História SoulMate - V. Drizzle

Yoonie: O que é agora?

Hoseok: Queria conversar sério com você, podemos nos encontrar em algum lugar? Para esclarecemos as coisas direito...

Yoonie: O que você está tentando fazer? Achei que você tivesse deixado bem claro que não gostava de pessoas que brincavam com outras.

Hoseok: Se você pudesse me dar a chance de me escutar veria o quanto eu estou arrependido!

Yoonie: Se for pra ficar me perturbando com falsas palavras de perdão não perca o seu tempo com isso, o que tinha que ser resolvido já foi. Não me perturbe mais, estou estudando.

O usuário não está mais disponível.

Hoseok: Não faz isso!

Hoseok: Aish, eu não vou te perturbar mais.

Parabéns Hoseok, você acabou de ferrar as coisas completamente, se ele antes estava com raiva de mim, aposto que agora queria me ver morto, nem falar com ele eu consigo mais.

Aceitar meus sentimentos pelo Yoonie – eu ainda posso chama-lo assim? Até agora não sei seu nome verdadeiro – foi um trabalho mental muito forte vindo de mim, as palavras do Jimin me fizeram refletir sobre as coisas que estou fazendo com a minha vida, e que eu deveria parar de ser um completo medroso, assumir as coisas que faço e as coisas que eu digo. Magoar uma pessoa como magoei ele, estava fora de todos os meus valores.

Mesmo que eu tente esconder isso, sempre minha mente acaba voltando no mesmo ponto, não é como se eu estivesse controlando ela.

Meu terrível sábado foi eu em frente a um computador, pensando em formas de concertar tudo isso, me machucando cada vez que entrava no perfil dele, não era como se eu pudesse jogar dois meses de conversa fora e reler elas só ajudou mais ainda a me deixar para baixo. Resolvi que dormir seria a melhor opção – não sabe o que fazer? Durma, isso mesmo.

❖

Acordei com meu computador em cima de mim. Do mesmo jeito que eu estava ontem eu estava quando acordei, só que além da tristeza tinha um punhado de dúvidas em minha cabeça. Era domingo, não tinha nada para me distrair, nem sair para uma das minhas tentativas de encontrar um emprego eram válidas hoje e ficar trancado em casa não adiantaria nada. Saindo da cama me esforço para não abrir o computador e olhar o SoulMate, tomei um banho rápido e coloquei um moletom qualquer. Desci as escadas e minha mãe gritou da cozinha me perguntando para onde estou indo tão cedo, falei um lugar qualquer que veio na minha cabeça e sai. Ela não gostaria nada de saber que seu filho as 9:00 da manha estava vagabundeando pela rua.

Andando pela rua, com o vento batendo na minha cara e o sol quase tampando minha visão, penso no Jimin. Como ele ainda me aguenta? Eu preciso me desculpar com o mesmo urgentemente, eu não vivo sem o Jimin-ah para desabafar. Quando vi, já estava em frente a sua casa. 

Respiro fundo, estava apreensivo de conversar depois da nossa discussão, porém eu tinha que falar com ele sobre isso e começando com desculpas não seria nada mal, não é? Eu já estava acostumado a pedir desculpas, mesmo. Toquei a companhia e logo os passos preguiçosos de Jimin podiam ser escutados vindo em direção a porta. Ela não é aberta, nem uma voz se quer se pronuncia, vejo que a porta possui um olho mágico e talvez – com certeza – Jimin não queira falar comigo. Decidi apelar e começo a bater na porta, uma hora ele vai ter que abrir.

— Jimin! Eu sei que você está ai, abre logo essa porta eu preciso falar com você!

Algum tempo depois o mesmo resolve me responder.

— Eu estou cansado do seu comportamento infantil, fazendo as coisas no impulso, não percebe que isso está te machucando?!

Aquelas palavras me acertaram em cheio, era mais fácil eu admitir para mim mesmo isso do que alguém falar na minha cara.

— Eu sei que fui infantil, mas...

— Mas o que, eu não posso toda vez que você fizer merda, ir limpar a sua barra ou ficar dando conselhos toda hora, eu também tenho a minha própria vida! Enquanto você não se entender consigo mesmo, não poderei ajudá-lo.

