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História Solitudine - Redenção É Um Pecado - Bilhete Dourado


Escrita por: remmielupin

Notas do Autor


A demora para publicar os capítulos têm justificativa: Estou na reta final do momento mais importante da minha vida, portanto, o tempo é um artigo de luxo, ultimamente.
Espero que gostem do capítulo e, por favor, me deem um feedback, pois é bom saber se a história está agradando. No mais, aproveitem.

Capítulo 5 - Bilhete Dourado


Could you remind me of a time when we were so alive?

Veneza era uma cidade que possuía a misteriosa aura mágica que era possível sentir a quilômetros. Além da beleza inegável, que encantava os olhos daqueles que por ali passavam, era um ponto atrativo para os bruxos e bruxas de todo mundo. A cidade, desde o princípio de sua fundação, mesclava muito bem a magia ao mundo das pessoas comuns. Quem ali morava, convivia em perfeita harmonia com as estranhezas do mundo bruxo, especialmente durante a época do Carnaval. O famoso feriado veneziano, era uma comemoração em que, sob suas máscaras e fantasias, feiticeiros realizavam seus truques, nas grandes festas de rua, para quem quisesse ver.

Remus andava curioso pela Piazza de San Marco que estava em festa, sem entender completamente como as pessoas, que dançavam e pulavam ao seu entorno, se divertiam tanto. Música e alegria ecoavam pela rua de pedra, enquanto seus olhos castanhos fitavam os hábitos daquele povo com interesse. Teoricamente estava a procura de um rastro de magia negra,  mas não deixava de se distrair com as cores e as máscaras ao seu redor.

Em meio aquele turbilhão de figuras fantasiadas, o rastro de magia desaparecera e ele estava completamente perdido. Era recém-chegado em Veneza, a pedido de Dumbledore, depois do estranho assassinato do famoso bruxo Giacomo Giunti. Sabia apenas que estava em uma das principais praças da cidade, mas não tinha idéia da direção que deveria tomar para o pequeno apartamento que ele arrumara para si. Sentia-se andando em círculos, portanto, era hora de pedir uma informação. Um homem vestindo uma roupa chamativa azul passava por ele e, com seu italiano arranhado, Remus pediu uma indicação. Com a música alta, o homem não entendeu nada e deu de ombros, se desculpou e foi avançando enquanto dançava. Restava então ao jovem lobisomem perdido, andar um pouco mais e torcer para encontrar algum ponto conhecido e se localizar.

Seguiu para o Leste, pois, apesar de ser mais alto do que a maioria das pessoas, dentre os estandartes das companhias tradicionais do carnaval e foliões dançando, ele não conseguia reconhecer absolutamente nada. Percebeu então, em um ponto distante, lampejos coloridos ricocheteando na parede de um grande prédio. Reconheceu imediatamente aquilo como magia, empunhou discretamente a varinha e andou o mais rápido que pode, em direção aquelas luzes que não paravam de ser disparadas.

Ao chegar, se surpreendeu com a cena que se desdobrava a sua frente: Ao que parecia, um velho bruxo, mascarado e fantasiado de um importante capitão da marinha italiana, transfigurava pequenos pedriscos em belos copos e aumentava e diminuía-os conforme sua vontade. Exibia pequenos feitiços, que eram aprendidos no primeiro ano de qualquer escola de bruxaria, para um grupo de trouxas entusiasmados. Havia um pequeno cavalete, com uma plaqueta escrita “Dom Pipo, Il Stregone” (Dom Pipo, O Feiticeiro), colocado sob seu chapéu, onde viam-se algumas moedas. Os olhos do velho foram atraídos imediatamente para Remus, que agora observava curioso para a exibição, e parou momentaneamente o pequeno espetáculo. No momento seguinte, os espectadores viraram-se para aquele rapaz magro e alto, que não estava fantasiado e parecia ter interrompido o show fascinante.

Sentiu-se envergonhado com todos aqueles olhos sobre ele, imediatamente guardou a varinha de modo discreto e recomeçou a caminhar para o Sul. Observando, desconcertado, cada um daqueles rostos cobertos por máscaras brancas que pareciam incomodados por ele perturbar a exibição do grandioso Dom Pipo. As faces ainda estavam rubras quando ele atingiu dez passos do pequeno show e sentiu um toque em seu braço esquerdo. Assustado e entrando imediatamente em estado de alerta, Remus virou-se para a figura que o tocara, com a mão direita segurando a varinha com força dentro do paletó.  

