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História Spin-offs - A liberdade e a escuridão - Elsa - Parte II


Escrita por: Elis_Giuliacci

Capítulo 6 - Elsa - Parte II


Essa imagem nunca saiu da minha cabeça. Minha casa em chamas, minha tia e meus pais mortos. Eu não queria acreditar naquilo, mas meus olhos não me deixariam esquecer. O que mais doía era saber que a culpa daquilo tudo era minha - Anna e tia Ingrid não diziam nada sobre o assunto, mas sei que pensavam também sobre isso - minha irmã tinha razões para odiar-me, eu sabia, apenas não dizia uma só palavra, seus olhos condenavam-me em silêncio.

Viajamos por alguns dias e às vezes noites inteiras para que eu não fosse pega - os rumores sobre bruxas e feitiços corriam mais do que nosso cavalo. Tínhamos sempre a sensação que éramos observadas. Tia Ingrid sempre atenta não deixava que nada nos faltasse ou nos acontecesse - hoje ainda penso que tenha usado seu dom para nos manter seguras - ainda bem, pois esperávamos que algo ruim acontecesse a qualquer momento. Ela acreditava que quanto mais viajássemos para o sul estaríamos longe da perseguição, porém, não tínhamos garantia disso.

Uma noite chegamos a um lugar chamado Bolzano. Depois de dias e dias de viagem poderíamos contar com algo bem quente para comer, e bem na hora, pois o que meu pai havia deixado dentro da charrete já tinha se esgotado, então, começamos a controlar nossa fome gastando aos poucos as parcas moedas que tia Ingrid levara consigo. Encontramos uma estalagem grande nesse lugar, um quarto simples, mas quente - afinal teríamos uma noite em uma cama confortável. Tomamos uma sopa de raízes e subimos para dormir - Anna e eu estávamos exaustas, mas nossa tia parecia que não se cansava - ela nos levou até o quarto e novamente saiu.

— Elsa, acredita que vamos encontrar um lugar que possamos viver sem medo? - a voz de Anna saía baixinho, eu a puxei para mais perto e acariciei seus cabelos.

— Não sei, Anna... É tudo muito confuso... Não sabemos nem para onde estamos indo!

— Tia Ingrid garantiu que teremos paz!

— A única coisa que me importo agora é que você não se afaste de mim! - ela sentou-se na cama, pegou minhas mãos e olhou fixamente nos meus olhos.

— Elsa, você é minha irmã e nós ficaremos juntas ou esqueceu do que mamãe nos fez prometer antes de... - ela parou de repente, baixou os olhos e deitou-se ao meu lado - Que pesadelo!

Não dissemos mais nada e logo minha irmã adormeceu. Eu sabia muito bem o que era um pesadelo, as poucas noites que conseguia dormir, depois que partimos, esses pesadelos vinham atormentar-me. Eu só ainda não sabia que pesadelos materializavam-se e minha tia Ingrid mostrou-me isso da forma mais cruel possível. Naquela noite na estalagem eu consegui, enfim, ter um sono tranquilo. Anna ao meu lado ressonando leve dava-me uma sensação de paz, como nos tempos em que morávamos em Brandemburgo.

Pude até sonhar! Há tempos que só os pesadelos rondavam-me, mas agora eu sonhava estar dentro de uma capela, sim, um lugar que já fora-me bastante familiar - eu estava sentada, meditando, olhava adiante no altar - era tudo tão quieto ali, os vitrais coloridos iluminavam a nave da capela e seus bancos de madeira escura - de repente eu vi um homem levantar-se lá na frente, parecia um padre e ele olhou direto para mim estendendo sua mão. Eu me levantei e atendi seu pedido quando acenou para que fosse até ele - pude ver seu rosto nitidamente - barba por fazer, moreno, olhos azuis e um sorriso terno. Fui caminhando até ele, a capela ainda em silêncio, mas notei que não podia andar mais depressa e a impressão de que algo estava logo atrás de mim aumentava a cada passo que dava em direção ao altar. Senti o peito apertar e o ar faltava quando ouvi a voz de tia Ingrid chamando por mim. Na verdade, minha tia estava no quarto e tentava me acordar, pois aquele sonho de paz havia tornado-se um pesadelo e eu não conseguia sair dele.

— Estava sonhando, Elsa!

— Esses pesadelos não me deixam nunca, tia. - olhei rápido para Anna ao meu lado, por sorte eu não acordei minha irmã enquanto permanecia no meu surto onírico. Voltei à tia Ingrid e ela estava sentada numa cadeira do lado da cama e olhava para mim demoradamente sem dizer nada - Aconteceu alguma coisa, tia?

— Infelizmente sim, minha querida... - seu desânimo fez-me voltar a ficar ofegante e o coração disparava - Creio que teremos que resolver um problema aqui. - eu não entendi, mas ela parecia muito preocupada, apenas agucei meus ouvidos, pois não queríamos que Anna despertasse - Eu saí para conhecer um pouco mais da cidade e encontrei-me com um monge que está peregrinando pela região. Sua caminhada procura conhecer mais sobre o povo que vive aqui e prega uma nova ordem dentro da fé. - eu tive que interromper tia Ingrid, pois não entendia absolutamente nada.

