História Sonserinos Também Amam - Tempo Quebrado

Hermione  

              Abraço Rony, e sinto seus músculos contraídos, rígido. Seus olhos verdes parecem distantes. Nossas roupas tremulam sob o vento gelado. O clima parecia ter esfriado drasticamente, de uma hora para a outra. 

                Me lembro de como ele parecia estar estranho há alguns dias. Assustado, com medo. Será que ele teria feito algo? Seria aquilo o medo de ser descoberto? Ou... Talvez ele estivesse sendo ameaçado ou algo do gênero. O que mais me machucava era não saber de nada. O amigo com quem eu compartilhara tantos segredos... Agora eu sentia que não sabia mais nada sobre ele. Eu deveria saber. Uma amiga de verdade saberia. 

              —Eu sei que te devo muitas explicações. — ele diz, encarando os próprios pés. Como se estivesse lendo meus pensamentos. —Mas na realidade... não. Não tenho muito a te contar. A verdade, acredite ou não, é que eu não fiz nada. 

             Continuamos a caminhar, lentamente. Resolvo deixar meus pensamentos se organizarem de forma mais clara antes de falar, mas as próximas ações de Rony me fizeram abandonar essa estratégia. 

            —Eu juro que não fiz nada! Eu sei que nunca fui com a cara do Malfoy, mas eu nunca me arriscaria tanto por isso. Por favor Mione, diga que me conhece, você sabe que eu nunca faria isso! 

            Observo enquanto meu amigo de tantos anos cai, não apenas fisicamente. Rony esfrega os olhos vermelhos por causa das lágrimas que ameaçam escorrer por seu rosto. Agachado, com as costas apoiadas no muro de pedra. Ele abraça seus joelhos e desvia o olhar, meio com vergonha e meio com medo do que eu direi. Sinto uma vontade urgente de confortá-lo, mostrar a ele que estou aqui. 

           Sento ao seu lado, encostando nossos ombros. Deito minha cabeça em seu ombro e passo minha mão em seu joelho, chamando sua atenção. 

           —Eu te conheço, Rony. Mesmo que todas as provas apontem para você, mesmo que me condenem por isso, eu juro que estarei ao seu lado, certo?— digo, me esforçando para escolher as palavras certas —Depois de tantos anos, não seria agora que eu te deixaria. 

             Ele seca os olhos com a manga de seu casaco, e parece estar se recuperando.  

             —Você é muito importante para mim, mas e os outros? Você é a única com quem eu posso contar. 

            —Eu duvido. O Harry com toda a certeza...— interrompo minha frase. Eu já não conhecia Harry tão bem assim. Estávamos sem nos falar há dias. Ele não parecia mais ser o mesmo. 

           Rony balança a cabeça em um gesto negativo. 

           —Harry já deixou claro que não acha que continuar andando comigo será bom para sua reputação. Ele disse que acha melhor nos separarmos durante esse "período turbulento". 

           —Bom, talvez seja melhor assim, então. —digo, depois de uma pausa para refletir —Dumbledore vai fazer com que tudo dê certo. Ele vai conseguir provar tudo. Só precisamos entender melhor o que aconteceu ontem a noite. Isso explicaria tudo. Resolveria tudo. 

           Permanecemos ali por mais um tempo, até que o vento se torna tão forte que resolvemos entrar. Draco não está mais na escada, e eu me pergunto por onde ele estaria. 

                                             Draco 

         Ela estava pálida. Os cabelos ruivos formavam uma lindo coroa, emoldurando seu rosto. Estava deitada sobre o orvalho gélido, um pequeno besouro passeando sobre seu rosto. As sardas saltavam ainda mais em sua pele clara. Estava imóvel, com olhos vidrados e corpo paralisado em uma posição estranha, como se estivesse sob o feitiço Petrificus Totalus. Provavelmente realmente estava. 

            Gina Weasley estava do lado de fora em uma tarde fria, enquanto todos estavam perto de suas lareiras, no interior confortável do castelo. Seu corpo estava perto do lago, em um lugar em que dificilmente teria sido encontrado. 

           "Mas aqui estou eu" penso. 

            Quem fizera aquilo não esperava por um aluno com um coração partido caminhando por ali tão cedo. 

             Apesar de toda aquela situação já ser muito estranha, o que eu reparo em seguida trás uma importância ainda maior para o acontecimento. Alguém que não prestasse muita atenção provavelmente acharia estranha a mão estendida da menina, como se tentasse alcançar alguém. Mas o ângulo do sol no horizonte faz com que algo cintile na grama, logo ao lado de sua mão. 

             Uma corrente dourada escorregara de seus dedos úmidos, e repousava na grama. Eu me agacho para observar mais de perto, e minhas suspeitas se confirmam. Não era uma corrente dourada qualquer. 

            A corrente tinha um pingente estranho. Dois círculos, um dentro do outro, que giravam, um para cada lado. No centro dos círculos havia uma pequena ampulheta.  

            Sinto meu coração se acelerando. Sim, eu sabia o que era aquilo. Já ouvira falar do objeto e já vira em livros e gravuras. Mas ali estava, em frente aos meus olhos, o objeto mítico! O vira-tempo! 

           Então Gina roubara o vira-tempo de Hermione. Eu pensava que elas fossem amigas! Como Gina chegou a tal ponto de cometer uma traição tão grave? Eu precisava voltar logo para o castelo. Havia muita coisa sobre o que pensar, e eu sabia que precisaria da ajuda de Dumbledore e Hermione. 

           Os Weasley estavam mais envolvidos em tudo isso do que eu pensava. Até mesmo a mais nova menina Weasley! Eu nunca teria suspeitado de Gina. Greyback fora muito mais esperto do que eu imaginava que lobos poderiam ser.  

           Com delicadeza, retiro o colar de seus dedos. Aprecio o vira-tempo, refletindo o sol o que o deixava mais dourado ainda. Mas logo percebo que há algo de errado. O vidro da ampulheta está quebrado, e toda a areia se foi. O círculo dourado mais externo está sem um pedaço. O vira-tempo estava arruinado. 

           Gina certamente deverá explicações sérias à Dumbledore e Hermione. 

      Fico em dúvida sobre o que fazer, mas resolvo por fim colocá-lo em meu pescoço. A corrente está gelada sobre minha pele. Não entendo como Hermione conseguia andar por aí carregando o peso que o vira-tempo trazia. Não literalmente, claro. O peso da responsabilidade.  

        Passo meus braços ao redor da menina ruiva. Um sob seus joelhos e outro sob seus braços, apoiando sua cabeça em meu ombro. É mais difícil do que parece por ela estar petrificada. A mobilidade de seu corpo é mínima, e eu não consigo encarar seus olhos arregalados por muito tempo. 

       Penso sobre o que teria acontecido, de fato. A expressão no rosto de Gina não era tão agradável. Ela parecia com medo, assustada. Talvez o acordo que fizera com Greyback não houvesse corrido tão bem quanto o planejado. 

      Me pergunto se esse seria o fim de minha dívida com Greyback.