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História Special Needs - Romance Gay - Black-eyed


Escrita por: Amadeo

Notas do Autor


Eu to tremendo rosana!!!!
Eu meio que derrubei umas lágrimas nesse capítulo HAHAHAHA
Leiam e vejam o que acham!
bjs

<3

Capítulo 6 - Black-eyed


Quarta-feira – 6:00

 Acordei calmamente sentindo uma pressão em meu peito. Quando abri os olhos para poder ver direito no quarto que estava na penumbra me deparei com um braço todo tatuado me segurando na altura do peito. Foi então que eu me recordei de todo o dia anterior e das coisas que haviam acontecido. Théo dormia pesadamente ao meu lado, praticamente me abraçando pelas costas e sua respiração era calma e fazia minha nuca se arrepiar. Eu estava surpreso pela situação, ele provavelmente me abraçou durante a noite e eu nem percebi.

Virei meu rosto devagar com medo de acordá-lo e o observei dormindo. Ele estava tão próximo e o que mais me assustava era que nada daquilo me parecia ruim, talvez estranho, mas eu não me sentia mal. Ele dormia calmamente e eu via seu peito subir e descer compassadamente. Ele parecia totalmente inocente dormindo e sua mão repousava firme em mim, se eu quisesse sair da cama ele acordaria. Eu não sabia o que fazer, isso estava virando rotina. Voltei a olhar para frente pensando no que eu poderia fazer para acordá-lo e o principal, qual seria a reação dele a ver aquela situação toda. Será que ele se lembraria de tudo? A gente fingiria que nada aconteceu? Eu simplesmente não sei se conseguiria fingir isso.

Meus pensamentos foram interrompidos quando de repente eu sinto Théo se mexendo, por um segundo achei que ele estivesse acordando, mas logo depois ele passou o outro braço por baixo do meu pescoço e me abraçou apertado. Eu gelei, até em tão nós não estávamos em contato exceto pelo braço dele em meu peito, mas agora eu sentia todo o corpo dele se encostando em mim. Ele era realmente forte, podia sentir pelo aperto em volta do meu tórax, mesmo não me machucando ele me segurava firme. 

O corpo dele estava quente e o meu também. Eu não queria acordá-lo, mas estava assustado com tudo aquilo. Dormir na mesma cama era uma coisa, a gente já havia feito isso inúmeras vezes quando éramos crianças, mas agora ele estava praticamente me encoxando. E pro meu desespero maior, ele parecia excitado pelo que eu podia sentir do volume em minhas costas. Aquilo era demais pra mim, eu queria ao mesmo tempo levantar e sair correndo do quarto e também deitar e ficar ali. Porra eu estava me sentindo confortável com outro cara me abraçando por trás, e pior aquele cara era meu primo!

Ele respirava um pouco mais apressadamente do que quando eu acordei e eu senti sua boca se mexer levemente próxima a minha nuca. Aquilo me dava arrepios espinha a baixo e a missão de não se mexer estava cada vez mais difícil. Eu notei que ele mexia os quadris de leve como se pra achar uma posição mais confortável, e aquele volume continuava a roçar levemente em minhas costas. E do nada ele soltou um gemidinho abafado que me fez fechar os olhos e respirar rapidamente para tentar controlar meu coração que batia desesperadamente. Ele devia estar sonhando e pelo jeito não era um sonho qualquer.

Meu corpo estava quente com todas aquelas realizações e acontecimentos. Eu senti que começava a ficar excitado também e aquilo realmente era novo pra mim. Que porra é essa eu pensava de olhos fechados rezando para que o Théo acordasse, eu não queria testar ainda mais minha

capacidade de ficar imóvel sendo encoxado e aparentemente gostando disso. Foi quando alguma coisa começou a tocar no criado mudo a minha frente, era o celular dele, provavelmente o despertador.

Escutei ele murmurando algo ainda sonolento e simplesmente esticando o braço tatuado por cima da minha cabeça, fazendo com que ele se espremesse ainda mais contra meu corpo, para fazer o despertador parar de tocar. Eu continuava imóvel e respirando pesadamente. Não sabia se fingia que estava dormindo ou não, mas antes que eu pudesse me decidir ele me abraçou novamente e colocou sua cabeça próxima a minha nuca respirando no meu pescoço. Finalmente eu acho que ele se deu conta de que algo estava estranho e senti ele se afastando alguns centímetros do meu pescoço pouco tempo depois de ter me abraçado novamente.

- Thor? – ele disse com a voz rouca de sono.

