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História Solitude - Inesperado


Escrita por: janeeiko

Notas do Autor


Literalmente um capítulo inesperado. Dois capítulos em menos de uma semana. Céus, quando o sentido da minha vida?estou morta. Escrevi fucking isso em menos de sei lá quantos minutos, só sei que a luz do meu quarto já estava apagada e eu quase dormindo ajsbisjsis desgurpa

Capítulo 28 - Inesperado


— CAPÍTULO VINTE E OITO —

INESPERADO
 

 

 

Não sabia se você podia negar os mortos.

Deixá-los em silêncio, em sua cama mofada.

Oh, eu estou entorpecido.

E ao longo do seu reino, venha.

Abaixe-me devagar.

Porque todos eles estão mortos.

 Estamos todos mortos.



 

 

O som das gotas caindo no chão e nos vidros das janelas era audível suficiente para saber que estava forte. Sehun havia chamado Chanyeol para o quarto de hóspedes onde o mesmo passaria a noite. Indicou o lugar onde poderia colocar sua mochila, como ligar a água quente do chuveiro e apresentando-o aos quadros de seus antepassados que residiam no criado-mudo. A tempestade havia começado.

Chanyeol, que tinha dezesseis anos, possuía um metro e oitenta e seis de altura e seu timbre de voz parecia descer e enrouquecer cada vez mais, dando a impressão de que era um homem com mais de trinta anos que falava. Mas apesar de tudo, ele ainda tinha feições de um adolescente na puberdade; a pele bege claro, os olhos brilhosos como os de uma criança que pede por doce, além do mais, seu sorriso  fazia-o parecer inocente e amigável, mesmo que não fosse. Os cabelos estavam longos novamente  e as laterais,  as quais havia raspado, também.

Sehun terminava de explicar para ele, em seu tom de voz baixa, tímido, como equalizar o termostato ao lado da cabeceira da cama. Quando não tinha mais o que dizer, ficou em silêncio, encarando o chão melancolicamente, e Chanyeol também não soube se tinha algo mais a falar.

Chanyeol não sabia ao certo como se comportar, estava acostumado somente em frequentar a casa de Kris e Kyungsoo, e, apesar de não conviver tanto com o último, o silêncio não incomodava quando aparecia. Nem com Kris, mas isso quando existia silêncio na bagunça que o tempo se tornava quando estavam juntos.

Sehun era bem mais longe da realidade fora da escola. O observar permanecer sentado por longos minutos sem fazer absolutamente nada fora um tanto estranho para Chanyeol.

— Você... Hm... Quer comer alguma coisa? — Perguntou Sehun percebendo o incômodo, embora não parecesse afetado.

— Pode ser. — Disse Chanyeol com sua voz  rouca quase inaudível.  Na porta, que estava semiaberta, apareceu Luhan rapidamente, que olhou para os dois tão rapidamente quanto os segundos que disse as seguintes palavras.

— Sehun,  acho que sua tia quer falar com você. — E fechou a porta.

— Eu vou... — Fez menção de sair.

— Tudo bem. — Respondeu antes de Sehun, fazendo um gesto com às mãos para que não se preocupasse, que ficaria bem o esperar ali.

 

 

— Sehun. Tudo bem? — Perguntou Marta assim que o sobrinho fechou a porta de seu escritório.

— Sim. Estou. —  Respondeu pausadamente. Talvez ele já adivinhasse o que iria ouvir.

— Olha... Meu sobrinho, eu sei que você ainda não superou, e eu entendo, não é fácil superar tudo o que aconteceu. — Dizia com calma — Você sempre foi um garoto singular, e eu sempre admirei você por isso, mas, meu bem, não é seguro andar por aí sozinho a noite, muito menos em um cemitério.

"Eu sei que você ainda não superou" Sehun odiava ouvir aquelas palavras. Nunca pensou que odiaria a verdade daquela forma que odiava. Ainda não havia superado a morte do pai, ainda tinha surtos, crises e delírios. Evitava aparentar sua fragilidade, seus sentimentos, justamente para não ser lembrado o tempo todo da verdade de que não havia superado nada. Sehun pensou bastante antes de responder. Estava cansado daquilo, só queria engolir os comprimidos amargos e se apagar nas nuvens de seus pesadelos.

