E durante todo o caminho ele pensou e pensou. Era óbvio que se sentiria deslocado, já se sentia estranho apenas ao observar o caminho que trilhava naquele carro aparentemente novo. Namjoon não estava acostumado com tudo aquilo, claro que não. Ele não sabia como se comportar em um ambiente tão novo, tão fino, porque mesmo que não tivesse detalhes exatos sobre a situação financeira do outro, sabia que tudo aquilo fugia de sua realidade. Ele não queria fazer nenhum tipo de pergunta, não se achava no direito de questionar coisas que ele nem ao menos sabia se fazia diferença, afinal, ele sabia que tudo aquilo vinha do coração de Jin da maneira mais pura que poderia existir, mas de certa forma não conseguia parar de sentir medo pelo inesperado.Eram muitos pensamentos para uma só mente, muitas dúvidas em tão poucos minutos
Mas, afinal, como ele se portaria? Como ele combinaria com uma casa luxuosa quando já se sentia excluído visualmente só por estar dentro do carro? Como ele se comportaria na presença das pessoas daquele círculo? O que faria para não envergonhar Jin com seu jeito simples e falta de classe? Eram muitas perguntas que o apavoravam mais a cada segundo; eram como vozes irritantes em sua cabeça que insistiam em dizer que tudo aquilo daria errado de alguma forma, o faziam imaginar que talvez não fosse merecedor de tudo aquilo, mas seu pensamento só se acalmou ao ouvir a voz do rapaz ao seu lado;
– O que tanto pensa? – perguntou Jin de maneira apreensiva. De alguma forma ele via a hesitação no olhar do outro e procurava acabar com aquilo. Ele não gostava de ver Namjoon calado, preferia quando ele conversava sobre coisas aleatórios, mostrava seu sorriso e suas covinhas graciosas e soltava suas gargalhadas contagiantes.
– Muitas coisas – respondeu o loiro vagamente, fazendo Jin soltar um suspiro não muito contente. As atitudes de Namjoon na maioria das vezes eram tão fofas e aquilo fazia seu coração se aquecer com aquelas provocações que o loiro nem ao menos havia notado.
– Pensei que estaria implícito o fato de eu querer uma resposta mais completa, sabe? Porque todos pensamos em muitas coisas, ou você não sabia disso? – Jin joga de forma divertida, fazendo Namjoon se distrair de toda aquela negatividade repentina.
– É claro que eu sabia. Mas eu sinto que você sempre quer saber o que os outros estão pensando. Acho até que se você pudesse ter um poder mutante, seria algo que envolveria leitura de mentes. – e Jin sabia que era verdade; Uma das poucas coisas que o frustravam era não poder saber o que todos os outros pensavam o tempo todo, mas ultimamente havia ficado um pouco pior querer tanto saber o que Namjoon pensava sobre tudo.
– Eu não precisaria ler mentes se as pessoas me dissessem o que pensam quando eu as perguntassem – respondeu simplista, olhando para o rosto do outro rapaz pela primeira vez dentro do percurso, tudo graças a um sinal vermelho.
Claro que Namjoon não falaria nada sobre tudo o que passava em sua cabeça, afinal, ele sabia sobre tudo o que ouviria, como Jin diria que tudo aquilo era uma grande bobagem e que ele jamais precisaria se preocupar com coisas tão fúteis como se portar em um ambiente de maior estrutura financeira, porque por mais que quisesse se prevenir, sabia que para Jin as coisas eram mais do que posição financeira, imagem e status. Seu maior problemas era em imaginar as pessoas de fora, não queria causar nenhum incômodo. O assunto foi esquecido por alguns minutos e Jin dava graças aos céus por ver Namjoon mais relaxado.
– Estamos chegando – disse baixinho, pensando em suas palavras. – olhe, eu espero muito que você goste da minha casa, Namjoon. Espero que se sinta acomodado. que esse espaço seja aconchegante pra você. Por favor me diga quando algo te desagradar, me diga caso se sinta mal – E a forma com que Namjoon sorriu o fez relaxar.
O loiro poderia sentir seu coração apertar ao notar toda a preocupação do outro, afinal, Jin era mesmo real? Não só o estava ajudando, como se propondo a tornar tudo melhor e o mais doce possível; mostrava sua preocupação e deixava claro que estava disposto a tudo para fazê-lo se sentir bem. Aquilo era irreal para Namjoon em todos os sentidos, mas naquele momento colocou no fundo de seu coração que ele havia ganhado uma benção, que era Jin em sua vida. E ele agradeceu por tudo aquilo que estava acontecendo.
