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História Sombras do passado - Voltando ao passado


Escrita por: hyasminr

Capítulo 1 - Voltando ao passado


Era noite quando me acionaram, havia acabado de dormir após 42 horas de resolução do caso I64.

 

- Policial Cardoso falando

 

Do outro lado da linha escuto a voz de Beline, isso significa que o trabalho continua, afinal o crime não tem hora certa para acontecer. Uma garota de 24 anos, de pele branca com um leve rosado, cabelos lisos, longos e bem pretos  e com uma bela voz doce, porem, essa mesma voz doce é que me diz todas as informações amargas dos meus casos.

 

Beline – Assassinato no orfanato LEA.

Congelei-me por um segundo, ao recuperar o fôlego respondi:

- Estou a caminho!

 

As estradas pareciam mais escuras que o normal, não sei se era a iluminação ou a idéia de estar a caminho do lugar onde passei minha infância. Fui abandonado pela minha mãe aos 3 meses de vida. Qual a mãe que abandona seu filho com 3 meses? Nunca a perdoarei por ter feito isso. Ao completar a maioridade e sair daquele orfanato, prometi a mim mesmo que nunca mais pensaria no meu passado. E agora, oito anos depois, estou nessa estrada novamente, e como um filme em minha cabeça, lembro desse ferimento que insiste em permanecer em minha alma.

 A cada Km percorrido, mais meu coração disparava. Apesar de ser uma noite seca de verão, uma chuva de lembranças tortuosas que afligiam meu coração estava ocorrendo dentro de minha mente.   

 

Ao chegar, estacionei minha caminhonete preta cabine dupla. Essa entrada, nossa, não mudou nada, está exatamente igual. Paredes amareladas do tempo, janelas com grades azuis como os portões principais, três arvores bloqueando parte do estacionamento interno, pequenas pedrinhas formando um caminho até a entrada lateral, a entrada em que fui deixado numa cesta em meio a chuva.

 

-Calma- falei em voz alta.

 

Respirei fundo enquanto saia da caminhonete. Após o barulho do alarme acionado segui em direção aos portões azuis, mas agora havia pequenas gotas de sangue destoando em meio a ferrugem. O corpo estava ao chão, mesmo coberto dava para ver uma poça de sangue, a ambulância estava estacionada por perto, e quanto mais me aproximava mais sentia que não estava ali por acaso, mas logo tratei de mudar meus pensamentos.

 

A policial Rodriguez veio ao meu encontro.

 

- Boa noite parceiro, descansou bem? Eu descansei exatos maravilhosos 40 minutos.- Brincou com a nossa noite mal dormida. Rodriguez é uma ótima policial, somos parceiros faz 4 anos, mas ela ainda me surpreende com o seu humor.

- estou ótimo! 40 minutos? Achei que tivesse sido 5.- entrei na brincadeira- mas o que exatamente temos aqui?

- Mulher, em torno de 47 anos, não encontramos documentos, sem ferimentos, o que estranhei, mas com algo peculiar, olhe só. – falou enquanto se aproximava do corpo e levantava o pano branco que a cobria.

 

Agachei-me junto ao corpo para observar melhor, eram grampos? Haviam grampeado em uma seqüência reta perfeita de uma mão a outra, e passando pela cabeça. Nunca havia visto algo parecido. Segui com os olhos para avaliar cada parte do cadáver. Seus cabelos castanhos escuros iam até os ombros, sua pele branca estava ainda mais pálida pela falta de sangue, suas jóias e unhas pintadas a mostravam que era vaidosa, o vestido azul de listras brancas justo no busto e rodado na cintura insinuava seu lado romântico,  junto com suas sapatilhas de bolinhas azuis marinho e brancas.

 

-Temos alguma testemunha?-perguntei sem tirar os olhos nas marcas nos braços.

-Ninguém viu nada, sem gritos, mas a diretora do orfanato, que encontrou o corpo, disse ter visto alguém fugindo.

- Quero falar com ela agora.

- Estava em choque, então entrou novamente em sua sala, mais está disposta a responder as perguntas.

 

Levantei-me e fui em direção a escada, logo após a entrada subi, e a cada degrau lembranças do passado surgiam. Ao parar em frente a sala da diretora Lizzy, lembrei que a ultima vez que passei por aquela porta foi para assinar os papeis de liberação. Estava tão feliz por ir embora, só o que eu queria era seguir em paz com a minha vida. A policial Rodriguez estranhou minha demora em bater na porta e perguntou se estava bem.

 

- sim, estou - tenho que parar com esses pensamentos, sempre tenho foco nos meus casos, isso que me torna tão bom no que faço.

 

Toc toc – ecoou o som da batida.

 

-Entre.

 

Escutei e em seguida girei a maçaneta até completar sua volta abrindo-a completamente.

 

- Boa noite senhora, sou o policial Cardoso, e está é a policial Rodriguez, temos algumas perguntas.

- Será que não posso responder em outro momento? Ainda estou muito nervosa.

-Bem, eu compreendo que a senhora está chocada com o ocorrido, mas quanto mais cedo fizermos isto, melhor será para o desenrolar do caso.

-Pois bem, eu quero ajudar ao máximo. Sentem-se por favor!

 

Entramos por completo em sua sala. Nos sentamos de frente para a sua mesa. Parecia que o tempo havia parado por lá. Sua mesa de madeira marrom escuro continuava decorada com porta retratos de cor cinza, nas fotos sua família e todo o pessoal que trabalham no orfanato. Atrás de sua cadeira um quadro tendo seu interior com uma foto grande de todos os órfãos juntos. Ao lado esquerdo uma pequena escrivaninha contendo o telefone residencial. Quadros com paisagens diversas nos cercavam por todas as paredes do local. Olhei para baixo, meus sapatos pretos pisavam o tapete felpudo branco que combinava com as cortinas da pequena janela lateral direita.

