O fraco canto dos pássaros retumbado pela leve brisa junto ao decair do Sol pelo horizonte pintava o entardecer. Restando apenas algumas aulas para o fim do dia, os alunos seguiam conversando casualmente enquanto caminhavam para respectivas aulas.
Em alta velocidade, uma garota cortava a tranquila imensidão de papos aleatórios. Aproximando-se das costas do possível alvo, chamou em alto tom antes que este pudesse entrar na sala:
- Senhor Black!
Recuperando o curto fôlego, buscava as melhores palavras, tendo os planos arruinados quando recebeu os olhos cinza sobre si, embora por cima dos ombros num evidente desdém.
Imediatamente enrubesceu.
Gaguejando, abaixou o rosto para a bonita caixa vermelha envolta pelos trêmulos dedos.
- Fale! – Disse secamente.
- Sirius... – Corrigiu o amigo numa ligeira indignação, virando-se para cumprimentá-la apropriadamente. Esboçando o cotidiano sorriso sereno ao pedir desculpas pelo amigo, os cabelos num dourado queimado caiam delicadamente sobre o rosto doce e dilacerado por profundas cicatrizes.
- Eu... Eu sempre te admirei... – Erguendo a caixa como uma oferenda a alguma divindade, mantinha a cabeça baixa e a voz falhando. - Achei que fosse gostar destes chocolates.
- Odeio chocolate. – Finalizou, retornado a caminhar diante os olhos desacreditados. – Vamos, Remus!
Um tímido passo pra trás, quase tropeçava por intimidação. Os lábios trêmulos e frustrados ameaçavam chorar diante a vergonha. Queria desaparecer, mas não havia forças e...
- Calma... Calma... – Acolhendo-a pelos ombros num piedoso carinho, tentava se redimir. – Aposto que seus chocolates estão deliciosos e ele irá aceitar futuramente. Ele só... – Notando o olhar de esguelha, prosseguiu em baixo tom numa quase brincadeira. – Ele está irritado pelas aulas, apareça no fim de semana e...
Permitindo a amargura descer a garganta junto ao reprimido choro, ela passou o dorso da mão sobre o canto do olho esquerdo, limpando a involuntária lágrima solitária como seu coração.
O singelo riso diante o consolo lhe deu coragem para fitar os olhos vívidos e acastanhados, questionando como tamanha compreensão poderia possuir marcas brutais tão profundas sobre a pele?
- Então... Você aceitaria o meu chocolate?
- Estamos atrasados, Remus... – Reclamou. Os olhos cinzentos farfalhavam num evidente ciúme sobre os dois.
- Tem certeza? – Ela maleou a cabeça que “sim”. – Eu não irei dividir com o mau humor do senhor Black. Nada adoçaria aquilo.
Ela sorriu.
Dando um passo para trás, despediu-se de modo atrapalhado, correndo para não perder a aula.
A discussão prevaleceu o resto do trajeto. Sirius tentava sequestrar a caixa, protestando sobre ser o dono dos chocolates ou como eles deveriam ter um sabor horrível. Remus driblava, mantendo a caixa na altura do peito, apoiada sobre os livros que carregava, respirando e buscando calma.
Impossível.
Chegando à sala atrasado, sentou-se ao lado de James após pedir que Peter trocasse contigo. Colocando os livros e o chocolate sobre a mesa de madeira, fingia estar ali desde o começo.
Sirius esbravejava indignado, quase não se importando em atrapalhar a aula, recebendo inúmeras ameaças da professora de poções.
Rindo dos amigos, James comia os chocolates, estranhamente seus preferidos e poucas pessoas sabiam sobre isto.
Remus copiava apressadamente o assunto atrasado, virando-se casualmente para retrucar as ofensas deferidas pela marcante presença do titular daqueles negros cabelos ondulados, sentado à mesa paralela, ao lado dum garoto gordinho. Quase finalizando as anotações atrasadas, escolheu uma das bonitas trufas, levando a boca quando...
O silêncio repentino.
A professora farejava, erguendo a varinha na direção do distraído aluno, levitando o chocolate quase mordido.
- Não permitirei que atrapalhe minha aula outra vez, senhor Lupin.
Não foi necessário mais que dois segundos para que rãs começassem a escapar da boca de James, caminhando sobre a mesa.
Levantando-se assustado, empurrou a cadeira bruscamente, levando as mãos até a garganta, tentando parar.
Inútil. Asquerosas salamandras extremamente úmidas exploravam o novo mundo como se aquela boca fosse uma caverna, grudando nas bochechas, logo interrompida por outro soluço.
Um sapo desta vez, o qual saltou sobre uma menina e... Inevitável alvoroço.
- Vai receber uma bela advertência. – Suspirou, recolhendo o garoto pelo braço para fora da sala. - Você nem deveria ter preparado esta poção no colégio. Fracamente, não sei o que tenho que fazer com você e seus amigos.
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.