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História Special Needs - Romance Gay - Hold on to me


Escrita por: Amadeo

Notas do Autor


Capítulo novinho em folha para vocês se deliciarem!!! HAHAHAHA
Espero que curtam muito :)
Demorei um pouco porque né, fds e tals.
Mas mal podia esperar pra poder publicar e saber o que vcs acham!
Por isso comentem! Bjoos

Capítulo 5 - Hold on to me


Terça-feira - 6:42

Eu estava sozinho em um parque e uma brisa acariciava meu rosto. Era tão gentil e gostoso que eu fechava os olhos e deixava a brisa passar por minhas bochechas e por minha boca. Aquilo era um sonho? A sensação do vento em minha pele era quente e aconchegante. Acordei com uma pressão em meu ombro direito e a sensação de que alguém me chacoalhava levemente. Abri os olhos e quase dei um pulo ao ver Théo alí do meu lado sentado na cama. Demorei para entender a cena e pisquei os olhos algumas vezes tentando espantar o sono.

- Acorda porra - ele disse com uma cara séria mas sem grosseria - você dormiu demais. A gente vai se atrasar.

- Nossa, que horas são? - perguntei me esticando na cama, ele ainda estava sentado ao meu lado me estudando.

- Já passou da hora de levantar - ele se levantou e foi em direção a porta - você vai ter que se apressar, ou a gente vai chegar atrasado.

Assim que ele saiu do quarto eu me levantei e fui correndo em direção ao banheiro. Tomei um banho rápido e fiz tudo que era necessário o mais rápido possível. Desci correndo as escadas e comi algumas torradas com manteiga e um café preto. Eu ja estava pronto e assim que terminei o último gole de café saímos de casa.

O caminho até o cursinho/universidade não foi nada demais. Eu ainda estava meio sonolento e fiquei o caminho todo quieto. Ao chegarmos na universidade Théo parou o carro um pouco mais longe do que da última vez, já que chegamos atrasados, e seguimos juntos até o corredor em que ele havia me deixado no dia anterior.

- Você não precisa me acompanhar, vai se atrasar ainda mais - eu disse olhando para ele envergonhado.

- Acredito que você não chegaria na sua sala se eu não fizesse isso - ele retribuiu o olhar - você não prestou muita atenção no caminho ontem.

- Como você sabe? - indaguei.

- Eu imaginei... - o tom de superioridade escondia um quase sorriso nos lábios.

Ele me deixou exatamente no mesmo local de ontem. Segui de lá até minha sala imaginando como é que ele sabia que eu me perderia. Eu sou tão fácil de entender assim? Por acaso estava escrito "ainda não sei aonde estou" na minha cara? Ou ele havia feito aquilo só pelo prazer de me deixar envergonhado pela minha própria falta de direção? Espantei os pensamentos da cabeça no momento em que me sentei na sala de aula, não esperava nada diferente na primeira semana, provavelmente mais apresentações e aulas explicativas.

Na hora do intervalo decidi ir para a praça da alimentação, as torradas não fizeram nada no meu estômago e eu estava morrendo de fome. Segui pelo caminho perdido em pensamentos novamente. Mas agora pensava no meu sonho, tinha sido tão gostoso e tão diferente. Me lembrava de uma sensação de calma, de lugar seguro, nunca havia sonhado nada parecido, mas era uma sensação tão boa que mesmo depois de acordado eu ainda conseguia me lembrar.

- Bixo, acorda! - disse uma voz conhecida atrás de mim.

- Ah, oi Isa! - disse me virando e vendo quem era.

-Tudo bem lindinho? Você não escutou eu te chamar as duas primeiras vezes - ela me deu um abraço apertado.

- Me desculpa, estava meio perdido em pensamentos - eu ri sem graça.

- Tudo bem, a universidade faz isso com a cabeça das pessoas mesmo - ela bagunçou meu cabelo em tom divertido - Você está indo comer? Posso te acompanhar?

- Mas é claro que sim! - eu disse sem rodeios.

Seguimos o resto do caminho até a praça da alimentação conversando animadamente sobre aulas e o que eu havia achado dos professores que já tinha conhecido. Ela me deu umas dicas sobre o que esperar de alguns deles e também de alguns trabalhos e provas. Ela era uma pessoa extremamente agradavel, daquelas que parecem não conhecer o que é mau humor, ou um dia ruim. Compramos algo para comer e decidimos ir sentar em alguma mesa vazia, missão quase impossível mas conseguimos.