 

-Para inicio, quero que me diga exatamente o que aconteceu.

-Bom, como já mencionei antes, não escutei barulho algum. Normalmente fico aqui no orfanato até bem tarde, isso quando não durmo por aqui. Hoje estava certa de que  ia dormir em casa, mas uma das crianças, a nossa Bia, ficou doente e resolvi ficar para caso ela piorasse. E foi o que aconteceu, sua febre aumentou e por isso resolvi sair para comprar remédios, assim que saí, avistei ao longe uma sombra, como se estivesse alguém deitado ao lado do portão. Ao me aproximar, vi que era uma mulher, e havia sangue, muito sangue. Foi quando liguei para a policia, assim que desliguei, escutei um barulho de galho partindo. Era um homem, em meio as três árvores, ele estava parado, olhando em minha direção, fiquei apavorada! Não sabia o que fazer. Mas então ele cobriu sua cabeça com o capuz de seu casaco, virou e saiu correndo.

 

Rodriguez anotava cada palavra expelida pela boca da Sr. Lizzy. Notei em seu rosto uma expressão preocupada, seguida de uma pergunta:

 

-E a criança está bem? A senhora chegou a comprar os remédios?

 

Claro que a policial Rodriguez iria se preocupar com a criança, seu coração de mãe não deixaria passar batido. Ela tem dois filhos, Billy de oito anos e Travis de seis,  teria uma menina, a mais nova, se não tivesse perdido em uma de nossas perseguições aos quatro meses de gestação. Por mais que ela diga que se recuperou, sei que a ferida ainda está ali. Sei exatamente como é ter feridas eternas. Principalmente porque ela se culpa, sempre diz que deveria ter se afastado das ruas e ficado apenas no administrativo. Ela e seu marido Peter tiveram que enfrentar uma super barra. Até hoje.

 

- Não comprei, mas uma de nossas cuidadoras, a senhorita Medeiros, foi em meu lugar e está cuidando de bia.

 

Senhorita Medeiros, lembro-me bem dela, era ela que sempre fazia chocolate quente quando eu estava doente. Na verdade fazia chocolate quente para todos, porem quem estava doente ganhava cinco pequenos marshmallows, se tenho algumas lembranças boas daquele lugar, devo a senhorita Medeiros.

 

Segui com as minhas perguntas.

 

- E a senhora pode descrever o homem?

- Estava escuro, não dava para ver muito bem, ainda mais para uma senhora de 69 anos como eu. Contudo, posso afirmar que ele era branco, de cabelos castanhos claros, com a altura em torno de seus um metro e oitenta.

- Certo. Como estava vestido?- completei.

- Calças jeans escuras, bota preta ou cor escura e casaco verde escuro com gorro.

- Anotou tudo Rodriguez?

- Sim, anotado.

- Bom, senhora Lizzy, agradeço pela cooperação,  e caso necessário retornaremos para novas perguntas.

- Claro policial, estarei a disposição.

 

Levantamos e fomos em direção a porta, porém, antes de cruzarmos a sala, a senhora Lizzy voltou a falar.

 

- Policial Cardoso!

 

Olhei ao seu encontro.

 

- Sei que sou uma mulher com certa idade, mas normalmente me lembro dos rostos de quem conheço. Posso estar enganada, mas já nos conhecemos?

- Vivi nesse orfanato até meus 18 anos. Então sim, nos conhecemos.

- Meu Deus, Victor Sena! É você?

- Agora Victor Cardoso, não uso o sobrenome de minha mãe.

- Muito bom vê-lo novamente. Faz tanto tempo, está tão diferente, um homem feito, e muito bonito ouso dizer!

 

Não sou o tipo de homem que se acha o mais bonito de todos, na verdade me acho mediano entre tantos ao mundo. Mas meus um metro e noventa chama uma certa atenção, seguido pelo meu rosto quadrado com barba por fazer e meus olhos  azuis esverdeados.

 

- Agradeço. Foi bom vê-la novamente, mande minhas saudações para a senhorita Medeiros. Se me permitir, dei-me licença, temos muito o que trabalhar.

-Claro.

 

Ao meu lado estava Rodriguez, havia-me esquecido de sua presença nos últimos minutos. Senti seu olhar direcionado a mim.

Ao fechar a porta seguimos em silêncio, que só cessou ao nos aproximar de nossos carros.

- Não sabia que havia vivido em um orfanato.

 

Sabia que esse momento iria chegar, por mais que eu negasse meu passado, ele realmente aconteceu.

 

-Nunca conto essa parte da minha vida as pessoas, desculpe, sei que por sermos parceiros a tantos anos, sempre dividimos nossas historias, mais essa é uma parte da minha vida que eu não faço questão que saibam. Pelo contrario, evito ao máximo, e espero que fique apenas entre nós!

- É claro! Se não quer falar sobre isso, tem total direito. Morre o assunto. Mas caso um dia queira conversar sobre, sabe que alem de sua parceira de trabalho, sou sua amiga.

 

Qualquer pessoa gosta de saber que tem alguém de confiança que se importa com você, escutar aquilo sempre meche comigo, minha vida nunca foi fácil e nem sempre tive alguém do meu lado.

 

-Obrigado Rodriguez, sei que posso sempre contar com você.

 

 

 

 



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