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História Some Nights - Salted Wound


Escrita por: RafaelaJ

Notas do Autor


Gente, mil desculpas pela minha demora, eu estou até envergonhada. E tenho que admitir que a culpa é toda minha, já que a falta de inspiração se apossou de mim e não quis sair de maneira alguma hahaha. Portanto, desde já, vou avisar que esse capítulo não ficou dos melhores, e eu só vou postar porque sei que se tentar reescrever vou demorar muito mais tempo, mas eu prometo que vou me esforçar mais no próximo (e tentar postar na data).
Agora vamos falar de coisas boas! Gente, eu não acredito, eu recebi SEIS comentários no capítulo anterior, olha tem gente que pode pensar que isso é pouco, mas vocês não sabem o quanto cada uma daquelas palavras significou para mim. Então, minha lista hoje para agradecer vai ser um pouquinho extensa hahaha. Obrigada lalalullaby, taizalopes, SasaMellark12 (essa eu tenho que agradecer especialmente porque ela me informou de um erro que eu cometi no capítulo anterior), Marlove que favoritaram, e também a quem comentou; SasaMellark12, Beatriz129, lalalullaby, NayTHg, QuelFran, e Marlove! Vamos ver se conseguimos manter os mesmo números nesse capítulo!
Vejo vocês lá em baixo!

Capítulo 8 - Salted Wound


O aroma delicioso de pão quente faz minha boca salivar. A minha frente Haymitch me observa enquanto eu aprecio a visão diversificada de comidas sobre a mesa. E o ronronar de meu estomago, demonstrando minha fome, é o suficiente para me desviar, por hora, dos pensamentos desagradáveis que insistem em rondar minha cabeça.

- Pelas olheiras parece que alguém não dormiu muito bem. – Haymitch comenta desinteressado. Ela leva uma xícara, que eu espero não estar contendo gota alguma de álcool, a boca e mantêm seus olhos sobre mim, me avaliando.

- Noite difícil – eu me justifico não podendo negar a sua afirmação.

Eu pouso a minha xícara de chocolate quente na mesa, e a encaro. E por mais que o sabor doce da bebida aflore em minha boca, não deixo de notar a diferença com a que Peeta sempre faz para mim.

Eu não tenho mais tempo ou energia para pensar sobre a noite anterior. Seus acontecimentos fizeram com que eu passasse a noite toda em claro repassando diversas vezes a conversa de Peeta e Gale em minha mente. Por fim, eu decidi simplesmente não fazer nada, não enquanto eu não esteja certa sobre o que fazer com as informações em minha posse. Decidi pensar antes de agir.

- Mas parece que eu não fui a única que teve uma noite complicada – eu comento já que o estado do meu mentor leva a crer que ele dormiu mal ou, como eu, nem dormiu. A segunda opção, para mim, é a mais provável, já que Haymitch quase nunca consegue dormir realmente à noite. Somente a luz do dia o deixa seguro para abaixar a guarda. No entanto, Haymitch não se digna a me dar uma resposta.

Eu me sirvo generosamente de cada um dos pratos na mesa. E não posso negar que a fartura, apesar de um pouco mais moderada agora, se assemelha ao tempo em que eu pensava que uma refeição como essa seria uma das minhas últimas. E, ironicamente, penso que só falta um item para tornar esse cenário completo novamente.

- Sabe, só está faltando uma única pessoa nesse grande, grande dia.

A referência a nossa antiga acompanhante faz tanto Haymitch quanto eu esboçarmos um sorriso nostálgico. Em todos esses anos foram poucas às vezes em que eu vi Effie. Com a vitória na guerra e Paylor assumindo o governo houve uma mudança drástica na qualidade de vida das pessoas. A Capital teve que baixar um pouco seus padrões, porém, apesar de Effie estar incluída nisso nem por um momento seu jeito eufórico e, por vezes, alienado mudou. Ela continua a mesma só que agora com roupas menos coloridas e sem peruca.

- Eu nunca pensei que diria isso – Haymitch diz, mastigando um enorme pedaço de pão – Mas aquela doidinha faz falta.

- Nós deveríamos convidá-la para nos visitar – eu sugiro.

- Claro – Haymitch esboça um sorriso de escárnio – Porque Effie adoraria gastar seus preciosos sapatos com o Distrito 12.

