronasse e Michael prontamente corresse em sua direção, para ampará-la naquele súbito desmaio. As luzes da Catedral apagaram-se de uma só vez, ao que, de alguma forma, um vento estratosférico fez com que candelabros ruíssem, alguns sendo arremessados pelo chão, ao que eu precisava agarrar-me na imagem do anjo ao meu lado, este que segurava uma concha um tanto quanto grande, onde água naturalmente brotava por algum artifício. E, enquanto eu tentava me recuperar de Alicia, da ventania, falta de luz e um Frank praticamente enlouquecido, eu vi a água, bem diante de meus olhos, tornar-se escurecida. Não, em um tom de preto, não como se estivesse suja de onde quer que viesse... Mas vermelho. Exatamente do mesmo escarlate que Iero havia utilizado para cometer aquela infâmia em solo sagrado.

 Sem que eu sequer pudesse protestar, ele repetiu as mesmas palavras, algo como “Asps O Noko” ou alguma desgraça do gênero, o que eu ainda não fazia ideia do que significava, com o triplo de intensidade, até que sua voz soasse em um tom gritado e rouco, que provavelmente deveria ter lhe ardido a garganta, devido sua expressão atordoada, cuja ainda me privava de ver seus olhos amendoados. Então, outro baque, sob as exclamações de Michael para que Robert o ajudasse a levar Alicia para fora dali, e eu vi o rapaz, vestido inteiramente de preto e destoando de seus “capangas”, ser arremessado e não somente cair desacordado. Seu corpo pairou no ar por segundos antes de cair a alguns poucos metros de onde estávamos, em uma posição inquietante. Ao mesmo tempo, toda a ventania, toda a tensão ao meu redor e o que quer que estivesse ocorrendo com Frank Iero cessaram de uma só vez.

 E lá estava o estranho rapaz, possível irmão de Simmons, derrotado e tão vulnerável quanto os outros. Os pés unidos, contrapondo-se os braços estendidos, o corpo formando a imagem sagrada d’O Salvador pregado à cruz, de uma ironia não muito bem vinda. Parecia vivo, como pude prontamente averiguar, mas a palidez era proeminente, assim como a expressão de choque que vagava o corpo desacordado. Então, ao que Michael me lançava um último olhar, antes de sumir com Alicia em seus braços e Robert extremamente preocupado em segui-los e empurrar corpos com os pés, eu me voltei para a outra parte daquela “equipe”, o frágil rapaz que continuava ajoelhado, agora as mãos sobre os joelhos, manchando a jeans que usava com sangue que, então, percebi que pertencia a si.

 

- Que merda foi essa?! Você os matou?! – Fiz a dupla de perguntas mais idiota que poderia me caber, enquanto o averiguava com o olhar, buscando o ponto em que estava ferido e de onde havia surgido todo aquele sangue. A blusa xadrez de Frank estava rasgada em um local próximo da lateral de seu abdômen, onde prontamente levou uma das mãos, ao me responder com um sarcasmo convencional. “Não, só os coloquei pra descansar um pouco, toda aquela gritaria estava me dando dor de cabeça.”, foi retrucado, assim que Frank permitiu que eu pudesse olhar seus olhos caramelos, voltados em minha direção, ao que, lentamente, parecia sentar-se melhor sobre o chão, nitidamente resmungando em sinal de uma dor que eu tinha certeza absoluta de que queria esconder de mim. – Você precisa de ajuda? – A pergunta foi imediata, ao que eu me afastava da fonte, o olhar pairando rapidamente na água, novamente cristalina, me fazendo acreditar que tudo o que eu havia visto era algum fruto da minha insana imaginação. Era a única opção, não era?

