História Sonserinos Também Amam - Se eu Pudesse Voltar no Tempo...

                                                     Draco

      Não era comum a Sala Precisa cometer um erro. Na verdade, nas poucas vezes em que estive ali, a sala sempre fizera jus ao nome: fora precisa. Por isso, estranhei o fato de a sala não estar vazia quando tudo o que eu queria era ficar sozinho. Ou ao menos era o que eu pensava que eu queria.

     O fato é que eu não estava sozinho. E quem estava ali não deveria estar ali. Eu acabara de ver Hermione do lado de fora, feliz, abraçando Harry... E no segundo seguinte estava ali, me fuzilando com os olhos vermelhos e de braços cruzados. Como se eu fosse de alguma forma responsável por seus problemas.

    —Como você entrou aqui?!?— Hermione pergunta espantada ao me perceber ali. —Como a sala te deixou entrar?

    Percebo que ela está segurando sua varinha. Os nós dos dedos estão brancos.

     Eu dou de ombros e resolvo me sentar também. A sala não é muito grande, mas é bem aconchegante. Tem tapetes, cortinas e um sofá com duas poltronas ao redor de uma lareira. Percebo que a decoração mostra leões e cobras em harmonia, tudo em tons de verde e dourado. Como se Sonserina e Grifinória fizessem as pazes. Como se isso realmente pudesse acontecer algum dia.

       Hermione está sentada no sofá, abraçando os próprios joelhos. Tem o rosto marcado por lágrimas que já secaram, mas seus olhos ainda estão avermelhados.

       Sinto raiva por isso. Ela chorava, mesmo tendo uma vida perfeita. Um amor recíproco, amigos, boas notas, beleza, uma família que a ama... Por que chorar? Ela estava provando ser mais infantil e mimada do que eu imaginava que ela fosse. Talvez ela só parecesse perfeita porque eu não a conhecia antes. Existem pessoas perfeitas, afinal? Acho que não.

      Por que eu estava supondo que a conhecia agora? Talvez eu estivesse apenas a julgando sem nenhum fundamento concreto.

      —Eu também queria poder ficar sozinho agora. Mas infelizmente esse é o lugar mais vazio da escola agora.— eu admito, e Hermione solta um longo suspiro. Ela deixa bem claro que não queria que eu estivesse ali. Isso me magoa um pouco, mas não deixo transparecer.

     —Por que? Você não tem o direito de estar chateado. Você tem uma vida perfeita. — ela definitivamente não me conhecia.

    Então ela pensava de mim o mesmo que eu pensava dela. Talvez devêssemos parar com esses joguinhos e dizer logo o que realmente pensamos. Por sua expressão, Hermione dificilmente concordaria comigo. Resolvi deixar isso para lá.

     —Eu penso o mesmo sobre você.— cruzo meus braços. Talvez eu tivesse feito a coisa certa ao beijar Pansy, afinal. Mas então, por que eu me sentira tão mal?

      —Quer saber? Eu vou embora. Não sou obrigada a te contar os meus problemas. — a garota se levanta do sofá e caminha até a porta.

     —A sala nos trouxe até aqui por algum motivo.— eu digo pouco antes de ela fechar a porta e me deixar sozinho. Ela não olha para trás.

                                                Hermione

   Depois de sair da Sala Precisa, tentando não pensar no que Malfoy havia dito, encontro com Gina e Luna, que me chamam para ir até Hogsmeade para passarmos uma tarde na Dedos de Mel. Eu sei que Gina está fazendo isso por medo de perder minha amizade por causa do que houve em relação ao Harry. Mas sinto que tudo parece mais como uma obrigação do que diversão. Eu não queria estar ali.

     Mesmo assim, aproveito a situação para comer quantos sapos de chocolate foram possíveis. Sim, chocolate sempre foi uma fraqueza. E eu ainda estava constrangida por todo o mal entendido com Harry. Eu só não entendia como ele poderia me tratar com todo aquele carinho enquanto já estava com Gina. Aquilo parecia até mesmo um pouco injusto com ela.

      Luna lia a revista de seu pai, O Pasquim. Naquela semana, todos falavam sobre Fenrir Greyback, que estava à solta. Ele havia se desvinculado do Lorde das Trevas, mas continuava atacando. Haviam rumores de que Greyback estava atrás da família Malfoy, cobrando uma dívida antiga. Ao menos era isso que Xenofílio Lovegood achava.

       —Eu acredito que Você Sabe Quem ainda esteja por trás disso.— Gina diz — Não pode ser tudo só pelos Malfoy.

      —E você acha que seria tudo pelos Potter? — Luna argumenta, e Gina fica quieta.

      Eu me perguntava se esses seriam os problemas de Malfoy. Greyback era um homem perigoso e cruel. Apesar de não ser mais um Comensal, ainda matava, e agora não estava sob as ordens de ninguém. Mas o que Fenrir Greyback poderia querer dos Malfoy? Talvez estivesse cobrando pagamento por algum serviço que havia executado? Se esse fosse o caso, eu tinha medo de saber que tipo de serviços seriam esses.

      Posso ver, do lado de fora, os alunos e bruxos mais velhos passeando pelas ruas de Hogsmeade. Me surpreendo ao vislumbrar através do vidro da loja, uma cabeça de cabelos louros platinados em conjunto com um cachecol nas cores da Sonserina. Não esperava vê-lo novamente tão cedo.

        Draco Malfoy estava acompanhado de Pansy Parkinson, a garota loira da Sonserina, que sempre parecia estar a seu lado. Porém, desta vez, parecia que não era apenas um passeio de amigos. Ambos sorriam, de mãos dadas, e Draco tocava carinhosamente o rosto de Pansy. Os olhares que trocavam certamente tinham algo a mais.

        Não pude deixar de pensar que até pouco tempo atrás, ele olhava daquele jeito para mim. Eu sempre soube que ele sentia algo por mim, mas simplesmente desprezara este sentimento por causa de uma simples paixão platônica. Por que Harry me deixara me iludir daquele jeito? E o que ele andava fazendo?

       Pude ver do lado de fora quando Draco puxou a sonserina para mais perto de si, colando os lábios aos seus. Então sorriram um para o outro e continuaram a explorar as ruas de Hogsmeade. Senti um gosto amargo, então coloquei mais um sapo de chocolate na boca.

      Eu só queria voltar para o meu quarto e enfiar a cara no travesseiro, para nunca mais tirá-la de lá.