 

— O que poderia ter de perigoso em um cemitério? —  Disse simplista, com os olhos contraídos levemente —  Estão todos mortos mesmo.

— Eu sei, é que... Eu só não quero que você ande por aí sem avisar de novo, ok? - Pediu com firmeza.

— Tudo bem. — Murmurou tristonho. Fechou o punho com força ao sentir uma corrente quente subir suas veias à cima. Permanecia sereno.

— Vem cá. — O puxou para um abraço. E Sehun respondeu como sempre respondia a demonstrações de afeto: com hesitação.

 

 

Sehun voltou ao quarto, o qual a porta estava semiaberta novamente, fez um gesto minimalista para Chanyeol - que estava sentado meio encolhido na cadeira – para o acompanhar, e o mesmo o fez.

 

— Não sou muito bom em cozinhar. Quem faz isso melhor é o Minseok-ssi. — Comentou Luhan. Estavam os três na cozinha, e ao lado Marta falava ao telefone agitadamente.

— Minseok? — Perguntou Chanyeol por curiosidade.

— Sim, ele é do terceiro ano.

— Não conheço.

— Ele é bem sumido, o convidei para o acampamento por mensagem, mas ele não me respondeu ainda. Não o vejo faz uns dias.

— Pelo jeito não é só ele que não responde às mensagens... — Apontou para Sehun com o cotovelo, de lado. De alguma forma, mesmo que não fosse entendido ou correspondido, gostava de se entreter com Luhan e Sehun.

— O que? — Perguntou Sehun distraído.

— Tá vendo? Talvez seja por isso, vive no mundo da lua. — Comentou Luhan em tom de brincadeira. — No que você estava pensando, uh?

— Nada. — Redarguiu. 

— Você pensa tanto Sehun. — Disse Luhan. Abriu a gaveta box debaixo da pia e pegou uma colher grande, logo a colocando em cima da mesa que ficava no centro, onde Sehun estava sentado bem ereto e com os braços cruzados. Já Chanyeol estava em pé esperando que pudesse ajudar em algo.

— Mesmo? — Piscou algumas vezes sentindo o nariz arder inexplicavelmente.

— Pensar é bom. — Disse Chanyeol e sentou-se na outra ponta da mesa, não era muito grande, o suficiente para ser usada no preparo de receitas.

— Eu sei. — Proferiu no mesmo tom.

— É sua característica, você conversa consigo mesmo mentalmente. — Sehun o olhou com mais significado pelo o que havia dito. Deduzia fatos sobre si como ninguém.

— O problema não é pensar, mas sim a falta de interação. Sabe como é chato chegar super animado de um evento querendo contar mil e uma coisas e ele te olhar com essa cara de tacho? — Soltou Luhan rapidamente enquanto traquinava com uma cenoura na mão e um ralador na outra. — Sem contar que semana passada ele deixou o arroz queimar e quando fui ver o que ele estava fazendo, adivinhe só, sentado no sofá que nem um idoso que diz que tá acordado mas você tem certeza de que está dormindo de olhos abertos.

— Eu não sei... Eu nunca tenho nada de interessante para falar, então acho que nunca passei por isso dessa forma. — Disse Chanyeol, recebendo um pacote de brócolis de Luhan que o pediu através de gestos com a mão que os cortasse. Olhou brevemente para Sehun e sentia como se o mesmo tivesse o escanceando com o olhar.

— Mas mudando de assunto... — Segurando um frango cru tamanho médio Luhan começou a dar pulinhos e disse animadamente —  Estou super ansioso para o acampamento. Não o acampamento, mas “O Acampamento”.

Chanyeol riu pela forma que Luhan segurava o frango percebendo que Sehun parecia se divertir também, talvez a primeira escapada de seus devaneios naquela noite.

— Por que você está segurando isso assim, garoto? — Disse em voz alta Marta do outro cômodo.

— Faz parte da cerimônia de se preparar uma boa refeição. — Afirmou em voz alta, meio dançante com os passos até a geladeira e voltando.

— Com certeza vai ser divertido. — Ironizou Chanyeol, lembrando-se do que Kris o havia contado mais cedo. Arqueou uma sobrancelha sorrindo de canto.

