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História Sorrisos Sob a Montanha - Desolação


Escrita por: Tinkerbaek

Notas do Autor


Primeiramente gostaria de me desculpar pela demora. Escrever esse final foi complicado, pois várias vezes eu fazia uma parte, deletava, e reescrevia pra tentar deixar o andamento melhor. Essa fic é muito importante pra mim, ainda mais todo o enredo que criei... Então fazer o capítulo final foi algo complicado, pois queria deixar a altura de tudo o que tive tanto esforço para dar vida.

Espero que possam me perdoa por essa demora, viu? E que eu possa ver vocês em outros projetos, pois não pretendo parar de escrever! Sei que alguns de vocês até pedem livros de fics minhas, e agora que voltei para o Brasil, quem sabe...? Talvez, algum dia, eu resolva fazer isso.


BETADA POR MIM, qualquer coisinha, gritem onde acharam o erro, por favor! Enfim, espero que gostem do último capítulo (que ficou bem longo, mas depois de bastante tempo sem postar, acho que vocês merecem)

Capítulo 17 - Desolação


Fanfic / Fanfiction Sorrisos Sob a Montanha - Desolação

Era uma vez, há muitos e muitos anos atrás, cercado de belas e esplendorosas montanhas, existia o grande reino de Aberdeen. Em uma época dourada, onde os mais abastados possuíam grandes riquezas, onde nobres controlavam a maior parte da economia do país, o avanço tecnológico e medicinal era um dos grandes orgulhos daquele povo.

Dirigíveis de fumaça podiam ser vistos deslizando no céu enquanto pessoas andavam para lá e para cá, as mulheres com seus vestidos bordados e suas sombrinhas, os homens com seus ternos, cartolas e relógios de bolso. Marias-fumaça faziam barulho enquanto cruzavam as ruas onde as construções eram grandiosas, erguidas com suas bases de metal, concreto e madeira. Meninos com suas boinas gritavam para anunciar os jornais do dia em meio a bagunça, afinal, todos ali estavam ocupados com suas próprias vidas. Mas como todas as histórias, nem todas as coisas eram boas…

O homem pode ser facilmente corrompido. Ganância, hipocrisia, preconceitos, soberba…Tais sentimentos e pensamentos eram capazes de impregnar aqueles de coração fraco. Médicos, naquela época, eram louvados por todos. Seus conhecimentos medicinais avançados eram motivos de orgulho, assim como motivo para que enchessem os bolsos com o dinheiro do povo. O poder destes homens era tão grande que eles mesmos fundaram uma sociedade secreta, onde apenas os conhecedores de medicina e que fossem ricos o suficiente poderiam participar.

Nove homens fundaram essa sociedade. Nove médicos que, por trás de suas máscaras de bons cidadãos, nutriam repúdio e nojo por aqueles que quase nada, ou nada, tinham. Para eles, pessoas pobres, das favelas de Aberdeen, eram aqueles que traziam as mais perigosas doenças e violências para o reino. Considerando-os sujos, ignorantes e pesos mortos, os nove médicos concordaram, entre si, que o dinheiro gasto nessa parte da população era um desperdício de impostos.

Seus corações encheram-se ainda mais de ódio quando, em um fatídico dia, a jovem filha de um dos nove médicos fora encontrada morta, estirada em uma vala qualquer em uma das favelas de Aberdeen. Sedento por vingança, o pai da moça se reunira com os demais médicos daquela quase seita que havia formado e, daquela forma, planejaram o que seria um dos mais cruéis acontecimentos da história. Usando da inteligência que possuíam, dos conhecimentos medicinais, passaram a elaborar maneiras de aniquilar todos aqueles que, em seus olhos, eram indignos.

Sequestrando diversos mendigos, por não possuírem ninguém que pudesse procurá-los, passaram a testar todos os tipos de venenos e substâncias químicas que produziam em seus laboratórios secretos, em suas mansões. Diversas pessoas inocentes morreram, sem que pudessem ter qualquer fio de esperança de serem resgatados. Mesmo com tantas e tantas mortes, os médicos ainda não estavam satisfeitos com os resultados. Estavam em busca de algo que pudesse exterminar silenciosamente, que não levantasse suspeitas, e que fosse rápido e limpo.

Após tanto tempo de tentativas, após tantos assassinatos, eles chegaram a um soro que, em sua visão, consideraram perfeito. Nomeado por eles de Soro do Riso, era inodoro, incolor e, caso ingerido, provocava um ataque de risos na pessoa em questão. Podia, sim, soar como algo bobo, contudo, rir demais era capaz de causar aumento na pressão do tórax, a diminuição da circulação do sangue, ruptura cardíaca e aceleração dos batimentos. O soro podia acelerar tanto estes sintomas que, em poucos minutos, a pessoa morreria por infarto ou por falta de ar. E afinal de contas, quem se preocuparia em ajudar uma pessoa que está apenas gargalhando?

O primeiro teste bem sucedido fora feito em uma prostituta, a qual o nome sequer tiveram preocupação em tomar conhecimento. Seu corpo fora guardado em um baú de aço, fechado firmemente por um dispositivo de engrenagens. Então, os nove médicos, botaram em ação seu sádico plano, contaminando os poços artesianos que levavam água às famílias que viviam nas periferias de Aberdeen.

Em poucas horas, podia-se ouvir falar de um surto de gargalhadas vindo de tais locais. Os primeiros afetados foram considerados bêbados, as crianças, por outro lado, eram também ignoradas pois quem suspeitaria de crianças rindo? Provavelmente só estariam se divertido. Mas, aos poucos, todos da periferia estavam sendo afetados. Os médicos, naquela noite, brindaram como o plano fora bem sucedido, encheram-se dos melhores vinhos, das melhores frutas, verduras e carnes. Para eles, a cidade já estava se tornando melhor, mais limpa, e mais digna.

Contudo, eles não esperavam que suas ações cruéis poderiam sair do controle. Um dos médicos, aquele que guardara o corpo da falecida moça, durante a madrugada, resolvera descer até seu laboratório. Sentado diante de sua escrivaninha iluminada por lâmpadas amareladas, ele ouviu alguns barulhos no local. De início, ignorara, porém os barulhos passaram a ser um pouco mais constantes, e soavam como batidas no interior de algo metálico. Desconfiado daquela situação, o doutor caminhou até o baú de aço, abrindo-o com um clique de engrenagens. Assustou-se ao perceber que o rosto daquela mulher não era mais o mesmo, ele estava desfigurado em um sorriso escuro, de onde escorria uma gosma mal cheirosa, o cheiro como de entranhas putrefatas… Seus olhos também seguiam o mesmo padrão e, curioso, ao mesmo tempo que enojado, o homem se aproximou daquele cadáver. Aquele fora seu maior erro.

Com um grito agudo, aquele corpo pulara em cima do seu, chiando com um som metálico estridente. Sua força era sobre-humana e, pego de surpresa, completamente despreparado, o médico não tivera qualquer chance de reagir. A criatura estranha conseguira quebrar seu pescoço em uma luta corporal, e logo após, passou a sorver de seu sangue.

Aquele fora o início do dia que ficou conhecido como o dia da Desolação de Aberdeen. Gritos desesperados foram ouvidos pela rua e o caos estava instalado. Havia fogo, pessoas correndo em pânico, objetos quebrados por toda a parte. A maria-fumaça estava tombada, frutas e verduras rolavam pelo chão das vendinhas que caíam enquanto a população corria em busca de abrigo. Tiros de pistolas de pólvora podiam ser ouvidos, mas nada parecia parar as criaturas que avançavam cada vez mais.

Os ricos e nobres que viviam em suas mansões, tentavam se proteger nas partes mais altas das residências, alguns, em pânico, pegaram suas riquezas e partiram em seus dirigíveis de luxo para as montanhas mais próximas. Os médicos, que agora eram oito, conseguiram também reunir suas famílias, suas riquezas e equipamentos dentro de seus dirigíveis. Assim, eles partiram para longe… Para as montanhas ao redor de Aberdeen. O belo e brilhante reino, por fim, sucumbira. Os pobres, mesmo crianças e idosos, por não possuírem dinheiro algum, foram deixados para trás.

