História Stalker - Four

13/02/16 - 20:53 - Sábado

— Vamos, Emy, vamos! — Maria gritava escandalosamente da escada, apressando Emily para subir e encontrar um amigo de André que queria conhecê-la.

Com muita dificuldade, Emily colocou seu copo em cima da mesa de centro e subiu os degraus calmamente, apoiando-se no corrimão, enquanto Maria reclamava do quanto ela havia bebido na sua primeira festa de verdade.

Ela não conseguia pensar direito, estava vivendo como se fosse outra pessoa. Emily nunca ia a festas, nunca bebia, nem amigos ela tinha! 

Assim que chegaram no segundo andar, Maria pegou em sua mão e a puxou para o quarto de Amanda, onde havia vários garotos fumando.

— Oi, meninos, essa aqui é a minha amiga Emily. — Maria disse, sorrindo para o namorado.

Alguns assobios puderam ser ouvidos no cômodo, logo André interviu:

— Ei, ei. A Maria já é minha e a Emily... Tem que ser do Diego. — disse, dando tapas nas costas de um garoto loiro.

Emily bufou. Era o mesmo garoto que ela havia tratado mal há pouco tempo.

Diego deu um sorriso de lado e se aproximou. Maria rapidamente percebeu e foi de encontro com seu namorado.

— Garoto, o que você quer? — Emy perguntou.

— Só conversar um pouco... Lá fora. — ele disse, tossindo um pouco.

13/02/16 - 21:10 - Sábado

— Pelo menos você não quis ficar lá dentro. — murmurou Emy enquanto encarava a lua.

Eles estavam sentados em cima do carro de Diego. Em volta, alguns caras faziam brincadeiras idiotas até caírem de tão bêbados.

— Eu não queria ficar lá sentindo aquele cheiro tão forte. Maconha, nicotina, essências... Eu não sei como alguém gosta dessas coisas. — ele explicou, também olhando para cima.

— Eu também estava me sentindo desconfortável. Eles estão sempre assim? Digo, são seus amigos...

— Sim, estão sempre chapados. Não, não são meus amigos. — ele disse, suspirando — Eu costumava ficar sozinho o tempo todo, observando as pessoas vivendo as suas vidas. E as músicas que eu ouvia eram trilha sonora da vida deles. E os sonhos que eu tinha eram realizados por eles. 

— E quando isso tudo mudou? — ela perguntou, se familiarizando com sua história.

— Artur. Ele me notou. Aquele punk de cabelo azul, com piercing no lábio inferior. Deve tê-lo visto quando chegamos. — disse — Faz umas duas semanas. Nós já estudamos juntos, e esse ano ele entrou no meu trabalho.

— Sim... Ouvi falar dele... Ele quem conseguiu as coisas para Amanda. — comentou Emily.

— Ela parece gostar muito de você. Todas as meninas na verdade. São amigas há muito tempo? 

— Não... Mesma história que a sua, mas nos conhecemos porque tive que fazer um trabalho com ela há alguns dias. Ela tem sido legal comigo... Mas simplesmente me jogou no mundo dela e eu não sei se devo considerar isso amizade. — pensou alto.

— Exatamente assim que me sinto. — ele disse, rindo fraco.

Os dois permanceram em silêncio por alguns segundos, até que Emily quebrou dizendo:

— Me desculpe por ter sido grossa com você. Eu realmente sou péssima com isso de vida social. — disse.

— Tudo bem. Eu só estava tentando ser quem eu não sou. Também não sei chegar em ninguém. — riu.

— Então somos... amigos... — ela perguntou pausadamente.

— Acho que sim. Isso é o ínicio de uma amizade entre dois desajustados. — ele sorriu.

13/02/16 - 22:04 - Sábado

Sei, eu sei... 

Quando eu te olhar, tudo vai parar de tocar, suar

Sei, eu sei...

Esquece o que ficou pra trás,

Olha bem pra mim, não sai

A sala encheu-se de gente e Emily estava cada vez mais solta.

A música estava alta e o ritmo a envolvia completamente. Ela e Diego estavam rindo e dançando como dois amigos de muito tempo. 

Lucas, sua namorada, e Viktor entraram pela porta da cozinha e encostaram-se na mesa, tomando várias doses de vodka pura. Os três competiam quem aguentava mais, e Samantha parecia aguentar muito mais do que os garotos esperavam.

— Por favor, me digam que vocês já beberam antes. — ela disse rindo da expressão que Viktor e Lucas faziam a cada gole.

