História Sonho ou Destino? - Bad Day.

23 de Junho 

 

 Enfim, mais uma sexta-feira linda para nos despedimos de uma longa semana de trabalho. Estou tomando meu café junto com a minha amiga, que por sinal chegou agora, estava na casa do seu namorado mantendo a saudade. Terminamos nossa refeição e saímos a caminho do estúdio. Digamos que hoje não tem muito trabalho, apenas irei fazer a playlist do show e ver os locais certos onde iremos tocar.

 Infelizmente ir ao estúdio essa semana foi bem estranho. O Bruno voltou da turnê na Europa e agora arruma qualquer motivo para ficar no mesmo ambiente que eu. O pior, é que ele não se dá o trabalho nem de disfarçar, está sempre onde estou, querendo falar sempre com quem estou falando e ainda ficou observando meus ensaios. Não trocamos uma palavra apesar disso, a não ser um " bom dia " e " tchau ".

 

 Falando nele, dou de cara com o tal quando abro a porta da sala.

- Olá pessoal. ~ os Hooligans também estavam lá.
- Eae Malu. ~ respondeu juntos. Menos o Bruno, que estava com uma enorme cara de bunda.
- Isa, vou lá ensaiar ok? 
- Eu vou lá com você. Não vamos fazer nada por enquanto. 

 

 Isa me acompanhou até ao andar de baixo onde sempre ensaio. Minha banda já estava a minha espera. Conversamos bastante a respeito das músicas do show, dessa vez irei cantar o meu álbum todo, até porque os shows serão somente meus, então dá tempo de cantar tudo e ainda rolar uns covers que eu amo fazer. Amo cantar músicas de artistas que me esperaram pra chegar até aqui. Minha amiga logo subiu para fazer seu trabalho, e por aqui comecei o meu. Peguei meu notebook e comecei a montar os remixes que teriam durante o show, finalizei a playlist e começamos pra valer o ensaio.

 

                     ...    ...   ...

 

" Vamos a uma balada hoje? " Dylan

 Bom, sexta-feira, a noite com certeza não terei nada pra fazer, por que não?

" Vamos sim, só nós dois? "

" O pessoal do meu trabalho também vai. " Dylan

"Ah, finalmente vou conhecer a Sofia? Ótimo rs "

" Palhaça. Sabe onde fica a balada Magic Night né? Estaremos lá as 20:00hrs. " Dylan.

" Ok bb, vou voltar ao ensino, beijos "

" Beijos. " 

 

 

 Fizemos uma pausa para o almoço, cada um foi a um restaurante de sua preferência, mas eu preferir ficar aqui resolvendo alguns elementos que estou faltando para o show. Faço algumas ligações e recebo uma mensagem da minha amiga enquanto isso.

" Por que não veio almoçar? " Isa

" Estou ocupada demais rs,"

" Eu levo um doce pra você " Isa

" Que amor. Você esqueceu seu tablete aqui comigo "

" Caramba, eu estava procurando ele igual uma louca. Deixa lá na sala pra mim? " Isa.

" Claro, já levo lá. "

" Obrigada " Isa.

 

 
 Termino de afinar meu violão, o coloco no pedestal e saio para deixar o tablete onde minha pediu. Chamei o elevador, apertei o botão do andar e rapidamente a porta se abriu. Eu já ia entrando, mas ouvi vozes altas e resolvi prestar atenção no que era.

 

- Jessica, eu já te falei pra não aparecer aqui. Em lugar nenhum. Me deixa em paz. ~ Bruno dizia bem irritado.
- Você sabe o porque estou aqui...~ Jessica rebateu. O que essa louca faz aqui? Será que eles voltaram? Sei lá.
- Eu sei sim, você inventou uma história maluca e espere que eu acredite. 
- Inventei? Você viu o que estava escrito naquele papel, estou grávida e você é o pai. ~ Como?
- Eu não sou. ~ pareceu dizer firme. ~ Você apareceu do nada na minha casa a mais ou menos um mês, ficou de papinho, mas não dei atenção e agora você vem com essa... 
- Você não lembra do que aconteceu? Deixa de ser covarde Bruno.
- Eu sei o que aconteceu e não foi nada. Você está querendo me ferrar isso sim. 
- Você vai assumir essa criança. ~ ela gritou.
- Quando ela nascer, faremos um exame de DNA e aí resolvemos tudo isso. Tá bom pra você? ~ ele disse com a voz um pouco mais controlada.
- Você é ridículo. ~ ouvi seus paços para a porta e corri para dentro do banho antes de ser vista.