Sehun piscou mais devagar para olhar nitidamente Chanyeol nos olhos, como se pudesse adivinhar muitas coisas sobre ele, porém não definir nada. Um frio lhe subiu no abdômen e foi o motivo de ter desviado os olhos dos de Chanyeol, que não percebeu sua reação esquisita.

— De qualquer forma... — Luhan continuava a falar e Sehun já não conseguia prestar atenção em nada. Deixou que os dois conversassem, não sabia como participar dos assuntos de qualquer forma. Só queria entender aquela sensação estranha dentro de si. Não era medo, muito menos uma premonição. Era apenas algo borbulhando dentro de si sem explicação.

 

 

A tempestade continuava tão forte quanto antes lá fora, e todos se preparavam para dormir. Era cerca de onze da noite e Marta já estava dormindo já muito tempo. Luhan assistia alguma coisa em seu notebook no quarto de hóspedes que sempre ficava, e no outro estava Chanyeol, com Sehun ao seu lado, usando um conjunto de moletom preto, o que realçava o tom claro de sua pele, com os fios de cabelo semi molhados caídos sobre a testa e os lábios avermelhados devido ao frio.

Chanyeol não estava muito diferente, havia pegado um conjunto de moletom emprestado de Sehun para dormir, a diferença de tamanho entre os dois não era tanto e o serviu perfeitamente para usar.

— O que você geralmente faz quando está aqui? — Perguntou Chanyeol. Desfiava alguns fios de tecido que havia achado debaixo do travesseiro.

— Nada que seja muito emocionante ou atraente.  Eu leio, estudo, toco piano e algumas vezes recebo uma visitinha dos mortos.

— Não sabia que tocava piano.

— Meu pai quem me ensinou... — Olhou para o canto desviando de falar algo mais.

— Eu costumava tocar bateria, mas meus progenitores o tiraram de mim, assim como a guitarra e, bem, quase todos os objetos barulhentos da casa.

— Você tem uma irmã, não é?

— Sim.

— Porque os chama de progenitores?

— Por que é isso o que eles são.

— Nunca os chamou de pai ou mãe?

— Não. – Respondeu em seco. — Essa casa é bem grande. — Chanyeol encostou as costas no travesseiro. Sehun estava bem na sua frente sentado na cama de pernas cruzadas.

— E antiga. — Segurava o celular, havia mostrado alguns vídeos sobre um documentário que havia assistido para o amigo. — Existe desde o século quinze. Foi reformada já várias vezes, mas seu aspecto imperial nunca muda. Como se a própria casa quisesse isso.

— Já aconteceu alguma coisa aqui? 

— sempre acontecia quando eu era criança, mas depois da morte de meu pai se tornou menos comum aqui, e mais fora. — Falava calmamente, como se pensasse alto as próprias palavras. — Agora é mais comum... Em outros lugares.

— Que outros lugares? — Mordeu o próprio lábio.

— Em qualquer outro lugar.  — Hesitou um pouco antes de responder.

— Sehun... — Chanyeol queria o olhar nos olhos, como tinha acontecido horas antes na cozinha, ou quando o havia visto pela primeira vez, percebendo aquele brilho metálico e sem cor definida quando não era o cinza. — Quando aquela garota cometeu suicídio... - Respirava devagar. — Você viu alguma coisa, não viu? — Mas Sehun continuava a olhar para baixo, para seus dedos finos e unhas a cortar que seguravam o aparelho celular com força.

— Sim. Sim eu vi — Piscou algumas vezes. — Eu me sinto enjoado sempre que lembro. — Murmurou por fim.

— Não quero que se sinta incomodado. — Colocou a mão em seu ombro e o apertou com cuidado. — Quer falar sobre outra coisa?

— Por favor.

— Aqui é confortável. — Encostou as costas no travesseiro novamente, esticando os braços para trás da cabeça. — Por que não deita aqui? — Deu batidinhas no travesseiro ao lado onde estava na cama. Sehun fez careta em brincadeira e deitou-se ao lado do amigo.

— Eu poderia dormir aqui, se isso não fosse estranho demais para mim. Não sei porque eu disse isso.

— Você acha que eu ronco? — Brincou. — Anda, diga a verdade.

— Nunca fui próximo o bastante de alguém para dormir no mesmo quarto.  — Sorriu pelo jeito de Chanyeol o encarar, desdém.

— Hmmm, então isso é um bom sinal, não?

— É?

