História Sra. Byun - Capítulo Único

Eu sempre percebi que meu caçula era diferente de seu irmão, sempre notei as diferenças pelos mínimos detalhes em seu jeito de agir. Talvez eu tenha descoberto antes mesmo dele desconfiar.

            No começo, quando eu chegava em casa um pouquinho mais cedo e sem querer pegava-o experimentando meus sapatos e até meus batons, ou quando o via jogando jogos de vestir bonecas na internet, eu ignorava e até fingia não ver, não via aquilo como um problema e de fato para mim não era.

            Baekhyun sempre fora um garoto quieto, tímido e bastante educado – não que seu irmão não fosse, me certifiquei de educá-los muito bem – só que Baekhyun sempre foi um garoto mais atencioso e até mais amoroso, um anjo. Ele sempre possuiu um comportamento diferente dos demais garotos; os carrinhos que ganhava de presentes acabavam sendo dados ao seu irmão, já que ele sequer tocava-os, ele preferia ficar em casa me ajudando a preparar o lanche para ele e seu irmão à ir brincar de bola na rua. E até mesmo suas professoras já comentaram que ele preferia brincar com as meninas e ficava animado quando alguma delas trazia suas bonecas para o dia do brinquedo.

            Não que Baekhyun gostasse só de coisas de meninas, eu diria que ele era uma criança eclética, ele gostava de tudo um pouco; de bonecas, de super heróis, de brincar de esconde-esconde e de histórias de terror.

            Ele adorava assistir filmes de terror com seu irmão mais velho, eu não gostava muito da ideia, mas acabava deixando que vissem vez ou outra, mesmo que na hora de dormir ele ficasse com medo e eu acabasse tendo que passar a noite em seu quarto.

            Na medida em que Baekhyun foi crescendo, eu passei a perceber mais que esse jeitinho dele continuava consigo, mesmo que seus gostos estivessem constantemente em mudanças. Ele já não brincava mais e passava bastante tempo em frente ao computador ou dançando.

            Meu caçula desenvolvera uma incrível habilidade em dançar, porém era extremamente tímido para fazê-lo na frente de alguém, então ele passava horas trancado no próprio quarto cantando e dançando as músicas que estavam fazendo mais sucesso no momento, ele ficava dias a fio assistindo aqueles vídeos que ele me disse uma vez que se chamavam ‘’dance pratice’’, algo assim, até que conseguisse pegar todos os passos.

            E ele dançava de tudo um pouco, porém as que ele mais preferia eram as musicas coreanas. Das vezes em que eu o espiei pela fresta da porta – eu sei que não devia, mas era louca para ver meu bebê dançando! Ele era lindo e dançava tão bem! Me cansei de pedir pra que dançasse para mim, mas o máximo que consegui foi fazê-lo cantar um pedaço de uma música – eu via o quão bem ele dançava, tanto musicas de grupos masculinos como de femininos.

            Eu nunca assisti os vídeos originais, mas não me importava se ele estava fazendo os passos iguais e sim que ele ficava a coisa mais linda dançando com aquele sorriso retangular – que ele havia herdado de seu falecido avô.

            Alguns anos depois ele acabou criando coragem e se apresentando em um evento que fora com alguns amigos, eles acabaram ganhando um prêmio.

            E todas as minhas suspeitas sobre seus gostos se concretizaram algum tempo depois de Baekhyun completar 14 anos, que foi quando aquele serzinho apaixonado por quadrinhos entrou em nossas vidas.

            Eu me lembro que os Park haviam se mudado para a casa ao lado da nossa logo no começo do ano, rapidamente eu simpatizei com a senhora Park, mas nossos filhos eram tão tímidos perto de pessoas desconhecidas que acabaram não se falando muito quando se conheceram.

            Não que meu Byun não tenha gostado daquele garoto que, mesmo sendo meses mais novo era um tantinho maior que si, mas ele era extremamente tímido para fazer novas amizades, eu via em seus olhos a curiosidade e a vontade de falar com Chanyeol, porém a vergonha extrema sempre fora um empecilho na vida dos dois.

            Eu até o convidei para a pequena festinha de aniversário que preparamos para Baekhyun, os dois ficaram um tanto tímidos quando se viram, mas acabaram conversando um pouquinho e Baekhyun ficara extremamente animado com o presente que ganhara do outro, que por acaso era um dos poucos quadrinhos que faltava para a coleção de seu super-herói favorito. Acho que não preciso citar que alguns dias antes da festa um Chanyeol extremamente envergonhado aparecera em minha porta perguntando de que tipo de coisas Baekhyun gostava, certo?

            Aquele então passara a ser o quadrinho favorito de Baekhyun, sei disso porque era o que ele deixava em evidência em seu quarto mesmo após comprar outros novos.

            E aos poucos, apesar da timidez por parte dos dois, uma linda amizade fora crescendo entre eles, amizade essa que viera acompanhada de um sentimento que eles ainda não sabiam qual era, mas que já estava bem claro para mim a cada pequeno gesto de um para com o outro.

            Aos 15 anos eu já sabia que Baekhyun não se trancava no próprio quarto com Chanyeol apenas para jogar vídeo-game, ele achava que conseguia esconder alguma coisa de mim, que eu não percebia o nervosismo e medo em seus olhos e movimentos quando eu o pedia para abrir a porta para mim, que eu não percebia os olhares e sorrisos bobos que eles trocavam durante o jantar.