— Desculpe, tia, mas eu não estou entendendo.

— Precisamos tirar você do convívio do povo, por enquanto, Elsa. - ela ia dizendo tudo bem devagar, mas eu comecei a ficar mais assustada chegando à conclusões que não eram nada precipitadas - Esse monge conhece um lugar aqui perto onde ficará segura até que os boatos do que aconteceu em Brandemburgo acabem.

— Mas e a senhora? E Anna?! - minha voz ficava chorosa a cada sílaba, mas tia Ingrid foi bem paciente... e fria.

— Calma, minha querida, esse tempo será necessário até para a segurança da própria Anna! - minha cabeça dava voltas, mas parecia que ela já tinha definido por nós todas que eu deveria deixá-las.

— Você e Anna vão para onde? - falei mais alto e minha irmã virou-se na cama, mas não acordou - Mamãe disse para ficarmos juntas, tia! - olhava para Anna e o medo de nunca mais ver minha irmã aumentava no meu coração.

— Não será para sempre, Elsa, tente entender...

— Que lugar é esse? - sequei as lágrimas e meu sentimento estava transformando-se em raiva. Estava com raiva por ter criado aquela situação, agora tudo voltava à minha cabeça e comecei a ficar cada vez mais aborrecida ouvindo minha tia explicar que o lugar era próximo de Bolzano, eu ficaria por lá tempo suficiente para as coisas se acalmarem e voltar a conviver com ela e Anna.

— É um convento, lá poderá professar votos e permanecer em oração até que tudo isso acabe. - tia Ingrid não tinha alterado sua voz nem sequer uma vez e depois que disse isso levantou-se fez um gesto para que eu me levantasse. Meu coração disparou e a vontade de chorar era muito grande - eu estava morrendo de medo - minha própria tia querendo livrar-se de mim.

— Tia, eu não quero deixar minha irmã! - ela passou o braço em torno dos meus ombros e caminhou até a janela do quarto.

— Se Anna acordar agora, as coisas ficarão ainda piores, Elsa. - nesse momento ela falava firme como se estivesse perdendo a paciência.

— Esse monge que encontrei, Elsa, ele caça bruxas! Agora ficou claro para você? Mas ele não as caça para o mal, ele tenta ajudá-las... - meus olhos estacaram no rosto de tia Ingrid. Ela deixou-me e foi até a mesa onde nossos pertences estavam - Eu vou escrever uma carta ao responsável por esse convento, o monge me disse que ele está lá até que uma madre assuma o lugar. - ela sentou-se apanhou papel e tinta e pôs-se a escrever - Agora vá, filha, arrume-se. O monge levará você.

Anna continuou adormecida até que a carta foi escrita e depois que estava pronta quis dar-lhe um beijo, mas minha tia tinha pressa em levar-me para fora dali. Eu ainda olhava para a cama onde Anna dormia e senti um nó na garganta quando a porta se fechou.

— E a senhora, tia? Eles não vão procurá-la? - argumentei, claro, ela também era portadora desse dom que eu não entendia o que era e nem como funcionava. Tia Ingrid apenas sorriu e ali percebi sua ironia.

— Querida, eles procuram por uma jovem de cabelos dourados. Eu não sou o alvo deles, você é.

Descíamos as escadas, então, notei que havia um homem vestido num hábito marrom muito gasto e sujo. Ele olhou para nós, mas ainda não conseguia decifrar seu rosto por causa do capuz. Quando tia Ingrid chegou mais próxima, então, pude enxergá-lo.

— Aqui está ela. - dito isso entregou minha bolsa à ele. O homem não tirou seu capuz, mas percebi que ele tinha a pele negra e a barba por fazer. Ele mostrou-me o caminho da porta com um gesto e olhei novamente para minha tia.

— Por favor, tia, tem outro jeito de resolver isso! - eu estava a ponto de implorar para que ela me deixasse ficar, eu nem tinha me despedido de Anna - O que dirá à minha irmã?

— A verdade, querida. - ela deu-me um abraço frio e depois empurrou-me delicadamente em direção à porta onde o homem já me esperava.

Assim, lá estava eu novamente na estrada, e nem pude aproveitar um pouco mais para descansar. O homem tinha uma charrete e assim que subimos ele tocou as rédeas e o cavalo seguiu um ritmo acelerado durante todo o tempo. A noite estava bem fria, mas não mais fria do que aquele homem ao meu lado - ele não disse uma palavra durante todo o tempo que passamos viajando, até que percebeu em mim um cansaço - e, sim, eu estava exausta e com muito medo, não controlava minhas lágrimas, mas também não tinha coragem para dizer uma palavra sequer.