– Eu estou bem, Jin. Obrigado. – e por mais que quisesse demonstrar toda a sua gratidão em palavras, Namjoon colocou em sua cabeça que faria mais do que isso. Ele demonstraria de todas as formas que estivessem ao seu alcance.
O carro virou em mais uma esquina e a partir dali, a vista da cidade foi mudada. O bairro ao qual entraram era extremamente luxuoso; as casas eram imensas, de arquitetura contemporânea, visualmente limpa e leve, tudo ali parecia seguir um conceito único visual, que enchia os olhos de Namjoon de curiosidade, afinal, tudo aquilo era magnífico em sua forma. Alguns quarteirões e a velocidade do carro foi diminuindo aos poucos, a ansiedade de Namjoon aumentava gradativamente e aquilo era perceptível a Jin, que segurava o riso de forma satisfeita. O automóvel fez uma pequena curva, sendo estacionado na entrada para o quintal e os olhos do loiro se viraram rapidamente a fim de captar todos os elementos que via. A casa, assim como as outras daquele bairro, era enorme e sóbria, mostrando uma imensa elegância; a maior parte da fachada era revestida em cimento queimado de cor chumbo e podia-se notar uma enorme parede de vidro, coberta pela parte interna com uma grande cortina negra; parte do andar de cima era forrado em madeira caramelo, exibindo grandes janelas totalmente de vidro e uma ampla sacada poderia ser observada pelo lado esquerdo. Jin desceu primeiro, abrindo o porta-malas pare retirar as muletas de Namjoon, que o seguiu até a porta principal, se segurando para não soltar nenhum comentário sobre o quanto ele estava extasiado com tudo o que via.
Quando a porta se abriu, uma voz rouca foi ouvida de forma alta.
– Viu? Eu disse que já estavam chegando – Yoongi estava sentado no sofá negro da sala principal, na tv passava um programa aleatório sobre esportes e o rapaz parecia muito entediado enquanto devorava um pacote de salgadinhos. Em alguns segundos um Hoseok muito animado surge correndo da cozinha, vestindo um avental amarelo e com um sorriso de orelha a orelha.
– Chegaram na hora certa, sabem, o bolo acabou de ficar pronto – disse animado, enquanto Namjoon encarava tudo aquilo com um olhar questionador. Não imaginou que os dois estivessem naquela casa e se questionou se moravam juntos e também sobre como ele fora morar com Jin sem nem ao menos perguntar se ele realmente morava sozinho, mas antes que seu medo começasse a aflorar, Jin voltou a falar.
– O que vocês estão fazendo aqui? – perguntou calmo e com tom de riso. Yoongi virou o rosto, deixando claro que não iria explicar uma ideia que nem ao menos fora dele, mas Hoseok tomou a frente.
– Eu quis fazer uma surpresa pra vocês, sabem… – começou ele – na verdade a surpresa era pro Namjoon, fiquei imaginando todos esses dias que ela passou comendo aquela comida de hospital sem graça e bem, todos nós sabemos que Jin não sabe cozinhar, então… – Jin discordou, é claro, afinal, ele sabia cozinhar muito bem, mas em meio a pequena discussão de dois amigos, Namjoon se sentiu miserável. Era óbvio que tudo o que ele já teve na vida era nada mais do que lixo, mas para ele era difícil pensar que o que havia considerado um banquete no hospital, era sem graça para os outros. Como seria sua vida a partir dali?
E com seu silêncio e olhar pensativo, Jin percebeu que havia algo errado, mesmo não sabendo o quê. Não queria decepcionar Namjoon, tudo o que ele almejava era poder fazer o outro se sentir feliz, sentir-se cuidado e tudo mais de bom que pudesse sair de seu coração, mas algo fazia parecer que seus planos haviam dado errado, então ele tinha que agir.
– Hm então, acho que Namjoon está um pouco cansado, quero levar ele lá pra cima para se acomodar. Depois descemos, tá? – soltou um tanto quanto incerto, deixando Hoseok com um sorriso murcho nos lábios.
– M-mas… meu bolo – percebendo toda aquela situação, Yoongi, mesmo que não tivesse entendido nada, resolve ajudar.
