Foi necessário fazer uma breve pesquisa antes de ir para a velha Gun’s Shot. Encontrou todas as informações que precisava sobre as garotas na internet: nomes, idades, datas dos desaparecimentos e últimos lugares em que foram vistas. Tudo que precisou fazer foi entrar em um grupo online que reunia poucas pessoas preocupadas com a situação, como familiares, amigos e enxeridos. Ironicamente – ou nem tanto – todas elas tinham sumido na área mais pobre de Gotham, principalmente em Bryantown.
Imprimiu pequenos cartazes de “Procura-se” e um mapa, onde marcou os lugares onde cada uma das garotas foi vista por último – todos bares e casas noturnas. Pegou o que conseguiu reunir e foi até a antiga fábrica de armas.
Dessa vez, evitou passar pelas janelas quebradas para não rasgar o uniforme que Gigi tinha remendado com todo o cuidado. Lá dentro, deparou-se com duas figuras saindo das sombras. Já sabia que era o morcego e o parceiro.
- Chegaram cedo – Holly murmurou.
- Por que nos chamou? – perguntou Batman.
- Tenho que mostrar algo – respondeu, tirando uma mochila das costas.
Tirou os cartazes que imprimira mais cedo e entregou-os nas mãos da dupla dinâmica.
- Garotas desaparecidas? – perguntou Robin, analisando os papéis cuidadosamente.
- Como não ficamos sabendo? – o morcego parecia realmente indignado.
- Eu também não sabia até hoje de manhã – respondeu Catgirl. – A polícia não está dando a mínima para isso. Garotas somem o tempo todo em Gotham, e uma hora ou outra elas voltam, ás vezes vivas, ás vezes não. Além do que, a mídia está preocupada com casos mais “interessantes” do que meros desaparecimentos de meninas. Mas dessa vez acho que são mais do que garotas sumindo aleatoriamente.
- Tem razão – falou o morcego. – Não estão sumindo aleatoriamente, todas desapareceram...
- Nas terças e quintas-feiras, em bares e casas noturnas – completou Holly. – Eu sei, tem um padrão.
Tirou o mapa da mochila e esticou-o no chão, fazendo com que os três se agachassem para enxerga-lo melhor.
- Cada círculo aponta o último lugar em que as garotas sumiram – explicou Holly.
Havia, basicamente, uma letra “C” formada por pequenos círculos que cobriam o mapa.
- A última menina sumiu aqui, ontem. – Apontou para um dos círculos, onde, bem no centro, estava um bar chamado “Black Ice”.
- A última terça-feira do mês – murmurou o menino prodígio.
- Exato! Amanhã é a última quinta-feira do mês, sendo assim, mais uma menina vai sumir, e tenho o pressentimento que algo muito ruim vai acontecer no último dia do mês se não as encontrarmos.
- Temos que seguir o mapa – falou Batman. – É provável que ela vá sumir bem aqui.
O morcego apontou para o pequeno bar “Fishes”.
- A questão é: quem está fazendo isso? – indagou o garoto.
- Ainda tem dúvida que é um homem?! – ela perguntou irônica.
- É um chute alto, mas não pode ser descartado – falou Batman.
- Como assim?
Holly tinha certeza que era um homem. Nenhuma mulher iria raptar garotas jovens dessa maneira predatória. Era um caçador, um selvagem insaciável, buscando por sexo, atenção, violência ou o que quer que fosse.
- Pode ser um grupo, pode até mesmo ser uma mulher – respondeu o morcego.
- Olha, posso até concordar com a ideia de um grupo, mas uma mulher? Por que diabos uma mulher iria ficar raptando garotas?
- Venda de órgãos, tráfico de pessoas... – respondeu Robin. – Na verdade, tem vários motivos.
- E vários suspeitos, visto que não temos pista de quem possa ter pego as meninas – completou Batman.
Cerrou os punhos, sabia que não era uma mulher, tinha essa certeza em seu interior.
- É um homem! – ela contestou. – Tem que ser um homem! É um daqueles caras que coletam garotas como troféus, só para descartarem elas depois. É jovem, bonito, do tipo que atraí as meninas, e tem lábia, sabe seduzir alguém, sabe como sequestrar alguém.
- Como tem tanta certeza? – perguntou Robin.
- Eu apenas... sei – respondeu, dando de ombros.
Batman se levantou e encarou-os antes de dizer:
- Novamente, tente não dar um chute tão alto. Amanhã vamos ao bar, vamos encontrar quem está fazendo isso e resgatar as meninas.