Homens de mau coração, todavia, nem sempre eram devidamente punidos. Aproveitando-se dos ânimos balados, os oito médicos tentaram acalmar o restante da população. Prometeram a solução para aquele problema, uma cura, algo que pudesse exterminar aquelas criaturas horrendas que, em idioma antigo, passaram a chamar de Raen. Cegos e desesperados por uma solução, o povo de Aberdeen seguiu os novos líderes que, sem que soubessem, foram a causa para toda a desgraça. O rei e a rainha do reino abaixo das montanhas, a partir daquele dia, foram perdendo suas forças e, com isso, os médicos se dividiram entre oito montanhas e, nestas, firmaram seu poder.

Após alguns meses, passaram a construir novos prédios e, com isso, oito palácios, um em cada montanha, foram erguidos. Então, pouco tempo depois do desastre de Aberdeen, os cruéis médicos foram declarados os novos Reis. Ainda mais repletos de ganância pelo poder que receberam, desenvolveram um outro soro, este feito para que, aos poucos, as pessoas fossem esquecendo do passado abaixo das montanhas. Silenciosamente, o soro era misturado à água, aos alimentos, até que, por fim, todos os cidadãos não tinham sequer um resquício de memória sobre como foram parar naqueles locais e, assim, os oito Reis puderem reinar.

Mantiveram o segredo guardado à sete chaves, apenas as famílias dos médicos, agora a nova família real, possuíam conhecimento do segredo. Passaram de geração em geração o conhecimento avançado sobre medicina, deixando aos curandeiros das montanhas apenas o básico para que pudessem ser controlados com facilidade. Desde crianças o aprendizado em medicina era ensinado entre os príncipes e princesas, para que ele nunca acabasse em esquecimento e, quando adultos, pudessem ser excelentes no que faziam, conseguindo aumentar a qualidade de vida apenas da família real, enquanto o restante da população ficava sobre os cuidados dos curandeiros, com conhecimentos rasos de medicina.

Enquanto isso, abaixo das montanhas, abaixo da superfície destruída, aqueles que foram deixados para trás por nada possuírem, sucumbiram, em grande parte, juntamente com a cidade. Todavia, alguns foram capazes de escapar, a maioria escondendo-se pelos esgotos subterrâneos. A partir dali, com muita dificuldade e sofrimento, essas pessoas foram expandido a sociedade que formavam abaixo da terra, perfurando-a ainda mais, cavando mais e mais até o passar dos longos anos.

Alguns outros, que escaparam a pé enquanto o caos se alastrava pelo centro da cidade, conseguiram se abrigar em cavernas e buracos, construindo, então, mais locais para habitar. Locais tão precários quanto aqueles que se esconderam pela grande rede de esgotos de Aberdeen.

Trezentos anos se passaram desde então e, o que era fato, caiu em esquecimento… O que era história, havia se tornado lenda. Tudo o que deveria ser lembrado, havia se esvaído como cinzas jogadas ao vento. O Dia da Desolação de Aberdeen fora apagado das memórias daquele povo sofrido das profundezas da terra, pois muitos passaram a se recusar lembrar do dia em que suas vidas tornaram-se ainda piores. Apenas os muito idosos contavam parte do que havia acontecido. Mas, como toda a história não documentada, fatos foram se perdendo, partes importantes foram alteradas até que, por fim, não podia-se mais distinguir que fora realidade e o que era lenda.

A arrogância e o preconceito de homens causara a devastação de um reino, separando e enganando um povo… E praticamente todos aqueles que um dia souberam da verdadeira história, esta que não deveria ser esquecida, desapareceram para sempre…

 

 

***

 

 

Livros muito antigos são especiais. Eles não apenas carregam as histórias escritas em seu interior, como também carregam a história daqueles que os escreveram, assim como absorvem, silenciosamente, a história daqueles que os leem e de todos os lugares pelos quais já passaram. Se livros antigos pudessem falar, teriam muito mais para contar do que seus conteúdos.

Baekhyun possuía penas onze anos quando lera uma passagem daquele livro pesado, de mil trezentas e setenta e duas páginas, extremamente detalhado e didático, beirando a irritação. Era apenas uma linha, praticamente insignificante em meio à tantas e tantas palavras ali escritas.

Após a queda de Aberdeen, aqueles que ali habitavam se refugiaram nas montanhas mais próximas e propícias a habitação. Aqueles que não conseguiram fazer parte destas cidades, criaram as cidades subterrâneas, a fim de se protegerem dos ataques. É dito que um certo grupo de pessoas conseguira fugir por mar.

O jovem príncipe, que era lecionado em medicina desde muito mais jovem, era certamente obrigado a ler diversos livros. Alguns extremamente irritantes para uma criança, como aquele que tinha em mãos e exalava um cheiro de papel antigo. Mas tais palavras martelaram tanto em sua mente que, compelido pela curiosidade, praticamente revirara a biblioteca do castelo em busca de mais informações sobre as tais pessoas que fugiram por mar, mas não encontrara absolutamente nada.

O mar era algo além de sua imaginação, algo que havia lido em seus livros de aventura. Um lugar de imensidão azul e com o fundo coberto de areia e criaturas misteriosas. Tentava imaginar os sons, o cheiro de água salgada e qual seria a sensação de nadar livremente enquanto o sol quente refletia seus raios ali.

Seus professores insistiam para que desistisse de pensar naquela pequena informação solta de um livro tão velho, que fora escrito pouquíssimo tempo depois da queda de Aberdeen. Algumas coisas eram apenas especulações, apenas dizeres que foram se espalhando e sumindo como fumaça. Mas quanto mais tempo passava lendo seus livros favoritos às escondidas, mais imaginava um lugar em meio ao mar, um lugar bem diferente do que as cidades das montanhas. Talvez, quem sabe, um lugar melhor.

Mas sua inocência infantil fora destruída por completo ao ser condenado por seu próprio pai. Seus sonhos se partiram em milhões de pedaços enquanto caía daquela montanha e via aquele que amava sofrendo as consequências dos crimes que sua própria família cometera há tantos anos.

Ter apenas quinze anos de idade e desejar que a morte o tomasse para si de vez, enquanto agonizava, com o coração destroçado e o corpo repleto de machucados, faz com que você esqueça de seus sonhos. Havia dado um suspiro de alívio ao ver um homem de barba muito negra, assim como seus fios de cabelo, segurando-o em seu colo. Acreditou que ele fosse a morte, que finalmente daria um fim em sua dor e que, talvez, pudesse reencontrar Yixing. Mas a morte provavelmente não se apresentaria como Corvo e muito menos o levaria, desesperado, para dois curandeiros daquela cidade escura e gélida. O jovem príncipe não havia morrido, mas seus sonhos continuavam enterrados em profundas covas.

***

Nost não era um lugar bonito, muito pelo contrário, parecia uma versão pós apocalíptica de Mal’loki. Mesmo havendo tecnologia ali, tudo era mais precário, mais sombrio e mais assustador.

Aquele não era seu lugar. Ele era um príncipe e, segundo os moradores das subcidades, também era um Griffon, mas apenas aquele que o resgatara sabia de seu verdadeiro passado. Armadillos não gostavam das pessoas de cima, ele poderia se morto ou torturado, ainda mais pelo seu status. Mas Corvo deixara com que ficasse em sua pequena casa, alimentando-o e obrigando-o, nos primeiros meses, a fingir-se de mudo. Seu sotaque era evidente, assim como era evidente que desconhecia completamente dos termos e gírias das subcidades. Mesmo que falassem o mesmo idioma, o choque cultural que sofrera lhe deixaram a beira da depressão.

Apenas uma coisa o manteve são durante seu período de adaptação, que eram as histórias que os velhinhos da cidade contavam para os mais jovens. Lendas sobre os Smileys, lendas sobre o mundo de antigamente e que talvez não fossem tão ilusórias assim. Algumas histórias não eram totalmente invenções, mas apenas alguns poucos idosos acreditavam veementemente naquelas palavras, pois por possuírem idade avançada, era difícil receberem credibilidade pelas histórias que contavam. Contudo, o que realmente lhe deixara surpreso fora a história da cidade sobre o mar.

