Caminhou de volta para casa, ainda pensando no ocorrido da lanchonete. Era muito comum ver meninas desaparecendo em Gotham, principalmente as envolvidas na prostituição, e de vez em quando eram filhas de famílias ricas usadas como reféns para trocas de dinheiro em resgates.
Mas dessa vez, pelo que Laila disse, não eram garotas pertencentes a um mesmo grupo. Eram desde meninas de famílias ricas até garotas de programa. O pior e mais desesperador era saber que elas estavam desaparecendo muito rapidamente, já haviam sido 5 apenas naquele mês.
Holly tinha certeza de que o responsável por aquilo era um homem, e que se não agissem rápido, corpos de meninas iriam começar a aparecer em toda a cidade. Mas é óbvio que a polícia não faria porra nenhuma. Poderiam estar no mínimo preocupados com a situação, porém nunca entravam em ação, até que a filha de algum policial desaparecesse. Eles tinham que esperar que o pior acontecesse com eles mesmos para começarem a tomar algum tipo de atitude.
Já imaginava um outdoor na entrada da cidade: “Procurando por policiais incompetentes? Venha para Gotham!".
Assim que virou uma esquina enxergou o garoto de cabelo preto e a ruiva caminhando lado a lado.
Namoradinhos, pensou.
Se escondeu atrás de uma lixeira e ficou os observando. Queria esperar a ruiva cair fora para dar o recado ao garoto. Não permitiria que ele a entregasse para o comissário.
Eles pararam na porta de uma casa, a menina beijou a bochecha dele e entrou.
Era hora de agir.
Saiu detrás da lixeira e se apoiou em um poste, observando o menino com um olhar mortal.
- Sua namorada? – ela perguntou, fazendo-o se virar.
O garoto não pareceu assustado, muito pelo contrário, pareceu até mesmo feliz em vê-la, visto que ele deu um leve sorriso de canto e colocou as mãos nos bolsos de maneira relaxada.
- Minha amiga – ele respondeu, dando de ombros.
Holly cruzou os braços, ficando em clara posição de defesa:
- O que, exatamente, ela é do Gordon?
- Filha – ele respondeu..
- Ótimo! – falou, tentando encobrir seu nervosismo. – Agora, eu quero entender como você sabe meu nome.
Ele deu de ombros novamente, o que a deixou bem furiosa.
- Não vai falar? Mesmo?
- Acho que você deveria perguntar meu nome ao invés disso.
Aquele garoto era um escroto. Definitivamente um filhote de mamãe com ego inflado. Respirou fundo, sabia que precisava ficar calma e dar o recado. Não podia explodir.
- Olha – ela começou. – Você sabe meu nome e conhece o Gordon, e tudo o que eu não quero é que...
- Eu não vou abrir a minha boca – o menino interrompeu, como se já soubesse o que iria dizer.
Piscou os olhos em descrença.
- O comissário não vai saber de nada – ele continuou. – Prometo.
Holly olhou para ele com desconfiança, mas deu para ver a honestidade naqueles olhos azuis.
- Acho bom! – rebateu em um tom de ameaça, só para garantir.
Virou as costas para ele e saiu andando. O recado já tinha sido dado, não precisava se preocupar.
- Não quer mesmo saber meu nome? – o garoto berrou atrás de si.
Continuou andando, sem dizer uma palavra.
É, ela não queria saber.
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Saiu do elevador, olhando a correspondência: apenas contas e mais contas com as quais ela precisaria lidar.
O vizinho, Michael, estava largado na porta do apartamento, com a cabeça deitada no tapete escrito “Bem-vindo”. Michael era o clássico vizinho drogado, com um ótimo senso de humor, e que conseguia fazer você se sentir incrível apenas com poucas palavras. Ele também conseguia te fazer se sentir o melhor ser humano do mundo por não usar drogas, mas Holly preferia manter isso para si mesma.
- Caralho, Michael! – ela reclamou, passando por cima das pernas estiradas do homem.
- E aí, Holly?! – ele disse grogue, ainda de olhos fechados. – Ontem o bagulho foi bom.
- Tô vendo que foi bom – rebateu, ajudando-o a se levantar. – Porra! E aquela dieta esperta de segunda?
- Que dieta o quê? A droga já emagrece.
- Você vai ficar com fome daqui a pouco.
- Pode crer.
- Não achou as chaves né? – perguntou quando tentou girar a maçaneta do apartamento.
Ele balançou negativamente a cabeça. Holly enfiou a mão no bolso esquerdo do rapaz (Michael era canhoto) e pegou as chaves ali dentro.
Depois de abrir a porta, o jogou no colchão velho e empoeirado que ele chamava de “cama”.
Estava preste a sair quando ele a chamou:
- Holly, fecha as cortinas?
Fechou as mesmas prontamente e deu um beijo na testa do rapaz, dizendo:
- Não esquece de escovar os dentes quando acordar, você tá com bafo.
- Vai ver se eu tô na esquina, Holly Kyle – ele resmungou, cobrindo a cabeça com o cobertor.
Riu pelo nariz antes de falar:
- Bons sonhos, Michael.
- Bons sonhos, Holly – ele respondeu.
Foi até seu apartamento, onde os gatos receberam-na com ronronados e miados enquanto se esfregavam em suas pernas. Agarrou o gordo Amon em seus braços e caminhou até seu quarto. Colocou o gato na sua cama e pegou papel e lápis, onde escreveu uma mensagem para o morcego:
Me encontrem hoje à noite na Gun’s Shot! É urgente!
Assinado: C.
Enrolou o papelzinho e o colocou na coleira de Amon. Pegou o bichano e desceu até a entrado do prédio. Olhou para a cara do gato peludo e perguntou:
- Você já sabe, né?
Soltou o gato no chão e o viu caminhar, com todo o seu gingado felino, ao longo das ruas sujas daquela cidade sombria.
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Já anoitecia, Bruce Wayne estava sentado em uma poltrona na sua confortável biblioteca. Não haveria missões nesta noite, visto que Gordon o garantira que estava tudo tranquilo. Era estranho pensar em quantos Waynes já haviam estado naquela gigantesca mansão, e agora só existia apenas um único remanescente da família ali. Alfred estava limpando as prateleiras repletas de livros e Dick estava sentado numa cadeira, fazendo a lição de casa.
Ouviu um arranhar suave na janela. Não precisou estreitar muito os olhos para ver que era Amon trazendo alguma mensagem de Holly.
Pegou o gato no colo e tirou um curto pedaço de papel da coleira do mesmo. Leu a mensagem da garota e disse:
- Deixe a lição de casa para depois Dick.
Richard largou a lição em cima da mesa com grande animação, e puxou um livro da prateleira, de onde se abriu um espaço que levava em direção à caverna.
- Alfred – ele disse, antes de acompanhar o menino. – Veja se tem alguma coisa para o gato comer.
Assim que o patrão saiu, Alfred olhou para aquela bola de pelos gorda que estava confortavelmente deitada em um divã, como se já fosse o dono da casa.
- Juro por Deus – ele disse, olhando para o felino. – Se eu encontrar um arranhão nesse divã, você vai sair voando por aquela janela.
O gato lhe devolveu o olhar de maneira irrelevante antes de voltar ao seu cochilo.
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