– Seu bolo ainda não está pronto, sabe baby? Falta uma calda de chocolate que eu vou ajudar a fazer enquanto Namjoon conhece a casa. – e o sorriso de Hoseok voltou a seu rosto quando agarrou a mão do namorado, o levando para a cozinha enquanto gritava para Jin não demorar a descer.
Namjoon se perdeu por um segundos enquanto observava o interior com atenção pela primeira vez. O ambiente se mostrava luxuoso, porém nada extravagante; os tons escuros dos móveis contrastavam com os claros das paredes e a harmonia visual o fazia se sentir bem. O local lhe parecia aconchegante de todas as formas, fazendo-o se sentir curioso com o resto da casa. Jin começou a caminhar lentamente, dando a deixa para ser seguido. A cada passo lento e desajeitado com suas muletas, Namjoon notava mais um detalhe e percebia como o espaço parecia se moldar com o moreno a sua frente, afinal, tudo aquilo parecia um espelho que refletia o outro em todos os lugares. Quando chegaram ao pé da escada, Jin se lamentou.
– Eu sinto muito por isso, mas não tem nenhum quarto aqui em baixo – disse sincero, sem notar o quão gracioso se tornava aos olhos do outro por toda a sua preocupação – eu gostaria que você se arriscasse o mínimo a descer e subir sozinho, pode me chamar a qualquer momento que eu ajudo, tá? – e com um grande sorriso, o loiro negou com a cabeça.
– Não precisa se preocupar tanto, sabe, não quero ficar te atrapalhando e eu juro que vou ter cuidado. Eu sou mais forte do que pareço – brincou, fazendo o outro rir. Subiram as escadas lentamente, enquanto Jin mantinha os olhos no loiro a todo o momento. O andar de cima deu-se direto a um corredor.
– Ali a esquerda tem um banheiro e o quarto dos meus pais no final do corredor…
Quando Jin mencionou os pais, Namjoon sentiu uma certa pressão. Ele jamais havia perguntado com quem o moreno morava e se essas pessoas estariam de acordo e por mais que quisesse fazer dezenas de perguntas naquele momento, se conteve, afinal, Jin não parecia nem um pouco preocupado com a situação.
Viravam à direita e ali Jin indicou que a primeira porta seria o quarto em que Namjoon ficaria. O loiro estava ansioso, mas tentou esconder tudo atrás de um singelo sorriso. A porta escura foi aberta e quando ele viu tudo aquilo, quis chorar. Não por ver um quarto elegante e completo, com sacada, cortinas bonitas e um tapete felpudo, mas pelo aconchego. Ele sentiu que queria se deitar naquela grande cama, embaixo da manta de aparência macia e abraçar os travesseiros que ali descansavam; ele sentia que queria andar descalço e sentir a textura do tapete; que queria passar uma noite observando o céu por aquela sacada. Ele nunca havia sentido aquele calor, aquele aconchego, aquela sensação de carinho. E os segundos que ficou calado com aquele lindo sorriso de covinhas, Jin soube que seu novo hóspede havia gostado de tudo aquilo que ele fez com seu coração.
– Eu espero que possa se sentir bem aqui, Nam – disse por fim, incentivando o outro a se aproximar da cama e sentar-se ali – eu decorei a meu gosto, sabe – riu – fico feliz que goste.
– É tudo maravilhoso – respondeu baixinho, com certo tom de vergonha. Era demais para ele, demais para que ele pudesse pensar em palavras simples para agradecer. Jin, por mais que achasse uma gracinha toda aquela vergonha que via o outro sentir, não queria vê-lo tão tímido, então, logo pôs-se a falar.
– Ali naquela porta tem um banheiro – disse apontando – lá eu coloquei todos os itens que acho que precisa, mas se faltar algo é só me dizer. Ah, coloquei algumas peças de roupa pra você neste guarda roupa, são roupas que eram minhas, mas que eu não faço uso, então tome como um presente – terminou sorrindo, mal sabendo o quanto o peito de Namjoon se enchia de alegria.
O silêncio se instalou novamente e Namjoon estava ansioso. Seus dedos brincavam com a barra da camiseta enquanto respirava profundamente a fim de achar as palavras ideiais.
