História Song of Love - Cap 1

     Era o fim da primavera, época que o tempo começava a mudar e o calor começava a aparecer na cidade. O vento soprava e balançava levemente os galhos das arvores. Era tão tranquilo o som das folhas das arvores, e sentado sob uma delas, próximo à entrada da escola estava Eric. Um jovem rapaz de dezessete anos, um pouco baixo para sua idade, e de aparência totalmente rebelde. Seus olhos estavam fechados e ele estava com fones de ouvido, encostado na arvore sentindo a brisa fresca da manhã. Era fim de primavera e o cheiro das arvores e grama macia era único naquela época. Era o que ele mais gostava, a tranquilidade de poder estar sozinho e sentir uma brisa leve passando sob seu rosto.

Estava aproveitando a calma daquele momento, até que um toque em sua perna o fez abrir os olhos.

- Chegou cedo hoje Emo – disse a garota loira sentando ao seu lado.

- Você também chegou cedo Amber – disse ele removendo um de seus fones do ouvido. - Emo? – Disse ele olhando seriamente para ela – Esse é o apelido da semana?

- Bom, eu achei apropriado, já que essa semana você está mais gay do que o normal – disse ela rindo.

Amber abriu sua mochila e puxou alguns de seus amados biscoitos de dentro do pacote. Dividiu alguns deles com Eric e parecia satisfeita com sua dose de açúcar matinal.

- Bom, se for pensar que semana passada você me chamava de ursinho gay, essa semana eu estou totalmente em vantagem – disse ele tentando se convencer disso.

Ficaram sentados ali, encostados na árvore até a frente da escola estar movimentada. Alunos e professores chegando, andando de um lado para o outro. Eric e Amber ficavam sentados todos os dias, embaixo da mesma árvore, olhando o mesmo movimento da escola, sempre observando algumas das sutis mudanças que aconteciam no dia-dia, comentando sobre quem estava diferente, quem estava com quem.

Um dia em particular foi o que a senhorita Rosa, professora de espanhol do 2º período havia mudado totalmente o cabelo, para tentar chamar a atenção do senhor Jones, professor de biologia do 1º período. Eles acharam aquilo tão fofo, já que a professora era normalmente muito tímida para falar diretamente até mesmo com os alunos.

- Olha quem chegou abraçadinha com o namorado – disse Amber apontando para o Mustang recém estacionado em frente à escola. -Você acha que a Natalie está mais vaca hoje? – Perguntou ela com um sorrisinho no canto da boca.

- Depende de como você considera o aumento disso – disse Eric arrumando sua mochila. - Para mim ela está como sempre esteve.

- Eu juro que o seu vacômetro deveria funcionar tão bem quanto o seu gaydar – disse Amber perplexa com a dificuldade do amigo.

Para ela a escola se dividia entre as vadias patricinhas que estariam gravidas e gordas antes de se casarem, os idiotas do time de futebol que se achavam machões, mas que antes dos 20 anos descobririam que gostam mesmo é de homem, os nerds que basicamente são os antissociais dentro da escola que só se enturmavam entre eles, que não eram muitos e eles dois, os deslocados. Eram três antes de seu amigo Marcos ir para a Inglaterra morar com sua mãe, depois que o pai havia falecido. Foi o pior dia para os três. Estavam juntos desde o fundamental, cuidando uns dos outros. Eles se chamavam de “os três mosqueteiros”. Estavam sempre juntos, não importando oque. Agora eram apenas ele e Amber para cuidar um do outro.

- Agora se me permite – disse Eric estendendo a mão para Amber – tenho prova de biologia agora no primeiro tempo, e depois nossa querida professora Emma está pegando no meu pé nas aulas de álgebra, então tenho que fazer minha meditação matinal para me preparar – disse ele respirando fundo.

- Você se preocupa demais sabia – disse Amber batendo a grama que estava em sua calça – as vezes é só questão de você tomar folego e ir em frente.

Ele ficou parado olhando para ela, que estava arrumando sua bolsa. Se lembrava de cada chute que já havia tomado dela, uma forma como ela dizia de “seguir em frente”. Deixou escapar um pequeno risinho quando se lembrava da infância, ela dos três era a mais briguenta, sempre defendia o amigo não importando quem fosse. E pensar que aquela garotinha masculina e briguenta que ele conheceu quando tinham apenas oito anos se tornaria uma garota normal por assim dizer. A loira estava sempre bem vestida, apesar de sua preferência por roupas mais comuns. Uma calça comprida, as vezes lisa, as vezes rasgada nos joelhos, era sempre assim, e as camisetas meio agarradas ao corpinho nada sutil dela.