- Oi... – eu estava tenso, não havia como fingir que eu dormia.

- Que porra...que porra é essa? – ele disse terminando de se afastar e sentando na cama.

- Você me pediu para dormir com você ontem à noite – eu ia dizendo quando ele colocou a mão no meu ombro e me virou com pressa. Agora ele me encarava sentado do meu lado.

- Eu...eu achei que estivesse sonhando – ele disse com confusão estampada na cara e mexendo no cabelo como se estivesse perdido.

- Você estava...  – eu disse e fiz um sinal para a cintura dele aonde ainda era possível ver um volume em seu shorts.

- Puta que pariu...eu não acredito, era pra ser só um sonho – ele cobria o rosto com a mão tatuada, morrendo de vergonha.

- Você quer dizer que estava sonhando comigo? – eu disse me sentando rapidamente e o encarando.

- Não... – ele olhava para o lado vermelho agora cobria a cintura com um travesseiro – eu não consigo lembrar o rosto.

- Ah...deve ter sido bom pelo menos – eu suspirei mais aliviado.

- Como é que você sabe? – ele me censurava com o olhar.

- Você tava me encoxando – eu disse sem pensar ficando vermelho, mas quase ri da cara de surpresa dele.

- Você ta brincando, você estava acordado? – ele disse com os olhos arregalados.

- Eu acordei um pouco antes de você, quando você me abraçou do nada durante o sono – menti um pouco pra ele não achar que eu havia me aproveitado – eu não tinha como me mexer e...e eu fiquei com medo de te acordar por causa da sua reação.

- Merda...merda – ele repetiu olhando para o lado.

- Calma Théo foi um sonho, acontece – eu disse tentando deixá-lo mais calmo – você bebeu muito e estava dormindo, não tinha como saber o que fazia.

- É, mas agora eu sei o porquê meu sonho parecia tão real – ele me olhava sério e envergonhado.

- Mas você disse que não era comigo...

- Mas era você quem eu estava... – ele começou e parou antes de concluir – eu...eu preciso de um banho.

- Okay... – eu o olhava confuso – eu vou pro meu quarto.

Ele saiu da cama sem olhar para trás, ele estava muito envergonhado. Assim que ele entrou no banheiro eu me levantei e fui tomar um banho no meu quarto. A água caia no meu rosto e pescoço e tudo que eu conseguia era pensar na sensação de ter o Théo me abraçando. Parecia algo grudado em minha pele, como se eu não fosse capaz de esquecer, como se minha pele tivesse memória própria. Aquilo era errado, em muitos níveis de erro aquilo era o mais alto. Ele era meu primo, mas minha pele parecia não se importar com isso. Quando notei que estava ficando excitado novamente desliguei a água e sai correndo para me arrumar, tentando espantar qualquer coisa da minha mente.

Desci para o café da manhã e encontrei apenas minha tia e minha prima sentadas conversando. Eu estava constrangido só de vê-las e lembrar do que havia acontecido minutos atrás. Falei um bom dia no tom mais normal que eu consegui e me sentei começando a comer imediatamente. Um tempo depois Théo chega e senta em frente a mim, do lado de sua mãe como sempre. Ele não se arriscava olhar para mim, a vergonha ainda devia ser muita.

- Vocês estão bem? – Cecília perguntou olhando pra nós dois.

- Sim – eu respondi, Théo me olhou pela primeira vez – porque?

- Estão calados demais – ela franzia a testa. 

- Ressaca – Théo respondeu roucamente e voltou a comer.

- Ah, claro – Ceci riu.

- Vocês precisam maneirar mais na bebida meninos – minha tia dizia passando manteiga em uma torrada.

- Pode deixar tia – eu respondi sorrindo sem graça.

Terminamos o café e fomos para o carro. Cecília sentou-se atrás como já era costume e eu me sentei no passageiro. Estava tenso, coloquei o cinto sem olhar pro lado, mas mesmo assim sentia que Théo me ignorava o tempo todo. O caminho até o cursinho foi quieto, nenhuma música tocava dessa

vez . E quando chegamos Cecília saltou se despedindo e bateu a porta. O barulho da porta me fez acordar de um transe, percebi que seria só eu e o Théo até a universidade e isso me deixa inquieto. 

Depois de um tempo que a gente voltou a rodar de carro pela cidade eu me lembrei que não era só essa manhã que era um problema. Na noite anterior ele havia me beijado. Meu estômago deu um salto e eu afundei no banco querendo desaparecer. Eu não sabia o que falar, mas sentia que precisava fazer algo. Eu não conseguiria encará-lo novamente e fingir que nada, absolutamente nada, tinha acontecido.