— Você não tem medo de estar sozinho. — Explicou.

 Pôs as mãos nas axilas de se Sehun e começou a fazer cocegas - o que o assustou de primeira - mas logo se viu tomado por aquela súbita vontade de rir e ao mesmo tempo fugir das mãos furtivas de Chanyeol que logo já estavam em seu abdômen, o qual doía um pouco por estar machucado, mas ninguém precisava saber daquilo. Chanyeol era insistente quando queria provocar alguém de alguma forma, e ver Sehun se levantar quase caindo da cama e correr para bem longe ainda rindo o fez se sentir realizado. Ele estava vermelho.

— Eu não sei o que foi isso. — Tentou colocar os fios loiros no lugar — mas como se costuma dizer por aí, você me paga. — Apontou o dedo e proferiu ofegante para o maior.

— Que vergonha Sehun, não aguenta um minuto de cosquinhas. — Ficou de joelhos na cama.

— Isso é coisa que os adultos fazem com as crianças. Céus! Chanyeol! — Exclamou fingindo indignação, o que fez Chanyeol rir mais. Sentia-se estranhamente nervoso. Havia sido uma surpresa para Sehun, tanto o que o maior havia feito quanto corresponder daquela forma, sorrindo. Havia muito tempo que ele não ria daquele jeito, mesmo que sentisse os pulmões doerem sem estarem machucados de fato. As cicatrizes só eram visíveis em seu abdômen.

— Se você tivesse o tamanho do Luhan até pareceria uma.

— Haha. — Fingiu rir. Passou as mãos nos cabelos em confusão. Não podia deixar escapar que havia ficado tão nervoso com algo tão comum como aquilo. Era interação humana e precisava se acostumar.

— Você mudou muito desde a primeira vez que te vi.

— Isso é bom ou ruim? — Voltou ao seu tom normal de voz, andando em direção a porta.

— Hmm, vejamos... — Levou a mão direita até o queixo, olhando Sehun dos pés a cabeça. — Você está mais alto, mais magro, sua voz mudou, seu cabelo está um caos e, ah, o mais importante, você parece menos assustado vinte quatro horas por dia. — Contava nos dedos o que dizia — Seu cabelo parece cada dia mais bagunçado, sério, mas é um garoto viril.

— Eu deveria te xingar?

— Você sabe xingar?

— Não.

Chanyeol estendeu as mãos por vencido.

— Mas vai ter volta. — Ordenou com ironia. Mal conseguia acreditar, finalmente estava agindo como um adolescente, interagindo e sentindo a vontade com isso, dando respostas rápidas e dignas de um leve sarcasmo. Estava agindo como deveria ser, se tudo tivesse sido diferente.

— Não se eu for mais rápido. — Piscou um dos olhos e posicionou os braços como se segurasse um arco e flecha.

Sehun inspirou e expirou, sentindo os pés esfriarem no chão. Alguns galhos de árvore baterem na janela do quarto e ouvir a chuva forte do lado de fora o fez engolir seco. Precisava calçar suas meias para evitar calafrios. Sentiu os músculos da face desfazerem o sorriso e olhou em volta discretamente, notando expressões exclamativas vindo do amigo.

— Er... Chanyeol? — O olhou esperando que continuasse — Se você ver alguma coisa estranha, qualquer coisa, não hesite em me chamar. Ok?

Chanyeol não quis entender.

— Que tipo de coisa?

Sehun o lançou um olhar que parecia ter mais significado do que poderia compreender. Aquele par singular de íris que contrastava com a cor do ambiente parecia ser o próprio muitas vezes. E Chanyeol queria entender, queria saber mais do que palavras poderiam explicar.

— Só não hesite, nem que precise gritar. — E após alguns longos minutos, sorriu de canto, mas não era mais em tom de brincadeira, mas sim aquele tipo de sorriso que se dá quando se quer dar um conselho sério a alguém, mas sem parecer sensacionalista, e fechou a porta após sair.

 

 

 

 


Notas Finais


Eu sempre imaginei essa cena deles dois na cama E MANO EU TÔ TÃO FELIZ POR FINALMENTE TER COLOCADO AQUI TO NEM ACREDITANDO

música do capítulo: Agnes Obel - Words Are Dead https://www.youtube.com/watch?v=hZpn7Cde1w8


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