Mudanças nem sempre são boas, despedidas nem sempre são fáceis e pessoas nem sempre não substituíveis. É difícil abrir mão da família, dos amigos, do sentimento de conforto que a sua cama quente proporciona no fim do dia. É complicado seguir em frente, guardar suas memorias em caixas e se mudar, fingir que alguns momentos não existiram para que a saudade não aperte seu coração e transborde pelos seus olhos
Me chamo Megan, tenho 19 anos e estou me mudando para Califórnia. Ganhei uma bolsa de estudos em uma das melhores faculdades da América e preciso atravessar o país para ir atrás dessa oportunidade. Nasci em Boston, fui criada a base de leite e suco de pera, mas não me considero mimada, meus pais sempre me ensinaram a correr atrás dos meus sonhos e garantiram que eu fizesse isso com os meus próprios pés.
Estou cursando o 6 período de Nutrição e vou ter a oportunidade de fazer estágio em uma das turmas de Ensino Médio, irei assistir algumas aulas de Genética e no final irei dar alguns conteúdos, aprender o sistema de provas, notas, enfim. Irei ficar de setembro até julho, depois eu volto para terminar os estágios obrigatórios e fazer o TCC.
Ainda não sei exatamente onde vou morar, se vou dividir o quarto e quem vai me busca no aeroporto.
-Bem Vindos a São Francisco. Verifiquem se estão carregando os seus pertences, obrigada por escolherem a nossa companhia. Lembrando que não é permitido fumar, acender fósforos, isqueiros ou qualquer outro objeto que possa produzir faísca, bem como , utilizar o telefone celular até a sua chegada ao saguão do aeroporto. – A aeromoça disse no momento em que o avião pousou.
Desci do avião, peguei as minhas malas e fui procurar alguém que estivesse a minha espera. Logo encontrei um senhor de aparentemente 50 anos, usando um terno preto, cabelos loiros alinhados perfeitamente em um topete para o lado, barba feita, rosto levemente corado, provavelmente por estar usando um terno no calor de 40 graus.
-Senhorita Cuninghan ? - perguntou o homem.
-Megan Cuninghan, é um prazer te conhecer – eu disse tentando soar o mais amigável e profissional possível.
-Boa Tarde, eu sou Max Howell, diretor da Universidade Califórnia, vim especialmente te buscar para que sua estadia em minha universidade traga boas lembranças e seja cheia de experiências incríveis. Vou te levar até o seu apartamento e ao anoitecer te levarei para conhecer o Campus. – ele disse sorrindo de forma simpática, tentando me trazer conforto.
-Claro, obrigada.- eu disse tentando processar tamanha informação.
Meu apartamento ficava na frente da universidade, alguns alunos moravam lá e outros apartamentos eram cedidos para professores, imigrantes, ou funcionários da universidade, no saguão do prédio existia uma cozinha comunitária que funcionava 24 horas por dia, mas tinha a restrição do barulho antes das 5 horas da manha e depois das 22h da noite. O apartamento em si não era muito grande, mas o suficiente para que eu conseguisse sobreviver 1 ano sem morrer de claustrofobia. Era um quarto com banheiro, tinha uma cama de solteiro encostada na parede, uma janela do lado, um armário de madeira e eu. O lugar estava completamente limpo, sem nada, teria que comprar desde cortinas até uma mesa pequena para as refeições, mas para um começo estava bom.
Mr.Howell me ajudou a trazer minhas 2 malas e as 3 caixas com utensílios. Comecei colocando os lençóis na cama, guardando minhas roupas e arrumando os cremes, maquiagem, perfumes e afins no banheiro, algumas coisas ainda não tinham onde ser guardadas então foram esquecidas em caixas que eu coloquei em baixo da cama para tornar o ambiente um pouco mais limpo.
Tomei uma ducha, prendi o cabelo e desci para conhecer um pouco do prédio, a cozinha parecia ser aconchegante, mesmo que o fluxo alto de estudantes trouxesse uma grande agitação. Logo descobri que do lado do edifício existia uma lavanderia e uma farmácia, duas quadras depois tinha uma rua com lojas, banco, padaria e uma mercearia.
Na mesma noite Mr.Howell me levou para conhecer o prédio em que eu iria estudar e o prédio em que eu iria trabalhar, não eram muito longes um do outro, me mostrou também a biblioteca, enfermaria, outros prédios onde eu poderia usar algum laboratório, as piscinas, onde eu poderia fazer aulas extras e me deu algumas dicas sobre a cidade, os lugares, as pessoas, mas no fim da noite eu estava novamente sozinha no meu quarto.
Um dia depois eu consegui ligar para a minha mãe com a desculpa de que a viagem foi muito cansativa, não que isso seja mentira, e que eu estava ocupada de mais tentando me habituar com o lugar para ligar para ela.
Ainda tive alguns dias antes das aulas começarem , comprei cortinas, uma mesa com duas cadeiras, um tapete, uma cômoda pequena para colocar do lado da minha cama e prateleiras para colocar na parede e deixar o quarto com uma cara mais minha, aos poucos aquele lugar foi se tornando meu lar, a cama quentinha no fim do dia ainda não era a minha, a maciez do colchão ainda não era igual, o cheiro de produtos de limpeza que a minha mãe usavam ainda não eram iguais quando eu fazia o processo, mas era o mais próximo que eu conseguia chegar de ter um lar de verdade.
''É melhor conquistar a si mesmo do que vencer mil batalhas.'' - Buda
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