- Bixo, você se lembra daquele churrasco que eu te disse? - ela falava enquanto tirava as embalagens do lanche que havia comprado.

- Lembro sim Isa! Você já sabe quando vai ser?

- Hoje! - e ela me olhou e sorriu pra minha cara de surpresa.

- Como assim? HOJE?

- Sim sim lindinho - e agora ela ria - hoje!

- Em plena terça-feira?

- Iiih bixo, você ainda tem muito pra aprender. Universidade não tá nem aí pros dias de semana, tem festa a semana toda se você tiver os contatos certos. - ela disse enquanto comia.

- Meu Deus, você tá falando sério? Hoje que horas? - disse ainda não acreditando.

- É bixo, hoje. Depois das aulas. Eu passo na sua sala para te levar - e ela deu uma piscadinha.

- Como assim me levar Isa?

- Ué, todo veterano pode levar seus bixos. E é melhor você chegar com alguém que já é conhecido - ela ria.

- Mas é longe? Onde será?

- Em uma chácara bem bacana que tem aqui próximo do campus. O lugar é bem grande e com certeza vai ter muita gente.

- Eu preciso avisar o Théo então - eu olhava pro nada pensando em como avisa-lo.

- Não se preocupe, eu mandei mensagem para ele e ele também vai - ela sorria por trás do lanche.

- Ele vai? - Meus olhos se arregalaram.

- É, ele vai, vai levar a gente de carro e sinto que ele vai só pra não te deixar sozinho.

- Desde quando ele se preocupa em não me deixar sozinho? - eu olhava pra ela com a testa franzida.

- Ué você é o primo dele né - e deu de ombros - você acha que ele não se preocupa de você ficar bêbado e se envolver em alguma confusão? Ou então de pelo menos ter com quem voltar na hora de ir embora?

- Eu diria que não... - e minha expressão devia ser de total confusão.

- Ah bobagem, o Théo pode parecer um cara escroto, mas quem realmente conhece ele sabe que ele se preocupa. Isso tudo é fachada, ele se faz de distante e frio porque é sempre ele quem se machuca demais. - ela fez um aceno com a mão como se falasse de algo de conhecimento de todos.

- Eu realmente achava que ele não gostava de mim - eu disse como se falasse comigo mesmo.

- Se ele não gostasse, você não viria nem pra faculdade com ele. Ele não se incomoda com quem ele não gosta - e ela me deu um olhar sério e penetrante.

- Okay, se você diz eu acredito - e sorri sinceramente pra ela.

Ao terminar de falar eu senti uma mão quente em meu ombro. Olhei assustado para ver quem era e fiquei ainda mais surpreso se é que isso era possível. Ali de pé do meu lado estava Arthur. Me olhando com um sorriso na boca e seus olhos pareciam brilhar.

- O que você faz aqui? - balbuciei quando voltei do choque.

- Eu estudo aqui... - e riu - e pelo jeito você também?

- Sim, mas jamais imaginaria que você estudava aqui - ele ainda mantinha a mão quente em meu ombro.

- Você e suas imaginações sobre mim - ele disse retirando a mão e fazendo cara de pensativo, ainda mantendo o sorriso.

- Ah...é...desculpa - e eu devo ter ficado mais vermelho que a coca-cola que segurava por lembrar dos assuntos da noite anterior.

- Não vai me dar um abraço não Thor? - seu sorriso aumentou ao me ver corar.

- Clarou que sim - levantei e o abracei apertado - Essa é Isabela, uma amiga do Théo e minha veterana - disse indicando a Isa que me olhava com curiosidade e um sorrisinho maroto no rosto.

- Prazer Isabela, sou o Arthur, amigo da irmã do Théo - e ele a abraçou e logo em seguida sentou-se ao meu lado.

- Prazer gatinho, meu Deus você é modelo? - ela disse indiscretamente

- Não, nunca nem passou pela minha cabeça - e ele ria sinceramente - na verdade quero ser advogado.

- Você está em que ano? - ela perguntou

- Segundo, ainda falta muito - ele fez uma cara de cansado.

- Você vai no churrasco dos bixos? - Isa agora sorria.

- Não sei, me avisaram que iria ser hoje após a aula mas não parei pra pensar ainda.