            Entretanto, mesmo sabendo de tudo desde o inicio eu não disse nada, esperaria até que ele estivesse pronto para me contar.

            O que acabou não demorando muito, pois em um dia de verão após voltar de uma tarde inteirinha na casa de Chanyeol, Baekhyun, que na época possuía 16 anos, me chamou na sala e disse que precisava falar comigo. No momento em que ouvi sua voz baixinha e um pouco gaguejada me chamando percebi seu nervosismo. Eu já sabia o que ele falaria.

            Ele se embolou um pouquinho com sua fala, prolongou a conversa o máximo que pôde e a todo momento mexia em suas mãos nervosas sobre seu colo. Ele não conseguiu me olhar uma vez sequer quando admitiu em voz – não tão – alta que gostava de garotos; que gostava de Chanyeol, que queria namorá-lo e que queria muito a minha permissão.

            E eu só consegui sorrir e abraçá-lo, murmurando baixinho em seu ouvido que já sabia e que o aceitava do jeitinho que ele era.

            Entretanto, nem tudo fora sempre um mar de rosas.

            O pai de Baekhyun literalmente surtou quando soube que ele era gay.

            Não gosto muito de me recordar, mas me lembro dele gritando pela casa, dizendo que não havia criado um filho para que ele virasse ‘’bichinha’’, que não admitiria aquilo dentro de casa e até mesmo ameaçara bater em Baekhyun.

            Aquele fora um dos piores dias de minha vida e tenho certeza de que fora para Baekhyun também. Eu pedi para que naquela noite ele dormisse na casa de Chanyeol, pois tinha medo do que poderia acontecer se ele ficasse em casa. Eu tentei diversas vezes conversar com o pai de meu filho, mas ele insistia em manter aquela ideia errada e preconceituosa na cabeça, o que acabou acarretando em varias outras brigas. Baekhyun até mesmo me disse que terminaria com Chanyeol, os dois estavam se sentindo culpados e o que mais queriam era que as brigas acabassem.

            Mas eu não permiti, não permitiria que um amor tão puro e bonito se acabasse daquela forma por conta de uma mente tão fechada, na qual se importa mais com rótulos do que com a felicidade do próprio filho.

            E foi por isso que em mais uma noite de gritarias repletas de palavras preconceituosas que, ao tentar expulsar o meu filho de casa, quem acabou sendo expulso fora ele.

            Naquele dia eu pus fim ao meu casamento de quase 25 anos por conta de uma ideia errada e idiota, Baekhyun tentou de todas as formas me impedir, ele chorou mais do que eu mesma e por meses se sentiu culpado, mas eu simplesmente não conseguia mais e não fora só por Baekhyun que me separei, eu já havia cansado daquele casamento há anos, acho que no fundo estava apenas esperando um motivo aparecer.

            Baekbeom, meu filho mais velho, também tivera um certo preconceito para com seu irmão, talvez influenciado pelo pai. Ele não quis aceitar no começo, mas dele eu não desisti, conversei diversas vezes para tentar fazê-lo entender, eu não queria que meus filhos ficassem brigados por uma coisa tão boba e simples que não afetaria em nada na vida de Beom.

            Por fim, depois de muita conversa, consegui fazê-lo entender o quão importante ele era para o irmão, o quanto o magoava com as palavras ruins e o quanto Baekhyun precisava de seu apoio. E Baekbeom aceitou; mesmo que não entendesse, mesmo que não gostasse, ele se desculpou, respeitou e posteriormente aceitou seu irmãozinho do jeitinho que ele era.

~

            Um sorriso involuntário aparecera em meus lábios no mesmo instante em que as lágrimas de felicidade começaram a descer de meus olhos.

            Estava tudo tão lindo e enfeitado. O jardim extenso onde nos encontrávamos estava completamente cheio e arrumado, flores brancas enfeitavam as mesas, as bordas dos bancos e também o arco grande que havia no centro, onde estavam Baekhyun e Chanyeol em pé de frente um para o outro, eles vestiam ternos parecidos e seguravam as mãos com sorrisos apaixonados no rosto.

            Mas com certeza, a coisa mais linda que meus olhos viam era o sorriso retangular de felicidade de meu pequeno caçula, que agora já é um homem feito. Tenho muito orgulho da pessoa que Baekhyun se tornou, mesmo passando por dificuldades e sofrendo muito preconceito ele continuou firme e forte ao lado da pessoa que ama, pois ele sabia que tinha o apoio meu e de seu irmão.

            E ali, enquanto observava Baekhyun colocar o anel dourado no dedo anelar de Chanyeol antes de por fim se aproximar e deixar um selo demorado nos lábios dele, ao som dos aplausos de toda a família e amigos que haviam vindo para a cerimônia, eu soube que havia feito a escolha certa ao escolher Baekhyun, em escolher amá-lo, apoiá-lo e aceitá-lo mesmo que ele fosse diferente – definição esta dada pelo preconceito da sociedade –, mesmo que ele tivesse gostos diferentes.

            Eu soube que havia feito certo ao escolhê-lo, porque existe algo mais importante para uma mãe do que ver a felicidade do próprio filho?