- Théo? – eu chamei num tom quase falho.

- Oi? – ele disse olhando fixamente para o trânsito que estava parado a uns bons minutos.

- Você está melhor? Da ressaca eu digo? – completei rapidamente.

- Sim... – ele ainda olhava para o trânsito, mas notei seus dedos ficando brancos enquanto ele apertava o volante – eu...olha, me desculpa por hoje de manhã.

- Fica calmo, eu já disse que você não tem culpa – eu disse tentando não parecer incerto.

- Não é questão de culpa, é questão de que aconteceu – e ele soltou a respiração de forma pesada.

- Você pelo menos se lembra de alguma coisa da noite passada? – eu disse com toda a coragem que eu tinha, queria saber se ele sabia o que tinha feito.

- Pra ser sincero alguns flashs só, vodka me deixa muito mal – o transito havia fluido e ele olhava para frente – depois que meus amigos me levaram andar eu lembro pouca coisa até ter acordado e ido vomitar.

- Então você não se lembra do que aconteceu? – eu soltei sem pensar com a testa franzida.

- Do que você ta falando? – ele agora me olhava também com a testa franzida.

Nesse momento nós já estávamos na universidade, eu fiquei mudo sem saber o que dizer. Ele então estacionou o carro e desceu logo em seguida, nós estávamos atrasados por isso a pressa. Sai do carro e ele me olhava ainda com cara de dúvida e com os braços cruzados. Eu teria que responder a pergunta dele de qualquer forma.

- Você...se lembra do porque a gente foi embora da festa? – eu disse de frente pra ele. Minha voz parecia tremer.

Ele ficou me encarando por um tempo, como se tentasse se lembrar a todo custo. Os olhos dele se espremeram buscando a memória e logo em seguida se arregalaram. Ele colocou a mão sobre a boca e ainda me olhava em terror, foi quando eu percebi que ele havia se lembrado de mais do que eu havia perguntado. Eu estava paralisado no lugar e minha respiração era mínima, esperando que ele falasse algo. Mas ele ficou calado e olhou pra baixo ainda tampando a boca.

- Théo? – eu perguntei incerto.

Ele me ignorou e começou a andar apressado em sentido à entrada do bloco. Eu não consegui me segurar, eu não podia deixá-lo fugir, eu provavelmente nunca mais teria coragem de tocar nesse assunto de novo. E ele sabia, ele se lembrava. Ele não podia fugir o resto da vida, eu ainda moraria mais alguns anos na casa dele. Como seria conviver com ele sem olhar na minha cara? Eu não podia aceitar. Eu o segurei pelo braço com força fazendo-o se virar, foi uma péssima decisão.

- Me solta! – ele disse me encarando vermelho e nervoso.

- Théo a gente tem que conversar – eu disse ainda segurando seu pulso.

- Eu disse pra você me soltar – ele parecia tremer enquanto olhava para o lado.

- Théo você me beijou e... 

Mas eu não terminei a frase e nem o que eu queria dizer, seu outro punho cerrado veio rápido demais na direção do meu rosto. Me acertou em cheio próximo ao meu olho direito e a dor explodiu em minha cabeça. Ele era muito forte, o impacto no meu rosto me fez perder o equilíbrio e cair estatelado no chão sujando minha roupa e arranhando minhas mãos que tentaram amortecer a queda. Meu rosto sangrava em algum lugar que eu não conseguia identificar, mas senti o sangue escorrer pela lateral do meu rosto.

Théo me olhava estático, sua expressão era um misto de raiva e surpresa. Ele parecia não ter pensado antes de me dar um soco. Ele me encarava respirando rápido. Então ele balançou a cabeça em negação olhando para seu próprio punho ainda levantado e se virou correndo para algum lugar que eu não faço idéia. Ele havia sumido de vista e eu ainda estava sentado, com muita dor e sangrando. Sem saber o que fazer como de costume.

Algumas pessoas que deviam estar passando por ali pararam e me perguntaram se eu estava bem e se queria ir até a enfermaria, disse que estava tudo bem, pois não queria ter que falar com ninguém sobre isso. Levantei o mais rápido que pude e fui em direção ao banheiro mais próximo que eu conhecia, pra minha sorte estava vazio afinal as aulas já haviam começado. O estrago parecia grande, meu supercílio sangrava e eu notei uma grande mancha vermelha em volta do meu olho. Aquilo no outro dia ficaria preto, roxo, sei lá. A questão é que eu não teria como esconder e eu não me sentia bem para explicar nada para ninguém.