 

- Não, só quero que você cale a boca... Já dei um jeito nesse desgraçado, só preciso que... Verifique se ele está realmente desmaiado, não pretendo escutar aquela ladainha em enoquiano tão cedo. – Indicou o rapaz com a cabeça, antes de curvar-se um tanto, escondendo o que quer que estivesse acontecido ao seu corpo. Frank era teimoso, ainda que eu fosse bastante, e superava todas as minhas barreiras de paciência a seu respeito, quando me olhava com aquele ar superior, de soslaio, como se estivesse me dando um trabalho que eu estava demorando demais a cumprir. – E pelo o que parece, Alicia estava certa... Eles a querem pra concluir um maldito plano. – Assenti com a cabeça, ao que ainda me mantinha estático, observando-o tentar fingir que não averiguava o corte na lateral do corpo, conforme eu me via curioso demais. Frank se dizia conhecedor de demonologia, o que provavelmente englobava angeologia, mas nunca havia mencionado que estava preparado para enfrentar aquilo. Não ao ponto de precisar sangrar para salvar nossos pescoços.

 

- Eu estou acostumado com jovens indefesas, anjos caídos não são o meu forte... Mas parece que você entende bem o suficiente pra conseguir surpreendentemente derrotá-los. De onde você tirou isso? – Arqueei uma das sobrancelhas e mantive o olhar que Frank lançou a mim. Não era o melhor momento para iniciar aquele tipo de discussão, nós precisávamos ponderar a respeito do rapaz desacordado a poucos metros dali e, principalmente, verificar se Alicia estava bem, mas era mais forte do que eu. Alguma coisa explicável e, ao mesmo tempo, questionadora, parecia se alastrar pelos quatro cantos do meu corpo toda vez que Frank Iero e eu ficávamos sozinhos. E eu já havia desistido há muito tempo de cogitar que aquilo se tratava de mero e inevitável ódio. – Quer saber? Eu prefiro não saber, sinceramente. – Estava prestes a lhe dar as costas, devido a alguma força, mais uma vez inexplicável, que se apoderou de mim, buscando clarear minha mente. A maior dificuldade em estar diante de Frank tão constantemente não era apenas toda sua beleza atípica e seu jeito marrento e intimidador. Eram os pensamentos... Todos eles errados, todos eles com verdades que eu não conseguia suportar.

 

- O que é que você está fazendo com uma porra de uma espada?! – Então ele percebeu uma das minhas mãos ainda firmes naquele objeto, fazendo-me quase escondê-la atrás de mim, na esperança de que fingir que nada daquilo havia acontecido. Despenteado, ensanguentado e com as sobrancelhas bem desenhadas erguendo-se em minha direção, esperando por uma resposta, Frank me encarou e obteve um “Salvando a sua pele, Robert acabou de sair com Michael e estão levando Alicia, aparentemente essa droga que você fez a desacordou também.” dito a contragosto. Afinal, assumir, em voz alta, que eu havia bancado o herói para Frank Iero era um pouco demais. Principalmente quando ele sorriu... O sorriso enviesado, os cabelos pendendo, ao que movia a sua cabeça graciosamente para o lado, sentando-se corretamente no chão, assim que eu apoiei a espada envelhecida contra a estátua de anjo ao meu lado. E não fez careta alguma por dor e parecia até que esta não existia, quando ele retrucou com uma pergunta. – Você não veio de cavalo branco também?! – “O que?!”, exclamei, fingindo ultraje, enquanto eu só me arrependia de ter sido tão corajoso por ele. Okay, quem eu queria enganar? – Certo, me ajude... – Aquele pedido era o que eu menos esperava, não era alguma brincadeira ou um ato de desespero, era sincero. Seus olhos clamavam a dor que não mais tentava esconder, e as mãos, ensanguentadas tanto quanto a camisa, eram reflexos de uma fraqueza que, aos poucos, parecia surgir. – Eu infelizmente não estou no meu melhor estado e odeio admitir isso, mas vou precisar de você pra sair daqui... – Pela primeira vez, o vi daquela forma, como o rapaz pequeno que era, sem muito jeito, até mesmo frágil, completamente ao contrário da armadura imponente que vestia... Alguém que precisava de mim e que não parecia tão envergonhado ao assumir aquilo.