- Aaah, vamos! Eu e o Hector estávamos falando sobre isso, eu vou arrastar ele pra lá depois.

- Ah é? - ele se virou pra mim sorrindo - Não sabia disso Thor!

- Thor? - a Isa perguntou.

- É um apelido que minha mãe me deu e que todo mundo parece amar - eu virei os olhos e ri.

- Ai que lindo! E você nem pra me contar - e fez uma cara de brava pra mim.

- É...é que eu não falo dele para as pessoas, mas todo mundo acaba descobrindo de um jeito ou de outro - e suspirei.

Nesse momento nós escutamos o sinal que indicava o fim do intervalo, me despedi do Arthur com outro abraço e segui com a Isa de volta para nossas salas. Eu ainda não conseguia acreditar que o Arthur também estudava lá, foi realmente uma surpresa ve-lo ali, do nada. As próximas aulas transcorreram normalmente e tudo que eu conseguia pensar eram as palavras da Isa sobre o Théo. Será que ele havia sofrido tanto assim para se fechar demais e manter todos afastados? Ela disse que era sempre ele que se machucava demais e isso de alguma forma doía em mim.

Ao término das aulas a Isa já me esperava ansiosa na porta da minha sala. Ela era linda e atraía vários olhares dos meus colegas de classe e alguns já haviam me perguntado se ela era minha namorada ou algo parecido, a resposta sempre foi negativa. Me juntei a ela e fomos para onde o Théo havia estacionado o carro enquanto ela me contava mais sobre os churrascos dos outros anos. Parece que confusões por causa de bebida eram mais comuns do que eu imaginava.

- Nossa o Théo tá demorando hoje, ele deve ter ficado até o último minuto na sala - ela disse com ar de tédio.

- Ou ele tá andando por aí com amigos - eu ri.

- Ih, você não conhece, ele é bem estudioso. Muito nerd mesmo não parecendo - ela ria também.

- Tá aí uma coisa que eu realmente não sabia - franzi a testa, ela estava me revelando um Théo totalmente diferente do que eu via - achei que ele fosse mais bagunceiro.

- Não, eu já te disse. Ele é uma boa alma - e olhava pro nada com um sorriso no rosto - Sabe, ele poderia parar o carro do outro lado do bloco e estacionar perto da sala dele.

- E porque ele não faz isso? - eu perguntei

- Provavelmente porque a sua sala é mais próxima daqui, e ele deve pensar que seria mais fácil pra você conseguir se achar - agora ela analisava minha expressão de espanto.

-Eu...eu não sabia - eu disse depois de um tempo - mas acho que se eu o agradecesse por isso ele riria da minha cara.

- Quem sabe... - e ela olhava novamente pro nada.

Depois dessa conversa meio estranha nós ficamos em silêncio e enquanto isso o Théo chegou. Ele vinha apressado, mas sua expressão era normal, não parecia estressado de ter que andar mais por causa da distância do carro. Eu comecei a reparar nele com outros olhos depois das coisas que a Isa me disse, no fundo ele realmente parecia ser uma boa pessoa. Acho que eu me deixei levar mais pelo que me falaram dele do que pelo que ele mesmo me dizia. Isso precisava mudar.

- Théozinho, você tá pronto pra ir? - disse Isa abraçando-o.

- Vamos sim, é na mesma chácara do ano passado? - ele perguntou franzindo a testa.

- É sim gatinho, você sabe chegar né?

- Sem dúvida - ele disse abrindo a porta do carro.

A chácara ficava em um bairro ao lado do campus da universidade, muitas repúblicas também ficavam no mesmo perímetro. Quando chegamos lá eu tive idéia do tamanho da chácara e do tanto de pessoas que estavam presentes. Era muita gente. Tinha piscina, mesas de ping-pong e sinuca, um sistema de caixas de som que fazia com que a música tocasse alta em todo canto. Nos dirigimos diretamente para o bar e pegamos uma cerveja cada um.

- Nossa, tô achando que tá meio vazio perto do ano passado - disse Isa olhando em volta com a testa franzida.

- É, tá parecendo - Théo concordou com a cabeça.

- Nossa, se isso é estar vazio eu imagino o tanto de gente que tinha ano passado - eu falei surpreso com a afirmação.

- Ah bixo, você ainda não viu nada! - Isa riu.

- Pelo jeito não mesmo...

