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História Spin-offs - A liberdade e a escuridão - Emma - Parte IV


Escrita por: Elis_Giuliacci

Capítulo 15 - Emma - Parte IV


Senti que estava em lugar confortável, mas recusei abrir os olhos de imediato. Agucei meus ouvidos e ali estava o som da noite - grilos, farfalhar de árvores, chamas de uma lareira, talvez. Fui lentamente abrindo os olhos. A penumbra da casa escondia meus olhos arregalados observando onde eu estava. Eu não sabia. Nada ali dentro era familiar.

— Que bom que acordou! - com aquela frase saltei da cama e não dei importância à dor na cabeça, eu queria sair dali.

— Quem é você?! Que lugar é esse?! Onde está Regina?! - repeti aquelas perguntas algumas vezes debatendo-me sentada na cama, mas a ruiva que me observava tentava acalmar minha histeria segurado-me na cama.

— Calma, querida, agora você está segura! Aquele lobo está lá fora!

— Que lobo?! - fiquei ainda mais aflita com a ideia de um lobo rondando aquele lugar e a ausência de Regina perto de mim - Onde Regina está?

— Não havia outra mulher com você... - a mulher à minha frente parecia bem tranquila e não mostrava intenção de fazer-me alguma mal, mas eu não poderia baixar a guarda, meus últimos meses não foram fáceis para ser enganada novamente.

— Mentira! - gritei tentando levantar-me de novo - Eu preciso de Regina aqui! - a mulher segurou meus braços apertando um pouco mais.

— Por favor! Se não se acalmar, não poderei saber quem é você e não poderei ajudá-la. Vamos conversar! - eu deixei de me debater, mas não de olhar para ela com desconfiança - Meu nome é Zelena e você está na minha casa. - ela esperou que eu também me apresentasse lançando-me um sorriso paciente.

— Meu nome é Emma. - ajeitei-me na cama fazendo com que ela soltasse meus braços - Eu não sou dessa região, venho de longe e estava acompanhada por outra mulher.

Minha anfitriã levantou as sobrancelhas em sinal de espanto. Levantou-se com um suspiro e foi até a janela, logo ouvimos um lobo uivar e parecia estar próximo à casa, o que me fez tremer.

— Não, Emma. Não havia nenhuma mulher com você... - ainda olhava para a janela quando concluiu - Você foi arrastada por um grande lobo negro quando nos encontramos na estrada. - diante daquilo meu coração disparou. O que o lobo havia feito com Regina, afinal? Encolhi-me na cama, senti o estômago embrulhar e logo recostei-me. Zelena caminhou rápido até mim - Querida, está pálida! - ajeitou meu travesseiro e foi até a cozinha trazendo-me em seguida uma caneca - Beba, vai se sentir melhor. - tomei o líquido de uma golada só, um pouco picante, mas logo os enjoos desapareceram e fiquei sonolenta.

— Tem certeza de que não havia nenhum vestígio de outra mulher?

— Infelizmente não, Emma. Eu sinto muito.

Virei para a parede dando as costas à Zelena e não me importei se meu choro iria incomodá-la, não conseguia controlar e não conseguia imaginar o que teria acontecido ao meu amor. Eu estava sozinha novamente? Adormeci.

Não sei precisar o tempo que dormi, mas Zelena despertou-me chamando baixinho bem próxima da cama. Quando olhei para ela, ainda era noite e um cheiro bom espalhava-se pela casa - era o jantar, mas eu não estava com fome - dei duas ou três colheradas naquela sopa e não estava ruim, porém meu estômago não suportaria nada naquele momento. Irritava-me o barulho que aquele maldito lobo fazia do lado de fora da casa.

— Esse animal age assim sempre? - ouvindo isso Zelena sorriu desconcertada.

— Não, Emma, não percebe?! Esse é o lobo que arrastou você pela estrada. - outro uivo e olhei furiosa para a janela - Ele está por perto desde que trouxe você para cá.

Dei um salto e fui até a janela. Olhei para fora e a lua estava alta iluminando todas as árvores que podia enxergar à qualquer distância. Abri a janela de uma vez e coloquei-me debruçada para observar melhor.

— Apareça! O que fez com Regina?! - gritei isso umas duas vezes. Era muita loucura pedir que o lobo me desse alguma explicação. Contudo, eu não esperava que ele respondesse - o uivo prolongou-se até ficar bem próximo aos fundos da casa. Eu sorria olhando para as sombras das árvores projetadas aguardando que ele aparecesse. Quando dei por mim, Zelena estava arrastando-me para longe dali e fechando a janela rapidamente.