- Tem razão.

- Mas talvez – Haymitch começa insinuante – se você contar a ela sobre as novidades...

Haymitch não precisa continuar para eu saber exatamente do que ele está falando. Minha gravidez. E com o seu olhar sobre o meu eu sei, por instinto, que ele não pretende fazer dessa uma conversa agradável.

- Haymitch, eu não quero falar sobre isso. – eu falo decidida. No entanto, Haymitch parece me ignorar completamente.

- Eu estou curioso – começa ele – Quando foi mesmo que você deixou de ser cabeça dura e decidiu ter um filho? Porque, que o garoto sempre quis uma família eu sabia, na verdade todo mundo sabia, mas você, sem ofensa queridinha, nunca me pareceu muito maternal.

Eu mantenho minhas feições neutras decidida a não me abalar por nada do que Haymitch diz. E assim que ele termina de falar uma vontade imensa de atacá-lo se apossa de mim. E ao lançar um olhar ao garfo ao meu lado eu tenho que me controlar.

- Isso não é da sua conta – eu murmuro entre dentes.

Haymitch se apóia na mesa de modo que seu rosto fique a centímetros do meu.

- Oh, é sim queridinha. A partir do momento em que você decidiu encher a Aldeia dos Vitoriosos de pequenos Peetas e Katniss, isso passou a ser da minha conta.

Eu bufo frustrada com a insistência de Haymitch e para tentar acabar logo com essa conversa ridícula eu o respondo.

- Não foi uma decisão – eu digo contrariada.

- O que isso quer dizer? – ele pergunta entediado.

Eu passo a mão pelos meus cabelos irritada com essa situação. Haymitch não deveria se meter nisso. Esse é um assunto particular que diz respeito somente a Peeta e eu.

- Foi um deslize, certo – eu respondo defensivamente.

O minuto seguinte se passa em completo silencio. Haymitch me encara como se não conseguisse entender o que eu disse. E quando abro a boca para falar, o silêncio é quebrado por uma gargalhada. O corpo de Haymitch chacoalha com força contra a cadeira devido ao riso intenso. E os sons que ele emite aumentam ainda mais a minha raiva.

- Queridinha, – ele se esforça para dizer enquanto passa a mão por seu rosto vermelho – eu nunca pensei que você pudesse ser tão burra.

Esse comentário foi o suficiente para elevar o meu temperamento, já afetado, ao máximo. E em um impulso jogo todo o conteúdo do copo de Haymitch sobre ele. Ele passa a mão sobre o rosto tentando limpar o suco de laranja. Seu rosto fica ainda mais vermelho, mas agora de raiva. E Haymitch tem sorte que joguei nele o suco e não a minha xícara de chocolate quente.

- Por que você fez isso? – ele grita exaltado.

- Para você aprender a parar de ser tão estúpido. – respondo no mesmo tom.

Ele pega o guardanapo a sua frente e limpa o rosto completamente, sobrando agora apenas à parte superior da sua camisa encharcada.

- Eu já deveria saber que não devo mexer com os seus hormônios. – ele solta um suspiro – Tudo bem, me desculpe. Eu não quis ser grosseiro.

- Tem certeza? – eu pergunto ironicamente.

- Olha, pode não parecer, mas eu só estou perguntando essas coisas porque estou preocupado. – ele se justifica, e eu vejo o quanto é difícil para ele dizer isso. Demonstração de afeto nunca foi uma das habilidades de Haymitch.

- Certo – eu murmuro.

- O que eu que saber é se essa foi uma decisão sua. – ele diz – Você não está grávida só para agradar o garoto está?

Tenho vontade de rir ironicamente com sua pergunta. Me conhecendo como ele faz, Haymitch deveria saber que não é da minha natureza egoísta ceder as vontades dos outros. Ainda que essa vontade seja de Peeta.

- Com isso você não precisa se preocupar. – eu lhe tranqüilizo – É uma escolha minha. Na verdade, Peeta disse que me apoiaria se eu quisesse abortar.

- E o que fez você mudar de idéia? – ele pergunta curioso.

- Eu não sei. Talvez, pelo meu próprio egoísmo de querer mais um dente de leão.