– Jin… – chamou baixinho, tendo total atenção do outro – obrigado. Por tudo. Eu poderia passar dias aqui somente tentando te agradecer em palavras, eu nunca pensei que um dia conheceria alguém tão bom como você – e Jin sentiu o quanto cada palavra era puramente verdadeira. Tentou não se emocionar, carregando nos lábios o melhor sorriso que poderia oferecer ao outro, afinal, Namjoon estava ali, de coração aberto.
– Nada que eu faça seria o suficiente pra você, sabia? Porque você merece mais – ambos coraram naquele momento e Jin, ao perceber o que havia dito,tentou amenizar toda aquela vergonha que sentiam, mudando de assunto.
Era incrível como a conversa fluía entre os dois de maneira tão natural e animada, parecia que se conheciam há anos, que soubiam cada detalhe um do outro; eles nunca se cansavam e muito menos ficavam sem assunto. Quando a voz alta de Hoseok foi ouvida, chamando Jin desesperadamente, o rapaz riu e se levantou.
– Jin, acho que vou tomar um banho antes de descer – disse de forma tímida, pensando o quanto era difícil tomar pequenas atitudes em uma casa que não era sua. Voltou de seus pensamentos com barulho alto do novo amigo tossindo, parecia ter se engasgado com algo, mas antes que o loiro pudesse perguntar algo, sua voz soou.
– Er… você precisa de ajuda? – perguntou com as bochechas vermelhas, em um constrangimento que o outro não entendeu.
– Não, está tudo bem – disse Namjoon naturalmente, achando estranho a forma com que o rapaz se virou apressado.
– Então eu vou descendo até lá, qualquer coisa pode me chamar – e a porta foi fechada enquanto um moreno tentava fugir de seus pensamentos.
***
“O que diabos foi isso, Kim Seokjin?” perguntava a si mesmo em pensamento. “Como você pode pensar em coisas tão impuras dessa forma? Você não era assim, estúpido!” Ele estava mais do que constrangido. Sabia que não tinha culpa exatamente pelas imagens que formavam em sua cabeça, mas era difícil pra ele se controlar depois de todo aquele momento de autoconhecimento. Era óbvio que Namjoon o interessava mais do que deveria, tanto pelo sonho que tivera, tanto pela conversa com o Taehyung. Seu coração lhe lembrava em todos os segundos o que tudo aquilo significava e por mais que seu objetivo não fosse negar, achava que a mente poderia dar um descanso e não projetar imagens em sua cabeça de como seria presenciar Namjoon em seu ilustre banho. Não queria ser um pervertido, mas imaginar a extensão daquele corpo com aquela pele tão morena o fazia novamente reviver o sonho que tivera e céus, como ele ainda conseguia encarar o loiro mesmo depois de tudo aquilo? Isso porque ele nem ao menos havia pensado na hipótese do que aconteceria após tomar uma decisão, que aliás, seria entre fingir que nada estava acontecendo no seu coraçãozinho e continuar a linda amizade que estava se formando, ou fazer com que o outro notasse aquele turbilhão de sentimentos em seu peito. Ele estava ferrado, completamente ferrado e sabia que precisava conversar; uma conversa de verdade, aberta e sem todo aquele cuidado em não revelar nada, se o seu coração estava ferrado, não fazia diferença alguém saber disso. Desceu as escadas correndo, quase tropeçando no último degrau.
– Que demora, olha eu… – Hoseok começou ao avistá-lo, mas parou imediatamente ao ver a expressão de extremo desespero e ansiedade. Yoongi apareceu da cozinha; por mais que não opinasse demais, adorava observar.
– Eu estou muito, muito ferrado – disse baixinho, dando um sorriso extremamente nervoso que chegou a assustar os amigos. Hoseok fez sua famosa cara de confuso, enquanto Yoongi exibia um sorrisinho vencedor.
– Eu sabia – disse o de cabelos esverdeados, se jogando no sofá e convidando mudamente o outro a fazer o mesmo.
– Por que ele tinha que ser tão… awn! – Jin se jogou entre as almofadas cinzas, cobrindo o rosto com as mãos, naquele momento a ficha de Hoseok caiu e com um gritinho nada masculino, se jogou no sofá ao lado do melhor amigo.
– Você tá uma gracinha assim com esse ar apaixonadinho – praticamente gritou, tendo um Jin sobre seu corpo, tapando sua boca com as mãos.