Uma senhora curandeira um dia lhe contara sobre a lenda da cidade ilhada. Um local no qual algumas pessoas conseguiram alcançar de barco, estabelecendo ali uma sociedade que apenas prosperou, onde todos eram felizes, livres para irem para onde quisessem e, a partir daquilo, os moradores expandiram suas moradias para outras ilhas próximas. Baekhyun podia recordar nome da senhorinha que lhe contara aquilo. Chamava-se Baobá e lembrava-se de que ela baixinha, porém seus cabelos eram longos e viviam presos em uma trança comprida que lhe descia pelo ombro direito. Antes de ser uma das curandeiras de Nost, contudo, ela era uma mercadora habilidosa, que vivia indo de cidade a cidade, realizando trocas enquanto lutava contra as criaturas de sorrisos mortos.

Seus sonhos, antes enterrados por completo, começaram a renascer das cinzas. No fundo de seu coração adolescente, a esperança de que aquele lugar existisse tornou-se um segredo guardado a sete chaves, assim como a vontade de trazer Yixing de volta a vida algum dia. Estes foram dos motivos para pedir a Corvo, em uma manhã chuvosa, para que lhe treinasse e o tornasse um mercador.

Com o passar dos anos, sentira o peso de uma vida adulta em um lugar onde era preciso ser forte, onde era necessário ser resistente e suportar até as últimas consequências todas as ameaças, fossem elas os Smileys ou a fome. Ou, até mesmo, outras pessoas.

***

Baekhyun estava um pouco mais  a frente de Chanyeol naquele grande muro do prédio em ruína em Aberdeen. Percebeu o olhar do outro, completamente emocionado e mesmerizado ao olhar a imensidão histórica a sua frente. Sorriu levemente, torcendo para não ser notado pelo mais novo, mas sabia que este estava encantado demais com tudo o que observava ali.

“Nós éramos um povo só, Chanyeol.” Contou a ele, suspirando profundamente em seguida. “Esse era nosso lar. Não existia Reinos das Montanhas, ou subcidades… Muito menos esses monstros.”

Baekhyun sabia que o mais alto ainda tentava processar esta informação em sua mente. Era uma realidade muito além de sua imaginação, algo que definitivamente era difícil visualizar quando ambos apenas conheceram cidades acimas das nuvens e cidades escuras, cavadas profundamente por de baixo da terra. Era complicado pensar na possibilidade de serem livres para correr para qualquer lugar. Olhou rapidamente para Chanyeol e viu aquele rosto que acabou por conquistá-lo, e pensou se, caso o mundo ainda fosse daquela forma, eles se encontrariam. Talvez a realidade fosse outra, talvez eles não tivessem nascido ou, quem sabe, se esbarrariam pelas ruas e nunca diriam um único olá um ao outro. Por serem muito diferentes ou por estarem em caminhos opostos.

Baekhyun resolvera pular para outro muro mais a frente, equilibrando-se quase com maestria e virou-se para o outro, esticando a mão mecânica. Chanyeol sorriu e a segurou, aceitando de bom grado a ajuda.

“Está vendo as duas montanhas a nossa frente?” Questionou no momento no qual ficaram um ao lado do outro. Apontava para montanhas que pareciam quase engolir as ruínas. Eram muito altas, seus picos eram extremamente afunilados e não havia quaisquer sinais de habitação nelas. “Mais para o lado de cada uma delas está a cidade de Feanor, à esquerda, e cidade de Minas’mir, à direita.” Continuava a sinalizar, e Chanyeol parecia tentar compreender. “Feanor e Minas’mir, talvez você saiba, possuem um acordo muito forte em questões comerciais, principalmente no comércio de tecidos e tintas, por isso eles estão sempre usando dirigíveis… E é aí que nós entramos. Logo mais algum dirigível irá passar, e é justamente esse que iremos derrubar.”

Chanyeol concordou com a cabeça, compreendendo as instruções, porém Baekhyun já o conhecia bem demais para saber que algo o afligira. O mais novo era como um livro aberto, suas emoções eram facilmente compreensíveis, pois ele era emocional demais para esconder o que sentia. Ele fizera uma expressão dolorosa, quase como se estivesse com náuseas, provavelmente estava pensando em algo que lhe atormentava.

“Baekhyun… E as pessoas dentro do dirigível?” Questionou ele, o corpo esguio tremendo levemente. Sabia que Chanyeol pensava no que havia feito para ter de fugir há tanto tempo atrás. Tirar a vida de alguém, mesmo que para defender sua mãe, havia deixado uma marca gigantesca na alma do mais novo, como um peso que jamais sairia de seus ombros. Olhou para ele, suspirando profundamente.

“Acho que não posso te forçar a fazer isso, mas…” Mordeu o canto da boca. “Chanyeol, eu não sou nenhum herói…” Sua visão se perdia na paisagem a frente. De fato, não era nenhum herói, mas nunca havia matado o provocado a morte de alguém, a não ser que para poupar alguém de um sofrimento maior, como algumas pessoas que caíam das montanhas e estavam passando pelo processo de transformação após o ataque de Smileys. “Quando menor, queria ser um herói, sabe? Iguais aqueles que eu lia em livros de aventura. Talvez um cavaleiro que ia de reino em reino salvando todos aqueles que precisassem… Mas isso são só fantasias, e eu não sou um herói, sou um sobrevivente...” Murmurou. Após aquilo, ambos ficaram alguns segundos em silêncio, ouvindo apenas os chiados baixos dos Smileys e o vento soprar. “Quando chegar a hora, eu faço… Para ser sincero, é melhor que você nem olhe. Só espero que você ainda seja capaz de amar uma pessoa tão quebrada como eu.” Disse ele, sorrindo com certo amargor em sua direção. Voltou então a encaixar a besta em seu braço mecânico, era possível ouvir os estalos de metal se estalando.

“Baekhyun, por favor…” Suplicou Chanyeol, agarrando seu pulso. Seus olhos expressavam dor. Sua a aflição parecia tão grande que demorara a perceber que o segurava com muita força. “Por favor, não faça isso… Tem que haver outro jeito...”

“Chanyeol, eu-”

“Por favor, Baekhyun!” Insistiu, levantando a voz. “Dessa vez eu vou deixar meu egoísmo vencer e te implorar para não fazer isso, nem que seja por mim… Não comenta o mesmo erro que eu cometi. Porque se você o fizer, você vai destruir meu coração...” Aquela confissão fizera com que ficasse extremamente chocado. Chanyeol agora tremia, mordendo o lábio inferior enquanto olhava para baixo, provavelmente evitando um choro. Repensou nas escolhas que estava prestes a tomar. Será que valeria a pena mesmo botar a vida de alguém como alvo? A pessoa a pilotar o dirigível, de fato, era um ser humano inocente. Na melhor das hipóteses, essa pessoa teria uma vida terrível ao tentar se adaptar e sobreviver em qualquer subcidade. Talvez, se não fosse por Chanyeol, continuaria com o plano, e esse pensamento o assustava. Mas ao ver o maior tão desesperado e suplicante fez com que pensasse duas vezes.

“Há outro jeito…” Disse Baekhyun, mordendo o interior da boca. “Vai ser caro, provavelmente irá demorar bastante e sua ajuda vai ser de extrema importância.” Os olhos do maior encontraram os seus, a expressão surpresa em seu rosto. Ele sorriu levemente, os lábios ainda trêmulos, enquanto apertava mais seu pulso.

“Ajudo no que for preciso!”