Jimin praticamente gritava do outro lado da porta, quem passasse por perto acharia que o casal ali éramos nós, tendo uma briguinha.

Se eu quisesse a ajuda de Jimin deveria admitir isso para ele, pela primeira vez as palavras que eu tanto temia saíram da minha boca.

— Eu gosto dele, eu gosto da porra de um homem e quero tentar concertar as coisas, está feliz?! Será que você não pode abrir a merda da porta e me ajudar agora?

Minha adrenalina estava nas alturas, nunca tinha gritado com Jimin desse jeito, estava com medo da reação dele. Já me virava para sair, quando escuto os trincos da porta destrancando-se e a porta se abrir com apenas o rosto de Jimin meio tímido me mandando entrar e eu juro que podia estar mais vermelho que um tomate.

Agradeci por seus pais não estarem em casa no dia, assim tornava tudo menos constrangedor...

Sentamos no sofá e por longos minutos não falamos nada, e só existia o som tic-tac do relógio no ambiente.

Fui eu que dei o primeiro passo, expliquei a situação e com a experiência de Jimin, esperava algum conselho bom, mas antes fez seu comentário super amoroso.

— Cara, você tá' um lixo.

— Não precisa me lembrar – suspirei – Eu fiz uma enorme besteir-

— Eu sei, você tá' ferrado – Jimin nem deixou completar a frase para destilar o veneno.

— Agora estou tentando de todas as formas me desculpar com ele mas ele sempre me ignora...

— E com razão, depois daquilo que tu fez com ele, não está mais do que certo!

— Olha, se você vai me fazer sentir mais mal do que eu já estou, é melhor eu ir embora.

Disse ameaçando levantar, Jimin parecia estar em completa calma, mas eu não queria ter que realmente ir embora.

— Eu não estou jogando nada na sua cara, só estou fazendo você enxergar que não pode magoar as pessoas assim e querer que tudo volte ao normal só com um pedido de desculpas seu, quando e na hora que você quer. Já parou pra pensar que ele deve ter ficado muito decepcionado de saber que a pessoa que ele falava a dois meses é a porra de um babaca. Toma vergonha, Hoseok!

Voltei a me sentar no sofá. Eu não gosto de admitir, mas eu adoro esses discursos motivadores do meu melhor amigo.

— Então, o que você acha que eu devo fazer?

— Eu não tenho que achar nada, eu só sou uma pessoa para você desabafar, agora eu não posso dizer o que você tem que fazer, isso tem que vir de você.

Já estava pronto para rebatê-lo quando o seu celular começou a tocar, era Jungkook. Provavelmente eles teriam alguma coisa para fazer, por que depois do Jimin desligar já estava me expulsando de casa.

E como se estivesse voltado ao passado, agora mais do que antes, sem ninguém para me ajudar, sinto minha barriga roncar. Quando olho no relógio já era meio-dia, eu acordei tão tarde assim ou nossa conversa demorou?

Quando botei o pé dentro de casa o cheiro de comida queimada foi a primeira coisa que senti. Já estava na casa toda, era mais uma das tentativas de minha mãe de cozinhar – o que não dava nada certo – sempre acabamos comendo ramén no final, não seria diferente hoje.

Falei para minha mãe que comeria no meu quarto e subi as escadas com um prato de macarrão enorme, que provavelmente alimentaria mais de uma pessoa.

Comi bem rápido, não podia perder tempo. Logo após peguei meu computador para pensar em alguma coisa para fazer, não tinha a mínima idéia de como falaria com ele já que tinha me bloqueado, e agora nem sua foto podia ver mais. Entro nas informações do site para ver se existia alguma forma de falar com ele, até que a solução me apareceu. No site tinha a opção de enviar um coração com alguma mensagem, coisas ridículas de site de relacionamentos. Escolhi o coração mais bonito e enviei junto com a mensagem:

 “Eu  estava errado e fui um tolo por falar coisas que não deveria e ter te magoado não estava nos meus planos, mas agora estou te implorando para me escutar e falar comigo, me dá uma segunda chance!"