Haymitch me encara confuso pela minha resposta, mas eu não preciso que ele entenda. Porque isso é uma coisa só minha.

- Sabe, eu sempre achei você muito parecida comigo – Haymitch diz com o olhar vago sobre a janela do vagão – E quando a sua irmã morreu eu temi que você pudesse acabar como eu. E eu fico feliz em ver que você não deixou a tristeza te dominar, você superou.

A menção a morte de Prim faz meus olhos lacrimejarem. E Haymitch pega minha mão em um gesto de conforto.

- Acredite, não há egoísmo algum em ter um filho.

As palavras de Haymitch acalmam uma parte em mim que há muito eu estava tentando ignorar.

- Obrigada – eu sussurro – Por se importar conosco.

- Eu não tive muita escolha, não é mesmo? – ele brinca.

E essa era uma verdade. Desde o momento da colheita, nós estávamos fadados a ficar juntos, primeiro pela sobrevivência, depois pelo medo, e então simplesmente por afeição. O bêbado, o padeiro e a caçadora, nós éramos mais do que uma equipe, éramos uma família.

E quando um clima amistoso se instala entre nós Haymitch faz questão de quebrá-lo com uma provocação.

- Eu só espero que você os mantenha dentro de um cercado, porque se eu os vir a, pelo menos, dez metros da minha casa eu não me responsabilizo por meus atos.

O uso do plural para falar do meu filho não me passa despercebido, no entanto decido manter a correção apenas mentalmente. E não importa o Haymitch diga, o modo como ele se refere ao meu filho demonstra que ele já o incluiu em nossa pequena família. Afinal, talvez Haymitch precise de um novo dente de leão também.

Eu reviro os olhos diante da sua provocação e quando estou prestes a responder ao seu comentário sou interrompida.

- Bom dia! – diz Peeta com seu bom humor mais elevado do que o normal. Ele se senta ao meu lado e começa a se servir – Do que vocês estavam falando?

 - Nada – eu respondo rápido demais. Eu não quero que Peeta saiba que eu estava me confidenciando com Haymitch. Isso, além de ser intimo demais, é vergonhoso.

Nós começamos todos a comer em silencio até que a figura ruiva adentra a sala completamente agitada.

- Vocês não sabem como eu estou feliz por estarmos finalmente chegando – comenta Johanna animada – Eu odeio viagens de trem. – ela faz uma careta. E quando se senta olha ao redor da sala a procura de algo - Onde está o Caçador?

Ao meu lado posso ver Peeta enrijecer e, logo, focar seus olhos em mim. E com sua atenção sobre mim tento ao máximo me manter neutra. Garantindo a ele minha ignorância.

- Eu não sei – responde Peeta dando de ombros.

E quando desvio meu olhar de Johanna encontro os olhos de Haymitch sobre mim. Seu olhar inquisitivo demonstra que ele sabe que aconteceu alguma coisa. Infelizmente, meu mentor não é tão facilmente enganado como meu marido. Haymitch, no final, aprendeu alguns truques com todos esses anos.

- Ah entendi, ele está evitando a Katniss – Johanna ri da chacota. – Eu estava pensando ontem – ela continua servindo-se de um generoso pedaço de torta – O que vocês preferem fazer quando chegarmos?

Somente com a abordagem de Johanna que o assunto da viagem recai sobre mim novamente. E não tenho nem tempo de pensar em sua pergunta quando ela recomeça a falar.

- Eu imagino que podemos ir direto para a casa da Annie, o que vocês acham?

- Eu concordo – diz Peeta.

- Vocês podem me excluir dessa – diz Haymitch mais interessado no seu copo do que na conversa – Eu não pretendo aparecer até que a minha presença seja estritamente necessária.

Eu sabia que Peeta iria concordar com a idéia então busco em Haymitch uma possibilidade de fuga. Encaro-o suplicante pela sua ajuda. Contudo, ele não acrescenta mais nada em sua fala, somente me dá um sorriso zombeteiro me mostrando que estou por mim mesma nessa. Aparentemente o nosso clima de camaradagem havia acabado.

O problema não era encontrar o garoto. Mas sim encontrá-lo agora. Quanto mais eu pudesse adiar isso melhor eu poderia me sair. Talvez, com um pouco mais de tempo, eu poderia me acalmar e treinar para não dizer nada indelicado ou inapropriado.