 

- O que nós vamos fazer com ele? – Perguntei, sem pressa em me movimentar e realmente me encaminhar até Frank. Ele me olhava debaixo, desconfortável com aquela posição, enquanto eu tentava segurar toda a minha presunção, indicando o rapaz com a cabeça. – Mantê-lo em cativeiro?! – A pergunta era mais uma vertente do meu humor atípico, enquanto eu estendia as mãos para Frank, encarando meus dedos a fim de não permitir que estes tremulassem pela ânsia em alcançar os de Iero, ao mesmo tempo em que precisava encontrar os dele, encarar as tatuagens, a pele de tom agradável e tão bem adornada. Então, assim que ele me alcançou, achei que era uma ótima ideia olhar seu rosto, encontrando-o não apenas cansado e cadavérico demais para alguém que tinha vida o bastante dentro de si para me atazanar. Frank sorria endiabradamente, sob a realização recente de minhas palavras. Pois é, talvez eu realmente despertasse o lado maligno daquele garoto mais do que deveria. – Oh... Não, não, não! Não mesmo! Nem pense nisso! Não temos como colocá-lo em cárcere! – Minhas mãos eram gélidas e trêmulas sobre as dele, agora igualmente manchadas de sangue, enquanto, gradativamente, nossos dedos se entrelaçavam. Então, eu mergulhei em uma perdição instantânea.

 

 Nada do que veio em seguida foi fruto do sangue manchando minhas mãos, de nossos dedos quase escorregando daquele atar devido ao líquido espesso, muito menos a ousadia de Frank em pensar em manter alguém refém. Tudo era proeminente de simples toques, da força com que Frank me puxava e eu o fazia de volta, a pressão entre nossos dedos e palmas, as minhas encaixando-se nas dele e, devido a diferença de tamanho, quase alcançando seus pulsos, ao que meus dedos por ali roçaram e conseguiram o firmar melhor. Havia a força, como eu disse, mas havia uma delicadeza quase imperceptível e que havia partido dele, não de mim... As pontas de seus dedos ensaguentados enroscavam-se não só em minha pele, roçando delicadamente, ao que eu o ajudava a levantar-se, mas me tocavam com uma intimidade que nunca havia sido partilhada. Nem com ele, nem com ninguém. Frank não atingia apenas meu exterior... Algo inflava dentro de mim, tomava proporções abruptamente devoradoras. E consumia... Frank me consumia por inteiro.

 Atento, pude perceber o segundo preciso no qual ele sentiu a mesma coisa que eu. Ele ainda sorria, desafiador, como o típico garoto inconsequente que era, mas o olhar... As orbes amendoadas mascaravam uma surpresa aterradora, um igual reconhecimento que eu não conseguia camuflar. Iero poderia ser bom em esconder, arriscar comentários ácidos ou voltar a situação para o seu próprio proveito, dizer que tudo era fruto de uma “queda” que eu possuía por ele, ainda que ele sentisse... Ainda que eu tivesse visto quando ele caiu da mesma forma que eu. Despencou, para falar a verdade, em um golpe não muito honesto e cujo qual não havíamos previsto desde... Bem, sempre.

 Mãos se conheciam, se tocavam com uma intimidade que não buscávamos esconder, uma vez que Frank havia conseguido ficar de pé, nem uma expressão dolorosa sequer denunciando a ferida que o afligia, nada... Só a recognição do óbvio. Ainda estávamos em queda, a única coisa que nos firmava em terra era a força com que Frank se agarrava à mim, ainda sem uma resposta nítida que não fosse o mesmo que eu sentia e mentia diariamente não só para mim, mas para ele, para Michael, para qualquer um que visse e notasse o óbvio. Da mesma forma que eu percebia o mesmo espécime de mentira inconstante nele, dissolvendo-se, mostrando um Frank afetuoso, uma visão que eu nunca cogitei, completamente aliviado.

 E eu me senti da mesma forma. Livre de algo que era enigmático para mim, mas completamente aprisionado por Frank.