Ti sei perso? – Perguntou uma moça muito mais baixa que Remus, vestida de um vestido de mangas bufantes verde escuro. Ela o tocara com delicadeza e parece ter se assustado tanto quanto ele, quando ele encarou-a sério. Seus cabelos castanhos estavam presos em uma longa trança, adornada por uma coroa de flores, e seus olhos brilhavam por trás da máscara de Colombina.

— O que?! – Exclamou, respirando profundamente em seguida, ao notar que aquela não era uma figura encapuzada que objetivava matá-lo.

Ti sei perso? – Insistiu ela e, pela expressão no rosto do rapaz, percebeu que ele não a entendia muito bem. Resolveu retirar a máscara que cobria o rosto para que, talvez, se fizesse inteligível.

Os olhos de Remus imediatamente passaram curiosamente pela face da mulher, que parecia ter uma idade próxima a sua. Ela estava séria e possuía grandes olhos castanho-esverdeados, emoldurados por longos cílios curvados. Sua pele era alva e cheia de sardas no nariz arrebitado e a boca pequena, tinha um batom rosado. Era belíssima. Sua mente só processou isso por alguns segundos, até entender vagamente o que ela indagara. Era algo como “Está perdido?”, mas ele não tinha muita certeza. Pelo que parecia, aquela moça era sua melhor chance de chegar ao seu apartamento são e salvo.

Parli englese? – Perguntou inseguro, com aquele sotaque atroz que ele carregava.

— Sim, un po. – Disse ela animada,  misturando inglês e italiano.

— Ótimo! Estou perdido. Poderia me dar uma informação? – Suas palavras saíram lentamente para que, mesmo com aquela música alta e gente dançando, ela pudesse entender.

— Foi isso que perguntei! – Ela falava com aquela cadência italiana, que deixava o seu sotaque bastante agradável. A frase dela foi entrecortada por uma longa risada.

— Ah! – Exclamou Remus, sorrindo aliviado. Anotou mentalmente que deveria estudar muito mais italiano quando chegasse em casa. – Estou muito longe de Cannaregio?

Un po. Você terá de camminare bastante. Mas se você quer saber para que lado Cannaregio fica... Fica para lá.

Ela apontou para a direção a bela catedral e, mais além do o que seria a Ponte Rialto. O rapaz percebeu que estava exatamente no lado oposto, portanto, teria de seguir a Oeste.

Grazie! – Disse educadamente, sorrindo de modo simpático, meneando a cabeça. Estendeu a mão a fim de cumprimentá-la. – Sou John.

Seus olhos se encontraram momentaneamente e ele se perdeu por alguns segundos na profundidade daquele rosto angelical. Seu sorriso iluminava toda sua face e ela ficara ainda mais bonita. Era possível alguém sorrir com os olhos? Por um momento tentou memorizar cada traço dela, pois ele sabia que nunca mais a veria.

Prego! – Exclamou feliz consigo mesma por ter ajudado alguém. Sorriu animada para o jovem alto e estendeu-lhe a mão. – Sou Donna.

 

Os olhos de Remus voltaram ao foco quando ele percebeu que estivera sonhando acordado e sorrindo bobamente. Ele caminhava apressadamente pela Piazza de San Marco acompanhado de Emmeline. Fora ali que conhecera Donna durante o Carnaval, meses atrás, e aquela lembrança feliz estava confinada no fundo de sua memória.  

— Você estava viajando, hein? – Comentou a loira, diminuindo o ritmo dos passos.

— Não... Só estava me lembrando do meu primeiro dia em Veneza. – Replicou, forçando um tom simpático.

Aquele era o quarto dia, desde que haviam chegado a cidade. Por sorte, desde aquela madrugada, nenhum dos dois se deixou levar pelo constrangimento de conversar sobre aqueles acontecimentos específicos. Ao invés disso, durante os dois primeiros dias, Remus tratou de deixar sua parceira a par de todo o progresso de sua missão. Entretanto, em momento nenhum contou de seu envolvimento com a moça italiana que morrera de forma trágica. Ninguém sabia da existência de Donna. No terceiro, a levou para conhecer pontos estratégicos da pesquisa que fizera e mostrar alguns locais onde assassinatos com magia negra aconteceram.

Naquele dia, porém, seguiam por uma pequena viela paralela à Piazza. Caminharam por mais duas quadras quando o rapaz indicou que entrassem num pitoresco café. Sentaram-se em uma mesa encostada a grande parede de vidro e pediram um café com biscoitos para cada um.

— Será que esse cara vem?– Indagou Emmeline, fingindo ler um jornal que encontrara num revisteiro próximo.