Os dois andaram até a entrada da escola, e o sinal tocou assim que eles atravessaram a porta. Se separaram no corredor extenso e logo cada um deles se dirigiu para sua sala.

Eric passou o dia entediado. Mesmo fazendo sua prova e passando as aulas que ele mais odiava durante o dia, ele ainda assim se sentia entediado, sozinho. Não sabia descrever aquele sentimento em palavras. Um pequeno vazio no seu peito que fazia ele se sentir incompleto. O sinal tocou e ele andou em direção ao refeitorio, procurando por Amber que já estava em um canto com um prato e dois sanduiches um para ela e outro para o amigo.

- Eric você está bem? – Perguntou Amber. Ele apenas acenou que sim com a cabeça. Não estava muito afim de conversar.

Estavam no horário de almoço e Eric estava mais quieto que o normal.

- Acho que vou embora antes de terminar o período Amber – ele disse comendo um pedaço do sanduiche que estava em sua frente.

- Você realmente não está muito bem, não é?! – Disse Amber olhando mais atentamente para o amigo. Ele deu um meio sorriso e novamente acenou com a cabeça positivamente.

- Tudo bem, eu vou com você até a enfermaria e vamos pedir uma dispensa para o resto do dia. – disse Amber.

 - Obrigado. – Disse o rapaz colocando o resto do almoço de lado. Mal havia tocado na comida.

Os dois se levantaram e foram andando pelo corredor.

- Você precisa de uma namorada isso sim. -  disse Amber passando o braço em volta do pescoço do amigo.

-E quem iria querer namorar esse perdedor? – Disse um loiro alto passando por entre os dois e derrubando a mochila de Eric no chão.

- Quem sabe a sua namorada, afinal ela já deu para quase todos na escola – Disse Amber sarcasticamente – Por falar nisso eu ainda não vi ela, será que ela está no vestiário masculino com o time de novo? – Ela completou com um risinho que fez o rapaz se irritar.

- E quem te perguntou sapatão? – Disse ele pegando na gola da blusa da garota.

Ela segurou o braço dele e ameaçou ir para cima quando ouviram uma voz amedrontadora atrás.

- Temos algum problema aqui senhor Clark? – Disse uma senhora atrás dos jovens. Ela estava com uma cara séria, de poucos amigos, o que fez os dois se afastarem e os outros alunos que estavam nos corredores se afastarem.

- Não, senhora Lewis, só estava ajudando a minha colega a se levantar. – Disse ele com um pequeno sorriso sarcástico.

- Senhorita Allen? – Disse a senhora esperando uma resposta da loira.

- Está tudo bem senhorita Lewis – disse a garota arrumando a roupa – estava apenas acompanhando meu amigo até a enfermaria quando esbarramos no Brad. – Disse a loira pegando no braço do Eric e o levando pelo corredor.

- Estou de olho em vocês – disse a senhora caminhando em direção ao refeitório.

Amber e Eric caminharam até a enfermaria, com o rapaz olhando para a menina e balançando a cabeça em desaprovação.

- O que foi? – Perguntou a garota.

- Você não muda mesmo. – Disse ele dando um risinho.

- Ele que começou – disse ela dando de ombros.

Chegaram na enfermaria e logo conseguiram a dispensa para o garoto.

Ela o acompanhou até a saída antes de voltar para a sala de aula.

- Me avisa quando chegar em casa – disse a loira abraçando o amigo.

 - Ok – disse ele dando um meio sorriso.

Eric foi para o ponto e pegou o primeiro ônibus para ir para casa.

Colocou seus fones de ouvido e foi com o rosto encostado no vidro, observando todo o caminho, levava apenas alguns minutos da escola para sua casa.

IRIS – GO GO DOllS

And I'd give up forever to touch you
E eu desistiria da eternidade para tocá-la

Cause I know that you feel me somehow
Pois sei que você me sente de alguma forma

You're the closest to heaven that I'll ever be
Você é o mais próximo do paraíso que chegarei

And I don't want to go home right now

E eu não quero ir para casa agora

Aumentou o volume e por alguns instantes fechou os olhos. Pensou em quanto tempo fazia desde que havia se sentido assim, sozinho. Afinal ele sabia que tinha Amber, seus pais e consequentemente seu irmãozinho Ethan, mas mesmo assim ainda se sentia sozinho. Para ele era muito fácil entender os sentimentos dos outros, mas mesmo assim tinha enormes dificuldades de expressar os seus próprios.