 

- Ahn... Ás vezes você tem ideias geniais, Way. Um pouquinho de tortura nunca é demais. – Frank ofegou aquelas palavras, em um tom anormalmente sexual para nossas conversas, o que me fez apresentar certa demora ao registrar o que havia sido dito. Acreditei que falava sobre mim, sobre me torturar, como não mais fazia só com palavras, como antes, quando ele riu e emoldurou aquela careta (quase adorável, afinal, eu ainda persistia em teimar ao enxergar apenas as estranhices de Iero), ao finalmente se entregar um pouco à dor. Oh, Frank estava falando do cara estirado no chão ainda, não da gritante conexão que havia entre nós dois.

 

- Eu não tive ideia alguma! – Protestei, me achando um tanto quanto infantil pela sonoridade da minha voz e por estamos ali, de mãos dadas, discutindo se deveríamos manter um nefilim de refém, enquanto o mundo ao nosso redor não havia entrado na mesma pausa que nós dois. E tanto Frank, quanto eu, não dávamos uma mínima para isso. – Você está ferido, quer dar um tempo e normalizar as coisas? – Não sabia se não havia soado preocupado, mas indiquei, com um mover, a camisa de Frank ensopada de sangue, notando-o enganar-me com seu falso sorriso estonteante (okay, não tão falso assim) e nariz franzido, em uma discordância ao que eu havia mencionado. Não, ele não daria descanso algum, eu era muito iludido em cogitar aquilo. – Nós precisamos de um plano primeiro e que os outros estejam aqui pra concordar com o que quer que a sua mente insana venha a propor. Somos uma equipe, não somos? – E eu não havia acreditado, em toda a potencialidade da minha falta de reconhecimento ao que nós cinco éramos, que iria assumir tão facilmente. Sem ironia, sem revirar meus olhos ou esperar para complementar com alguma anotação ácida sobre o quanto aquilo poderia ser repulsivo. Quando não era.

 

 Nós éramos uma equipe. E não adiantava mais o Gerard Way que clamava sua sanidade e quase solidão, ao lado do seu irmão, persistir sobre o contrário e acreditar que tinha controle sobre tudo e sabia de cada vertente religiosa e podia defender o mundo com as próprias mãos. Estava claro em como eu e Frank trabalhávamos juntos naqueles últimos dias, em como Robert e Michael pareciam se virar muito bem e Alicia tinha a difícil missão de nos orientar e nos firmar, a espécie de âncora que precisava surgir em nosso caminho. E eu não era o único, Frank também era derrotado pela verdade.

 E, novamente, nós dois não nos importávamos.

 

- Você é surpreendente. – Preferi não olhar para Iero, ao que proferiu aquelas palavras, o ajudando a caminhar até o banco da igreja mais próximo. Mãos atadas, pés quase tropeçando e olhos buscando um ao outro, enquanto, se é que fazia algum sentido literal, fugiam... E iam para longe, para os dedos entrelaçados, para como eu ficava igualmente ensanguentado e como ele parecia ainda menor e mais frágil com sua força debilitada e o corte quase exposto pela camisa rasgada. – E sim, precisamos de um plano... Nós podemos colocá-lo dentro de uma caixa e falar que são arrecadações da congregação pra pessoas necessitadas? – Para ser sincero, uma risada morreu no fundo da minha garganta, ao que pressionei os lábios e impedi que ela se projetasse, uma vez que Frank havia soado exatamente como uma criança prestes a se divertir ao entrar na Disneyland. “E estamos levando doações no meio da noite?! Realmente muito convincente.”, precisei soltar uma de suas mãos, um tanto a contragosto, enquanto nos aproximávamos do banco amadeirado mais próximo, entortado em certo ponto, mas aparentemente seguro. Frank tremulava, opondo-se ao seu tom sempre com um pé de provocação, ainda que parecesse falar sério. – Elas podem ser urgentes, ué... E... Quer parar de colocar problema em tudo? Esse lance de ser tão certinho me deixa angustiado ás vezes. – Fez uma pausa e eu estava em busca do primeiro xingamento que eu poderia jogar na cara dele ou até mesmo o tipo de incitação que o faria calar-se, quando ele continuou, ainda tão agarrado à minha mão, ao sentar-se no banco, que cogitei que Frank fosse quase capaz de quebrar meus dedos se quisesse. – Não pode relaxar um pouco?

