História Sonserinos Também Amam - Conspirações

                                               Hermione

              Rony finalmente despertara. Eu, Harry e Gina já estávamos ali há duas horas quando suas pálpebras finalmente tremularam, e então seus olhos de um verde vivo estavam arregalados, tentando entender o que ocorrera.

             No canto da enfermaria, distante de nós, estava Draco Malfoy. Ele olhava para baixo, com as mãos nos bolsos e as costas encostadas na parede. Sua postura denunciava que se sentia incomodado, como se não devesse estar ali e pedisse desculpas. Como se, sob seu próprio julgamento, não se encaixasse conosco. Um Sonserino entre os Grifinórios. A serpente entre os leões.

             Antes que alguém pudesse proferir qualquer palavra ou som além de “Ah! ”, ouviu-se um estalo, e ali estava Dumbledore. Sua presença parecia preencher todo o espaço da extensa enfermaria. Instalou-se um silêncio palpável enquanto todos esperavam com expectativa o que o professor tinha para dizer.

          Para nossa surpresa, Dumbledore se sentou na cama ao lado de Rony, e passou seus dedos suavemente pela testa do garoto, afastando as mechas cor de cenoura.

          —Como se sente, Weasley? — ele pegunta.

          Malfoy assiste tudo de longe. Eu faço um gesto para que ele se junte a nós, e ele anda, parando alguns passos atrás de mim. Eu sorrio de leve, em uma tentativa de fazê-lo relaxar.

         —Eu me sinto... O que aconteceu? — ele pergunta, se sentando, desorientado. Seu cabelo bagunçado lembra o de Harry, espetado para todos os lados. Está mais pálido que o normal.

    —É o que esperávamos que nos contasse. — Dumbledore responde, e seu olhar já não é mais tão suave.

    —Ele não se lembra? Como pode não lembrar? — Draco pergunta, e todos os olhares se voltam para ele.

    —O que o Malfoy está fazendo aqui, mesmo? — Harry pergunta para Dumbledore, com a testa franzida.

     Eu suspiro, começando a me irritar com a situação.

     —Eu só me lembro de... Estar andando pelos corredores... — Rony diz, um pouco hesitante. Seu olhar parece meio perdido, até se focar em mim.

     —Se lembra do motivo? Por que estava andando pelos corredores? —Dumbledore o interroga.

     —Eu estava... Procurando a Mione. — Rony diz, e eu percebo Draco endireitando as costas —Ela tinha saído sozinha do salão comunal, e eu achava que tinha ouvido ela dizer algo sobre ir à biblioteca. Então eu resolvi procura-la. Mas não me lembro de ter encontrado com ela. Acho que lembro de ter entrado na biblioteca, mas só isso... Depois é só um borrão.

     Madame Pomfrey se aproxima, recriminando Dumbledore com o olhar.

    —Já chega de perguntas, o horário de visitas acabou. Ele precisa descansar. — a mulher diz, nos afastando com gestos com as mãos como se faz com pombos— O que aconteceu não foi pouco. Ele ainda está abalado.

     Harry e Gina saem da sala juntos, mas eu e Draco ficamos para trás. Do lado de fora de enfermaria, nos reunimos com Dumbledore.

     —O que acha que pode ter sido? — eu pergunto.

   —Duas coisas: Ou ele recebeu um feitiço muito forte de perda de memória de alguém inexperiente, ou está mentindo. Ainda é muito cedo para dizer, mas é muito suspeito que isso tenha ocorrido na mesma noite em que o castelo é invadido pela segunda vez essa semana.

                                              Draco

     Eu e Hermione caminhamos lado a lado. Ela parece preocupada, mas algo me diz que não é apenas por causa do Weasley. Reúno coragem para perguntar.

    —Aconteceu alguma coisa? Digo... Alguma outra coisa?

    Ela me olha com seus grandes olhos castanhos, parecendo um pouco surpresa.

    Nós nos sentamos do lado de fora, nos degraus que levam ao grande gramado. Nossos braços estão tão próximos que eu posso sentir o calor emanando de seu corpo. Mesmo assim, seu olhar continua distraído. Me pergunto como ela consegue continuar alheia àquilo.

      —Na verdade, sim. Saíram os resultados dos testes... — ela responde— Mas acho que alguém sabotou meus resultados. Eu não passei em nenhuma matéria. A Profa. McGonagall me deixou refazer os testes, mas tenho medo de fazerem de novo... Alguém que me odeia está fazendo isso, e eu não sei o que fazer.

     —Mas... Quem faria isso? —pergunto, tentando pensar rápido em alguma maneira de ajuda-la.

     —Draco, tem outra coisa que eu preciso te contar... O Vira-tempo... Eu não sei, simplesmente não está no lugar onde eu o deixei! Eu sei que deveria ter contato a Dumbledore antes, mas não tive coragem... Pensei que talvez você pudesse me ajudar a contar... Afinal, Dumbledore disse que deveríamos ser uma dupla agora. Precisamos resolver juntos toda essa... situação.

     Fico um pouco surpreso com sua revelação, mas também me sinto bem por perceber que ela confia em mim, e está começando a me considerar um amigo.

     —Pode contar comigo. Eu conto para Dumbledore, e vou te ajudar a descobrir quem está fazendo essas coisas. Aliás, tem outra coisa que eu tentei te contar ontem a noite, mas fomos interrompidos pela Luna... Aí fomos falar com Dumbledore, aconteceu de achar o Rony na biblioteca... Acabei nem te falando.

    Começo a sentir minhas mãos transpirando e meu coração batendo mais forte ao passo em que me aproximo do assunto principal.

     —Bom, acho que agora você pode me dizer. —ele responde com um sorriso divertido. —Não tem ninguém para nos...

     —Mione!! — uma voz a chama, e eu sinto que não será dessa vez. Às vezes me pergunto se não seria o universo conspirando contra mim. O que mais poderia ser?

     —Olhe! O Rony saiu da enfermaria! — ela se levanta e começa a correr em direção ao ruivo, mas então para e parece se lembrar. —Eu já volto, Draco. Quero muito ouvir o que você tem para me dizer. De verdade.

     —Tudo bem— eu digo, forçando um sorriso que não deve ter parecido muito honesto.

      A observo correndo, com os belos cabelos castanhos cintilando sob a luz morna do sol, que o deixava quase dourado. Ela corre até Weasley, que a abraça. Os dois saem sorridentes, um envolvendo ao outro com os braços. Eu os observo por um momento, mas percebo que ela se esqueceu completamente de mim, e provavelmente não vai voltar mais.

     Me levando dos degraus duros, sacudo minhas vestes, dou meia volta e entro no castelo. Eu precisava me distrair.