História Sombras do passado - Interativa - Eternidade

Pov Evah

 Passamos mais um dia inteiro cavalgando para Delízea, tivemos que ir com certa cautela depois de termos visto aqueles cartazes colocando preço em nossas cabeças. Estamos agora cruzando um rio, quando atravessamos, Niel desce de seus cavalo e dá alguns passos para frente, ele levanta uma das mãos e pronuncia algumas palavras em língua élfica, que eu não compreendi. Logo a grande pedra que se encontrava no caminho se moveu, revelando uma passagem que era semelhante a uma caverna.

-- Venham.-- Ele fala segurando as rédeas do cavalo e caminhando para dentro da caverna.

 Katherine e eu descemos do cavalo e fazemos o mesmo o seguindo para dentro, quando nós três adentramos a caverna a pedra se move novamente, fechando a passagem. A passagem não era muito longa já podíamos ver a claridade do sol não muito longe, assim que saímos fico maravilhada com a vista. De alguma forma tudo aquilo parecia tão... Familiar, eu devia passar muito tempo ali, era tudo muito iluminado e bonito, com muitas árvores e até uma cachoeira.

-- Ela já deve saber de nossa chegada.-- Niel fala enquanto observamos quatro elfos vindo até nós.

-- Como tem tanta certeza?-- Katherine pergunta.

-- Se não nos aguardassem, já estaríamos mortos.-- Niel responde.-- Como falei, estamos seguros aqui.

De onde estávamos tínhamos uma bela vista do local. Vindo em nossa direção estavam vindo quatro elfos, o que estava mais a frente possuía longos cabelos cabelos pretos e lisos. Assim que se aproximam se curvam levemente.

-- É um prazer revê-la aqui majestade.-- O elfo da frente fala..-- Elas cuidarão dos cavalos.-- Ele fala e duas das elfas levam cada um dos cavalo.

-- Perdoe-me a urgência. A situação é crítica.-- Eu falo.

-- Tenho certeza que Dyores já esperava a sua vinda, ela pede que limpe-se, coma algo e ao anoitecer vá encontrá-la no lago atrás do palácio.-- Ele fala.-- Ela irá lhe acompanhar.-- Ele fala e a outra elfa estava pronta para me guiar.

-- Tudo bem... Eu lembro o caminho.-- Falo sorrindo.-- Obrigada Tartheryon.-- Eu falo me lembrando do nome dele e seguindo pelo caminho que levava até o palácio.

 Por alguma razão me lembrei muito facilmente das coisas em Delízea, as trilha de pedras brancas reluzentes, as flores que nunca murcham, o palácio e até mesmo o lago que Tartheryon citou. Estava tudo fresco em minha cabeça. Entrei no palácio e fui até um dos quartos, ele era num tamanho mediano e tinha uma grande varanda e uma cama redonda, vejo também uma grande penteadeira de crystal.

-- Elfos tem um gosto excelente.-- Falo entrando e fechando a porta.

 Sento na cama e tiro meus sapato, levanto para ir em direção ao banheiro quando vejo um quadro na parede, era uma pintura. Me aproximo para ver melhor e ao chegar perto percebi que era uma pintura... Minha.

-- Eu realmente passava muito tempo aqui.-- Eu falo indo ao armário e vendo que havia vestidos ali, sabia que eram meus.

 Tomo banho relaxando um pouco e assim que saio do banheiro coloco um dos vestidos, um branco com detalhes dourados. Sento-me na penteadeira e me olho no espelho, seguro uma escova e começo a pentear meu cabelo.

-- Que estranho...-- Eu falo ainda penteando meus cabelos. -- Espera, por que estranho? Eu apenas estou penteando meu cabelo não é?-- Eu pergunto a mim mesma confusa.

 Desde que cheguei aqui estou com sensações estranhas, as mesmas que tive quando cheguei ao internato. Uma sensação de como se estivesse faltando algo, como se eu tivesse esquecido algo muito importante. Deixo esse pensamento de lado e me levanto. Fui até o salão de banquete onde havia uma mesa inteira posta com comidas e aperitivos, muitas cadeiras e ninguém sentado. Peguei um prato e coloquei alguns pães e uma maçã, e em seguida vou caminhar pelo castelo.

-- Perfeição.-- Falo sorrindo para mim mesma, era o que definia aquele lugar, o mais completo silêncio e paz, apenas se ouvia o som da cachoeira e dos animais.

 O palácio é bem aberto então fui em uma de suas varandas e me sentei na borda para comer enquanto observava a paisagem da cachoeira, enquanto o sol estava se pondo. Aquilo me trazia uma paz tão grande, tenho certeza que principalmente Elizabeth amaria esse lugar, Margot perturbava a paz provavelmente. Evelyn não sairia da biblioteca e Alys estaria caminhando no bosque sozinha como sempre.