Passamos a maior parte do tempo numa área aberta entre a piscina e o bar. Muita gente estava nadando, dançando, falando alto ou rindo. Eu nunca tinha visto uma festa tão animada na minha antiga cidade. Eu comecei a reparar em Théo, ele estava na minha frente enquanto ele e a Isa conversavam sobre as festas passadas. Algo que ela o contou o fez rir, e eu notei como os olhos dele se iluminavam quando ele ria solto daquela maneira. Era uma mudança e tanto na expressão diária dele. Era algo que eu admirava, achava belo. E perdido nos pensamentos eu nem reparei quando a Isa retirou um baseado da bolsa e acendeu bem ao meu lado.

Eu nunca havia fumado maconha ou usado qualquer outra droga a não ser álcool, mas como vi tanto a Isa e o Théo fumando como se fosse a coisa mais normal do mundo decidi experimentar. Achei forte, e como nunca tinha fumado nem cigarro tossi e me afoguei. Eles riam de mim como se não houvesse amanhã, até que eu comecei a rir e a tossir novamente. Foi engraçado, eu não imaginaria o Théo de 2 dias atrás em um clima tão descontraído como estava vendo hoje. Ele parecia mais próximo, a conversa fluía naturalmente e eu estava gostando muito de poder falar com ele normalmente.

Conversávamos sobre besteiras e quanto mais o álcool entrava mais risadas a gente dava. Passamos um bom tempo conversando e rindo sobre coisas da faculdade ou das festas passadas. Tudo ali girava em torno de festa, que aliás estava bem animada mesmo já tendo passado umas três horas desde nossa chegada. Decidimos ir novamente ao bar, as cervejas estavam se esvaziando relativamente rápido. Quando chegamos ao bar, depois de enfrentar uma pequena fila, senti uma mão em minhas costas e me virei depressa demais.

- Calma, vai cair não - era Arthur, que agora me segurava pelos dois braços depois de ter perdido o meu equilíbrio.

- Arthur, você veio - eu disse sorrindo meio bêbado e o abraçando - a Isa havia perguntado de você.

- Oi Arthur! - disse ela sorrindo e acenando - Achei que não fosse te ver aqui.

- Pois é, decidi vir, alguns amigos também estão aqui - ele sorriu ao abraçá-la.

Enquanto Isa conversava animadamente com Arthur sobre algo que eu não escutava direito eu percebi como a expressão na cara do Théo tinha mudado. Ele parecia sério e até chateado pela presença do Arthur.

- Você está bem? - eu disse me aproximando dele.

- Porque você pergunta? - ele me olhava com a testa franzida.

- Você parece estar preocupado com alguma coisa - eu expliquei.

- Não...não, eu tô bem - ele disse ainda me analisando.

- Tem certeza? - agora era eu quem tinha a testa franzida.

- Eu já disse, eu estou bem - a expressão no rosto dele parecia ter suavizado - obrigado por se preocupar.

- Eu me importo com você - eu disse sem pensar e tive que conter minha própria expressão de surpresa.

Ele sorriu. Um sorriso branco, largo, sincero e direcionado inteiramente para mim. E os olhos naquela cor de azul que pareciam radiar luz. Meu coração deu um pulo e acelerou. Eu tenho certeza de ter ficado vermelho porque pela quantidade de batimentos cardíacos era impossível não acontecer. Eu não sabia o que estava acontecendo, a ação não durou mais do que alguns segundos mas eu parecia perdido por uma eternidade.

- Théo? - Isa chamou tocando o ombro dele.

- O..oi? - ele virou meio perdido.

- Vamos voltar lá pro nosso lugar? Perto da piscina?

- Ah, vamos sim - e nisso ele acenou para ela liderar o caminho.

Nós voltamos para o lugar onde estávamos, mas dessa vez acompanhados de Arthur, que eu havia até esquecido que estava ali conversando com a Isa. O Arthur estava aparentemente bêbado, era engraçado olhar para ele mais relaxado e engraçado do que o normal. Mas notei que a intensidade com que ele me encarava também havia mudado, parecia ter sede quando me via bebendo cerveja. Eu não sabia se isso poderia ser considerado um flerte ou não, decidi que era melhor não pensar sobre isso no momento e curtir a festa.