***

Construir um dirigível a partir de carcaças era, de fato, um trabalho extremamente complicado e lento. Chanyeol era um só e, infelizmente, Baekhyun não servia de muita ajuda quando o assunto era mecânica. Seu trabalho ali passou a ser de ajudante e de negociador para conseguir peças do dirigível. Havia se passado alguns meses e aquele era um dia quente de sol. Era verão e o mais alto estava claramente suado e ofegante por tamanha quantidade de calor pela qual eram banhados e pelo esforço que faziam. Acharam um ponto alto para construir o dirigível, afinal de contas, não poderiam arriscar serem atacados a qualquer momento. Construíram até mesmo um sistema de manivelas para subir e descer objetos maiores e mais pesados daquela pequena colina íngreme na qual estavam. Baekhyun havia acabado de sair do acampamento que construíram bem aproximo ali, carregando uma placa de metal consigo. Aproximou-se daquele rapaz que parecia fixar alguns parafusos, completamente concentrado em seu trabalho. Ele não notara o momento de sua aproximação até depositar uma das peças no chão ao seu lado e esticar um cantil de água fresca.

“Ah, obrigado.” Agradeceu ele, retirando o cantil de suas mãos e dando um profundo gole. Baekhyun observou a garganta do rapaz menos moreno enquanto ele sorvia do líquido, as gotículas de suor reluzindo o deixaram um pouco sem fôlego.

“Não há de quê.” Respondeu, pegando novamente o cantil para si, bebendo o restante.

O mais novo e ele, após a conversa que tiveram entre as ruínas de Aberdeen, deixaram com que  relacionamento entre ambos tomasse mais profundidade. Baekhyun sabia, contudo, que não era como o maior. Chanyeol era gentil e doce… Com um coração maior do que seu corpo. Ele era expressivo, mas ao mesmo tempo contido, por ter medo de fazer algo que pudesse destruir a relação que construíram depois de tantos altos e baixos.

Amar Chanyeol não foi algo que gostaria que tivesse acontecido, muito menos que o mais novo tivesse entregado tanto o próprio coração. Ele ter ficado são e salvo em Nost talvez tivesse sido o melhor caminho. Lembrou-se de como se sentira ao chegar aos portões da subcidade após deixá-lo na casa de Corvo, o sentimento sufocante de deixar aquele rapaz perdido e choroso para trás…

Chanyeol, no início, lhe lembrava muito Yixing, e aquilo fora uma tortura em sua mente. O sorriso amoroso, a bondade, a maneira com qual ambos choravam sem qualquer medo de expressarem seus sentimentos… Viu, naquele rapaz enorme, a inocência de alma que seu antigo amor possuía. Pensou que, com o tempo, após ver que eles não eram a mesma pessoa, poderia simplesmente ignorar tais sentimentos que cresceram em seu coração, mas Chanyeol provou-se cada vez mais insistente ao persistir ficar em sua mente.

Eles, definitivamente, não eram as mesmas pessoas. Chanyeol evitava confrontos; Yixing não tinha medo de falar o que lhe incomodava. Chanyeol chorava ao ver algum animalzinho machucado enquanto pensava no que fazer para ajudar; Yixing segurava a criaturinha em seus braços e agia com a cabeça no lugar, sério, enquanto tentava encontrar a melhor maneira de ajudar.

Yixing e ele brigaram diversas vezes durante os anos, mas sempre se reconciliavam. Parte das brigas era por pura teimosia de Baekhyun, já que Yixing praticamente nunca agia por impulso e fazia o possível para que nenhum dos dois se machucasse. Já Chanyeol parecia engolir todas as brigas que pudessem ter, pois gritos e discussões faziam com que ele sentisse seu coração despedaçar. Entretanto, admirava o mais novo por ser tão forte a ponto de aguentar tantos azares da vida. No final das contas, percebeu que passara a amar alguém que, de fato, não era realmente um espelho de seu antigo amor, e por isso passou a achar que estava traindo a promessa que havia feito a si mesmo de trazê-lo de volta.

Olhou novamente para Chanyeol, que suspirava profundamente por parecer cansado demais ao fixar algum parafuso. Dera alguns passos até ele, despertando sua atenção enquanto se colocava a sua frente. Os olhos escuros lhe olharam, confusos, mas ele não evitara o beijo que lhe dera ao puxá-lo levemente pelo pescoço.

Baekhyun agradecia a qualquer entidade que existisse nos céus por Chanyeol ser totalmente o oposto de si. Por ele se derreter em seus braços, beijá-lo sem amarras, entregando-se totalmente, e por ele ser repleto de ternura, pois o mais velho sabia que os anos haviam lhe tornado amargo e seco.  

Afastara rapidamente o rosto do maior para segurá-lo pelos cabelos e olhar a pequena boca carnuda e rosada. Beijara seu queixo então, deslizando os lábios para o pescoço, conseguindo arrancar um suspiro grave. Não demorara até que as roupas estivessem jogadas sobre a grama e que estivesse de joelhos em frente ao rapaz de cabelos negros, deixando com que ele segurasse sua cabeça enquanto movimentava os quadris em direção ao seu rosto. Arranhava levemente as coxas de Chanyeol enquanto deixava a saliva deslizar pelo membro que estava em sua boca, mesmo que de vez em quando acabasse se engasgando. Gostava de ver o maior completamente derretido por sua causa, gostava de sentir o gosto dele se fazendo presente aos poucos em sua língua.

“Baekhyun…” Ele o chamou, a voz grave agora rouca e falha. Colocou-se de pé e encarou o rosto ofegante e suado do mais novo. Ele era, de fato, mais alto, mas parecia querer jogar-se em seu colo sempre que o olhava daquela maneira. Voltou a beijá-lo, sentindo a língua quente contra a sua, ouvindo os gemidos dele enquanto o abraçava para mais perto.

Mais uma vez, Chanyeol balbuciava palavras desconexas enquanto apoiava as mãos contra o dirigível parcialmente construído e era possuído por trás. As pernas longas abertas, o rosto pendendo para baixo enquanto praticamente se engasgava com os próprios gemidos. Baekhyun sentia-o apertado ao redor de si, o óleo fazendo com que deslizasse facilmente em seu interior. Segurava a cintura do mais alto com firmeza, puxando-o em direção de seu quadril, chocando pele com pele até que, em um grito abafado, não fora capaz de conter o próprio orgasmo.

Teve de se curvar sobre o maior para se manter equilibrado, Chanyeol ainda gemia seu nome, baixinho, e manteve-se dentro do mesmo por uns instante, tentando aproveitar cada segundo. Mas ele ainda não havia terminado e, acanhado como sempre, perguntou se não podiam trocar as posições.

Baekhyun sorriu e se afastou, puxando o maior para um abraço, beijando-o com ternura. Achava engraçado como Chanyeol ainda parecia um tanto envergonhado com aquilo. Obviamente não era um problema pois, apesar de preferir senti-lo por dentro, gostava de como ele o deitava no chão e tentava fazê-lo sentir o mesmo. Chanyeol não era um rapaz agressivo, muito menos grosseiro. Agora estavam deitados sobre as roupas estiradas no chão, o antigo príncipe com o maior entre suas pernas, empurrando o quadril contra o seu. Era curioso como, sendo passivo ou ativo, ele continuava gentil e manhoso. Seus gemidos continuavam o mesmo, por mais que fosse ele que estivesse possuindo-o agora.

O rosto de Chanyeol estava avermelhado e os fios muito negros caíam sobre seu rosto. Esticou sua mão esquerda e tocou o rosto acima do seu, deslizando a ponta e retirando os fios do caminho, tentando sentir o calor e textura daquela pele com a única mão verdadeira que lhe restava. Os olhos escuros, que antes estavam fechados, encontraram os seus com aquele toque.

“Eu realmente amo você.” Disse a Chanyeol, que arregalou os olhos e parara por uns segundos os movimentos. Desde que se confessara ao gritar dentro da caverna, não havia dito aquilo novamente, mas sabia que o maior precisava ouvir aquilo, pois aquecia seu coração. Baekhyun, apesar de ter ficado mais ríspido com relação a declarações, não mentia ao dizer aquilo. Percebeu, então, um sorriso acanhado brotar nos lábios do mais novo, que voltou a se mexer, atingindo-o fundo até que ele mesmo não aguentasse mais e o ápice fizesse seu corpo tremer. Ele o abraçou com força, enfiando o rosto na curva de seu pescoço, encolhendo-se como um filhote em busca de proteção. Deu uma pequena risada, afagando as costas do rapaz.