— Não dá mais pra mim! — Lucas disse, seus olhos nem aguentavam mais ficar abertos, ele definitivamente tinha passado da conta.

O garoto sentou-se na mesa de frente a namorada, que deu um beijinho nele e sussurrou algo como "vou cuidar de você".

Viktor terminou com uma garrafa e saiu para não segurar vela, não aguentaria nem mais 5 minutos perto dos dois. O platinado entrou na sala e entrou em pânico, pois haviam muitas pessoas ali. E Viktor não era muito social.

Para falar a verdade, ele estava satisfeito com seu computador e um balde de pipoca. 

Mas era sábado! Lucas precisava levá-lo à uma festa. Como ele iria desencalhar se não saísse de casa?

Tentando driblar os sintomas de embriaguez, Viktor forçava-se a focar sua visão. A música alta penetrava em seus ouvidos e ele tinha certeza que sairia dali surdo.

Viu a escada vazia e decidiu subir para ver se encontrava algum canto com menos do que 20 pessoas. Entrou na primeira porta aberta que viu e descobriu que ali era o quarto dos pais de Amanda.

Em cima de cada cômoda havia uma foto dela quando criança. Ele sorriu ao ver o semblante alegre que ela tinha. Nem parecia que se tornaria uma adolescente gótica e rebelde que dá festas sem permissão dos pais.

— O que você está fazendo aqui? — a morena perguntou assustada ao entrar no quarto — A festa é lá embaixo.

Viktor tremeu um pouco e olhou para ela.

— Desculpa, eu não me sinto muito bem... Lá embaixo. — ele disse, suspirando.

— Viktor seu nome, não é? — ela perguntou.

— Sim, eu vim com o Lucas e a Sam. — respondeu, tentando sorrir.

— Não gosta dos meus amigos ou não gostou da festa? — ela perguntou, sorrindo.

— Não gosto de participar. — ele respondeu sem expressão ou entonação significativas. 

15/02/16 - 3:50 - Segunda-feira

Viktor acordou assustado.

Olhou para o relógio e viu que ainda era 3:50 da manhã.

Normalmente, ele não teria sequer dormido a essa hora. Só se lembrava de ter socado as paredes algumas vezes e sufocar suas lágrimas no travesseiro.

Ele definitivamente precisava de alguém.

Ninguém gosta de se sentir sozinho. E é pior ainda quando você se sente assim sem estar literalmente sozinho.

Mas ele teve uma sensação naquela madrugada, assim que despertou. Como se alguém também precisasse dele... Ou como se precisasse que ele precisasse desse alguém. Complicado de ser explicado.

O garoto levantou-se e voltou a encarar a tela do computador. Lucas ainda estava online

"Lucas: uma partida?"

"Viktor: várias."

Passaram então o resto da madrugada jogando. Viktor caiu no sono apenas 10 partidas depois, sem nem saber que horas eram.

Seus pesadelos não foram muito diferentes dos de sempre. Aquela casa assombrada, as paredes desmoronando, ele gritava muito e chorava também.

Eu era apenas uma criança, era tudo que ele pensava, não entendo porquê me puxou para fora do seu mundo...

15/02/16 - 9:50 - Segunda-feira

— Emmy, Mandy!! —  Maria chamou pelas amigas do outro lado do corredor, indo em direção a elas e deixando André sozinho.

Naomi veio logo atrás, andando calmamente.

Emily respirou fundo. Odiava que a notassem e sentia o olhar de todos que passavam nela. Como se todos observassem elas se cumprimentando.

Já era difícil ter amigas para ela... Ainda por cima uma delas tinha que ser escandalosa.

Naomi, por ser mais discreta, apenas se aproximou com seu sorriso malicioso de sempre.

— Bom dia. — disse, sem muita entonação.

Para Emily, Naomi era a mais interessante das 3. Sua personalidade, seu comportamento... Ela parecia ter segredos demais. Era misteriosa. Tinha um ar de suspeita.

Durante o resto das aulas Emily ficaria ouvindo The Smiths e anotando coisas desnecessárias que os professores a orientariam. Tudo besteira... Mas era melhor do que ficar de recuperação.

15/02/16 - 10:00 - Segunda-feira

"Acho que alguém perdeu a hora hoje... Preso no LOL? - Buzz98, há 20 minutos"

Um sorriso tímido tomou conta de seu rosto ao ler a mensagem em seu celular.

Alguém havia notado sua ausência.