Volto meu olhar para Peeta que espera minha resposta. Seus olhos azuis me encaram me incentivando. E com a falta de apoio e a ausência de uma saída plausível eu sou obrigada a concordar.

 

.  .  .

 

Como esperado o Distrito 4 é bem grande. No entanto não é só isso que o diferencia do Distrito 12. Logo que desembarcamos nos pegamos um carro de aluguel já que, de acordo com Johanna, a casa de Annie fica bem longe. E enquanto o carro percorre as ruas noto o qual mais desenvolvido o Distrito 4 é que os demais abaixo dele. As ruas são todas asfaltadas, e as casas, apesar de possuírem algumas mais modestas, são modernas e, aparentemente, de um tamanho razoável.

Entretanto o que mais me chama atenção é a quantidade de pessoas nas ruas. Varias estão segurando bandeiras coloridas, e, com a ajuda de escadas, diversas lanternas são penduradas das beiradas das casas ao longo dos passeios. E não contenho minha curiosidade de perguntar se esse comportamento é normal por aqui.

- Eles estão enfeitando as ruas para o Festival de Ano Novo – responde Johanna.

- Mas isso é só daqui a dois dias – eu digo.

- Na verdade, aqui a comemoração começa hoje. – ela diz animada – Para você ver como o povo do Distrito 4 é festeiro.

O resto do percurso é feito em silencio até que o carro para em frente a uma casa, que poderia ser facilmente apelidada como um chalé pelo seu tamanho reduzido, um pouco mais afastada das outras. A construção é completamente diferente das outras casas dos Vitoriosos, e penso que Annie deve tê-la escolhido principalmente pelo isolamento que ela propicia. Há um pequeno jardim da frente extremamente bem cuidado e fico pensando se esse é um dos métodos de Annie para se manter ocupada.

Johanna sobe os degraus da varanda e toca a campainha. Ao meu lado Peeta, sentindo meu nervosismo, toma minha mão na sua a fim de me acalmar. E seu método até funciona por um tempo, mas assim que ouço sua voz conhecida minhas pernas voltam a tremer.

Annie cumprimenta Johanna com um abraço. E me pergunto se Johanna aceita o gesto por não querer contrariar o lado fragilizado de Annie ou porque ambas possuem intimidade. Ou talvez seja apenas um costume do Distrito 4, penso quando o gesto é repetido com Peeta. No entanto, não posso evitar o pequeno incomodo que se apossa de mim ao ver os dois em uma cena tão intima, ainda mais me lembrando de tudo o que Peeta já insinuou sobre ela no Distrito 13.

Quando Annie se aproxima de mim eu já estou preparada para o seu abraço, porém é necessário um tempo para eu retribuí-lo ainda que hesitante.

Fisicamente, Annie não mudou praticamente nada. Seus cabelos continuam ruivos, embora um pouco maiores. Apesar do sol constante no Distrito, sua pele continua clara. E sua figura me parece frágil como sempre. E, enquanto a observo, a questão que se passa realmente pela minha cabeça é como estará seu estado mental.

- Eu estou tão feliz que vocês vieram – ela anuncia eufórica – Eu não contei nada para Finn, então vai ser uma surpresa para ele também.

O modo como Annie fala, por mais que tenha sido inocente, demonstra que ela não esperava a nossa vinda. Posso sentir os olhos de Johanna sobre mim e instintivamente sei que a razão é por minha causa. Ela pensou que eu não viria. Eu não posso realmente culpá-la por isso, já que, realmente, foram necessárias várias discussões com Peeta para que eu concordasse. No entanto, isso não me impede de me irritar.

Annie nos convida para entrar, então nos acomodamos todos na sala enquanto ela diz que chamará o filho. Durante o tempo que se passa fico observando o interior da casa sem nem mesmo prestar muita atenção algo. Meus olhos vagam de um canto para o outro assim como meus pensamentos.

Depois de alguns minutos, Annie volta e em seu enlaço está um garoto que eu poderia dizer ser uma cópia idêntica de Finnick. Eu encaro por alguns segundos o garoto que agora está um pouco maior do que na foto. E quando ele lança um sorriso sedutor, tão familiar a mim, sou obrigada a desviar os olhos antes que eu faça algo ridículo como chorar.