 

 A pergunta foi como um demônio se apoderando de mim, sem qualquer consentimento, um demônio que era Frank por completo e seu descaso ao largar-se naquele banco de igreja e simplesmente erguer a camisa, sem aviso, sem qualquer menção de que o faria, em um movimento brusco. E, respondendo mentalmente à pergunta que me havia sido feita, era impossível relaxar. Inadmissível e eu sequer protestava, quando eu sentia uma eletricidade drástica e arrebatadora percorrer meu corpo, fazendo-me dar alguns passos para trás, como se Frank fosse arremessar alguma coisa em minha direção, quando tudo o que ele havia jogado bem diante da minha cara havia sido o seu corpo.

 A pele exposta.

 As tatuagens.

 O sangue.

 E eu era um doente por ser atraído por todo aquele contexto. Um doente sádico, porém bem ciente do tipo de coisas que carregaram minha mente em pensamentos cada vez mais homoeróticos.  

 Em minha defesa, qualquer ser humano em suas mais perfeitas faculdades mentais não resistiria em olhar e encarar tudo aquilo que Frank era. Talvez não pensar na quantidade de perversões que eu pensei, mas isso não é um assunto recorrente... A questão principal era ser impossível resistir aos desenhos em seu corpo, a cor ligeiramente amorenada daquela pele, tão contrastante com a palidez da minha, e como todo o conjunto de Frank, os desenhos, a camisa rasgada e erguida, a ferida, que era um traço avermelhado e sanguinolento na lateral de sua cintura, faziam meus olhos fincarem-se naquele pedaço de pele como se o visse pela primeira vez. Em partes, era verdade... Eu estava finalmente enxergando Frank.

 E ele era lindo.

 

 

- Não, é só... – Falar era o que eu mais fazia e se tornava cada vez mais difícil na presença dele. Frank me olhava, curioso, as feições curvando-se em algo que tentava ler o que o meu olhar sedento significava, então levei uma das mãos para a calça escura que usava, limpando-a compulsivamente. Ao mesmo tempo, me prontifiquei a pigarrear, tentando ajeitar minha postura, tapas sendo acertados em minhas próprias coxas, ao que, distraidamente, eu tentava formular qualquer frase. E claro, eu soei o mais óbvio possível. – Você está sangrando demais. – Revirou os olhos, como uma primeira resposta, antes de voltá-los ao ferimento escarlate, grunhindo ligeiramente (eu precisei contar até dez para me acalmar, após tal ruído) e responder um “Eu estou bem... Um daqueles caras tentou me atacar e... Eu aproveitei pra... Enfim, você sabe o que eu fiz e eu estou bem.”. Frank era teimoso ao extremo e eu quase o agradeci por isso. Afinal, quando ele era tão intragável quanto a minha arrogância, eu conseguia ver o seu “lado negro”. – Não, não está. Sente aí, eu vou tentar falar com Michael e... Estanque esse ferimento. – Disse tudo muito rápido, prestes a contornar aquele banco e seguir pela entrada lateral, a fim de buscar o resto de nossa infame equipe, carente de apenas alguns segundos de completa solidão ou simples ausência da figura de Frank, a camisa erguida, seus ofegos e uma fragilidade, cuja qual eu me sentia um completo idiota em ignorar, tão necessitado de outras coisas. Eu precisava de um tratamento, de horas de oração... De qualquer coisa que exorcizasse o pior demônio que eu poderia entestar em minha vida: Frank Iero.