Alguns minutos após voltarmos para nosso lugar alguns amigos do Théo chegaram para cumprimentá-lo, todos visivelmente alterados pelo álcool. Era diferente vê-lo interagindo com pessoas fora de casa. Ele parecia mais leve e mais fácil de aproximar. Ele foi praticamente arrastado pelos amigos para ir dar uma volta pela festa e a Isa que conhecia a maioria dos amigos do Théo decidiu ir junto. Ficamos eu e Arthur.

- Você também não quer dar uma volta pela festa? - ele disse me olhando com um sorriso.

- Por mim tudo bem, não saí muito do lugar desde que cheguei - eu ri meio bêbado.

- Então vem, vamos pra lá - e ele acenou e começou a andar em direção a umas árvores que se encontravam do outro lado da chácara.

Fomos atravessando aquela multidão de pessoas que estavam espalhadas pela festa. Já notava algumas passando mal e ou até mesmo vomitando em alguns cantos da chácara. Mas ainda assim a animação continuava e eu tive a impressão de ter mais gente chegando. Chegamos próximos às árvores e eu notei que era um lugar mais tranquilo, havia três grandes árvores e alguns bancos entre elas, a música era mais baixa e não tinha tanta gente andando por alí e eu cheguei à conclusão que era porque era longe do bar.

- Eu preciso me sentar um pouco - Arthur me disse com uma cara meio estranha.

- Você tá passando mal? - eu perguntei franzindo a testa.

- Um pouco, eu acho... - ele se sentou e ficou calado por um tempo, só respirando fundo.

- Você bebeu muito? - falei num tom baixo me sentando ao seu lado.

- Um pouco...um pouco a mais do que eu deveria - e ele riu, olhando para a grama como se isso ajudasse a não vomitar.

- Quer que eu pegue um refrigerante ou água pra você? - eu ofereci preocupado.

- Não, eu to melhorando - ele sorriu olhando pra mim - só precisava sair daquele barulho todo eu acho.

- Ih tá ficando velho? - eu zoei rindo dele. Ele ficou rosa.

- Não, nada a ver - ele riu de volta - mas eu já to ficando melhor, logo a gente volta lá.

- Não se preocupa, sem pressa - eu olhava para cima observando as folhas das árvores.

- Você é sempre assim? - ele disse num tom leve.

- Assim como? - e voltei a olhar para ele que tinha um sorrisinho no rosto.

- Preocupado com os outros, legal, interessante... Fofo. - ele sorria envergonhado.

- Você acabou de me chamar de fofo? - eu disse rindo - Eu não tenho nada de fofo.

- Tem sim, muito. - ele colocou aquela mão quente em meu braço e me encarou com uma expressão séria.

- Erm...é...obrigado, eu acho - e eu desviei o olhar envergonhado, aquilo sim era um flerte.

- Não precisava ficar envergonhado - ele agora ria enquanto tirava a mão do meu ombro - eu só disse a verdade.

- Ninguém nunca me chamou de fofo - eu ri nervoso - por isso fiquei sem jeito.

- Sempre tem uma primeira vez - ele levantou uma sobrancelha - pra tudo - e agora ele olhava para minha boca.

- É, acho que sim - eu disse sem saber o que fazer.

Arthur me olhava hesitante, ele parecia nervoso, mas ainda assim mantinha um sorriso no rosto. Eu o encarava quieto sem saber exatamente o que falar, quando percebi que ele lambia levemente o lábio inferior, e eu devo ter sido óbvio demais porque ele começou a se aproximar cada vez mais do meu rosto. Meu coração disparou novamente e eu fiquei sem ação, o olhar dele me paralisava, quando me dei conta ele estava quase roçando seu nariz no meu ainda me olhando fixamente. Foi quando senti um puxão violento em meu ombro.

- Que porra é essa? - era Théo, vermelho de raiva e bufando.

- Eu...é... - foram as únicas coisas que saíram da minha boca.

- Vem, a gente vai embora - ele disse puxando meu ombro novamente.

- Calma - eu disse em tom de dor - você vai machucar meu ombro.

- Foda-se - ele disse apertando ainda mais meu ombro - levanta e vem.

- Théo para de falar assim com ele mano, você tá machucando ele - falou Arthur ficando de pé.

- Eu não pedi a sua opinião - Théo o encarava friamente e ele ainda me segurava.

- Théo, calma, eu tô indo - eu disse tirando a mão dele do meu ombro e levantando - Tchau Arthur, até outro dia.