- Tia Johanna – o garoto cruza a sala correndo e pula sobre Johanna que o recebe de bom grado.

- Finn. Eu estava com tanta saudade – ela beija demoradamente uma de suas bochechas. O garoto faz uma careta sobre o ato, mas não reclama.

- Você trouxe algo para mim? – ele pergunta animado, e ela confirma.

- Eu não trago sempre?

A interação entre Johanna e o garoto só não faz meu queixo cair porque sinto que perdi total controle do meu corpo. Nunca pensei que a tributo mais marrenta um dia protagonizasse uma cena carinhosa como essa, ainda mais com o filho de Finnick. Por algum motivo eu pensei que ela, como eu, não estaria à vontade com essa interação. Contudo, visivelmente, eu estava errada.

- Finn – Annie o chama – Eu queria que você conhecesse algumas pessoas.

Finn desce do colo de Johanna e, pela primeira vez, parece notar a nossa presença.

- Esses são Peeta e Katniss – ela nos apresenta – Eles eram amigos do seu pai.

Posso notar uma sutil mudança nas feições de Annie quando ela cita Finnick e fico esperando que ela tenha um ataque a qualquer instante. Entretanto, seu rosto rapidamente se normaliza e sua postura se mantém firme, em momento algum vacilando.

Finn parece se animar com a nossa presença e, logo ele está se aproximando de mim. Ele estende a mão para mim em um cumprimento, porém, meu corpo parece não obedecer e eu fico paralisada enquanto observo sua pequena mão. E agradeço quando Peeta, percebendo o meu estado, o cumprimenta em meu lugar.

- E ai garotão, eu sou Peeta – Peeta se abaixa para ficar da altura do garoto.

- Eu sou Finn.

- É um prazer finalmente conhecer você – ele diz – A Johanna me disse que você gosta de jogar bola, então o que você acha da gente brinca um pouco?

Eu desconheço o momento em que Johanna disse algo assim a Peeta, mas conhecendo meu marido eu sei que ele deve ter perguntado a ela tudo o que agradaria o garoto.

- Claro – Finn responde entusiasmado e, então, olha para a mãe em busca de uma confirmação – Eu vou pegar.

Durante esse tempo minha presença pareceu esquecida e só volto a me fazer presente quando comento.

- Ele se parece tanto com o Finnick.

Três pares de olhos se voltam para mim, e sinto um misto de vergonha e inveja. Peeta e, até mesmo Johanna fizeram a situação parecer tão simples que me sinto mal pelo meu comportamento, ou nesse caso pela falta dele. Mas – e essa seria minha segunda dívida com o garoto – Finn irrompe a sala antes que alguém possa dizer algo.

Johanna sugere que possamos todos ir à praia e, pela primeira vez, apoio a idéia. O caminho até lá é curto uma vez que Annie mora praticamente na orla. E logo que alcançamos à areia sou obrigada a retirar meus sapatos. Meus pés tocam a areia quente causando uma sensação agradável. Eu nunca vi o mar de verdade, o máximo que já presenciei foi a água salgada da segunda arena, por isso quando meus olhos avistam a imensidão azul sou abrigada a paralisar. Um suspiro escapa de meus lábios e ao meu lado noto Peeta tendo a mesma reação.

- É lindo – eu digo maravilhada. As ondas batem de modo calmo, não agressivamente como na segunda arena, contra a areia da praia. E, mesmo que eu me esforce, sei que não conseguirei ver nunca o fim daquela imensidão.

- Essa visão daria um belo quadro – Peeta comenta, e eu praticamente posso vê-lo gravando a imagem em sua mente para, posteriormente, derramá-la sobre o papel.

Johanna nos grita a frente e somos obrigados a sair do nosso estupor para acompanhá-los. A praia está praticamente deserta o que me surpreende, pois se eu morasse nesse Distrito aproveitaria ao máximo da melhor coisa que ele tem a oferecer; o mar.