— Perdeu o juízo? - fechou as cortinas - Não sabemos o que aconteceu com sua amiga e você ainda não me disse de onde vinham quando esse lobo apareceu.

Primeiro fiquei olhando para ela com todas as imagens do convento passando pela minha cabeça - jamais poderia dizer à ela o que havia acontecido antes de desmaiar - por outro lado eu não sabia como fomos colocadas para fora do convento ou como Regina desaparecera e nem como aquele lobo nos encontrou.

— Eu não consigo me lembrar, desculpe. - foi só o que eu disse e ela compreendeu.

Nem me dei conta que a madrugada estava adiantada e aquela mulher passara a noite em claro por minha causa. Senti vergonha pelo meu comportamento, mas acredito que ela entendia meu desespero. Deixara-me sozinha e podia ouvir sua movimentação na cozinha. Senti uma brisa leve vinda da janela e quando olhei o céu começava a mudar de cor. Estava amanhecendo. De repente aquele formigamento voltou a dominar meu corpo e o calor subia por toda a parte. Tentei chamar por Zelena e nem sei ao certo se ela pode ouvir, mas não consigo lembrar o que aconteceu depois daquilo.

Apenas lembro-me de sonhar que voava e tão alto que via tudo muito distante - as casas, animais, passava sobre a copa das árvores com facilidade - por um momento pareceu-me ter visto uma vila, a mesma que passara quando cheguei a Albiano. Logo fui subindo cada vez mais e pude reconhecer a encosta onde o convento erguia-se. Parei. A sensação era de que pousara em algum galho alto. Observei os muros do convento, mas não quis ultrapassá-lo. Uma carroça estava parada em frente e notei um rapaz colocando alguns objetos dentro dela. Saltei e passei rápido por ele. Dali continuei voando por sobre as árvores descendo novamente até a vila. Quando sobrevoava algumas casas ouvi uma voz conhecida "Onde ela está agora, Zelena?" - Regina! Mas onde e como? "Regina, essa história é muito absurda!" Persisti em sobrevoar o lugar guiando-me pelos meus ouvidos e quando as vozes ficaram mais próximas resolvi pousar sobre um telhado. Por mais que tentasse eu não conseguia acordar e aquele sonho estava ficando cada vez mais nítido. Lancei-me sobre o portal da entrada da cozinha e estava certa - era a casa de Zelena - lá dentro ela conversava com Regina, as duas estavam sentadas e minha morena usava uma capa enrolada no corpo. Tentei dizer algo, mas não conseguia distinguir minha voz, apenas chiados agudos. Enfim, de tanto tentar elas perceberam minha presença.

Foi assim que descobri que meu sonho era agora a minha realidade. Eu me transformara, sabe-se lá como, em um pássaro. Vi Regina se aproximar e estender seu braço e diante daquele gesto pousei sobre ele.

— Meu Deus! O que Rumple fez, meu amor?! - ela olhava para mim apavorada, mas sentia seus dedos correndo pelo meu corpo. Levou-me para o interior da casa. Fiquei bastante nervosa com aquilo tudo acontecendo - era pavoroso imaginar que eu estava presa a um corpo de um pássaro que não sabia nem o que era - logo as vozes foram sumindo e eu apenas via as duas e tudo em cores realçadas, muito vivas. Agitei meu corpo e sai dali pra não agredir ninguém, pois minha raiva era tão grande que queria voar, apenas isso.

Acredito que passei por aquela agonia durante todo o dia e quando percebi o sol se pondo o formigamento, o calor e todos os outros incômodos voltaram. Despertei no quintal de Zelena sentindo muito frio, pois estava nua, mas ao meu lado havia uma capa - enrolei-me nela e caminhei ainda um pouco zonza até a porta da cozinha da casa e bati. Não demorou muito para que Zelena abrisse.

— Deve estar cansada. Venha que o jantar está pronto. - ela parecia muito calma, foi até seu quarto e voltou com um papel nas mãos entregando-me em seguida - Isso é para você.

Emma,

Não tenho certeza do que o abade nos fez, mas a realidade é que estamos vivendo um pesadelo que não sei como desfazer. Quando ele nos trancou na capela e disse todas aquelas coisas estranhas estava, na verdade, lançando sobre nós algum tipo de maldição. Só agora depois de ter conversado com Zelena durante todo o dia é que compreendi.