“Eu também te amo…” Murmurou ele de volta, a voz grave quase sumindo por tamanha vergonha. Baekhyun o acomodou em seus braços, sabendo que Chanyeol ficaria escondendo o rosto e agarrando-se ao seu corpo por alguns minutos, ainda mais por conta das pequenas declarações que trocaram. Deu-lhe um beijo na testa e fechou os olhos, pensando se alguém como o mais novo merecia alguém como ele.

***

Dias e mais dias se passaram. Semanas, meses…

Contemplar um trabalho feito por suas próprias mãos, algo que realmente dera certo, podia encher o peito de orgulho daquele que o fizera. Chanyeol segurava um papel amarelado junto ao peito, papel este que sabia ter o desenho do dirigível que havia imaginado, e que agora estava a frente de ambos, perfeitamente montado. Os olhos do mais novo pareciam cheios de lágrimas enquanto ele contemplava seu trabalho, abraçando os rabiscos contra si. Seus lábios tremiam e Baekhyun percebeu o quanto aquilo significava para ele. Esticou sua mão mecânica para afagar aqueles cabelos negros.

“Está incrível.” Disse a ele, sorrindo ao ver que ele dava uma pequena risadinha desconcertada, tentando limpar as lágrimas que escorriam por suas bochechas.

“Obrigado.” Agradeceu, tentando conter a animação já evidente em sua voz.

“Pelo vistos esses seus rabiscos não eram só coisa da sua cabeça, não é mesmo?” Brincou, fazendo-o sorrir. “Confesso que quando você caiu, achei que tinha batido a cabeça por insistir em dizer que havia estudado e ido aulas de como construir e pilotar um dirigível.” Continuou, agora afagando a cintura o mais alto. “Meu dinheiro foi todo embora, mas ao menos você tem seu dirigível e eu tenho nosso meio de subir…”  Percebeu que o sorriso do mais branco diminuíra com aquela informação, sua expressão tornando-se um tanto preocupada. Deslizou então sua mão verdadeira pela nuca do outro, acariciando os fios e a tez.

“Eu espero que não me odeie por isso, Chanyeol, mas precisarei de sua ajuda mais uma vez… Eu tenho que acertar minhas contas...”

***

Dirigíveis possuíam um cheiro distinto. Uma mistura de cheiro metálico, com fumaça e do material usado na parte do balão. Será que o mais novo gostava daquele aroma? Será que o barulho das engrenagens girando e do motor eram como música aos ouvidos daquele que possuía tanta paixão pelo que havia construído? De certa forma, desejava que Chanyeol não tivesse feito o veículo para ajudá-lo em seu objetivo. Mas sabia que precisava subir, precisava buscar justiça pois não havia mais porquê enfrentar tantos perigos na superfície.

“Baekhyun… Como é que vamos entrar mesmo?” Questionou o maior, concentrado em pilotar o dirigível. Pela primeira vez, era capaz de ver Chanyeol agindo com completa confiança, sem hesitar, suas mãos sabiam onde tocar, e percebeu ali que ele realmente estava se sentindo em casa, por mais que parecesse nervoso com o que estavam prestes a fazer.

“Subornar alguns guardas e pedi-los para enganar outros é mais fácil do que você imagina.” Disse a Chanyeol, enquanto ajeitava a luva em sua mão de metal e cobria o braço com a manga longa do capuz. “Você só precisa de uma boa quantidade de dinheiro e pessoas dispostas a aceitá-lo. O salário dos guardas da cidade e dos guardas reais não são exatamente os melhores, pois meu pai fez questão de não querer dar mais dinheiro do que ele acha necessário. Ele é realmente um homem adorável...” Murmurou quase que para si mesmo, rindo da sua própria ironia. “Nosso dirigível não será interceptado, fiz questão de acharem que somos comerciantes de Feanor trazendo tecidos para a família real.” Explicou novamente, e o maior ficara em silêncio por alguns segundos.

“Mas… E o castelo…? Não deve ser fácil entrar...”

“Vivi quinze anos da minha vida naquele castelo.” Disse Baekhyun, novamente dando uma risada amargurada. “Se tem alguma coisa que conheço, são as passagens secretas e os corredores menos vigiados. E já te disse… Você não precisa entrar, é só me esperar onde indiquei no mapa.” Passaram uma semana inteira estudando os planos que havia bolado para o que estavam prestes a fazer. Baekhyun até mesmo desenhara um mapa preciso do castelo, mostrando o que ele deveria fazer. Não queria arriscar a vida de Chanyeol. Se algo acontecesse a si, ele poderia fugir e se salvar.

De repente, um som de sinetas ecoou. Baekhyun se dirigiu para frente do veículo e sentiu o coração disparar com a visão a sua frente. A cidade de Mal’loki estava logo ali, em meio às nuvens, os pássaros voando sobre ela, a luz do sol iluminando todo seu esplendor. Seu coração, de repente, passou a bater forte. O castelo estava logo ali, enorme e grandioso como sempre fora. Este, seu antigo e primeiro lar. Achava que tinha desfeito completamente os laços que o prendiam ao seu passado, mas ver o local no qual nascera, depois de tantos e tantos anos, estava mexendo com suas emoções. Chanyeol olhou rapidamente para si, provavelmente preocupado em saber como se sentia. Mais uma vez, como sempre fazia, forçou uma expressão apática, tentando enterrar em sua alma qualquer sentimento que pudesse fazê-lo voltar atrás. As sinetas continuavam a tocar, indicando que o dirigível se aproximava da cidade.

“Toque o sino de volta.” Instruiu Baekhyun, e o mais novo o fez, respondendo aos cidadãos de Mal’loki sua chegada. “Nós vamos parar praticamente em frente aos portões do castelo. Lembre-se, Chanyeol: se em vinte minutos eu não aparecer no local que combinamos, vá embora!”

“Baekhyun…” Tentou dizer ele, mas não fora capaz de completar pois havia lhe dado um beijo forte nos lábios, puxando-o pelo pescoço para que ficasse a sua altura.

“Esse foi nosso combinado. Você me deu sua palavra.” Lembrou a ele, e Chanyeol mais uma vez tentou afastar as lágrimas que enchiam seus olhos. Ele era, de fato, um bebê chorão, mas o fato de ser tão transparente com seus sentimentos fazia com o amasse ainda mais. Deu-lhe mais um selinho demorado, tentando acalmá-lo. “Você sabe que eu não morro tão fácil, não é? Já passamos por coisas piores e estamos aqui. Isso só vai durar menos de vinte minutos. Logo, logo estaremos longe daqui, você vai ver.” Tentou acalmá-lo.

Baekhyun sabia, porém, que não seria tão fácil assim. Uma coisa era enfrentar seres não tão inteligentes, que agiam basicamente por puro instinto, mas enfrentar seres humanos racionais, portando armas… Era algo completamente diferente. O grau de periculosidade era, de fato, incrivelmente maior. Contudo não possuía coragem suficiente para dizer aquilo ao rapaz alto a sua frente, que tentava não tremer e o segurava com força, parecendo temer que sumisse de vez e o deixasse sozinho.

Não tiveram tempo de dar outro beijo, porém, pois um guarda gritava para que mostrassem os documentos de identificação do dirigível. Chanyeol ainda tremia um pouco ao segurar os papéis, então resolveu tomar as rédeas, pegando das mãos do outro e caminhando até a porta de entrada do dirigível. Baekhyun, então, passou a usar o sotaque mais parecido com de Feanor que lhe era possível lembrar.

“Bom dia, senhor!” Disse sorrindo, entregando o documento com sua mão esquerda, também enluvada. Não seria inteligente arriscar usar sua mão mecânica. “Como vai a família?!” Perguntou, como cortesia. Cidadãos de Mal’loki apreciavam perguntas do tipo, a maioria possuía orgulho em falar sobre a vida pessoal.