 

- Não me dê ordens, eu... Ah, vá à merda! – Fingi não notar Frank descompensado, atrapalhado em suas palavras e até mesmo respiração não muito contida, principalmente em sua rápida “saída” ao meu xingar, sinal de que o desconforto entre nós dois já havia sido quase normalizado. Outro ruído, dessa vez ainda mais dramático que o anterior, conforme parecia ajeitar-se no banco e eu lhe dava as costas em definitivo, indeciso entre voltar e ajudá-lo, olhar para o tal rapaz desacordado no chão ou procurar meu irmão. Tantas perguntas martelando minha mente sempre tão indecisa e me fazendo estagnar. Até mesmo quando uma figura histérica e desajeitada partiu em minha direção, recém saído do mesmo ponto ao qual adentramos a Catedral, a loja de suvenires, gritando por Frank incessantemente. E eu sequer precisei me virar para verificar de quem todo aquele drama era originário, afinal, era tão óbvio quanto a minha vontade de me afastar de Iero. – Ei, ei... Eu estou bem, Bert!

 

- Eu não vou mais deixar você ir a lugar algum sozinho, está me ouvindo bem? Não vou! – Minha ânsia de sempre manter meus olhos presos à figura de Frank fez com que eu me virasse para trás, lentamente, agradecendo por McCracken e Iero prontamente se entreterem com seus próprios dramas. Robert estava sentado ao lado do amigo, as mãos tateando a pele ensanguentada de Iero, com extremo cuidado, ao que Frank tentava acalmá-lo e voltar a descer a camisa, em um ato mais forçado para esconder a ferida do amigo. Em vão, Robert já o olhava com seus olhos azulados enlouquecidos, desviando-os somente para o corpo “crucificado” ao chão, não muito longe de onde eu havia parado para ver aquelas duas pequenas figuras interagindo. – Eu posso matar aquele desgraçado ali?! Foi ele quem fez isso com você, não foi?!

 

- Não! Não pense numa merda dessas, caralho! – Frank era grosseiro até com Robert, empurrando-o contra o banco (percebi certa dificuldade naquele ato também) através de um dos ombros, quando o amigo estava prestes a colocar-se de pé. Se Robert queria tentar matar o tal indigente demoníaco estirado no chão, ele não iria conseguir. Frank estava determinado ao extremo, resmungando as palavras seguintes para McCracken. – Nós vamos precisar dele como fonte de informações, infelizmente.

 

- Onde está... – Voltei para os dois, ganhando uma rápida atenção de Robert, enquanto Frank era o único que havia continuado a olhar para mim, prestes a completar a frase, até a minha resposta surgir pela mesma porta da qual McCracken apareceu. Michael parecia um pouco exausto, despenteado, com cortes em sua camisa, mas sem qualquer sangue aparente. A arma estava escondida, mas à vista, um volume se formando na cintura, abaixo do moletom, e pela expressão calma em seu rosto, a ausência de Alicia não era algo ruim. – Oh, okay, era você quem eu estava procurando. É melhor levarmos Frank imediatamente para o hotel e cuidar desse corte bizarro. – Indiquei Iero com um manear de minha cabeça e o observei erguer-se um tanto, sem conseguir levantar-se de vez, para ver Mikey parado, apoiando-se em uma das pilastras de mármore bem trabalhadas da Catedral. Meu irmão assentia com a cabeça, mas eu sabia que seus olhos vagavam cada centímetro daquele sagrado recinto, averiguando cada registro catastrófico deixado não só por nós, mas, principalmente, por aquelas malditas criaturas. Eu não me atentei, havia uma confusão maior para lidar no momento e ele tinha grandes olhos cansados e estava ensopado de sangue. – Não sei se é seguro levá-lo a um hospital, mas acho que com um kit de primeiros socorros, Michael pode dar alguns pontos nesse corte e impedir que cause alguma inflamação... E que você viva até a próxima entidade maligna não ir com a sua cara e decidir te matar novamente. – E eu juro que Frank sorriu para mim, antes de descer seu olhar para a camisa, ajeitando-a em seu corpo, e impedindo-me de ver qualquer coisa, os cabelos recaindo sobre seu rosto, ao que eu me obrigada e me focar em um Michael que fazia sinal para que saíssemos logo dali.