-- Saudades garotas.-- Eu falo baixo desejando com toda força que elas estejam bem.

-- Elas estão bem.-- A voz de Niel entra no ambiente antes silencioso o que faz eu me assustar. -- Perdão.

-- Vocês elfos são muito silenciosos.-- Eu digo sorrindo.

-- Com o tempo, acredite, você percebe a minha chegada a metros de distância.-- Ele diz com um sorriso demasiadamente triste.

-- Por que há um quarto meu aqui? E eu me lembrei tão rápido de tudo?-- Eu pergunto para Niel que se aproximava de onde eu estava.

-- Você... Houve um tempo em que você vinha muito aqui. Parou pouco tempo depois que seus pais morreram.

-- Por que?-- Eu pergunto.

-- Bom, pelo jeito não se lembra de tudo.-- Ele diz desviando o seu olhar dos meus olhos.-- Creio que terá que se esforça para lembrar, não quero atrapalhar o processo da toxina que coloquei em você.

-- Tudo bem então.-- Falei não com muita convicção do que ele falou.

-- O que houve no seu ombro.-- Ele fala abaixando um pouco a manga de meu vestido para ver melhor, revelando um hematoma que agora estava roxo.

-- Não é nada, tropecei ontem a noite quando acordei, bati com o ombro no chão. Não achei que ficaria roxo.

-- Eu dou um jeito.-- Ele fala pegando uma garrafa de sua roupa e derramando um pouco de seu líquido no hematoma.-- Vai melhorar em pouco tempo.-- Com uma das mãos ele massageia a área do hematoma.

-- O-Obrigada-- Eu falo visivelmente nervosa com o toque. -- O que seria de mim sem seus cuidados?

-- Você cuidaria muito bem de si mesma Evah, é uma mulher muito capaz e independente.-- Ele diz terminando e ajeitando novamente a alça de meu vestido.

-- Você parece acreditar nisso mais do que eu mesma.-- Eu falo abaixando o olhar.

-- Você vai acreditar, é questão de tempo.-- Ele fala me encorajando.-- É muito corajosa Evah, poucas pessoas deixariam as irmãs numa situação como essa… Você ficou, tudo para proteger Maggiore e seu povo.

-- Nossa, consegue me fazer sentir melhor. Incrível.-- Eu falo.-- Onde esteve minha vida inteira?-- Perguntei soltando um sorriso.

-- Bem ao seu lado.-- Ele diz.

-- E o que eu estava fazendo que?-- Eu pergunto.

-- Estava casada.-- Ele diz e meu sorriso se desfaz.

-- Ca-Casada?!-- Eu falo me assustando com a revelação.

-- Perdão vossa alteza.-- Ele falou se curvando.-- Eu falo demais. -- Ele diz com uma voz séria e triste se retirando do local.

 -- Eu era casada? Como assim?-- Eu falo me afastando da varanda.-- Preciso achar o Niel, preciso saber mais.

 Sai da varanda e começou a correr pelo castelo procurando Niel, era impossível ele estar longe, saiu não tem dois minutos. Parece que é possível sim, pois eu procurei em cada canto daquele palácio e não o encontrei. Decidi então dar a volta no castelo, onde raios aquele elfo se meteu? Quando completo a volta me deparo com um lago, um pequeno lago com água cristalina, tão cristalina que apesar da escuridão da noite, que agora pairava, continuava brilhando.

-- Que lindo.-- Eu falo me aproximando do lado.

-- Não é?-- Um segunda voz entra no ambiente me assustando, estava bem atrás de mim e era uma voz feminina.-- O mais lindo.

-- Você é Dyores? -- Eu perguntei sem me virar.

-- Exatamente, sei que veio aqui por conta da guerra iminente em Maggiore. Mas como pretende liderar um exército, se ainda não comanda a si própria?-- Ela pergunta e isso me atinge como uma flecha.

-- Eu... Foi por isso que decidi ficar e proteger Maggiore, quero ser mais corajosa.

-- A Evah que eu conheci teria tomado a mesma atitude, ela demorou a desabrochar, mas quando o fez... Se tornou uma das mais belas flores.-- Ela fala.

-- Como eu era?-- E perguntei curiosa.

-- A pergunta é como você é. Evah é Evah. Não existe Evah do passado ou presente, apenas um e única você.-- Aquilo me pegou de surpresa, e eu realmente não sabia como argumentar contra aquilo.

-- Mas...Eu era casada com quem?-- Eu pergunto.