“Vão bem, senhor!” Respondeu o guarda, abrindo um enorme sorriso. “Minha filha acabou de entrar pra Universidade Real!” Baekhyun, ainda sorrindo, percebeu como aquilo era realmente importante. Universidades Reais eram caras, geralmente apenas filhos da elite conseguiam entrar, mas Mal’loki abria pouquíssimas vagas para que cidadãos comuns pudessem tentar. A prova era incrivelmente difícil, então era compreensível o homem, que era apenas um guarda fiscal de transportes, estivesse tão orgulhoso.

“Mas que maravilha! Que ela traga bonança à sua família!” Aquela frase era um ditado popular entre os cidadãos das montanhas, contudo, os nascidos de Mal’loki usavam-na bem mais que as outras cidades.

“Bonança para sua família também!” Disse ele de volta. Após isso, ele se calou por uns segundos, analisando o documento em mãos. Obviamente aquele era um documento interceptado porém, original. O homem sorriu novamente, carimbando o papel e entregando-o de volta. “A entrega é aqui mesmo, senhor. Pode descer com o material!”

“Obrigado!” Respondeu, observando o homem se afastar. Chanyeol, que observava tudo atrás de si, colocou uma mão sobre o coração, respirando fundo. “Vamos, precisamos colocar as sacolas para fora.

“Você acha que vai conseguir… Sair com aquela…?” Questionou ele, colocando uma sacola marrom escura sobre o ombro, repleta de tecidos dentro. Baekhyun olhou para o saco que Chanyeol havia indicado e, por um breve momento, vira um movimento dentro dela.

“Os testes que eu fiz marcavam o tempo correto até o efeito passar… E você sabe que, se tem alguém entre nós dois que consegue carregar aquele peso, esse alguém sou eu.” Sorriu em direção a ele, indicando o braço mecânico. O maior concordou com a cabeça e, por fim, ao colocar a rampa para saírem do dirigível, passou a descer com a sacola nas costas. Desceram todas, inclusive aquela que haviam conversado sobre.

Estavam ajeitando-as sobre o cão de tijolos cinza e, a partir dali, Baekhyun começara a observar ao seu redor. Colocara o capuz sobre a cabeça e, ao jogar o próprio saco pesado sobre o ombro direito, fora parado pelo mais novo, que o segurou rapidamente pelo pulso esquerdo.

“Boa sorte…” Murmurou ele, mordendo os lábios em seguida. “Eu te amo…” Sua voz soara incrivelmente mais baixa, talvez por medo de serem ouvidos, talvez por receio de aquela declaração soar como um adeus. Sorriu, então, de volta, acenando com a cabeça.

“Eu…” Sussurrou, sentindo a garganta travar. Não era fácil falar aquilo, principalmente dada a circunstância na qual estavam. Mas ao lembrar de sua queda ao lado de Yixing, a queda que fizera toda sua vida mudar e a dor por não ter conseguido se declarar novamente para seu antigo amor, resolveu que deveria fazer um esforço, pois aquela poderia ser a última vez. “Também te amo…” Completou, finalmente se afastando, deixando Chanyeol para trás quando nenhum fiscal estava mais por perto. Tentou gravar bem o rosto, o aroma e o sabor do outro em sua mente, pois caso aqueles fossem seus minutos finais, queria partir tento em mente o rapaz que derretera seu coração após tantos anos endurecido.

***

Castelos sempre foram construções esplendorosas, e o de Mal’loki era, com toda certeza, incrivelmente belo. Podia ser avistado ao longe, pois era o destaque da cidade, em meio as suas pequenas casas e outros prédios. Plebeus sonhavam em poder andar em seus corredores, pessoas da elite almejavam colocar seus filhos e filhas a qualquer custo para morarem entre suas paredes, nem que tivessem de casá-los com outros membros de status mais baixos da família real, como duques e condes.

O que muitos não sabiam, porém, era que castelos também podiam ser lugares repletos de segredos e horrores. Seus calabouços frios e úmidos eram desumanos. Sujos, repleto de ratos, passavam a ser o novo lar de criminosos e pessoas que, infelizmente, foram incriminadas injustamente. Mas o que era completamente fora dos pensamentos das pessoas, eram as passagens secretas.

Tais passagens existiam em todos os castelos das famílias reais, e apenas os membros principais da realeza tinham conhecimento desses locais, pois eram o único meio seguro de escaparem caso um ataque acontecesse. Eram a solução final para a sobrevivência da família e, por sua tamanha importância, apenas os reis, rainhas e seus filhos poderiam saber como andar pelos corredores secretos. Até mesmo alguém que descobrisse uma passagem, poderia se perder e acabar morto, pois alguns lugares eram repletos de armadilhas para evitar invasores.

Apenas seis quartos no castelo possuíam acesso às tais passagens. Quatro em aposentos de príncipes e princesas, um em um quarto vazio, atrás do salão principal, e um dentro do quarto do Rei e da Rainha. Todos eles eram ligados a três saídas: uma que dava para os fundos do castelo, esta sendo complicada pois era necessário um dirigível para saírem dali, caso contrário dariam de cara para o abismo. Uma que ligava o castelo diretamente para os esgotos. Obviamente a maior parte da família real odiava a ideia de submeter a essa opção, mas era a mais segura. E a última era a que dava acesso à lateral do castelo, onde parte do lixo real ficava, sendo esta relativamente próxima ao portão principal, e era justamente por essa que estava a entrar.  

Seu coração batia forte naquele momento, tão forte que podia jurar que o ouvia ecoar pelos corredores úmidos e estreitos. A sacola em suas costas era pesada e, de vez em quando, resolvia arrastá-la com sua mão mecânica. Com a mão boa, agora portava uma pequena tocha, a qual emanava um calor insuportável, mas infelizmente era necessária para conseguir enxergar o caminho. Ouviu então um chiado baixinho ecoando de dentro do saco marrom. Tinha de ir rápido.

Subira e descera algumas escadas, desviara de pequenas esquinas onde a morte era certa por culpa das diversas armadilhas. Já estava exausto, sua sacola se mexia cada vez mais e aquilo era um problema. O soro estava, por fim, deixando de fazer efeito. Precisava correr, sabia disso. Chegara, então, em uma parte crítica: a torre leste do castelo, que nunca era ocupada. Obviamente alguns guardas passavam por ali de vez em quando, mas a torre não possuía nenhum propósito, a não ser um pequeno alçapão que ligava um quartinho estreito a continuação da passagem, em uma das paredes.

Conseguira abrir o alçapão de madeira e ferro, que já se encontrava um pouco enferrujado. Um estalo um pouco alto ecoara pelo local, mas o castelo era grande demais para alguém ter realmente ouvido. Subiu pelo pequeno lance de escadas, arrastando a sacola atrás de si para logo fechar o alçapão. Deu, então, um suspiro para tentar recuperar o fôlego. Porém, um homem o olhava assustado, parado em frente a porta da torre.

Antes que ele pudesse sacar sua espada, Baekhyun arrancara de sua calça uma adaga prateada, jogando-a na perna do homem que tentara soltar um grito de dor. Sua espada caíra no chão que, pelo menos, não reverberou o som por ser de madeira. Jogou-se, então, sobre ele, batendo sua cabeça contra a parede antes que pudesse realmente gritar e, após isso, ele parara de se mexer.

Respirou fundo, sentindo um desespero e medo dentro de si, os quais tentou engolir a força para não tomarem conta de sua mente. Colocou dois dedos sobre o pescoço do homem e percebeu que havia pulso ali. Ele estava apenas desmaiado. Correu para a sacola, abrindo-a e retirando um tecido de dentro. Rasgou-o rapidamente com ajuda da adaga ensanguentada, usando das tiras para amordaçar o homem e prendê-lo ali. Agradeceu mentalmente aos céus por ter pedido vinte minutos a Chanyeol, pois sabia que algum imprevisto poderia acontecer.

Amarrou novamente a boca da sacola marrom e abrira a porta secreta na parede logo a frente, sumindo através dela, torcendo para que ninguém desse falta tão cedo daquele guarda. Faltava pouco agora, estava quase lá.