 

 Fechei a porta atras de mim e tentei assimilar tudo que eu tinha acabado de ouvir. A Jessica está grávida do Bruno. Eu não sabia o que pensar, eu só me perguntava como, como isso aconteceu, eu pensei que eles nem se falavam mais. Uma forte dor invadia o meu peito, meus olhos começaram a lagrimejar e eu apenas coloquei a mão na boca para que ninguém ouvisse meus sussurros. Como ouvir aquilo me faz fraquejar, parecia que o teto tinha caído sobre minha cabeça. E toda aquela dor que eu pensei ter morrido dentro de mim mostrou-se estar mais viva do que nunca. 

 

 Levei o meu rosto e passai a mão molhada na nuca para relaxar minha tensão. Me olhei no espelho e respirei fundo. Sai do banho e já não ouvi mais barulho nenhum, abrir a porta da sala que estava vazia, deixei o tablete encima da mesa e sai.

 

 Voltei para o meu ensaio e tentei não ficar com aquilo na cabeça. 

 

 Liguei para uma agência que ia me acompanhar nos shows pela Europa e já estava tudo certo, hospedagem, guia e tudo mais. Trabalho terminado, agora só queria sair logo desse lugar e ir relaxar a minha mente. Peguei minha bolsa, me despedi do pessoal e sai. Todos estavam na recepção do estúdio, acho que já vão embora também. Quando olhei para o Bruno ele está de cabeça baixa e parecia bem incomodado, levantou seu olhar até a mim e nos encaramos por um tempo.

- Malu? Malu? ~ Isa me chamava.
- Oi amiga. 
- Vamos, seu carro já chegou.~ apontou para ele que estava lá fora. ~ Tchau amor. ~ beijou seu namorado.
- Tchau meninos. ~ acenei para os caras.
- Tchau Malu.

 Caminhei até meu carro, joguei a bolsa no balcão de trás, quando ia entrar, senti alguém me puxar.

- Preciso conversar com você. ~ Bruno segurou levemente o meu braço.
- Agora não dá e não temos nada pra conversar. ~ o encarei.
- Tudo bem. ~ abaixou a cabeça. ~ Só queria que você soubesse, que sinto sua falta. ~ beijou meu rosto e saiu.

- O que ele queria? ~ minha amiga perguntou quando dei partida.
- Encher o saco. 

 

 

 Me joguei na minha cama assim que chegamos, tirei meu sapatos e fiquei ali encolhida pensando um pouco na vida. Olho no meu relógio e ainda eram 17:00hrs, aproveitei para tirar um leve cochilo até a hora de sair para a balada.

 

 

                      ...     ...     ...

 

 Estava terminando minha maquiagem quando Isa entrou no quarto.

- Malu, vamos ver o fil...~ parou de falar e me analisou. ~ Vai sair? ~ sorriu.
- Sim, Dylan me convidou para irmos a uma balada com o pessoal do trabalho dele. ~ falei passando o batom.
- Aí sim, gostei de ver. Vai se divertir, você está precisando. ~ deu um tapa na minha bunda e rimos.
- Depois preciso conversar com você, sobre o Bruno...~ coloquei meus brincos.
- Falando nele, hoje ele estava estranho. Quase não falou, ficou quieto o tempo todo. E ainda estava todo estressado depois do almoço. ~ falou.
- Huum. Como estou? ~ dei uma rodadinha.
- Maravilhosa. Gostosa pra caralho. 

 

 Dei uma última olhada no espelho e descemos. Peguei meu celular e um casaquinho.

- Não vai de carro né? ~ perguntou.
- Não, pedi um Uber, que já está a minha espera. ~ olhei pra fora de casa. ~ Hoje estou afim de beber muito.
- Ok louca, cuidado qualquer coisa me liga. ~ nos abraçamos.
- Pode deixar. ~ mandei um beijo e fechei a porta.

 

 

 Eu só quero beber, dançar e quem sabe beijar... eu preciso disso. Socorro!

 

 

 

                   ~~ Bruno ~~

 

 Meu despertador me acorda dizendo que mais um dia de tortura está começando. Me sento na cama e jogo minha cabeça para atras apoiando na cabeceira.

- O que eu fiz da minha vida? ~ me pergunto.