Chiei de dor quando a água gelada entrou em contato com o corte, mas a dor maior era por causa do impacto. Minha cabeça parecia irradiar a dor em volta do meu olho e eu sentia como se tivesse uma enxaqueca. Limpei o corte, que não era tão grande, o melhor que eu pude com sabão e água. Estanquei o sangue segurando um pedaço de papel higiênico no lugar por alguns bons minutos. Só de encostar o papel no meu olho eu rangia os dentes de dor, minha respiração estava descompassada.

Sai do banheiro sem destino, não estava nem um pouco a fim de entrar na aula. Eu não sabia onde ir e comecei a andar sem rumo pelo campus que estava mais vazio visto que todo mundo estava

nas aulas. Minha cabeça doía demais, mas pelo menos já não sangrava mais. Me sentei na grama em uma área aberta onde algumas árvores faziam uma sombra gostosa, parecia um lugar tranquilo.

Minha cabeça dava voltas e voltas em tudo que havia acontecido. Eu não conseguia ter raiva do Théo, eu sabia que ele devia estar morrendo de vergonha e com certeza estava tão perdido quanto eu. Ele agiu por impulso, tanto no beijo quanto no soco. Os pensamentos do que fazer daqui por diante eram os que mais me assustavam, eu não sabia nem se iria ter como voltar de carona com ele hoje. Eu não sabia onde ele estava e creio eu que mesmo se soubesse não era uma boa hora para conversamos. Mesmo depois de um soco daqueles eu ainda me preocupava com ele. Patético pensei.

Como é que eu iria encará-lo depois de tudo isso? Depois que ele me beijou a sensação foi estranha, mas eu ainda sentia que podia me aproximar. Agora, merda, agora tudo estava fodido. Eu não sei se teria coragem de falar com ele novamente e pior era o sentimento de que talvez ele não conseguisse mais falar comigo. Nunca mais. Como eu iria viver na casa dos meus tios sabendo que o incomodava tanto? Eu teria de sair de lá. Se tiver que ser, eu só posso aceitar concluí.

O tempo passou e eu não me dei conta, não fazia idéia de quanto tempo fazia que eu estava sentado encostado naquela árvore. A única coisa que eu sabia era que meu corpo agora mais relaxado, doía. E minha cabeça ainda pulsava, mas eu estava começando a ficar com fome. Decidi que seria uma boa ir até a praça de alimentação comprar algo para comer antes que todos estivessem lá.

Me levantei e segui na direção que eu achava que daria na praça de alimentação. Pra minha sorte eu acertei e cheguei lá em dez minutos de caminhada. Estava até que vazio, mas mesmo assim haviam um ou outro grupo de estudantes espalhados pelo local. Comprei um lanche e um refrigerante e estava deixando o local quando escuto alguém chamando meu nome, ou melhor meu apelido.

- Thor! - era uma voz feminina.

- Oi Isa - eu disse me virando e me arrependendo no mesmo momento.

- O QUE ACONTECEU? - ela falou exasperada.

- Calma, tá tudo bem - eu disse com uma tentativa de sorriso.

- O caralho que tá, teu olho tá horrível, você brigou com quem? E o mais importante porque? - ela me encarava preocupada e com os olhos arregalados.

- Erm...é um assunto complicado - eu não queria contar nada, ela era amiga dele e eu não queria deixá-la preocupada.

- Thor, você vai me acompanhar até a enfermaria e depois você vai me contar - não era uma sugestão, era uma ordem. Ela estava séria como nunca havia visto.

Ela pegou levemente no meu braço e foi me puxando sem demoras, atravessamos a praça de alimentação e descemos para um outro bloco que eu nem conhecia. Aparentemente haviam cursos como enfermagem ou medicina alí e a enfermaria fazia parte do complexo do bloco. Uma senhora de

cabelos grisalhos fez um pequeno curativo no meu supercílio depois de desinfeta-lo e me deu uma pomada para passar a noite para ajudar com o hematoma e um comprimido para a dor que não queria parar de jeito algum.

Depois disso Isa foi me levando novamente pelo braço sem pressa e às vezes me olhava com uma expressão de compaixão na cara. Ela estava tão calada quanto eu, deve ter percebido que eu não queria falar sobre o assunto, principalmente com pessoas passando por nós a todo momento. Chegamos a uma outra área do campus que eu nunca havia visto, tinha um pequeno lago, mais árvores e alguns bancos. Nos sentamos de frente para o lago e eu fitava as pequenas ondas que se formam na água calado.