Naquela noite Rumple nos atirou num fosso que existe na capela, eu me vi junto com você em um túnel escuro por onde passamos até sairmos na floresta - como você estava desmaiada arrastei você todo o tempo e alcançamos a estrada. Eu sentia-me mais forte e pesada, mas não tinha ideia do que havia me tornado até que Zelena contou-me o que viu. Ela também viu no que você se transformou, minha águia.

Confie em Zelena. Nos conhecemos ainda crianças e em outra oportunidade contarei como, mas preciso que confie nela até conseguirmos nos livrar desse mal.

Peço que mantenha a calma e acredite que poderemos resolver isso, minha querida.

Agora é o meu pequeno pássaro e eu amo você.

Regina

Fiquei muda por um bom tempo. Zelena deixou-me sozinha com aquela carta. Eu tentava compreender o que estava acontecendo e confesso que demorou um tempo. A partir dali comecei a comunicar-me com Regina por cartas e tentava ficar bem calma durante os dias para que lembrasse de tudo, caso eu perdesse o controle minha consciência desaparecia - isso eu aprendi com o tempo assim como aprendi a fixar meus sentidos em algo específico como uma única voz ou um único ponto.

Dessa maneira consegui reconhecer o crucifixo da minha antiga cela no convento dentro da carroça do comerciante que sempre passava pela casa de Zelena. Uma noite deixei escrito para Regina que, se pudesse, eu gostaria de ter meu crucifixo de volta - ela prontificou-se em negociar com Graham, de uma forma um pouco inusitada, mas era como poderíamos agir naquelas circunstâncias. Regina trocou o crucifixo por carne de cervo salgada. Quando li o que ela faria na noite da caçada senti medo de minha própria mulher - um grande lobo negro selvagem correndo pela floresta atrás de um cervo, mas eu também acabei acostumando-me com aquilo.

Já passava um bom tempo que estávamos hospedadas na casa de Zelena e era hora de conseguirmos um lugar para viver. Regina evitava a vila por causa das pessoas que a reconheceriam, principalmente padre Leopoldo. Por isso já estávamos a ponto de deixar a cidade e procurar outra cidade para morar quando o próprio Graham, o comerciante, deu-nos uma solução bem prática. Ele morava numa cabana na estrada que seguia pra o sul e como não passava muito tempo por lá, o lugar era invadido sempre por andarilhos ou simplesmente saqueado. Regina convenceu o homem a deixar-nos viver lá para garantir que esses roubos e invasões acabassem e, em pouco tempo, estávamos nos mudando. Por mais que Zelena relutasse para que ainda ficássemos em sua casa, não era correto. Ela queria descobrir uma forma de desfazer todo aquele mal e depois de muito tentar ela acabou conseguindo.

Nossa vida na cabana de Graham era solitária. Regina deixava tudo organizado durante o dia, começou a criar galinhas, cultivava uma modesta horta e, para sua satisfação, o quintal era cheio de macieiras, a fruta que meu lobo mais gostava. Ela deixava a lareira acessa, jantar pronto e qualquer outra coisa que eu precisasse. Pouco antes de anoitecer ela seguia para a floresta para que assumisse a forma do lobo, enquanto eu pousava no quintal esperando voltar à minha forma humana. Nunca conseguimos nos ver durante aqueles dias, nem por um segundo entre o despertar do dia ou da noite - chegamos a tentar, mas depois desistimos, pois a frustração nos consumia.

Todas as minhas noites eram longas e monótonas, eu tentava ler, caminhar pela floresta e muitas das vezes acompanhada do lobo. Antes do amanhecer eu também cuidava para que Regina não se preocupasse, deixava seu café pronto e escrevia algo para que ela não se sentisse tão sozinha.

Depois de alguns meses, ela conheceu duas moças que moravam num sítio próximo ao nosso, Dorothy e Ruby - vendiam mercadorias na vila, mas trocavam mantimentos conosco. Regina e Dorothy ficaram muito amigas por conta desses escambos e, claro, pela proximidade tanto de nossas moradas quanto da condição que vivíamos. Eu conheci as duas quando nossa cabana foi destruída por uma tempestade e tive que passar um tempo morando com elas e foi dessa maneira que não pudemos mais esconder nosso segredo bem como nem elas esconder quem realmente eram.



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