 

- Deixa comigo, irmãozinho. Eu acho que realmente precisamos ir agora, antes que as autoridades apareçam ou aqueles padres irados surtem e tentem nos agredir com crucifixos. – Michael sequer precisou olhar para mim para rir da minha irritação a respeito de sua fala e, logo, o olhar pairou mais além, precisamente no corpo no chão, tão paralisado, que eu já estava realmente cogitando sua morte. Meu irmão franziu o cenho, logo emendando, aproximando-se enfim. – Ali está nos esperando num carro, conseguimos um táxi e ela já está acordada... O que vamos fazer com esse cara?

 

- Vamos dizer que ele bebeu demais e tentou invadir a Catedral. – “E nós vamos ter que carregar ele pra fora? Tem certeza de que eu não posso quebrar alguns ossos dele?”, Robert imediatamente perguntou, enquanto Frank ainda falava, recebendo um bom “não” com a cabeça, que o fez bater com os pés no chão e tudo mais. Então, o amigo indicou o corpo no chão com um outro manear de sua cabeça, tornando Robert menos birrento e mais à par do que deveria fazer. – É uma boa desculpa falar que o cara enlouqueceu por bebida, ele parece bem desmaiado e vai ficar assim por um bom tempo, creio eu... Vocês dois o carregam pra fora daqui, eu dou meu jeito de passar despercebido e...

 

- Cale a boca, você tem que ficar em repouso e não pode sair por aí como se estivesse tudo bem, olha a quantidade de sangue que perdeu! – A minha voz talvez tenha sido propagada alta demais, ecoando pelas paredes rústicas e os vitrais coloridos daquele antro sagrado, interrompendo Frank drasticamente em um tom realmente afetado... E sim, era tão carregado de novas descobertas, de um Gerard que tremulava ao olhá-lo intensamente e perceber que meu irmão e Robert possivelmente estavam encarando aquilo com outros olhos. E com razão. Eu precisava de um descanso... De quilômetros longe de Frank Iero e seus olhos tempestuosos, longe do que quer que estivesse evoluindo ali. E que não avançasse... Minha sanidade não permitia.

 

- Preocupado comigo, Way? – Não era nenhuma novidade que Frank iria se levantar. Muito menos erguer as sobrancelhas, tentando manter o equilíbrio e toda a pose de alguém muito mais baixo que eu e que, supostamente, poderia me enfrentar de igual para igual. Também não era novidade que eu precisasse me controlar para não profanar aquele local sagrado e xingar, como ele tantas vezes o havia feito, quando Frank quase caiu e dispensou a ajuda de Robert para que pudesse ter algum apoio ao caminhar descaradamente em minha direção. Mas o que veio em seguida era sim a grande contrariedade de todas as contrariedades.

 

 Ou talvez não fosse.

 Talvez Frank houvesse se levantado, caminhado em minha direção, quase mancando e enfraquecido demais para sequer falar mais alguma coisa ou me insultar, pois sabia qual seria a minha reação espontânea. Havia algo nele, desde o princípio, que me media de cima à baixo, que me entendia em cada fragmento que eu tentava esconder ou camuflar dentro de páginas bíblicas e cânticos em latim. E, principalmente, havia algo em Frank que me acendia. E eu queimava só de olhar para ele.

 Então eu não precisava nem mencionar que eu entrei em combustão instantânea ao pegá-lo no colo. Que eu poderia orar para todos os santos que haviam naquela igreja e que me encaravam, me julgando veementemente sob os ensinamentos deturpados do cristianismo... Eu poderia inclusive me enfiar em um seminário quantas vezes eu sentisse vontade de tocá-lo, que não resultaria em nada.

 Por Deus, eu estava tão ferrado.

 

 

 


Notas Finais


TRAILER LINDINHO, ASSOMBROSO E MARAVILHOSO DE SOLD MY SOUL, GENTE.

https://www.youtube.com/watch?v=6g_G7Ioj7uU

Playlist de Sold My Soul : https://open.spotify.com/user/12146824956/playlist/0JEieaGAAfRir5sQawkngv


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