Perto da água, Annie estende um lençol para nos sentarmos todos, mas somente eu e ela o fazemos já que os outros partem para uma partida de bola. Johanna e Peeta me chamam algumas vezes para entrar no jogo, mas eu recuso preferindo não arriscar em causar mais uma cena desconfortável. E fico o tempo todo observando Peeta que, mesmo com a prótese, consegue se sair razoavelmente bem no jogo, correndo e, por vezes, roubando a bola de Finn.

Mais de uma hora parece ter se passado quando eu quebro o silencio.

- Você parece bem melhor – eu comento enquanto Annie observa o filho com um sorriso nos lábios.

- E eu estou – ela responde se virando para mim – Eu venho me tratando desde que descobri sobre a gravidez.

Eu murmuro uma concordância não querendo adentrar um território intimo demais, mas mesmo sem qualquer pergunta da minha parte ela continua.

- Perder Finnick não foi fácil, Katniss – ela engole com dificuldade e sei que ela está tentando segurar o choro – Mas eu não podia me entregar sabe. Pelo Finn eu tinha que continuar e foi ele quem me deu forças para lutar.

Quando Annie termina de falar ela parece ter vivido mil anos. A garota que eu conheci no Distrito 13 não está mais lá. A sua fragilidade foi substituída por coragem. E uma palavra, que antes eu nunca usaria para descrevê-la, surge em minha mente: sobrevivente. Annie é uma sobrevivente.

Quando o momento de extrema lucidez de Annie parece acabar ela se perde em pensamentos esquecendo-se completamente da minha presença. Virando-me para frente encaro o ponto no horizonte em que o mar encontra o céu. Em minha mente eu imagino o quão difícil deve ter sido para Annie superar tudo. Eu não sei se sem Peeta ao meu lado eu teria forças ou mesmo vontade para continuar.

Sou tirada de meus devaneios por uma pancada na cabeça. A bola cai ao meu lado e eu levanto meu olhar a procura do meu agressor. Peeta e Finn apontam seus dedos para Johanna que me encara sem indicio algum de culpa.

- Annie – ela grita, e a mulher ao meu lado precisa de alguns segundos antes de perceber o que está acontecendo – Eu estou um pouco cansada, por que você não vem me substituir?

Annie se levanta com seu entusiasmo aparentemente restaurado, enquanto Johanna toma seu lugar ao meu lado.

- O que é que você está fazendo? – ela pergunta incisiva.

- O que você quer dizer?

- O que eu quero dizer? – ela ri ironicamente – Katniss você pode me explicar o que é que você veio fazer aqui?

- Eu vim ver o garoto – Afinal, não foi para isso que todos insistiram tanto?

Ela solta uma risada frustrada e eu a encaro inquisitiva.

- Se foi mesmo por isso – ela começa – Então, porque você o está ignorando?

-Eu não estou – eu respondo defensiva. Eu simplesmente prefiro me manter quieta a dizer algo errado, será que ela não percebe isso?

- Olha só para você. Você está aqui distante de todos. – ela exclama – Meu Deus, você quase fez a Annie chorar.

- Eu não fiz – minha voz está irritada assim como eu mesma. Quem Johanna pensa que é para sentar aqui e ficar me acusando de coisas que não fiz? – Quer saber, se eu soubesse que você ia julgar tudo o que eu faço talvez fosse melhor que eu não tivesse vindo.

Johanna bufa e em seus olhos eu posso ver fúria.

- Isso não tem nada a ver com você Katniss. É por ele, pelo Finn – ela mantém a voz baixa para que os outros não nos ouçam, mas ainda sim não deixar de ter um tom hostil – Será que você pode, ao menos uma vez na vida, deixar de ser tão egoísta?

As palavras de Johanna são agressivas e acusadoras. Eu suponho que ela teria me ferido menos se usasse o seu machado. E, antes que eu fizesse algo estúpido, me levanto sem que Johanna possa me impedir. Saio correndo não ligando se Peeta, ou qualquer um deles, notou. E eu já estou bem longe quando deixo uma única lágrima solitária escapar.


Notas Finais


E ai, gente, o que vocês acharam? O capítulo foi meio parado, mas prometo compensar no próximo. Deixem um comentário, quero saber a opinião de vocês!
Quero lançar um desafio também; quero ver se alguém acerta o nome que eu escolhi para a filhinha da Katniss. Que comecem as apostas hahaha!
Beijos e até mais!


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