And all I can taste is this moment

E tudo que eu posso sentir é este momento

And all I can breathe is your life

E tudo que eu posso respirar é sua vida

Cause sooner or later it's over

Porque mais cedo ou mais tarde isso acabará

I just don't want to miss you tonigh

E eu não quero sentir sua falta esta noite

Não conversava com quase ninguém e certamente não com seus pais, era filho adotivo do casal e amava os pais, mas depois de seu irmaozinho nascer a dois anos atrás, sentia que não havia mais lugar para ele. Se sentia um intruso no paraíso de sua família. Uma família perfeita da qual nao havia lugar para ele.

And I don't want the world to see me

E eu não quero que o mundo me veja

Cause I don't think that they'd understand

Porque não creio que eles entenderiam

When everything's made to be broken

Quando tudo estiver destruído

I just want you to know who I am

Eu só quero que você saiba quem eu sou

Abriu novamente os olhos e viu que estava quase em casa. O ponto no qual desceria era quase em frente de sua casa. Desceu e respirou fundo, diminuiu o volume dos fones e foi apenas caminhando em direção ao portão branco da casa. Foi entrando pelo quintal lentamente, sabendo que seria interrogado.

Se aproximou da porta e viu pela lateral de vidro, sua mãe no sofá observando e brincando com Ethan que estava no chão com alguns bichinhos e carrinhos.

Entrou bem devagar esperando não ser notado,  ja que estavam de costas para a porta.

- Você chegou cedo querido - disse sua mãe com um pequeno sorriso nos lábios.  Helena era uma mulher magnífica. Seus olhos verdes claros contrastavam com sua pele morena, seu cabelo preto curto, perfeitamente alinhado ao rosto dava lhe um ar jovial, seus lábios tinham um batom vermelho claro dando lhes vida. Sua roupa exalava a seriedade que passava como empresária. Estava agora mais tempo em casa para cuidar de Ethan, que exigia bastante.

- Não estava me sentindo bem, então me liberaram mais cedo - disse Eric já na escada.

-Eic binca - disse o pequeno Ethan balançando um dos carrinhos em suas mãos. O menino era lindo, uma perfeita combinação de seus pais. Tinha a pele clara e cabelo castanho de seu pai,  tinha os olhos verdes e lábios pequenos de sua mae.

-Desculpe ursinho, mas agora nao estou bem. - Disse Eric com um sorriso doce para o irmão.

Ethan tinha um grande apego pelo irmão mais velho, era ciumento a ponto de brigar quando Amber o abraçava. Ele amava o irmão maior e não tinha vergonha alguma de demonstrar. Fez um biquinho muito fofo quando o irmão no quis brincar com ele no momento. Sua mãe se segurou para não rir da situação.

- Quer alguma coisa? – Perguntou Helena para o rapaz já no topo da escada – você está um pouco pálido querido – disse ela com uma cara um tanto preocupada.

- Só quero descansar um pouco mãe – disse Eric sorrindo.

Ele estava com a cabeça cheia, cansado da mesmice dos seus dias, estava infeliz apesar de ter uma vida que todos consideravam invejável.

Chegou em seu quarto e jogou a mochila ao lado da cama e se jogou no colchão.

Pegou o telefone no bolso de sua calça e olhou a hora. Eram 14:25, Amber provavelmente estaria na aula de história, uma aula chata com o professor Robin, que falava tão devagar que normalmente alguns alunos pegavam no sono. Era um bom professor, só era meio lerdo para tudo que fazia.

Escreveu uma mensagem para Amber, sabia que iria tirar ela do tedio.

Eric 14:26

“Oi lora, já estou em casa”

Largou o telefone na cama e escondeu o rosto no travesseiro. Alguns segundou o celular vibrou. Era Amber.

Amber 14:27

“Finalmente emo, achei q ce tinha esquecido de mim....

Adoro o Robin, mas to morrendo aqui, querendo me jogar pela janela”

Ele riu imaginando a situação, afinal era a aula que Amber mais odiava depois de álgebra.

Respondeu rapidamente a menina.

Eric 14:29

“Aguenta firme, afinal você está aí por nos dois

Agora vou tentar dormir um pouco, estou me sentindo cansado, depois nos falamos”

Ele novamente largou o telefone na cama e agora se virou abraçando o travesseiro. Queria poder dormir logo. Foi relaxando aos poucos, se permitindo cochilar. Acordou alguns minutos depois sentindo o telefone vibrar. Era Amber novamente, ela tinha demorado a responder dessa vez.

Amber 14:41

“To preocupada com vc emo, sempre que fica assim não eh bom sinal.

E para de escrever certinho, q coisa mais xata.

Faz assim, mais tarde eu passo aí e te faço companhia ok. Agora vai dormir mala. Te amo kisses”      

Ele novamente sorriu e deixou o telefone de lado, agora definitivamente iria dormir. Relaxou completamente e logo pegou no sono. Não sonhou com nada, fazia tempo que não sonhava, podia ser em qualquer horário, de dia ou a noite. Apenas dormia um sono pesado, do qual tinha grande dificuldade de acordar.