— Pode deitar-se aí atrás, quando chegarmos eu acordo você. - eu não tinha coragem de pregar os olhos. Permaneci ali ao lado do monge, nem sei se era mesmo um monge, seu hábito era muito estranho.

Ao contrário do que pensava a viagem fora curta. Logo a charrete subiu por uma estrada sinuosa beirando uma encosta cheia de pedras pontiagudas e escuras. Lá em cima uma construção de muros altos com uma torre do lado direito - não parecia um convento, o lugar era muito cinzento - eu ouvira falar do lugar onde as freiras moravam, mas jamais imaginei aquilo. Quando chegamos o homem saltou e foi até os portões , eu apenas observava todos os detalhes. Já estava amanhecendo e ainda haviam sentinelas no alto dos muros e uma curiosidade veio queimando dentro de mim.

— Por que o lugar precisa ser tão guardado? - continuava olhando para cima.

— Você faz perguntas demais, menina. - disse-me sério - Vai descobrir quando estiver lá dentro. - nesse momento uma freira veio até o portão e deixou-nos entrar.

Caminhamos por corredores pouco iluminados até chegar a um jardim seco - olhei em volta e tudo era cinza, não tinha nada que pudesse motivar alguém a querer ficar ali. A freira apresentou-se como irmã Consolação e disse que o abade só poderia estar entre nós quando amanhecesse - olhei para o alto e o céu indicava que isso não demoraria.

— Quem a mandou? Ou ela veio por querer? - a mulher quis saber.

— A tia pediu que eu a trouxesse, irmã. - a mulher levantou as sobrancelhas e olhou-me novamente. Sorriu.

— Venha, vou mostrar sua cela. - ela abraçou-me e seguimos pelo corredor à esquerda dali. Eu continuava confusa e me senti uma idiota por não conseguir agir melhor, mas tudo acontecia muito rápido. Percebi que o homem não havia nos acompanhado, olhei para trás e nunca mais tive notícias dele, nem sequer sabia seu nome ou vi seu rosto com exatidão.

Quando a freira abriu a porta daquele cômodo um frio subiu por todo o meu corpo - será que eu ficaria ali para o resto da minha vida? Será que poderia ao menos sair para procurar minha irmã quando fosse possível? Será que eu poderia? Quando a porta bateu atrás de mim e me vi sozinha naquele cubículo fechei os olhos respirei fundo - estava cansada, triste - senti uma onda de calor dentro de mim e não demorou para que sentisse uma brisa aumentar ao meu redor, depois mais forte a ponto de balançar o crucifixo que estava na parede. Abri os olhos rápido. Tudo cessou. Eu não fazia ideia de como aqueles tremores e sensações de calor vinham ou como surgiam, mas eu acabaria enlouquecendo se não aprendesse como controlar aquilo.

Logo o sino da capela tocou e a irmã Consolação voltou para me buscar - era hora da celebração da manhã e não poderia me atrasar. Lá na capela conheci uma noviça chamada Aurora, muito falante e cheia de perspectivas para sua vida religiosa - ela tinha vontade de entrar para uma ordem desde criança e, depois de muita relutância dos pais, ela foi para Albiano, chegara ali poucos dias antes de mim, mas parecia tão acostumada e tranquila que poderia jurar que não era uma noviça. O abade Rumple pareceu-nos um pouco estranho - ao final das orações, irmã Consolação colocou-me diante dele e, aí sim, senti que aquele homem tinha algo muito estranho - olhou-me demoradamente com um meio sorriso que deixou-me desconcertada.

— Bem vinda, Elsa! É uma linda moça. - tirando os olhos de mim por um segundo ele tornou à freira - Quem trouxe Elsa, irmã?

— O monge de sempre, senhor abade. - notei a satisfação de Rumple nas palavras da freira. Aurora parecia assustada ao meu lado e não levantava a cabeça tentando entreter-se olhando para o piso da capela.

— Cuide dela, irmã... Logo, logo estará preparada para professar seus votos, minha filha. - ele dizia isso ao mesmo tempo que caminhava para os fundos da capela, segundo Aurora ali havia uma passagem que dava direto em seus aposentos. Foi também através de Aurora que descobri que iguais à essa, o convento tinha um número bem grande de passagens secretas que os religiosos usavam para escapar de possíveis ataques ou, quem sabe, para encobrir alguma coisa fora das convenções do lugar.

Aquela moça e a irmã Consolação faziam o possível para que eu ficasse bem ou que contasse a minha história, eu não estava disposta a falar - não naquele momento - eu estava muito triste e o tempo todo eu pensava onde Anna estaria? Como estaria? Se estava precisando de mim ou, quem sabe, teria tomado um rumo mais seguro sem a minha presença? Esses sentimentos deixavam-me sempre quieta e tristonha, mas executava as atividades que era designada com bastante precisão. Uma delas era varrer o pátio e a sala onde as freiras costuravam.

E foi em um desses dias que eu estava responsável pela limpeza do salão que um frei apareceu para trazer-me bem mais que um simples sorriso.



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