Eles se levantaram e combinaram onde se encontrariam no dia seguinte e o local: ficariam em cima de um prédio bem em frente ao bar, de onde teriam uma visão panorâmica do mesmo.
Antes de partirem, o menino-prodígio aproximou-se de si e perguntou:
- Parece que esse caso é bem importante para você, não é?
- É sim, e muito. Cansei de ver meninas sumindo por aí e ninguém se importar, dizendo que a culpa é delas. Além do que, eu poderia ter sido levada.
- Relaxa, vamos encontrar elas.
Robin segurou seu ombro, acariciando-o de leve, como se tivesse medo da reação dela. Sentiu uma eletricidade correr por seu braço, quase como se tivesse levado um choque. Afastou o ombro e balançou a cabeça de leve, agradecendo pela consideração e carinho.
- Precisamos conversar com o Gordon – falou o morcego, quebrando o silêncio constrangedor que se instalara ali.
- Vou com vocês! – exclamou Catgirl.
Ambos se entreolharam, e ela conseguiu ver um certo receio entre a dupla dinâmica.
De qualquer jeito, sentia que precisava jogar umas boas verdades na cara do comissário.
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Gordon esperava do lado do sinal, onde havia sido aconselhado a ficar pelo Cavaleiro das Trevas. Fumava um cigarro e segurava um copo de café. Dois vícios que definitivamente não abandonaria tão cedo.
- Anda fumando demais, Gordon – murmurou uma voz feminina atrás de si.
Ele se virou, assustado, e avistou três figuras nas sombras. A maior delas, Batman, se aproximou e, sem dizer uma única palavra, colocou um papel em seu peito.
- Quero explicações, Gordon. – A voz dele soou mais sombria do que o normal.
Gordon examinou o papel que lhe fora dado, abaixando os óculos, como que para enxergar melhor o que estava escrito ali.
Era um cartaz que relatava o desaparecimento de uma garota.
Ficou sabendo daqueles desaparecimentos, mas com tantas coisas acontecendo, o Máscara Negra e as drogas, a fuga do Coringa, tinha deixado os sumiços das meninas de lado.
- Eu nem sei como... – ele começou, tentando organizar as palavras em sua cabeça. Sentia-se envergonhado.
- Por que não estavam investigando isso? – perguntou o jovem aprendiz do morcego, saindo das sombras.
- Estávamos tão concentrados na investigação do Máscara Negra que deixamos esses casos para trás – ele se justificou.
- Basicamente arquivaram os casos – completou Robin.
- Não fizemos por mal, apenas pensamos que as meninas iriam reaparecer logo, quer dizer, esse tipo de coisa sempre acontece e...
- Cala a boca, Gordon! – bradou a terceira figura com voz feminina.
Catgirl se aproximou devagar, expondo-se à luz. Nunca tinha visto a menina tão de perto. Sentiu-se como uma criança indo a um zoológico e vendo pela primeira vez os animais selvagens ao vivo. Era igualzinha à Mulher-Gato, a sua postura, o rosto, era apenas mais baixa e jovem.
- Você ficaria sentado, fazendo nada, se fosse sua filha no lugar dessas meninas? – ela perguntou, raivosa, a poucos centímetros de si.
Se assustou com aquela frase. Como ela sabia sobre Barbara?
- Como é que você... – ele começou.
- Não importa como eu sei sobre a sua filha, o que importa é que eu fiz uma investigação completa em poucas horas, coisa que você e a droga da sua equipe não conseguiram fazer em quase um mês.
Ia responder àquela pirralha com um belo sermão se não fosse pelo morcego, que afastou a menina de si.
- O que vocês sabem até agora? – perguntou o comissário, voltando sua atenção para Batman.
- Apenas que todas elas desapareceram nas terças e quintas desse mês, em bares e casas noturnas.
- Então se trata de um predador?
- Talvez sim, talvez um grupo, ou até mesmo uma...
- Você ainda tá com essa ideia estúpida de que pode ser uma mulher? – Catgirl cruzou os braços, encarando o morcego.
Lembrou dos diversos momentos em que ele e Barbara discutiam. A filha ficava exatamente naquela mesma posição: braços cruzados, olhos estreitados e maxilar tenso.
Tinha que admitir que a garota era corajosa por desafiar o homem, além do que, era engraçado pensar que metade dos vilões de Gotham tremiam só de ouvir falar no vigilante, mas uma garotinha se mantinha de pé, o contestando e encarando-o nos olhos que estavam por trás da máscara, feito uma criança emburrada e sem noção do perigo.