– Cala a boca! Quer me matar do coração? – Yoongi assistia a cena concentrado.
– Ai não precisa ser agressivo – reclamou – e depois você dizia que eu me apaixonava fácil.
– Mas você se apaixona fácil – o de cabelos verdes se pronunciou – você me viu uma única vez e já ficou no meu pé até eu te aceitar – falou se engrandecendo e vendo o namorado revirar os olhos.
– Eu não sou de perder tempo, querido – disse simplista, fazendo Jin rir.
– Eu só não sei o que faço agora, quer dizer, ele tá lá em cima, tomando banho em um quarto ao lado do meu e eu vou vê-lo todos os dias por tempo indeterminado e aaaaaa! O que eu faço da minha vida agora?
Um silêncio se instalou. O assunto era delicado, haviam várias questões ocultas, ninguém sabia como Namjoon poderia reagir ao saber sobre o interesse de Jin, ele poderia pensar que o rapaz só havia lhe oferecido moradia em troca de algo e isso era a última coisa que Jin queria que acontecesse, fora que, por mais que o loiro se mostrasse normal sobre o relacionamento de Hoseok e Yoongi, não significava que ele pudesse ser gay ou ao menos bisexual. Um longo suspiro saiu pelos lábios de Jin e Yoongi, sendo mais sensato da sala, resolveu intervir.
– Não faça movimentos bruscos, Jin. Só o permita te conhecer por inteiro, se mostre a melhor versão de si mesmo e o trate como sabe que o trataria pelo resto da vida caso ficassem juntos. O faça se sentir especial, mostre que você não faz nada esperando algo em troca e se tiver que ser, será.
***
A sacada tinha vista para o jardim dos fundos, uma piscina média era vista e ao redor, roseiras enfeitavam toda aquela extensão. A brisa fresca tocava seu rosto enquanto observava tudo aquilo maravilhado. Namjoon se sentir no céu. Com dificuldade, voltou para perto da cama, seu pulso já não doía mais, mas era esquisito fazer movimentos com ele, tornando um pouco lento o processo de se despir. Para Namjoon, os banhos eram seus momentos de reflexão e naquele momento, era tudo o que precisava. Por mais que tentasse não pensar muito naquilo tudo, era inegável que se sentir de forma diferente. As roupas foram colocadas sobre a cama e nu, caminhou com suas muletas até a porta negra. O ambiente era pequeno e simples, com azulejos escuros e louças de cor acinzentada, o box era de de vidro liso e na parede em frente a ducha, um espelho tomava quase que todo aquele espaço. Tirou alguns minutos para olhar seu próprio corpo, era notável que tinha ganhado peso e aquilo o agradava, sentia-se mais sadio, com uma aparência mais viva, as costelas não mais apareciam sob a pele bronzeada e os braços já não pareciam frágeis, era impossível não sorrir levemente com sua interna satisfação. Ao se aproximar do box, notou pela primeira vez o pequeno banco escuro posicionado sob a ducha e não pode deixar de pensar que Jin talvez não existisse, pois além de tudo, ainda havia pensado em como seria difícil se banhar em pé com aquela perna quebrada. O chuveiro foi ligado e a água quente espirrou em si, os produtos de banho estavam ao alcance em um suporte prateado então, sentou-se no banco de forma que o gesso não fosse molhado. Enquanto a água morna molhava seus cabelos, fechou os olhos e pôs-se a pensar. Tudo o que via em sua mente era ligado a uma só pessoa, Jin. Seus cabelos de aparência sedosa; o sorriso extremamente brilhante que o fazia lembrar das estrelas no céu; as palavras doces e o toque gentil das mãos. Tudo em Jin despertava em si sentimentos novos que não conseguir explicar; uma estima, carinho e talvez até mesmo… Parou. Não, não queria pensar sobre aquilo, não queria arduamente desvendar sentimentos ocultos, não naquele momento. Era difícil para si mesmo se apegar a Jin emocionalmente, pois em sua vida toda sempre estivera sozinho, sempre fora abandonado. Todas as vezes que se apegava a alguém essa pessoa sumia de sua vida, algumas vezes nem por vontade própria e sim por fatalidades. Namjoon não queria se apegar a Jin por medo de um dia perdê-lo, da mesma forma que perdeu todos e era frustrante não ter controle sobre isso, era decepcionante saber que não era capaz de protegê-lo e de garantir que jamais se perderia; que jamais o deixaria e por mais que quisesse se agarrar a esperança de que tudo ali aquilo ficaria bem, ele não podia. Namjoon precisava ser o mais emocionalmente independente possível.