Por sorte ou não, Yoon estava online no site, vi que ele tinha visto a mensagem. Tinha duas possibilidades, ou ele me ignoraria ou falaria comigo. Não sabia com quais das duas opções eu estava com mais medo. Alguns segundos depois sua mensagem apareceu na tela. O susto foi tão grande que dei um pulo na cama.

Yoonie: Sério, qual o seu problema?

Hoseok: Graças a Deus, você me respondeu!

Yoonie: Eu vou te dar uns três minutos pra você falar o que você quer.

Respirei fundo, como eu iria fazer isso?

Hoseok: Eu já disse o que eu quero, quero me desculpar e... E te ver de novo!

A resposta demorou a vir, ele provavelmente estaria pensando se aceitaria ou não.

Yoonie: O que te fez chegar a essa conclusão? Você gritou aquelas coisas no meio de um estabelecimento, você tem noção da cara que eu sai de lá? As pessoas não paravam de olhar pra mim, foi muito vergonhoso.

Meu coração apertou de imagina-lo naquela cena. Com certeza não foi nada agradável.

Hoseok: Eu sinto muito! Como eu disse, eu estou arrependido. Eu conversei com algumas pessoas e eu percebi que eu fiz merda. Por favor, vamos começar de novo... Eu prometo não sair correndo.

Yoonie: Espero que não grite também.

Meus olhos se arregalaram, ele aceitou?

Hoseok: Isso foi um SIM???

Yoonie: O que você acha? Hoseok, se você fazer alguma merda de novo eu juro que até pra polícia eu ligo. Estou falando sério.

Hoseok: Prometo, prometo! Onde vai ser?

❖

Marcamos o encontro em uma praça perto de casa, caso dê algo errado e o meu subconsciente mandasse eu fugir seria mais fácil assim. Diferente do primeiro encontro eu não estava tão arrumado, nem com a ansiedade boa de antes, apenas uma sensação sufocante que nunca tinha sentido.

Avistei Yoongi vindo em minha direção entre as árvores. Ele não estava radiante como antes nem com um sorriso nos lábios, o que me deixava com ainda mais medo. Logo ele chegou na mesa que eu estava e sentou de frente pra mim. Só sabia encarar o chão, não sabia o que falar. Eu tinha o texto todo comigo, porém agora as palavras simplesmente sumiram. Ele pigarreou para chamar minha atenção antes de falar.

— E então?

Criei coragem para pelo menos olhá-lo nos olhos, afinal não estou tendo uma conversa com os meus tênis.

— V-você... Você pode me dizer seu nome? Eu não tinha me dado conta que ainda não sabia.

Soltou uma risada sem humor: — Min Yoongi. Era só isso que tinha pra falar?

— Não! C-claro que não! Então, Yoongi, eu...

— Você...?

Vamos lá, Hoseok. Não amarela agora não.

— Eu demorei uma vida pra admitir isso, mas... Eu acho que realmente est-

Não consegui terminar de falar, pois bem no momento um trovão soou tão alto que me fez pular de susto. Odiava ser medroso. Quase imediatamente depois, uma chuva fina começou a cair e logo foi se intensificando. Yoongi se levantou com o cenho franzido olhando pra mim como se eu fosse um bicho estranho.

— Você é idiota? Tá' chovendo, vai ficar parado aí?

Levantei para segui-lo, mas não era como se tivesse muitos lugares ali para se esconder de toda aquela água que caía do céu. Ele correu para baixo de uma árvore, que para ser sincero não ajudou muito.

— O que a gente faz agora? — perguntei sentindo minhas roupas começarem a encharcar.

— Eu que te pergunto, se não fosse por você eu estaria em casa, provavelmente muito bem aquecido e com meus livros.

Yoongi abraçava seu corpo como se assim fosse se proteger um pouco mais da chuva. O olhando assim, percebi que estava com uma blusa branca com listras que o deixava fofo. Mais.

Quando o mesmo falou de casa, me passou uma ideia pela minha cabeça, que dificilmente ele aceitaria.