- Thor, você não quer ficar - ele disse me olhando preocupado - eu posso te levar.

- Não, ele é minha responsabilidade - Théo disse seco.

Eu me virei e sai andando sem nem escutar se Arthur havia falado mais alguma coisa. Théo me seguia a passos largos e ainda bufando. Eu não sabia o que estava acontecendo, era muita coisa ao mesmo tempo. Eu só sei que eu quase beijei o Arthur, e aquilo me deixava mal por algum motivo. E pra piorar ainda mais eu teria de lidar com a fúria do Théo que parecia querer explodir comigo a qualquer momento. Ele me olhava sério e eu vi raiva nos seus olhos, mas às vezes ele fazia uma cara estranha como se sentisse dor. Será que ele tava tão puto assim porque o primo dele quase beijou um cara?

Ele andava agora na minha frente, sem nem olhar para os lados, mesmo sério eu conseguia perceber que ele estava mais bêbado do que quando nos deixou na piscina. Foi atravessando a multidão de estudantes bêbados até chegar à rua e finalmente no carro. Ele abriu a porta entrou e nem olhou na minha cara. Eu o segui sentando no passageiro e nessa hora percebi que a Isa não iria embora com a gente. Como é que ele havia visto onde e com quem eu estava? Esse pensamento ficou martelando na minha cabeça enquanto eu colocava o sinto, e ele ficava segurando o volante olhando pra frente estático.

- Que porra foi aquela? – ele disse olhando pra mim sério e me encarando.

- Nada – eu murmurei respondendo o olhar.

- NADA? COMO ASSIM NADA? – eu sabia que ele iria gritar uma hora ou outra. Ele ficava cada vez mais vermelho.

- Eu não sei Théo, o Arthur queria se sentar um pouco e eu o acompanhei, só isso. – disse ainda o olhando e vendo a veia de seu pescoço pulsar.

- SÓ ISSO? VOCÊ TEM NOÇÃO QUE VOCÊ QUASE O BEIJOU? – ele parecia indignado.

- Mas não aconteceu – eu retruquei o mais calmo possível – porque você chegou.

- Ah então eu sou culpado agora? – e ele franzia a testa e apontava pro próprio peito – Você queria ter beijado ele então?

- Não...não é isso – eu só consegui desviar o olhar, realmente não sabia se queria ou não.

- OLHA PRA MIM! – ele segurou meu braço com força e eu me virei assustado.

- Calma, não é que eu queira ou não, mas eu fiquei sem ação quando o vi chegando perto, eu não sabia o que fazer – eu disse com sinceridade enquanto ele me olhava estudando minha expressão.

- Então é assim? Se chegar em você, seja homem ou mulher, você não está nem aí? – ele agora falava friamente.

- NÃO! – eu me exaltei – Não, não é assim. Eu nunca fiquei com nenhum cara, porra! Mas se você não tivesse chegado hoje talvez tivesse acontecido, eu bebi demais e fumei e eu simplesmente não sabia o que fazer na hora.

Ele me olhava sério com uma expressão tensa no rosto. E eu só conseguia respirar rápido e olha-lo de volta. Théo então se virou para frente e ligou o carro, saímos de lá e passamos o caminho todo em completo silêncio. Eu não sabia o que fazer ou o que pensar. Eu tinha medo do que o Théo pudesse pensar se achasse que eu era gay, na verdade o que me preocupava era não conseguir mais falar com ele depois disso. Nosso dia havia sido tão diferente, com tantas conversas e eu não queria jogar tudo isso fora. Eu não queria estragar uma possível amizade com o Théo, eu não queria perder a visão dele sorrindo para mim mais vezes.

Tão atormentado por pensamentos que eu estava que nem percebi quando finalmente chegamos em casa. Théo saiu do carro e foi direto para o próprio quarto, já passavam das seis da tarde e eu decidi que a melhor coisa seria tomar um banho para tentar relaxar e esquecer um pouco dessa loucura toda. A água quente me envolvia e eu me deixei levar pela sensação e quando me dei por conta o banheiro estava todo cheio de vapor. Sai do banheiro me secando e coloquei uma cueca alguns segundos antes da porta do meu quarto se escancarar me assustando. Théo me olhava sério e decidido.

- Théo, que susto mano, bate na porta porra – eu disse baixo.