- Thor - ela disse colocando a mão suavemente em meu ombro - você está bem?

- Não - e o peso da minha própria sinceridade foi demais até para mim, lágrimas brotavam dos meus olhos e eu não conseguia segurar.

Ela me abraçou no mesmo instante, colocando sua mão em minha cabeça e fazendo eu deitar calmamente no seu ombro. Eu não sabia o que fazer, eu só chorava. Era como se o peso de tudo que estivesse acontecendo e de toda a confusão na minha cabeça fosse maior que eu. E naquele momento eu cedi e decidi que chorar era a única coisa que eu podia fazer, eu estava assustado demais para pensar em qualquer coisa.

Ela acariciava meu cabelo enquanto eu tremia sob peso das minhas lágrimas. Eu não sou de chorar, pelo menos não depois que eu cresci. Era algo que eu nem me lembrava como era. E doía, doía mais que minha cabeça. Isa estava quieta e tudo que ela fazia era me consolar, calma e gentilmente. Até que eu me acalmei mais depois de uns minutos e decidi me afastar para limpar meu rosto que estava molhado.

- Me desculpa - eu disse com a voz embargada.

- Thor, para de ser bobo - ela ainda mantinha a mão em meu ombro - você quer me contar o que aconteceu?

- Eu sei que eu preciso contar isso pra alguém Isa - eu disse olhando nos olhos dela - mas eu não sei se eu posso, ou se eu consigo.

- Se você se sentir a vontade eu estou aqui para te ajudar - ela sorria de maneira tímida e sincera.

- Você é incrível sabia - retribui com o que eu consegui de um sorriso.

- Thor, eu já te considero um amigo sabe. Só de você ser primo do Théo... - ela dizia mas ao mencionar o nome dele eu fiquei tenso - Espera, foi o Théo quem te bateu? - ela agora parecia incrédula.

- É...mas...mas aconteceu muita coisa - eu disse balançando a cabeça devagar - não é

exatamente culpa dele.

- Como não? Ele te bateu, eu vou matar ele - ela disse parecendo puta.

- Calma, era por isso que eu tinha medo de te contar...mas agora você já sabe.

- Mas como? Porque? 

- Eu não sei por onde começar - eu disse olhando novamente para o lago.

- Você se lembra de ontem na festa, quando você e o Théo saíram juntos? - eu arriquei perguntar.

- Sim, claro que me lembro Thor. Nós demos uma baita volta na festa cumprimentando várias pessoas e brincando com o bixos. - ela me disse calma.

- Você lembra se o Théo bebeu muito?

- Olha quando eu vi ele estava com uma garrafa de vodka pela metade nas mãos - ela disse rindo - mas logo eu tirei dele porque eu sei como ele fica quando bebe vodka. E com certeza não era só ele que bebia da garrafa.

- Ele chega a não se lembrar das coisas que faz? - eu disse agora olhando para o lago.

- Teve algumas vezes em que isso aconteceu sim, o Théo tem um histórico com bebidas meio tenebroso - ela disse séria - o primeiro ano dele na universidade foi bem pesado em questão de festas.

- Sério? - eu olhava pra ela espantado.

- Sim, mas nunca aconteceu nada extremamente perigoso, exceto quando... - ela parecia em dúvida e eu acenei pra que ela continuasse - ...exceto quando uma vez ele tomou um porre e dormiu no meio da festa, ele passou mal, vomitou e quase sufocou até a morte com o próprio vômito. Nojento eu sei, mas se não fosse eu achar ele a tempo ele teria...

- Nossa, então isso era verdade... - eu disse chocado.

- O que? - ela franzia a testa pra mim.

- A história de que ele havia passado mal e quase morrido - eu olhava para ela sério, apreciava a confiança dela de me contar o que havia acontecido.

- Sim, é. Eu sei que é tenso, mas eu estava lá e tudo ficou bem - ela dizia enquanto olhava para baixo - mas porque você me perguntou essas coisas?

- Eu sei que você confiou em mim para contar essas coisas, você me promete que o que quer que eu te conte você não vai contar pra mais ninguém? Especialmente para o Théo? - disse olhando ela nos olhos.

- Claro, mas eu vou querer bater nele do mesmo jeito - ela disse séria.

- Você pode bater nele depois que eu decidir que preciso falar com ele, gostaria de ser eu o primeiro a falar com ele sobre qualquer coisa do que eu vou te contar.