Sentiu alguém sacodindo seu corpo bruscamente e abriu lentamente os olhos. Era Amber, fazendo o que sempre fazia quando queria acorda-lo.

- Acorda emo, sua mãe disse que você dormiu o dia todo – disse Amber sacodindo o amigo – vamos que já está quase na hora do jantar e você tem que tomar banho.

Foi em direção ao closet do amigo e jogou algumas peças de roupa para ele. Uma camisa verde escura de mangas compridas, uma calça jeans azul escura e uma cueca box preta.

- Anda Eric, senão vou aí e tiro a sua roupa e te levo para o banheiro no colo – disse ela saindo pela porta.

Eric se levantou lentamente e pegou as roupas escolhidas pela amiga, foi caminhando lentamente até o banheiro. Fechou a porta sabendo que Amber podia voltar para conferir o “banho” e não queria a amiga analisando seu corpo.

Uma a uma jogou as roupas que vestia no chão do banheiro e logo entrou embaixo do chuveiro, deixando a agua quente percorrer cada centímetro de seu corpo, lavou os cabelos e sentiu a agua em seu rosto. Ficou ali por uns 20 minutos, mais que suficiente para se sentir limpo. Saiu e se secou rapidamente. Seu sono já havia passado. Se vestiu e saiu do banheiro passando as mãos no cabelo para poder deixa-lo no lugar. Se olhou um minuo no espelho e viu que estava ao menos apresentável naquele momento do dia.

Desceu até a sala e viu Amber brincando com seu irmãozinho no sofá, eles eram muito fofos juntos.

- Até que enfim emo, achei que tinha morrido no banheiro – disse ela – vem logo que a sua mãe está cozinhando, está fazendo Pasta Primavera*. – Disse Amber muito animada. Ela adorava massas e gostava mais quando a mãe do amigo cozinhava, já que normalmente tinham uma empregada para isso.

- Eic colo – disse Ethan erguendo os braços. Eric foi em direção ao irmão e o pegou no colo beijando sua bochecha o fazendo rir.

Foram para a cozinha e a mesa já estava posta, Eric colocou Ethan em sua cadeirinha e se sentou ao lado de Amber. Logo em seguida seu pai chega cumprimentando a todos.

-Boa noite família – disse ele beijando a todos na mesa. – Olá senhorita Allen – disse apertando a mão da menina.

 - Boa noite senhor Evans – disse ela sorrindo para o homem a sua frente.

Johnathan Evans era alto e um homem de semblante respeitável. Assim como Helena, ele estava sempre muito bem vestido, seu cabelo castanho curto arrumado perfeitamente seus olhos castanho claros contrastavam perfeitamente com a pele branca e lábios pouco volumosos. Ele era um homem de tirar o folego de qualquer mulher. Sua postura demonstrava o quão serio era a ponto de ser intimidador.

Eric sabia o quão respeitado seu pai era, tanto no trabalho quanto fora dele. Dificilmente algum pedido seu era negado, ele se assegurava de que tudo corresse de acordo com o desejado.

- Antes de mais nada, já que estamos todos reunidos aqui gostaria de dar uma notícia – Disse ele olhando seriamente para todos. – Nós conseguimos fazer negócio com a F&A no Norte, então decidimos na empresa que ficaríamos encarregados da supervisão e avaliação de cada trabalho que saísse ou fosse para lá e para isso me nomearam o supervisor daquela área. – Todos olhavam calmamente para ele, comendo a maravilhosa massa que lhes fora servida, absorvendo lentamente a informação que lhes era passada – Resumindo todo o fato, aceitei nos mudar para Fairbrooke, onde vou trabalhar a partir da próxima semana. – Disse ele calmamente enquanto começava a comer sua refeição.

Helena respirou fundo, estava um pouco irritada por ser avisada tão em cima da hora, Amber que estava ali como convidada ficou muda, totalmente sem reação, Ethan não entendia o que estava acontecendo então apenas brincava com o prato a sua frente e Eric estava olhando fixamente para baixo. Tinha uma mistura de sentimentos dentro de si, raiva, angustia, tristeza. Logo tudo aquilo queria sair criando um no em sua garganta, logo sentia seus olhos marejarem e então se levantou da mesa rapidamente e foi caminhando rápido em direção a seu quarto. Seus pais nada falaram, pois sabiam que essa seria uma de suas reações. Logo ele se fechou em seu quarto e se jogou na cama apenas querendo se livrar de tudo aquilo que estava entalado. Suas lagrimas escorriam sem parar e logo seu choro era incontrolável.