-- Evah...  Você sempre fazendo as perguntas erradas. Me diga o que sentiu ao ver Niel?-- Ela perguntou.

-- Um frio na barriga indescritível... Como se todo meu corpo soubesse quem era ele, mas o meu cérebro... Éramos casados?-- Eu pergunto surpresa.

-- De forma alguma. -- Ela nega com convicção.

-- Então o que Niel tem haver com isso tudo?

-- Me diga... O que vê no lago? -- Ela fala, eu me inclino para frente esperando ver meu reflexo, mas não vejo nada..

-- Não há nada.-- Eu digo.

-- Gostaria que tivesse?

-- Depende do que eu fosse ver.

-- Não podemos controlar tudo querida Evah, as águas de crystal mostram o que elas querem mostrar... O passado, o presente... E às vezes o futuro, mas sempre aquilo que você precisa ver. -- A elfa fala e eu finalmente vejo seu rosto quando ela vem para meu lado. -- Gostaria de ver?

-- Sim, eu quero ver.

-- Então olhe novamente.

Ela fala apontando novamente para o lago, e mais uma vez inclino meu corpo, mas dessa vez vendo algo diferente. Era eu... Estava passando momentos em que estive em Delízea.

Visão ON

Delízea - Antes da morte de Salun e Claryon

Pov Evah

 Acabo de tomar banho, saio da banheira e me seco, com meu cabelo ainda completamente molhado. Saio do banheiro e vou até meu guarda roupa, coloco um vestido amarelo e me sento em minha penteadeira. Olho meu pente e o seguro, aguardo alguns segundos...

-- Sempre pontual não é Niel?-- Falo para o mesmo que acabara de entrar em silêncio no quarto.

-- Não deixa passar uma não é Evah.-- Ele fala se aproximando de mim por trás e esticando o braço, entrego o pente para ele.

-- Eu nunca erro, sempre percebo você chegando.-- Falo enquanto o mesmo começa a pentear meu cabelo, ele adora fazer isso.

-- Posso pergunta como? -- Ele pergunta enquanto passa o pente e seus dedos pelos fios de meu cabelo.

-- Meu corpo me alerta, sempre que se aproxima ele me avisa.-- Falo e ele solta uma pequena risada.-- Porque está rindo? É sério, normalmente é um frio na barriga ou coração acelerado.

-- Tem certeza que não foram os treinos e o tempo que passa aqui?

-- Pode ser também. Só sei que...-- Falo me virando na cadeira da penteadeira e olhando para cima para o encarar.-- Enquanto eu viver sempre perceberei sua presença.

 O mesmo esboça um sorriso pequeno do seu jeito típico e acaricia meu rosto, colocando algumas mechas de cabelo para trás da orelha. Logo em seguida ele se inclinou e depositou um beijo em minha testa. Fecho os olhos para aproveitar a sensação, é indescritível o que sinto com Niel.

-- Nada vai mudar o que eu sinto... Jamais.-- Eu completo.

-- Nem o rei Salun?-- Ele pergunta rindo.

-- O que? Meus pais te adoram, do contrário eles não me deixariam passar tanto tempo aqui, treinando, estudando... E com você. O fato de sua roupa ter pego fogo no exato momento em que meu pai levantou a mão foi pura coincidência.

-- Tenho certeza que sim.-- Ele fala rindo. Eu me viro novamente e o mesmo continua a pentear meus cabelos.

(...)

Delízea - Dia da morte de Salun e Claryon.

Eu não podia acreditar no que Tartheryon havia me falado… Eu não queria acreditar. Eu estava parada em frente ao lago quando ele me contou, e lá fiquei, apenas com pequenas lágrimas escorrendo pelos meus olhos. Um mundo sem papai e mamãe...Eu nunca havia sequer pensado nessa possibilidade. Eu já sabia também o que significava para mim,meu tempo aqui havia acabado.

-- Evah…-- Eu me viro lentamente para trás e era Niel quem tinha falado, ele se aproxima de mim, me abraçando.

-- Volte comigo Niel, vamos ficar juntos. Em Maggiore.-- Eu falo me afastando um pouco de seus braços para o encarar.

-- Evah... Não podemos. Você é uma rainha agora e guardiã. Você sabe que é proibido o casamento entre diferentes raças quando um deles é da realeza.

-- Então eu abro mão do meu reinado para ficar aqui com você. -- Eu falo segurando sua mão.

-- Você não pode fazer isso Evah, não pode renunciar. -- Ele diz segurando forte minhas mãos, como se ele fosse obrigado a falar aquelas palavras

-- O reinado é meu... Faço o que quiser com ele. Assim como meu coração.-- Eu falo olhando para seus lábios.