- Claro Thor, eu não quero me meter no assunto de vocês. Mas vai ser difícil ver ele e não bater - ela riu verdadeiramente.

- É eu tenho medo que seja mesmo - eu ainda estava sério.

Comecei a contar sobre a festa para Isa, do ponto em que ela e o Théo deixaram eu e o Arthur a sós. Contei que ele era gay e que achava que ele flertava comigo. Contei de como nos afastamos e de tudo que nos levou ao quase beijo. Ela parecia chocada, com a boca levemente aberta. Quando comecei a contar sobre a chegada do Théo ela ficou séria e me olhava assustada com as coisas que eu dizia. 

Depois de falar da festa eu fiz uma pausa em que tudo que eu conseguia fazer era olhar para o lago com os braços apoiados em cima dos joelhos e as mãos entrelaçadas. Respirei fundo e decidi que contaria sobre o beijo, era o que me preocupava mais. Comecei a falar e quando contei todo o ocorrido com Théo no meu quarto a Isa abriu a boca e arregalou os olhos totalmente petrificada.

- ELE O QUÊ?? - ela disse pondo a mão no meu ombro.

- É Isa, isso mesmo que você ouviu. Ele entrou no meu quarto me puxou e me beijou, de língua, com vontade e depois saiu e bateu a porta - eu olhava pra ela sério e balançava a cabeça em afirmação

- Eu...eu não acreito que ele fez...que ele fez isso, porra eu quero MATAR o Théo - ela dizia quase rosnando e passando a mão nervosamente no cabelo.

- Calma, ainda tem mais... - eu disse com um aperto no peito. Eu sabia que aquilo tudo era pesado pra ela.

Decidi contar tudo até o final, eu precisava desabafar. Eu não podia falar com ninguém na casa da minha tia, nem com minha mãe. Ninguém. Respirei fundo novamente e recomecei a contar desde quando achei o Théo vomitando e tudo que aconteceu até a manhã seguinte. Até o momento em que ele me deu um soco e o que aconteceu depois para ser mais exato. Isa parecia em outro mundo, ela me olhava fixamente e quase não respirava a cada palavra que eu dizia.

- Isa, eu não sei o que fazer agora.

- Thor...eu...eu não sei nem o que te dizer meu querido - e ela me abraçou apertado e não me soltou por um bom tempo.

- Eu sei, é uma situação bem complicada. Eu ainda vou aparecer em casa com esse olho assim. E eu nem sei onde o Théo está ou como eu volto para casa hoje - eu disse coçando a cabeça.

- Olha...eu...eu vou mandar uma mensagem para ele - ela disse me olhando - eu não vou contar nada pra ele. Mas eu tenho certeza que ele vai me contar alguma coisa, ele sempre conversou de tudo

comigo. 

- Isa eu não acho uma boa idéia - eu disse chocoalhando a cabeça.

- Calma Thor, eu quero saber o que ele vai me dizer. O que ele tá sentindo. Pode ser que ele se arrependa tanto que venha te pedir desculpas. - ela disse passando a mão no meu braço.

- Você ainda acha que isso é possível? - eu disse rindo em desespero.

- Acho - ela estava séria - eu conheço muito bem o Théo. Eu sei que ele não é assim. Ele deve estar sofrendo tanto quanto você.

- Mas Isa ele não pode sonhar que eu te falei qualquer coisa - eu disse em tom de súplica.

- Ele não vai saber - ela ainda me encarava séria.

- E se ele não responder? Ou não der certo? - eu indaguei.

- Aí eu te levo pra casa, eu sei onde o Théo mora - ela disse sorrindo.

Eu fiquei mais calmo com aquele sorriso, não sei dizer o porque. Ela mandou uma mensagem para ele como se só quisesse vê-lo mesmo. Um bom tempo se passou e nada dele responder. Ela parecia preocupada com esse sumiço dele, mas não me disse nada. Continúavamos conversando sobre besteiras, acho que ela só queria me distrair um pouco daquele dia fodido.

Quando deu o horário de término das aulas, nós nos levantamos e decidimos ir em direção ao carro da Isa. Ela queria passar para ver se o Théo iria aparecer pra pegar o carro dele. Entrei com ela no carro e fomos até o outro lado do campus, chegando lá o carro do Théo não estava mais na vaga. Ela decidiu me levar embora já que aparentemente o Théo já havia ido. Merda, pra piorar a situação, além do olho roxo ainda chego sem o Théo em casa pensei.