Ele se aproximou sem tirar os olhos dos meus, em alguns segundos ele me puxava de encontro ao seu corpo com força. E então ele se aproximou do meu rosto calado, eu ainda paralisado pela atitude repentina, e me beijou. Seus lábios eram quentes e macios e apesar de tudo gentis e eu conseguia sentir sua respiração quente em minha boca. Eu fechei meus olhos instintivamente e ele me abraçou pela cintura, sentia sua língua tocando meus lábios e o gosto de bebida alcoólica ainda era forte. Eu abri lentamente minha boca e a deixei ser invadida enquanto usava minha língua para acariciar a dele. Era quente, eu estava quente e não era só pelo banho. Ele me segurava com força, mas eu me sentia seguro e muito estranho, porém não mal. Ele continuava a me beijar, devagar, como se para degustar o beijo e agora mantinha uma mão em minha nuca. Eu não conseguia pensar em nada, tudo estava branco.

A única coisa que eu sentia eram suas mãos em meu corpo e aquela língua quente e macia fazendo movimentos suaves na minha boca. Eu nunca havia beijado alguém dessa maneira, com tanta intensidade. E então eu me lembrei de quem é que estava me beijando, da porta do meu quarto aberta e o medo me invadiu. Eu coloquei minhas mãos no ombro dele e o empurrei levemente, olhando sem ar e assustado para ele.

- Que...que foi isso? – eu disse olhando para ele e corando.

- Esquece – ele parecia fora de um transe e me olhava tão perdido quanto eu – seu celular.

- Que? – eu disse franzindo a testa.

- Você...esqueceu seu celular no carro – ele disse olhando para sua própria mão.

- Você me beijou – eu disse ainda encarando.

- ESQUECE! – ele gritou e jogou meu celular em cima da cama.

- Théo eu... – comecei a dizer.

Mas eu nunca consegui terminar de falar, ele se virou bruscamente e saiu marchando do quarto e batendo a porta com força. Eu fiquei ali, parado sentindo meu lábio ainda pulsando por causa do beijo quente de segundos atrás. Que porra era essa? O que estava acontecendo? De repente tudo que eu havia conseguido esquecer durante o banho voltou a tona e eu tive vontade de sair correndo daquela casa e ficar sozinho por um tempo.

Meia hora depois, ainda perdido em pensamentos e já com uma roupa eu desci para comer algo na cozinha. Não encontrei mais ninguém além dos meus tios que me perguntaram como havia sido o dia. Uma resposta rápida foi tudo que eu consegui dar. Voltei para o meu quarto e fiquei lá, tentando me concentrar no meu livro, mas nada parecia me ajudar. Eu queria falar com ele, eu queria vê-lo e saber que ele estava bem. Eu precisava ouvir a voz dele. Mas tudo que eu consegui fazer foi ficar trancado no quarto o resto da noite por medo da reação dele se eu batesse na porta do seu quarto.

Aquilo me consumia, nada do que havia ocorrido na festa importava mais. Eu só conseguia lembrar do beijo e de como era quente e diferente de tudo que eu já havia experimentado. Eu havia gostado, mas porra ele era meu primo! Como é que eu iria olhar novamente na cara dele? Como eu iria pra universidade amanhã? Mesmo com todas essas dúvidas na cabeça a bebida da tarde toda me deixou sonolento e eu não demorei a apagar com a cabeça no travesseiro e o livro em meu peito.

Dormi por algumas horas, mas algo me acordou. Era sede, muita sede. Eu devia estar meio com ressaca do tanto que havia bebido e agora precisava de água. Passava da meia noite quando decidi descer até a cozinha pegar um copo grande de água gelada. Ao voltar para o meu quarto com o copo na mão escuto barulhos vindos do quarto do Théo. Ele parecia ser o único acordado ainda pois a luz do seu quarto estava acesa. Encostei levemente minha cabeça na porta para escutar o que acontecia. Ele estava vomitando.

Sem pensar duas vezes abri a porta do seu quarto sem fazer barulho, estava tudo meio bagunçado e a porta do banheiro estava entreaberta. Eu ainda o ouvia tossir e vomitar. Fui me aproximando da porta do banheiro devagar, ainda segurando meu copo de água, e olhei pela fresta de luz. Ele estava ajoelhado em frente à privada apoiando o braço tatuado a sua volta e respirava profundamente.