 

  Ontem a Jessica veio me procurar, estava toda nervosa e segurava um envelope nas mãos, pediu para que eu abrisse e assim fiz. Era um exame de gravidez, li tudo com atenção e lá dizia sobre uma gestação da Jessica. Fiquei a encarando e tentando entender o que eu tinha haver com isso. Até ela jogar na minha cara aquela terrível noite quando quando voltei a primeira vez da Europa, quando a Malu me expulsou da casa dela e tudo mais. Jessica falava como se algo tivesse acontecido, mas eu juro por tudo que é mais sagrado, juro pela minha mãe que, não aconteceu ABSOLUTAMENTE nada. Eu me lembro de ter caído em um forte sono e de ter acordado ao lado dela na cama, apenas isso. Eu não quero acreditar nessa história, não pode ser, passamos tanto tempo juntos e agora ela aparece grávida? Logo agora que não temos nada. Muito estranho. Mas não vou brigar, vou esperar ela ter a criança e ai vemos se sou realmente o pai. Até lá vou tentar a ajudá-la no que eu puder. Mas eu sinto, que isso é uma grande loucura.

 

 
 Chego mais um dia no estúdio, não tenho porra nenhuma pra fazer aqui, mas só de pensar que vou ver a Malu já né sinto bem. Ela não quer mesmo saber de mim, não nos falamos mesmo ter nos visto todos esse dias. Ela me evita e sai quando chego. Vê-la e não poder trocá-la é demais pra mim. Quando entrou linda na sala do estúdio meu coração disparou, falou com todos mas fiquei quieto. A vi sair e voltei a pensar em que porra eu estava pensando quando a trai. 

 

 E pra deixar o meu dia ainda mais feliz, Jessica decidiu apareceu no estúdio. Me perguntando se eu ia eu não assumir a criança que ela diz ser minha. Não me controlei, falei alto e pedi para que ela não aparecesse no meu local de trabalho e que irá resolver tudo depois do nascimento. Ela ficou toda irritada e foi embora feito louca. Minha vida virou uma grande bagunça sem tamanho. Onde eu aperto para esse pesadelo acabar?

 

 As horas se passaram arrastando, mas finalmente era o momento de irmos embora. Ficamos na recepção batendo papo, os caras queriam ir a uma balada hoje à noite, Kameron, Phil e Éric disseram que não iam, como sempre... Eu não tinha nada pra fazer, talvez beber um pouco me faça ficar melhor. Falando em melhor, vejo Malu conversando com sua amiga, ela me olhou bem no fundo dos olhos e eu fiz o mesmo. Queria me levantar e ir até ela e dizer toda essa loucura que está acontecendo comigo e que também sentia sua falta. E assim tentei fazer...

 

- Preciso conversar com você. ~ a fiz virar pra mim.
- Agora não dá e não temos nada pra conversar. ~ falou seca.
- Tudo bem. Só queria que você soubesse, que sinto sua falta. ~ eu queria sua boca, mas optei pela bochecha. E lhe dei um beijo.

 

 

 Voltei para recepção e continue conversando com os caras, cada um foi indo embora e eu também. Quando cheguei em casa brinquei um pouco com o meu cachorro, assisti TV e liguei para a Jaime, precisava dizer o que estava rolando e falei sobre minha possibilidade de ser pai. De primeira levei um belo esporro, mas depois veio os conselhos. Jaime sempre consegue me deixar em paz e respirando fundo. Sempre me faz sentir que tudo vai dar certo, me lembra muito a minha mãe... Olhei para o relógio e já  eram quase 19:00hrs, corri para o meu quero e fui tomar meu banho. Me arrumei, coloquei minhas joias, boné e desci. Peguei minha chaves, entrei no carro e dei partida.

 

 

                   ...      ...      ...

 

 

  Assim que subi para o andar de cima da balada, localizei os caras e me juntei a eles. Nossa mesa estava cheia de bebidas e drinks , era disso que eu precisava. 

- Cara, vem ver isso. ~ John me chamou.

 

 Me levantei e fui olhar a pista como ele tinha pedido. Olhei um por um ali até meus olhos pararam nela. Sim, a Malu está aqui...

 

Despacito

Quiero respirar tu cuello despacito

Deja que te diga cosas al oído

Para que te acuerdes si no estás conmigo

 

 Ela dançava solta na pista, tinha muitas pessoas ao seu redor, mas ela não se importava, continuava dançando, jogava seu cabelo para os lados e movimentava seu quadril com o ritmo da música.

 

Pasito a pasito, suave suavecito

Nos vamos pegando, poquito a poquito

Cuando tú me besas con esa destreza

Veo que eres malicia con delicadeza

 

 Quando a música acabou, a acompanhei com o olhar indo em direção ao camarote que ficava do outro lado da pista, subiu as escadas e se aproximou de uma mesa que só tinha homens e uma só mulher, um dos cara da mesa era o Dylan, mas ele parecia estar acompanhado pela única mulher ali.