Da mesa em que eles estavam sentados, através do vidro, era possível observar o bar de aparência duvidosa do outro lado da rua. Havia uma grande porta vermelha, com a tintura descascando e maçanetas douradas, mas não haviam janelas. Já fazia mais de duas horas que o casal estava sentado naquela mesa, do outro lado da rua, observando atentamente quem entrava e saia do bar. Periodicamente, observavam a entrada de moças, em vestidos curiosamente curtos e lábios escarlates, acompanhando senhores que pareciam ter o dobro de suas idades.

Conforme Remus se informara, um sujeito com o apelido conveniente de “Wizard”, aparecia conectado a todas as mortes de trouxas por magia negra em Veneza. Desde o assassinato do famoso bruxo Giácomo Giunti – que o rapaz tinha certeza de ter sido causado pelo próprio Voldemort – ao que pode descobrir, aquela figura estranha conhecida como Wizard não era um bruxo, mas encarava o uso da magia de forma natural e conquistara um valor importante para o Lorde das Trevas. Durante o tempo em que ficara trabalhando em sua missão em Veneza, Remus, observou esse homem adentrar e sair do bar todas as noites. Se tivessem sorte, poderiam capturá-lo e descobrir informações vitais a Ordem. 

— Remmie, já faz mais de duas horas que estamos esperando por esse cara. Tenho a impressão de que justamente hoje, ele resolveu tomar um chá em casa. – Disse a loira revirando os olhos, com seu tom desapontado, depois de bebericar seu terceiro café.

— Ele esteve aqui todos os dias, enquanto eu o seguia.

— Ou ele pode ter reconhecido você e, quando nos viu aqui tomando um café, achou suspeito e foi embora.

— Você tem um ponto muito importante, Emme. – Disse Remus pensativo. – Vamos embora e ficaremos de tocaia em outro ponto. Se ele aparecer, tiramos nosso bilhete dourado.

— Bilhete dourado? – Indagou Emmeline, estreitando os olhos confusa.

— É de um filme trouxa. – Disse sorrindo divertidamente, deixando o dinheiro dos cafés e levantando-se em seguida. – Te levo para assistir qualquer dia desses.

Saíram do pequeno café fingindo ser um casal, da maneira mais sutil que conseguiam, para não atrair mais olhares dos venezianos curiosos. Seguiram em silêncio pela pequena rua do bar, onde Wizard deveria ter aparecido, por quase dez minutos até que o rapaz quebrou o silêncio:

— Emme, você não acha curioso o fato de Wizard encarar a magia de forma tão natural?

— Claro, ainda mais que nós fazemos de tudo para não sermos descobertos. Será que ele é um bruxo?

— Não sei muita coisa sobre ele. Apenas que ele é conhecido nos círculos bruxos e trouxas de Veneza. Mas até onde pude descobrir, ele não tem uma varinha.

Prosseguiram a caminhada e o assunto absortos na peculiaridade daquele homem que Lord Voldemort achara valioso. Emmeline estava andando a direita de Remus, distraída com a conversa. Elaborava uma explicação para que o misterioso Wizard transitasse tão livremente pelo mundo dos não-bruxos e dos próprios bruxos, quando sentiu um brusco puxão em seus longos cabelos loiros e, em seguida, algo frio e afiado em seu pescoço.

— Estava me procurando, estrangeiro? – Soou a voz estranhamente aguda ao pé do ouvido da loira. – Nem pense em sacar sua varinha...

 A única coisa que podia ver era a mão nodosa e maltratada que apertava firmemente uma faca contra seu pescoço alvo e sentia a dor latejante do escorrer de um pequeno fio de sangue escarlate. O cheiro que emanava daquela figura era assustadoramente repulsivo e seu hálito ainda mais fétido.

Foram pegos de surpresa. Um descuido. Remus ainda tentou pegar a varinha, mas antes que pudesse fazer isso, um homem imenso, atrás dele, acertou-lhe a nuca com um porrete e o rapaz caiu desmaiado no chão. O grito da garota ficou preso em sua garganta, sentindo o medo percorrer em suas veias, como um veneno. Estava petrificada.

— Você é bem bonitinha... Vamos nos divertir bastante, depois que eu matar o seu namoradinho... – Sussurrou aquela voz.

Emmeline sentiu o estômago embrulhar e tentou, num esforço inútil se desvencilhar. Estava estranhamente impotente. Perdeu toda a consciência do que a cercava, quando o porrete lhe acertou a nuca e uma dor lancinante tomou conta de seu ser. A última coisa que viu: foram os olhos negros daquele homem sem rosto.

 



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