Seguimos o caminho todo ouvindo músicas e ela falando uns absurdos sobre um cara que ela havia ficado no churrasco. Ela queria me fazer rir, ou me distrair não sei e eu fiquei extremamente grato por isso. Ao chegarmos na casa dos meus tios ela parou o carro em frente à casa e nós observamos que o carro do Théo também não estava lá e ele ainda não havia respondido a mensagem.

- Você quer que eu entre com você? - ela disse me olhando - Eu conheço muito bem seus tios.

- Sério? - eu disse surpreso - Pode ser...

Descemos e entramos pela porta da sala, para o meu azar minha tia estava sentada na sala lendo uma revista enquanto esperava o pessoal para o almoço. Ela olhou por cima da revista quando nos viu entrando e pelo que percebi ficou bem feliz em ver a Isa alí. Logo estava de pé abraçando e beijando ela. E logo depois ela me viu.

- Meu Deus do céu, o que aconteceu com você meu filho? - ela vinha na minha direção toda preocupada e me segurou pelos ombros para olhar o meu olho.

- Eu... - comecei a dizer.

- Ele me defendeu de um cara que tava sendo escroto comigo Ester - Isa interrompeu antes que eu pudesse falar mais alguma coisa - por isso eu fiz questão de traze-lo de volta - e ela soria levemente.

- Thor! Menino...só você mesmo - ela dizia balançando a cabeça ainda com cara de preocupada - Você está bem meu querido?

- Estou melhor tia - eu disse - foi tudo muito rápido, mas já passou.

- Ah menino, se sua mãe ficar sabendo disso - ela disse se afastando e sorrindo - acho até que ela ficaria orgulhosa. 

- Não tia, não é bem assim - agora eu sorria tímido - ela não gostaria.

- Contanto que você esteja bem, a atitude pelo menos foi bonita - ela passou a mão em meu braço, eu estava envergonhado de mentir desse jeito pra ela.

- Isa meu amor, você quer ficar para o almoço? - agora ela olhava para Isa.

- Não Ester, não precisa, eu tenho que ir embora resolver umas coisas para o meu pai - ela disse sorrindo.

- Tudo bem, quando puder venha! - e minha tia se despediu dela com um abraço e foi para a cozinha.

- Isa! - eu disse assim que ficamos sozinhos - Obrigado por me ajudar.

- Magina lindinho - ela me abraçou apertado - não tem o que agradecer. Eu sei que você jamais entregaria o Théo mesmo sabendo que ele foi um idiota, e eu te acho um fofo por isso.

- Você é a segunda pessoa que me chama de fofo - eu disse virando os olhos - e olha a situação que eu estou.

- A culpa não é sua - ela disse sorrindo.

Assim que a Isa foi embora eu  fui para cozinha e almocei sozinho mesmo, antes que mais alguém chegasse. Minha tia até achou estranho mas eu disse que estava com fome e queria descansar um pouco. Ela sorriu quando eu terminei e me deu gelo para levar e colocar em meu olho e assim subi para meu quarto, fiquei trancado lá o resto do dia. Li, conversei com alguns amigos pelo celular, mas minha cabeça ainda repetia tudo que havia acontecido nas útlimas 24h. O gelo parecia ter aliviado a dor, porém já havia acabado.

Quando dei por mim já era noite, eu não sei quanto tempo eu passei deitado olhando para o teto pensando e até mesmo cochilando. Alguém batia na porta do meu quarto e eu demorei para responder, não estava afim de falar com mais ninguém. 

- Thor você está bem? - minha tia disse através da porta.

- Oi tia, tá tudo bem - respondi ainda deitado na cama.

- Nós vamos pedir pizza mais tarde porque o Théo ainda não chegou, se quiser pode comer alguma coisa na cozinha enquanto isso. 

- Obrigado tia, ainda tô sem fome, eu espero - respondi torcendo para que ela fosse embora.

Meu desejo se realizou, ela saiu e eu fiquei sozinho deitado na cama e no escuro. Era tudo que eu precisava no momento, meu estômago dava sinais de vida mas eu não me atrevia a me mexer. Minha cabeça melhorou após o remédio mas ainda doía e eu não queria me olhar no espelho porque tinha certeza que o resultado seria péssimo. Eu me sentia quebrado.

Minha tia dizendo que o Théo ainda não havia chegado me deixava preocupado, mas talvez ele tenha decidido ir dormir na casa de algum amigo pra não ter que ver minha cara. Talvez seja melhor assim, eu pensei. Mudei de posição mas minha cabeça começou a pulsar, decidi que teria mesmo que ficar estático até amanhã. Eu não fazia idéia do horário e não estava nem aí, me perdi em pensamentos novamente.

