História Something (About Us) - Paradoxo

Qual o sentido da vida? Era o que sempre me perguntava ao olhar os carros abaixo, que praticamente corriam pelas ruas de Seoul. Por que aquelas pessoas tão insignificantes corriam desesperadas por um propósito, quando nem eu mesmo sabia para o que servia? Fechei os olhos e suspirei derrotado. A vida havia sido tão cruel comigo que nem ao menos tinha forças para continuar seguindo em frente, os problemas que me foram impostos causaram danos tão profundos que nem meus melhores e mais próximos amigos conseguiriam desconfiar do que se passava em minha cabeça. Encostei a testa no vidro frio da janela e abri minimamente os olhos, voltando a encarar a rua.

Tantas vezes meditara sobre coisas que para uma pessoa sã, seriam um absurdo; uma navalha sobre meu pulso, o sangue quente e vermelho correndo até o chão, manchando o tapete branco; uma corda pendurada em meu pescoço longo, apertando-o e marcando, impedindo-me de respirar; coisas, que pareciam libertadoras, coisas que, por mais que odiasse admitir, ansiava como um sedento buscaria por um copo de água.

Um barulho irritante me tirou de meus pensamentos e bufei antes de virar e caminhar até a sala do apartamento onde morava, pegando o pequeno aparelho de telefone jogado sobre o sofá.

— O que foi, Eunhyuk? Seu namoradinho já está te enchendo o saco? — Murmurei sarcástico assim que atendi a chamada, sem nem ao menos olhar para o identificador de chamadas, não precisava, sabia exatamente quem era.

— Ya, Lee Sungmin! Não fala assim do Hae! — Gritou exasperado fazendo com que eu soltasse uma gargalhada.

— Diga logo o que quer a essa hora da manhã em pleno sábado. Estou ocupado. — Suspirei caminhando até a cozinha do apartamento.

Muitas coisas para fazer... Essa era minha definição de jogar-se na cama pelo resto do dia e ficar pensando sobre as mil e uma maneiras — de preferência indolores —, pelas quais poderia acabar com a vida de um ser humano, mas especificamente, a minha própria. Enquanto a maioria das pessoas em seus finais de semana pensava em maneiras divertidas e proveitosas para passar com as pessoas amadas, eu arquitetava planos mirabolantes, mas que nunca, infelizmente, tinha coragem de por em prática. Não novamente. Aquilo era como um hobby, doentio talvez — eu mesmo poderia admitir isso —, mas ainda assim muito prazeroso.

— Bem, é que... — Pude perceber que Hyuk parecia meio apreensivo, mesmo assim não me importei. Nunca me importava.

— Fale logo. Diferentemente de você, eu não tenho o dia todo. — Talvez apenas alguns minutos. Completei mentalmente observando cuidadosamente a faca que jazia em cima de meu braço direito. — Odeio que me enrolem então por que continua fazendo isso?

— Desculpa, hyung. — Uma pausa de alguns segundos foi dada, antes que ele continuasse. — Eu só queria saber se estará ocupado amanhã de tarde, Hae quer fazer uma reunião de família e decidiu que seria bom se viesse.

Resumindo: eu te convidei porque é isso que as pessoas educadas fazem, mesmo que na verdade eu queira ver você a mais de dois metros de distância da minha casa, e só estou fazendo isso por causa do meu namorado mimado.

Na maioria das vezes eu era muito bom em descobrir o que as pessoas realmente pensavam sobre mim ou apenas fantasiava muito sobre isso, mas e daí? Quem ligava? Ninguém nunca realmente se importou para as coisas que eu falava e me consideravam apenas um idiota que dizia coisas demais e era extremamente inconveniente em alguns aspectos, mesmo que na verdade estivesse apenas falando a verdade que eles não queriam ou não estavam acostumados a ouvir.

— Tudo bem, Eunhyuk, eu sei que você só está fazendo o que te pediram para fazer então não se preocupe, eu não vou aparecer na sua casa tão cedo. — O sarcasmo e a acidez escorriam de minha boca como um veneno perigoso e eu não estava nem um pouco a fim de abrandá-lo. Estava farto de todas aquelas mentiras e enrolações, onde no final, querendo ou não, o que mais sairia machucado seria eu.

— Hyung! Como pôde dizer algo assim? Pensei que ficaria feliz com o convite e participaria do...

— Eunhyuk... — Cortei-o antes que ele pudesse dar início a um discurso sem nenhum fundamento que no final seria ignorado, como sempre. — As pessoas sempre querem alguma coisa, e o problema é esse, sabe? Elas nunca estão satisfeitas, por mais fácil que a vida delas possa aparentar ser. E é por isso, que mesmo pensando lá no fundo que eu sou diferente, continuo sendo exatamente como qualquer pessoa do mundo: insensível e só pensando em mim mesmo. — Apertei a faca contra meu antebraço, e antes que a mesma pudesse perfurar a pele, desisti. Era como pensava, ainda não tinha coragem suficiente para fazê-lo. — E eu continuo sendo fraco, Eunhyuk, porque mesmo me importando o mínimo possível, eu ainda me preocupo mais com as outras pessoas do que comigo mesmo. Um belo paradoxo, não acha? Mais eu simplesmente não consigo deixar de me importar. Por mais que elas me magoem, me traiam... Eu sempre vou estar lá quando elas caírem.

— O que...

— Eu preciso desligar, Eunhyuk. Até segunda.

Desliguei o telefone sem esperar por uma resposta, jogando-o para qualquer lado. Eu não conseguia mais me controlar. Me joguei no chão, a faca jazida inerte ao meu lado, e chorei.

Eu era fraco demais, sempre fora. Sempre deixando o sentimentalismo me controlar e dizendo coisas que mais tarde fariam com que eu me arrependesse. Eu simplesmente não estava mais aguentando toda aquela pressão sobre mim.

— Eu não sei mais o que fazer. — Murmurei abraçando meus joelhos contra o peito em posição fetal. — Eu não quero mais isso. Eu não sou forte o suficiente.

Solucei tampando a boca com uma das mãos, o que eu menos queria naquele momento era que algum vizinho aparecesse. Eu estava cada vez mais me perdendo dentro de mim mesmo, e eu realmente não via uma saída. Eu só precisava de algo em que pudesse me apoiar, mesmo que no final eu me destruísse completamente.