 

 Malu se sentou na mesa e começou a beber com eles, um cara começou a falar alguma coisa no seu ouvido, ela sorria e fazia o mesmo com ele. Vi por debaixo da mesa ele alisando sua perna e ela parecia gostar. Mas que PORRA é essa? Minha vontade era de ir até lá e a arranca- lá de lá. Ele beijava seu pescoço e tentava alcançar sua boca. 

 

 Ficaram assim por um bom tempo, os caras chamaram minha atenção e pediram para eu relaxar, afinal, não temos mais nada. Mas quando voltei a encarar o outro lado, vi que a Malu não estava mais na mesa e o cara abusado também não. Olhei para os lado e não os encontrei. Foda- se não temos mais nada... Sai feito um furacão e desci para a área de fumantes, só podem estar lá.

 

 Passei pelas pessoas que estavam ali e bem lá na frente vi uma sombra. Andei devagar e fui reconhecendo os dois. O cara estava com as mãos na coxa dela, beijando sua boca e ela apenas pesava suas mãos pelas costas dele. Senti uma raiva tão grande crescer dentro de mim que não pude me conter, andei rápido na duração deles fechei minha mão e acertei em cheio o lado do rosto daquele cara.

- Bruno! ~ Malu me olhou assustada.
- Ae cara, qual foi? ~ o babaca me empurrou com um leve corte na sua sobrancelha que sangrava.
- Nunca te falaram pra não encostar na mulher de outro? ~ acertei seu rosto novamente.
- Bruno para! ~ Malu me puxou.
- Rike que está bem? ~ ela o ajudou a se levantar. ~ Me desculpe por isso. Que porra você acha que está fazendo? ~ me olhou com raiva.
- Cuidando do que é meu. ~ a puxei para mim.
- Mas não era o seu nome que ela estava gemendo. ~ o otário rebateu.
- Como é? ~ fui pra cima dele novamente mas a Malu entrou no meio.
- Rike, vai lá pra dentro por favor. Eu já vou também. ~ pediu a ele que me encarava.
- Tudo bem. ~ saiu andando verificando o pouco de sangue que saia do seu lábio.

 

 Malu esperou o tal de Rike sair e voltou a me encarar como se fosse me matar.

 

- Quem você pensa que é? ~ me empurrou.
- E quem você pensa que é? ~ peguei em seu braço e a encostei na parede. ~ Acha que é bonito ficar por aí se agarrando com outro? 
- É bonito, é lindo e é maravilhoso. Sou solteira e posso fazer o que eu bem quiser. Me solta caralho. ~ deu um tapa na minha mão que segurava seu braço. ~ Vai a merda. ~ aí saindo, mas a puxei.
- Eu vou te levar pra casa. ~ falei sério mais ela começou a rir.
- Aí Bruno você é bem engraçado. ~ continuava rindo. ~ Vai cuidar da sua vida, que aliás está aumentando né?
- O que está aumentando? ~ a encarei curioso.
- Ué, a Jessica não está grávida?~ como ela sabe disso? ~ Eu ouvi a DR de vocês lá no estúdio. Você vai assumir a criança né? ~ disse irônica.
- Eu tenho certeza que ela não está gravida de mim e era sobre isso que eu queria conversar com você, mas... ~ me interrompeu. 
- Mas eu não tenho nada haver com a sua vida e que se exploda essa porra toda. ~ Malu estava bêbada, sem duvidas. ~ Me deixa em paz, é a última vez que digo isso.

 

 Me empurrou e saiu pisando firme sumindo no meio das pessoas. Mas que merda aconteceu aqui? Peguei um cigarro no bolso e o isqueiro, dei várias tragadas até aquilo sumi nos meus dedos. Voltei para dentro da balada, subi para o camarote e avisei os caras que eu estava indo embora. Olhei pela última vez para o outro lado, mas a Malu já não estava mais lá. Aliás ninguém estava. Foda-se! 

 

 

 Cheguei em casa atordoado e louco para ir até a casa dela, saber se ela chegou bem e se não está com aquele cara escroto. Peguei meu telefone e pensei em ligar. Eu só queria ouvir sua voz... 

 

 Chamou algumas vezes, até que finalmente ela atendeu.

 

- Alô. ~ não era a voz dela, era a voz daquele cara... filho da puta. ~ Alô? Alô? 

 

 Não tive coragem de responder. Desliguei a chamada e me joguei na cama. Um dia bosta acabando mais bosta ainda. 

 Será que eu perdi a Malu?