Naquele banheiro, o loiro se permitiu não ter complicações; se deixou banhar de forma lenta, sem que se incomodasse pela água ser fria como em sua antiga moradia ou sem se preocupar se teria ou não dinheiro para pagar a energia como já passara em sua vida. Ele outorgou seu direito de relaxar, de se sentir acomodado e aconchegado naquelas gotas que caíam em seu corpo; naquela fragrância de baunilha que cobria sua pele pelo sabonete. Ao desligar o chuveiro e se levantar lentamente, agarrou uma das toalhas brancas penduradas em um suporte na parede e ao secar todas as gotas de água da pele, vestiu-se com o roupão claro deixado para si. Se aproximou da pia do banheiro, se aproximando de uma cesta média com alguns produtos e sorriu; viu cremes, perfumes e loções, coisas que nem ao menos sabia utilizar, mas que pareciam ter sido deixadas ali com muito apreço; utilizou apenas um desodorante de fragrância neutra e se dirigiu de volta ao quarto.
Pegou a sacola que haviam trazido do hospital, mas antes de tocar em suas antigas peças de roupa, a curiosidade o assolou: de frente ao guarda-roupas espelhado, a ansiedade o pegara de novo. O abriu, vendo algumas peças penduradas por cabides de madeira, eram em sua maioria camisas sociais ou polos; na parte de baixo era possível ver algumas calças e bermudas jeans e abrindo as gavetas internas delicadamente, conseguiu achar shorts de tecidos leves e frescos, assim como camisetas simples e de aparência casual. Escolheu um short cinza com detalhes em viés preto, também uma camiseta branca sem nenhuma estampa, voltou a sua sacola, pegando roupa íntima e um pequeno pacote em um embrulho desengonçado, já aberto. Se vestiu de forma lenta devido à pouca mobilidade, mas quando acabou, voltou-se ao embrulho. Ali estavam os presentes que havia ganhado de Hoseok no hospital: uma colônia de aroma cítrico, que o fazia sentir em meio a um jardim e um relógio de pulseira de couro negro em detalhes dourados. Claro que percebera que Hoseok era um pouco exagerado com presentes, dando coisas de aparência tão caras como se não tivessem custado nada, mas àquela altura sabia que o outro fizera aquilo de coração e não como uma maneira de aumentar seu ego. Aquilo era algo que realmente o fizera pensar; de onde veio era comum escutar todos falando mal dos grandes empresários ou pessoas classe média, sempre diziam o quanto esse tipo de pessoa era esnobe e só se importava com dinheiro, jogando sua riqueza na cara de todos os menos afortunados, mas ao entrar naquele ambiente, percebera que não era bem daquela forma. Sentia-se com uma visão nova de tudo: de pessoas até ambientes; Namjoon se sentia uma outra pessoa, pronta para aprender tudo o que pudesse.
Quando desceu as escadas lentamente, com receio de se machucar, mas confiante o suficiente para fazê-lo sem chamar ajuda, um par de olhos escuros o fitou. Jin estava ainda jogado no sofá, enquanto o casal de amigos bagunçava a cozinha, fazendo um belo café para comemorarem a estadia do novo rapaz. O silêncio se instalou sobre eles até que Namjoon já estivesse no piso, caminhando com suas limitações até o móvel. Jin se levantou sorrindo, afinal, gostava de ver o outro nas roupas que o havia dado; ele notara o quão bem aquelas peças caiam no outro, o deixando com um ar puro e refrescante, com aquelas cabelos descoloridos e molhados e um rosto pleno e relaxado. Se aproximou sem dizer nada, tocando o ombro do rapaz a sua frente e aspirando a gostosa fragrância cítrica que exalava dele.
– Que cheiro bom – deixou escapar, fazendo o outro sorrir.
– É o perfume que Hoseok me deu – respondeu.
– Esse chato tem bom gosto, parece que adivinhou que combinaria tanto em você – disse simplista, escondendo os pulos que seu coração dava dentro do peito – vamos comer? – convidou, pensando que se fosse logo ter com os outros amigos, seu corpo se acalmaria.
– Vamos.
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