 A proxíma vez que alguém bateu na porta eu estava em um estado de quase subconsciência e como demorei pra responder novamente uma voz veio pela porta.

- Thor - era minha tia novamente - vem comer as pizzas já chegaram e sua prima e seu tio já desceram. 

- Eu logo vou tia - disse com esforço - o Théo chegou? - arrisquei.

- Ainda não, mas eu conheço ele...

- Okay.

Escutei ela se afastando da porta e eu realmente não queria descer e ver todo mundo. Porém eu estava morrendo de fome e eu iria ter que ve-los amanhã de manhã, então não teria como fugir. Levantei devagar, meu olho latejava mas o resto da cabeça doía menos. Fui até o banheiro para ver o estrago, teria que encarar uma hora ou outra. Estava um pouco inchado, o gelo deve ter ajudado, mas havia uma mancha que misturava roxo com vermelho abaixo da minha sobrancelha e ao redor do meu olho. Era bem visível, ainda mais com o curativo branco contrastanto com pele.

Não haveria jeito, eu tinha que descer. Respirei fundo e sai devagar do meu quarto procurando sinais de que Théo poderia ter chegado. Não escutei nada o caminho todo até chegar na cozinha, quando entrei meus tios já haviam comido e minha prima ainda cortava um pedaço de pizza. Todos me olharam a hora que eu me sentei na mesa entre meu tio e minha prima, eu não sabia para onde olhava, só esperava.

- Thor o que aconteceu? - minha prima havia largado o pedaço de pizza de volta no lugar com a

boca aberta. Meu tio também me analisada com uma expressão estranha.

- É... 

Mas antes que eu pudesse responder um barulho na porta fez minha tia levantar tirando a atenção de mim. Fui salvo pelo gongo para morrer logo depois, pensei respirando fundo. Minha tia ia em direção a sala, só podia ser o Théo chegando. Escutamos vozes na sala e minha prima ainda me olhava com cara de espanto. Eu fiquei tenso, eu sabia o que ia acontecer, mas torcia pra que ele não entrasse naquela cozinha. Eu ainda não estava preparado.

- Vem comer Théo - escutei minha tia falar num tom mais alto - vem, eu sei que você tá com fome.

Ele entrou na cozinha de cabeça abaixada, totalmente quieto. Sentou-se na minha frente ao lado da minha tia e decidiu mexer no celular. Ele não olhou pra mim em nenhum momento, eu olhava fixamente para pizza tentando não olhar pra ele. 

- Thor você ainda não me respondeu - minha prima disse pegando em meu braço.

- Ele ajudou a Isa porque um cara estava sendo babaca com ela - minha tia disse e olhou séria para Ceci - deixa o menino comer? Ele deve tá com dor e não comeu nada desde o almoço.

- Desculpa Thor, só fiquei preocupada - ela esfregou meu braço e eu acenei pra ela com a cabeça.

Nesse momento eu tomei coragem para pegar um pedaço de pizza, mas assim que eu levantei o olhar eu via Théo me encarando com uma expressão que eu nunca havia visto. Ele estava com a boca entre aberta como se estivesse prestes a falar alguma coisa, eu abaixei meus olhos o mais rápido possível e me servi. Comi o tempo todo quieto graças à intervenção da minha tia. Eu não me arriscava a olhar para o Théo.

Quando eu terminei meu segundo pedaço de pizza eu decidi que era o suficiente e que poderia voltar a me enterrar na cama pelo resto da noite. Antes de eu sair da cozinha minha tia fez questão de me dar um remédio para dor, ela deve ter percebido que eu comia devagar e minha expressão não era das melhores. Subi as escadas devagar analisando a situação do jantar até que me dei conta que já estava na porta do meu quarto.

Entrei, sentei na cama e peguei meu celular que indicava alguma mensagem. Passei algum tempo lendo e respondendo pros amigos quando escuto a porta do meu quarto abrindo. Eu assustei tanto que até derrubei meu celular no chão, Théo me olhava com a boca cerrada como se fosse ele quem tivesse levado um soco e estivesse com dor. Ele entrou fechou a porta e encostou nela, ele olhava par ao chão.

- Porque você mentiu para eles? - sua voz era rouca e grave.

- Eu... eu... - eu olhava pra ele atônito.

- Você tem medo de mim? - ele disse me encarando.


Notas Finais


Segura essa marimba aí monamu!! *-*
A Isa não é linda? <3

Logo tem mais, me digam o que acharam pls!!!
bjs bjs


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