- Quer dizer que existe um padrão? – James perguntou, tentando quebrar o gelo entre o Batman e a menina.
- Aparentemente sim – respondeu o herói.
Uma lembrança vaga surgiu em sua mente. Um caso do começo de sua carreira, um caso horrível, exatamente com aquele mesmo padrão de dias e lugares, até o mesmo mês.
- É um grupo! – exclamou. – E para sua alegria, garota, não existem mulheres nesse grupo.
Viu a gatuna colocar as mãos nos quadris e lançar um sorriso acusador para o morcego, como que dizendo: “Eu falei”.
- Como assim? – perguntou Robin. – Que grupo é esse?
- Investiguei um caso igual a esse no início da minha carreira.
- Explique-se – pediu Batman. – E seja rápido.
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Gordon contou-lhes que, quando ele ainda era um jovem policial, tinha investigado uma sequência de desaparecimentos de garotas, todas aparentemente raptadas em boates e bares nas terças e quintas do mês de abril. Em 1° de maio, o corpo da primeira menina que tinha sumido apareceu na porta de um açougue. Ela usava um vestido branco, e quando o levantaram viram um símbolo parecido com uma cobra na barriga dela. Mais tarde descobriram que ela tinha sido tatuada após a morte. O legista confirmou que a coitada tinha sofrido diversos abusos, físicos e sexuais.
Temendo pelas vidas das outras meninas, James e seus parceiros correram contra o tempo, e durante uma visita a um bar, se depararam com um jovem garoto que possuía, na mão direita, o mesmo símbolo de cobra que tinham visto tatuado na garota morta. Depois de muita porrada o menino finalmente declarou que ele e seu grupo tinham raptado as meninas e ás trancado num galpão abandonando.
Obrigaram-no a leva-los até o tal galpão, onde encontraram as outras meninas em estado deplorável: nuas, amarradas, com diversos tipos de ferimentos e desnutridas.
Resgataram as garotas, elas deram seus depoimentos e voltaram para suas famílias, ainda extremamente abaladas. Mas o serviço ainda não tinha terminado. Fizeram com que o garoto desse o nome de cada um dos integrantes do grupo. Eles foram presos e obrigados a confessar o crime.
Segundo os rapazes, eles basicamente compunham um grupo que acreditava no patriarcalismo e numa sociedade em que as mulheres não tivessem direitos e fossem tratadas como meros objetos. Para eles, matar e torturar as meninas era uma maneira de expor sua ideologia nojenta e doentia. A cobra representava a cobra que havia dado o fruto proibido à Eva, e supostamente, condenado os seres humanos a viverem fora do paraíso.
Os garotos foram presos, mas o líder, Bone Cage, que era o principal responsável pelo rapto das meninas, nunca foi encontrado.
Gordon esfregou os olhos por debaixo dos óculos, dizendo que um caso como aquele era difícil de ser esquecido.
- Agora é sua chance de prendê-lo – falou Batman. – Monte uma equipe atrás do bar Fishes, amanhã, ás 18:00, que é quando o bar abre. Aguardem meu sinal.
- Também precisamos que nos entregue uma foto desse tal de Bone Cage – completou Robin.
Gordon balançou a cabeça, completamente aturdido com a história que revelara a pouco. Concordou com o plano e voltou para seus afazeres – fumar e tomar café.
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A história do comissário ainda estava sendo digerida na sua mente, fazendo-a ficar zonza e com o estômago revirado quando entrou no apartamento.
Correu até seu quarto, tirando todo o uniforme, guardando-o cuidadosamente e substituindo-o por um short e um moletom.
Abriu o armário e pegou uma pasta recheada de papeis quase amarelados. Folheou cada um deles até encontrar aquele que queria.
“Jovens libertadas pela Mulher-Gato” dizia o título da matéria de jornal. Selina não aparecia na foto da manchete, nela estava apenas um grupo de meninas com olhares assustados que se abraçavam e choravam.
Lembrou-se da cena digna de um filme de terror que Gordon descrevera: garotas nuas, amarradas, machucadas e desnutridas.
Ele vai pagar, pensou Holly, com um ódio faminto crescendo dentro de si. Ele merece apodrecer junto com aqueles outros vermes.
Sentou-se na cama, de pernas cruzadas, e releu pelo menos umas 3 vezes a matéria de jornal até adormecer.
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