Seu coração batia extremamente forte, finalmente estava de frente para a porta final, tudo o que precisava fazer era abri-la. Fechou os olhos por alguns segundos, tentando respirar normalmente e, ao mesmo tempo, tentando reunir forças. Sentiu a sacola se mexer novamente, em um chiado nervoso um pouco mais alto ecoou ali. Não podia mais demorar, agora não havia mais volta. Com sua mão esquerda, empurrara a porta, revelando, diante de seus olhos, um quarto luxuoso, com uma cama gigantesca diante de si, e um homem deitado sobre ela.

“O que…?” Ouviu a voz grave dizer. Os olhos castanhos claros daquele homem, que agora aparentava estar incrivelmente obeso, encontraram os seus. Eles possuíam o mesmo tom de castanho; afinal de contas, a genética era algo realmente incrível. “O que diabos.. Guard-”

Antes que pudesse gritar, Baekhyun já estava ao seu lado, cobrindo-lhe a boca e apontando a adaga em direção ao pescoço. Teve de soltar a sacola para trás, mas se suas contagem de tempo continuava correta, ainda possuía alguns minutos seguros para se manter afastado.

“Tem certeza de que quer gritar?” Sussurrou em direção a ele, encostando a lâmina fria e já suja de sangue na tez do homem na cama. Foi, então, que ouviu uma risada tentar escapar por entre seus dedos. Ele estava rindo.

“Ora, ora…” Disse o homem quando finalmente retirara a mão de cima de seus lábios finos. “Achei que tivesse morrido.” Completou, ainda parecendo achar graça do que estava acontecendo. Tentou não parecer abalado com a voz daquele homem que, infelizmente, era seu progenitor. “O pobre principezinho que ‘morreu por ser frágil demais’ na verdade está vivo, quem diria? Achei que havia me livrado dessa sua imundice!”  

Baekhyun fechou os olhos rapidamente, apertando os punhos. Ouvi-la falar era como estar em um pesadelo. Talvez, como estar de volta ao pesadelo que tivera de enfrentar aos quinze anos de idade. Respirou fundo, tentando manter a calma.

“Morrer por ser frágil demais? Essa é a mentira que você criou pra esconder que mandou me jogar da montanha?” Perguntou, rindo em amargura e deboche. “Achei que fosse um velho mais criativo.”

“Ora, mas todo mundo acreditou, não é mesmo? Quem não acreditaria? Um príncipe tão pequeno e magrinho, que muitos diziam ser afeminado demais, como uma menininha delicadinha. Obviamente uma forte gripe iria te matar. Não é difícil acreditar.” Baekhyun, novamente, teve de se acalmar.

Olhou bem para aquele homem, aquele que deveria tê-lo amado acima de tudo. Seu próprio pai, contudo, fora aquele que lhe sentenciara a morte e ele sequer demonstrava qualquer remorso. Como uma pessoa poderia ser assim? Como um pai poderia fazer aquilo com o próprio filho? Ele era praticamente uma criança… O moreno tentava, com muito esforço, não dar o gostinho de chorar em frente aquele monstro.

“E como vai aquele outro veadinho que você namorava? Aquela bichinha, qual era mesmo o nome daquele servo sujo? Era um nome bem de ralé, não consigo lembrar.”

“Cala a boca!” Aumentou a voz, cortando a frase do pai. “Não ouse… Falar dele.” Completou, os olhos começando a encher de lágrima. Estava sendo cada vez mais difícil manter a compostura.

“Oh, tadinho… Ele morreu, é? Pelo menos vimos que o sangue real é mais forte, não é mesmo? Porque a ralé morre fácil, fácil. Mas olhe pra você… Parecendo um homem de verdade. Se você fosse assim quando menor, talvez não tivesse criado essas ideias de mulherzinha e…”

“Para!” Cortou novamente. “Cala essa sua boca imunda!” Insistiu, ouvindo uma risada grave do Rei a sua frente, que repousava a mão sobre a barriga enorme. Ele tossiu algumas vezes, parecendo perder um pouco do fôlego. Ao que tudo indicava, aquele peso em excesso não permitia que se levantasse tanto daquela cama. Ouviu, porém, um chiado mais alto e os olhos castanhos claros do homem focaram na sacola atrás de si, que agora possuía um movimento mais frenético dentro dela. Baekhyun, então, sorriu. “Ah é… Trouxe algo para você…” Disse, abaixando-se para desamarrar a sacola. Vários tecidos estavam ali dentro, contudo, fora jogando todos para fora, até puxar totalmente de dentro o corpo de um Smiley encapuzado, que estava um pouco mole pelo calmante que havia lhe injetado algumas horas atrás.

“O que-”

“Pois é, papai.” Falou, debochado, segurando a corda ao redor do pescoço daquela criatura, tentando estabilizá-la de forma segura para que não fosse atacado. “Nós sempre lemos sobre os tais Raens… Frutos dos feitos dos nossos antepassados, mas nunca realmente vimos um pessoalmente. Criaturas fantásticas, os Raens…” Murmurou, olhando para o que estava segurando ali, sentindo seu coração pesar, e os olhos voltavam a se encher de lágrimas. “Lá em baixo eles são chamados de Smileys, mas continuam sendo a mesma coisa, no final das contas… Continuam amando o cheiro de sangue...” Naquele momento, o Rei tocara o pescoço, sentindo como o pescoço estava sujo do líquido vermelho que antes estava na adaga que fora colocada contra si. Baekhyun jogara a lâmina perto de sua cama e retirara uma arma de pólvora de seu bolso com a mão esquerda, fazendo com o que o homem na cama enrijecesse os músculos. “Um tiro não é capaz de matar um Raen durante o dia… Durante a noite, se você der uns cinco, é capaz de matar um… Isso se ele não te matar primeiro. Mas ao menos dá para atrasá-lo até que alguém o salve.”

O Smiley agora se debatia mais e mais. Baekhyun, então, escutou o barulho de um dirigível se aproximando, percebendo que Chanyeol se aproximava. Estava quase na hora, não poderia mais se alongar. Colocou a arma em questão sobre a mesa no centro do quarto e deu alguns passos para trás, até encostar na parede do outro lado do cômodo, perto da saída para a sacada, onde o outro parecia estacionar o veículo aéreo.

“Ao contrário de você, eu não sou um assassino…” Disse ao pai, sentindo as lágrimas escorrerem de seus olhos. “Eu vou te dar a oportunidade de conseguir se livrar disso, mas… Guarde bem esse rosto.” Instruiu, retirando o saco que tapava a cabeça da criatura. “O rosto que foi deformado por sua causa! O rosto da pessoa que eu tanto amei, o rosto do rapaz que foi destruído porque você o jogou junto com seu próprio filho!” Se segurava para não gritar, pois sentia tamanha dor que crescia em seu peito, ainda mais por segurar o Smiley que um dia fora aquele rapaz doce que o amara de todo o coração. “O nome dele era Yixing… Lembre-se bem disso se conseguir sair vivo…”

Naquele momento, arrancara a mordaça da boca em formato de sorriso de Yixing ele começara a andar, cambaleando, ainda que num ritmo rápido, em direção a seu pai. Baekhyun sussurrou um ‘adeus’, mais para o Smiley, do que para seu progenitor. Virou, então, de costas e correu pela extensa sacada, indo em direção ao dirigível que estava praticamente estacionado ao lado da mureta.

“Baekhyun!” Gritou Chanyeol, esticando a mão em sua direção. Ele ainda estava um pouco longe e, por pouco, não caíra da sacada ao tentar alcançá-lo. “Baekhyun!” Gritou o maior novamente, se esticando mais. Após uma outra tentativa, conseguira segurar a mão do outro, que o puxou para dentro do dirigível e foi naquele momento que ouviram um disparo ecoar dentro do quarto do Rei.

Baekhyun se engasgara ao tentar falar algo e, com a mão esquerda tremendo, encostou na lateral de sua cintura, sentindo o sangue quente de seu corpo sujar sua palma. Os olhos de Chanyeol se arregalaram quando o vira cair de joelhos no chão do dirigível. Seu pai havia apontado a arma em sua direção, e agora Yixing avançava para cima do homem, que começara a gritar desesperadamente ao ser atacado pela criatura.

“Baekhyun!” Chanyeol se jogara ao seu lado, desesperado para tentar ajudá-lo.