— Ahm... Yoongi? – o chamei só para saber se estava me ouvindo – Minha casa é aqui perto, se não houver problema pra você acho melhor irmos para lá...

Olhou em volta como se estivesse procurando uma escapatória, algum lugar para se esconder até a chuva passar, mas só havia árvores por ali. Fechou os olhos e respirou fundo, como se ir comigo fosse um sacrifício.

— Eu só vou aceitar porque tenho prova amanhã e não posso ficar doente. Se eu tivesse ao menos dinheiro, pagava um táxi e ia pra casa, mas como não é o caso, paciência. Pra qual lado é?

Estava realmente surpreso pela aceitação do mesmo, mas como a chuva estava ficando cada vez mais forte nada falei.

Quando chegamos lá, minha mãe estava na sala assistindo televisão. Como o sofá ficava de costas para a porta, só avisei para mesma que havia chegado. Resolvi não citar que tinha visita, não queria perturbá-la com mais problemas do que ela já tem. Subimos as escadas em silêncio e no quarto foi a mesma coisa. Yoongi parecia um animal com medo, ficava encolhido o tempo todo. Imaginei que estivesse com frio.

— Você quer tomar um banho? Essa chuva parece que vai demorar pra passar...

Ele fez uma cara de que não iria aceitar tomar banho na minha casa nunca, mas quando o primeiro espirro veio, repensou.

— Acho que sim.

Procurei alguma roupa que não ficasse tão larga nele, afinal ele era bem menor que eu. Acabei dando um conjunto moletom e ele pareceu se contentar.

Enquanto ele estava no banho tive mais tempo para poder pensar. Acho que deveria falar de uma vez, tirar esse peso das costas. Afinal, isso não seria muito novidade, sabe, eu me confessar. Nós estávamos em um site de relacionamentos, certo? Era de se esperar que eu acabasse gostando da pessoa. Quem sabe ele... Ah, esquece, eu não vou me iludir, só vou falar e pronto.

Ele saiu já vestido e aproveitei e entrei logo em seguida. Tentei demorar o menor tempo possível para não deixá-lo desconfortável. Assim que sai, encontrei o mesmo sentado na ponta da cama, balançando os pés. Parecia entediado. Me sentei ao seu lado, um pouco longe. Vai que ele ainda está com raiva e me bate.

— Você quer conversar agora ou...

— Por que você fez aquilo?

Olhei para seu rosto e percebi que tinha o olhar perdido em algum lugar no tapete. Eu sabia a resposta, mas para falar a verdade eu tinha muita vergonha dela.

— Eu... Sabe, não sabia que estava conversando com um garoto.

— Você só pode ser idiota, mesmo. Como não percebeu que eu não era uma garota? Estava óbvio.

— Eu não sei, tá legal? Eu nunca me envolvi com nenhum garoto antes então acho que não me toquei – falei constrangido enquanto ele soltava o ar.

— Eu não acredito que eu me meti numa história dessa. Eu não podia ter pedido amizade de um cara normal? Mandei logo pra você – parecia estar se acalmando, já que seu tom não era mais irritadiço.

— Ei, lembre que você está na minha casa e eu posso te expulsar.

— Muito engraçado, Hoseok.

Agora olhava para o teto sem ter o que falar e não pude evitar de achar como meu nome soava bonitinho com ele o falando.

— Yoongi, eu acho que... Eu posso estar realmente... É, gostando de você – desviei o olhar para qualquer lugar no quarto que não fosse sua cara, eu não iria encará-lo agora, não mesmo.

Comecei a brincar com meus dedos, constrangido com sua falta de fala. Depois de um tempo se pronunciou e pensava que meu coração fosse pular para fora do peito de tão nervoso.

— Sabe, Hoseok, se você prometer não ser um babaca a gente até pode tentar começar de novo. Eu e você, não @yoonie_ e @j_seok.

Virei o rosto para encará-lo e vi que o mesmo também me encarava, tendo um pequeno sorriso no rosto. Não consegui evitar de sorrir também.

Enquanto a chuva caía cada vez mais forte lá fora, eu percebi que nem tudo que a gente acha que precisa é o que a gente realmente quer.