Eu não sentia medo e nem nada mais, só a necessidade de saber se ele estava bem. Abri levemente a porta e ele só notou minha presença quando eu já me sentava calmamente ao seu lado no chão do banheiro. Ele me olhava com olhos arregalados e de um azul incrível. Eu dei um sorriso sem graça pela invasão de privacidade, mas ele continuava parado me olhando espantado, então eu estiquei o braço e ofereci o copo de água.

- Bebe, – eu disse notando que ele ainda não se mexia – vai te ajudar.

Ele esticou o braço e pegou o copo, bebeu tudo em um longo gole. Parecia aliviado ao terminar e colocar o copo no chão ao seu lado. Porém continuava a me olhar sem entender nada do que acontecia. Para ser sincero nem eu sabia, eu só conseguia olhá-lo. E ficamos nos olhando por alguns longos segundos, sem dizer nada.

- Me desculpa entrar sem avisar – eu comecei a dizer envergonhado – eu escutei você passando mal, queria saber se estava tudo bem.

- Não – ele disse com a voz rouca, olhando para privada – eu dormi um pouco, mas a bebida foi demais e eu levantei passando mal, tudo girava.

- Sei como é – eu disse balançando a cabeça – eu acordei morrendo de sede e quando voltava da cozinha eu ouvi você vomitando. E aí acabei aqui.

- É, acabou aqui – ele me olhava com a testa franzida – Porque?

- Eu já disse, eu me importo com você – eu falei olhando para ele – você é meu primo.

- É...sou – ele parecia pensativo.

Nesse momento ele se levantou, percebi que sua expressão ficou estranha e ele perdeu o equilíbrio caindo sentado em meus pés. Eu coloquei uma mão em seu ombro tatuado e o segurei, ele ainda parecia bem zonzo. Perguntava-me se ele se quer lembrava do beijo que havia me dado mais cedo.

- Desculpa – ele me disse quando o segurei – eu ainda to zonzo.

- Vem, eu te ajudo – levantei e estiquei a mão para ele.

Ele segurou firmemente minha mão e eu o puxei devagar com medo de o fazer vomitar novamente. O ajudei a chegar até sua cama apoiando minha mão em seu ombro e o segurando quando sentia que ele pendia para o lado. Ele se sentou na beirada da cama e eu não sabia o que fazer fiquei em pé na sua frente.

- Você bebeu muito? – eu perguntei curioso.

- Meus amigos estavam com garrafas de vodka – ele disse olhando para minha cara – devo ter exagerado quando sai dar uma volta com eles.

- Pelo jeito sim – eu disse dando um sorrisinho era bom poder ajudá-lo – bom eu acho que vou voltar pro meu quarto.

- Não – ele disse segurando meu pulso – fica...

- Você quer que eu durma aqui? – perguntei piscando sem entender.

- Eu tenho medo de passar mal enquanto durmo – ele disse sério – já aconteceu uma vez e eu quase morri engasgado.

Eu fiquei sério, esse dia com certeza não era um dia normal em minha vida. Muitas coisas estavam acontecendo ao mesmo tempo e a maior parte do dia eu me encontrava confuso. Mas ele me olhava com uma cara que parecia tão sincera que eu não me incomodei de aceitar a idéia de dormir na mesma cama que ele. Eu sabia que ele não iria me atacar nem nada, aquilo havia sido uma excessão.

- Tudo bem – eu disse sorrindo de leve – como nos velhos tempos então.

- Você se lembra disso? – ele parecia estar ficando vermelho pela primeira vez.

- Claro, a gente sempre dormia junto no meu quarto quando vocês nos visitavam.

Ele assentiu com a cabeça e se preparou para deitar. Eu dei a volta na cama e me sentei do outro lado, fiquei olhando para o Théo enquanto ele se deitava. Ele vestia uma regata e um shorts de futebol e parecia bem cansado, pelo jeito que passava a mão na cabeça eu imagino que com dor de cabeça também. Ele se arrumou na cama de barriga para cima e eu apaguei a luz antes de me deitar virado de frente para ele. Era tudo muito estranho, mas eu não ligava, eu parecia finalmente em paz depois de todo o turbilhão que foi esse dia. E olhando uma última vez para ele eu adormeci rapidamente.


Notas Finais


AIII ME SEGURAAAAAA!!!!
Espero que tenham gostado tanto quanto eu gostei de escrever *-*

<3


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