“Chanyeol… Dirige…” Sussurrou, sentindo dor ao se arrastar para o canto do veículo, tentando se proteger de algum outro disparo que pudesse ocorre. “Dirige… Agora!” Gritou, sentindo a dor em sua cintura. O maior mesmo levemente hesitante, correra para frente do dirigível, dando a partida e usando de toda a potência que o motor possuía para que saíssem logo dali. Podiam ouvir barulhos e gritos ecoando pelo castelo enquanto se afastavam cada vez mais.

“Merda…!” Murmurou, se encostando contra a parede gelada, pressionando a ferida que escorria sangue demais. “Chanyeol…” Chamou ele, e o maior esticara a mão para trás, tentando encontrar a sua enquanto ainda dirigia para longe, pois ainda era possível ver a cidade de Mal’loki. Precisavam se afastar mais para estarem completamente seguros. Sentiu-se um tanto triste ao fechar os dedos ao redor da mão do outro, por não poder sentir o calor e a textura de sua pele com a mão mecânica. “Chanyeol… Vamos brincar de ‘eu me recuso’?” Disse, dando uma risada.

“Baekhyun, isso não é hora-”

“Eu começo…” Murmurou, sendo cortado pelo próprio gemido de dor ao tentar apertar ainda mais o ferimento em sua cintura. “Você me ama, Chanyeol?” Perguntou, tentando respirar compassadamente.

“É claro que eu amo!” Gritou o mais branco, apertando sua mão mecânica, tentando dividir a atenção entre o dirigível e ele. “Para de falar assim, por favor?!”

“Eu me recuso a parar de falar assim…” Respondeu, tentando fazer uma brincadeira. Mas rir fazia com que seu ferimento doesse mais.

“E eu me recuso a te deixar falar assim, você não vai se despedir de mim, não agora! Só quando você for um velhinho grisalho e sem dentes!” Gritou ele, começando a chorar e tentando afastar as lágrimas de seus olhos com o antebraço.

“Não é assim que se brinca, Chanyeol…” Disse a ele, contudo, sentia sua visão ficar turva, a dor era muito grande. “Chanyeol… Eu não sinto minhas pernas…” Murmurou, as lágrimas quentes finalmente escorrendo por seu rosto cansado. “Não sinto minhas pernas…” Disse novamente, sua visão estava ficando cada vez mais turva, e a última coisa que ouvira antes de tudo escurecer fora o mais novo gritando seu nome.

***

Sonhos são importantes na vida dos seres humanos. Sonhos nos fazem ter ter forças para torná-los realidade e continuar vivendo. Sonhos são motivadores, são o combustível que alimenta a alma. Sonhos são os criadores da esperança, e a esperança, por mais que a vida fosse injusta, dificilmente era arrancada dos corações das pessoas.

***

A brisa fresca batia levemente em seu rosto, como um beijo delicado em suas bochechas, juntamente com a luz dos raios de Sol. O cheiro de água salgada era cômodo, assim como o barulho de ondas se quebrando na areia. Gostava da sensação de estar de olhos fechados, aproveitando aquela simplicidade.

Abrira calmamente os olhos depois de um tempo. Estava sentado em frente a janela, bem acomodado em sua larga cadeira, as pernas cobertas por um lençol e as mãos repousando sobre elas. De repente, braços longos o envolveram por trás, e um beijo fora depositado em sua bochecha. Chanyeol lhe entregara um copo de chá, pois mesmo com a luz do Sol inundando aquele casebre, ainda estava um pouquinho frio.

Ele deitara a cabeça sobre a sua e Baekhyun sabia que estava sentindo o aroma de seus cabelos castanhos. O maior ainda o abraçava e o antigo príncipe gostava de sentir o calor do corpo esguio envolvendo-o. Logo levou suas próprias mãos para acariciar os braços longos, distribuindo uns beijos sobre a tez.

Às vezes se perguntava se aquela nova vida era realidade ou apenas um sonho, já que muitos diziam que o céu era feito das coisas que a pessoa mais amava. Mas saber se era real ou imaginação não era realmente importante, no final das contas. Depois de tanta dor, tanto sofrimento, tanto cansaço… Estava, por fim, feliz e tranquilo no lugar que sempre quis estar. Seu passado, agora, não passava de um pesadelo distante.

“Baekhyun… Algum dia você pretende me deixar?” Murmurou Chanyeol, os lábios contra sua cabeça enquanto depositava pequenos beijos ali. Abriu um sorriso, percebendo como o maior continuava docemente bobo. Tocou-lhe o rosto, acariciando a pele branca do rapaz mais novo que caíra dos céus para ser apenas seu. E então disse , com um sorriso no rosto:

“Não… Eu me recuso.”

    

 

 

 

 

 

*


Notas Finais


Bem, chegamos ao fim de mais uma fanfic! Sorrisos Sob a Montanha é, oficialmente, minha nova maior fic até agora! Queria muito escrever um textão para agradecer todo o carinho, mas vocês sabem como foram importantes pra mim, certo? Agradeço, do fundo do coração, a todos vocês que leram até aqui! Muito obrigada mesmo!

Espero que não tenham estranhado a narrativa ser na visão do Baekhyun. Agora falando sobre a escolha do final... Foi difícil para mim, vou ser sincera... E olhem, o final é basicamente em aberto. Aquilo é realmente o céu de Baekhyun ou vocês acham que eles conseguiram achar a cidade em meio ao mar que ele tanto amava e tinha esperanças de achar? Eu acho que precisava terminar assim, vocês podem escolher qualquer final que ele será o certo. Nem todos os finais precisam ser "cravados" e completamente "mastigados". Usem um pouco o coração de vocês, a criatividade de vocês, a mente de vocês... E interpretem como acharem melhor, da forma que acharem mais condizente. Não exijam do autor finais 100% explicadinhos, nem sempre histórias terminam assim. Tudo bem? <3

Sobre o tiro: Baekhyun se arriscou DEMAIS entrando no castelo. Foi um plano perigoso, extremamente perigoso... Vocês devem ter percebido que a história inteira é assim: há consequências. A vida dele nunca foi fácil, a decisão de entrar naquele castelo foi ainda mais difícil. Ele ou Chanyeol saírem TOTALMENTE ilesos seria, meio fácil demais.

Mas sério, não se irritem comigo. Aquele final pode, sim, ser o céu do Baekhyun com o Chanyeol como também pode ser o lugar que ele tanto queria achar, afinal, havia algumas evidências da existência dessas cidades nas ilhas! Ele pode muito bem estar lá com o Chanyeol ao seu lado, vivendo tranquilamente sua vidinha <3

NENHUMA DAS DUAS INTERPRETAÇÕES ESTÃO ERRADAS, AS DUAS ESTÃO CERTAS! O final é dos dois felizes, independente da onde eles estejam, acho que é bom deixar isso claro.

Num geral... Espero que tenham gostado do final e de nossa jornada por 16 capítulos. Novamente, muito obrigada!

PS:
Muitas das palavras usadas aqui foram retiradas de dicionários Élficos, de Senhor dos Anéis. Não garanto que estejam 100% corretas, mas deixaria aqui a lista de cidades existentes na fic (incluindo aquelas que NÃO FORAM citadas)

SUBCIDADES
1. Nost (fortaleza)
2. Ereg (espinho)
3. Wethril (sombrio)
4. Namaarie (despedida)
5. Amarth (condenação)
6. Lomi (eco)
7. Calen (verde)

CIDADES DAS MONTANHAS
1. Mal'loki (dragão dourado)
2. Elenath (estrelas)
3. Feanor (espírito de fogo)
4. Undome (noite)
5. Valya (autoridade divina)
6. Yuula (brasa)
7. Minas'Mir (minas - torre ; mir - jóia)
8. Rah'Edan (centauro)
Quem tiver curiosidade em saber como são as cidades das montanhas, elas são mais ou menos assim:
https://mattbrett.com/wp-content/uploads/2013/04/bioshock-infinite-columbia.jpg

Vejo vocês na próxima fanfic!
twitter: @tiinkerbaek com dois "i"s


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