-- Suas irmãs precisam de você Evah, ainda mais nesse momento -- Ele diz franzindo o cenho. Eu o ouço sabendo que ele tinha razão.-- Nada me dói mais do que olhar em seus olhos e dizer adeus, sabendo que nunca mais haverá um olá da mesma forma.-- Ele diz abaixando a cabeça evitando meu olhar.

-- Ma meluvalyen tenn'oio? ("Você me amará pela eternidade?"- Em elfico)-- Eu pergunto levantando seu queixo e acariciando sua bochecha.

-- Haryalye melmenya, foro tenn'oio. (Você tem meu amor por toda a eternidade.)-- Ele fala e eu sinto uma lágrima que escorreu de seus olhos tocar meu dedo.

-- Melinves ( Eu te amo)-- Falo e sem pensar duas vezes me impulsiono para frente selando nossos lábios.

 Essa sensação... Nunca me doeu tanto lhe beijar.

Futuro…

Havia duas imagens… Uma eu e Niel estávamos juntos em Delízea, mas toda Maggiore destruída.

Na outra Maggiore prosperava, mas Niel e eu nos vimos como dois estranhos… Como se nós dois nunca tivessemos nos visto.

Visão OFF

--...-- Ao terminar de ver aquilo minha respiração fica pesada, coloco a mão na bochecha e percebo estar molhada por minhas lágrimas.-- Niel...-- Eu falo caindo de joelhos na grama.-- Porque me mostrou isso? No que isso irá me ajudar?--Eu falo um pouco com raiva, tristeza e depressão, parece que todas as emoções daquela noite havia voltado...Senti tudo de novo, o pior dia de minha vida.

-- Eu não controlo o que você vê, as águas mostram exatamente aquilo que precisa ser visto.-- Ela fala e eu viro para encarar. -- Você voltou a Maggiore para reinar e pouco tempo depois anunciou seu noivado um homem da província de Xadar do outro lado do atlântico. Era um guardião assim como você e suas irmãs. 

-- Por que?-- Eu pergunto me levantando.

-- Por Maggiore. Tudo que fez foi por Maggiore, sempre foi. Abriu mão de seu amor, de sua felicidade e vida para o bem de seu povo.-- Ela diz.-- E ainda tem a aundácia de dizer que não é corajosa? Não seja tola. É a mulher mais corajosa que já conheci. A pergunta é... Oque vai fazer agora?

-- Eu…

-- O que você será? O que você quer?-- Ela pergunta com mais intensidade.

-- Eu...

-- O que vai fazer Evah Herihor?!-- Ela fala aumentando o tom de voz.

-- Eu sei o que devo fazer! -- Eu falo admitindo.-- Mas tenho medo de o fazer.

-- Medo nunca foi um problema para você, você já sabe o que fazer. Não precisa mais de minha ajuda. Meus elfos a acompanharão nessa batalha.-- Ela fala com um sorriso no rosto.-- Um grande futuro a aguarda Evah, seja qual caminho você escolher. -- Ela fala já pronta para se retirar.

-- Dyores…-- Eu a chamo e ela para de caminhar.-- Ele… Sofreu quando desapareci?

-- Mais do que tudo no mundo… Não foi fácil para ele ter que viver sem o pai e logo depois perde você. Mas ele foi forte… Aprendeu isso com você.

Falando isso ela vai embora e mais uma vez me sento na grama observando o lago. Mais uma vez terei que fazer essa escolha, talvez um dia eu pare de ferir meu coração e o dos outros.

(...)

No outro dia levantamos muito cedo e pegamos nossos cavalos. Um grande grupo de elfos iria conosco. Havia me despedido de Tartheryon, mas não encontrei Dyores. Já fazendo a travessia da passagem, saímos da caverna e subimos em nossos cavalos.

-- Então… Como foi ontem com Dyores?-- Niel me pergunta subindo no cavalo ao meu lado.

-- Foi enriquecedor…-- Eu falo sorrindo.

-- E… Se lembrou de mais alguma coisa?-- Ele pergunta.

-- Não. Nenhuma, é como seu eu nunca tivesse estado aqui.-- Eu falo dando um sorriso e começando a cavalgar a frente dele. -- Me perdoe Niel.-- Falo baixo apenas para eu ouvir e involuntariamente uma lágrima escorre de meus olhos.

Pov Niel

-- Você disse que nada nunca mudaria… Mentirosa.-- Eu falo com um aperto no peito e dor no coração… Começo a cavalgar para acompanhar o grupo.

Ainda te amarei...Pela eternidade.