A delegada pegou as coisas para fazer o chá e deixou a água fervendo enquanto conferia as notificações de seu celular, quando ouviu Camila gritá-la de seu quarto. Colocou seu celular no balcão e subiu correndo, chegando na porta viu a médica chorando com suas mãos trêmulas no rosto. Se aproximou olhando-a.
– Camila? – tocou em seu braço, a mesma apontou para a parede. Lauren olhou para onde a médica apontou – Meu Deus!
Camila se agarrou em Lauren e desandou a chorar em seu ombro. A delegada olhou para o policial esfaqueado no chão e suspirou, acabou por se sentir culpada pela morte do homem que estava ali por seu pedido.
– Ei – pegou o rosto de Camila, tentando limpar suas lágrimas e reparou o sangue em seu rosto – o que é isso? É seu? – agora ficou brava
– Não – fungou – ele passou a faca em mim e estava com o sangue dele... – apontou para o corpo do oficial e chorou de novo
– não, não – limpou o rosto da médica – escuta, ele não vai te relar, tá legal?
– Ele entra aqui com facilidade, qualquer dia ele pode me pegar numa boa – tentou limpar suas próprias lágrimas
A delegada ia dizer algo, mas ouviu seu celular tocando lá na cozinha e desceu de mãos dadas com Camila para atende-lo.
– Alô?
– Lauren, é do Hospital, ligamos para avisar que a paciente que deixou aqui mais cedo acabou de acordar.
– Tudo bem, obrigada!
– Disponha
Desligou o celular e olhou para Camila, que estava de braços cruzados, encostada no balcão, com olhos fixos em um ponto qualquer. Lauren estava aliviada por ter salvado Fernanda, mas não quer passar o mesmo com a médica, não quer imaginar alguém com ela em um lugar imundo como aquele, deixando-a com medo, apavorada. Não quer que nada aconteça ao seu primeiro amor.
– Vou ao hospital falar com a Fernanda, ela acordou – se aproximou da médica
– Vou ter que ficar aqui sozinha com aquelas coisas no meu quarto? – se agarrou ao braço da delegada
– Não, eu vou notificar isso enquanto você vai pegar roupas e coisas necessárias, vai dormir na minha casa até que aqui seja seguro – ficou de frente para Camila, suas pernas relando uma na outra
– Vou ter que ir lá em cima? – fez uma careta
– Você tem jaleco no Hospital? – a médica assentiu – então me fala onde fica calcinhas e essas coisas que eu pego para você, pode usar minhas roupas.
Deixou Camila na sala e subiu as escadas falando com seu chefe, notificando tudo o que havia acontecido, o mesmo anotou tudo e disse que estava mandando policiais, peritos e ambulância para o local. Ao perguntar Lauren sobre o outro policial, a delegada desce as escadas correndo, assustando Camila que a segue, e ao chegarem no carro, veem que o mesmo está também esfaqueado e foi colocado já morto com as mãos apontando para o teto do lado de dentro do carro, onde estava escrito algo também com seu sangue. Camila se afasta com as mãos na boca.
– Droga!
– Morto? – pergunta o chefe da delegada
– E com mais uma mensagem – suspirou
– O que diz?
– “Ainda não acabei”
Terminou de falar com seu chefe e logo vários carros de autoridades pararam em frente a casa de Camila. Lauren acabou de pegar o que a médica pediu e a colocou dentro de seu carro, indo falar ao celular do lado de fora, enquanto observava as pessoas levarem o corpo do policial para a ambulância. Entra de volta no carro e vê que Camila também estava observando tudo olhando pela janela do carro.
– Quer ir comigo para o Hospital ou quer ficar na minha casa? – colocou o cinto em si e na médica
– Acho que não quero me desprender de você tão cedo – olhou para a delegada, que assentiu
Ligou o carro e foi dirigindo para o Hospital, perguntou se Camila queria comer algo e respondeu-lhe que café apenas estava bom. Então parou e comprou café para médica e cappuccino para si. Logo estavam no Hospital e indo para o quarto da menina. A médica resolveu ficar para fora e deixar Lauren sozinha com Fernanda.
– Oi – fechou a porta atrás de si, a menina a olhou e sorriu fraco – como está se sentindo?
– Melhor – suspirou – que bom que veio, queria agradecê-la pessoalmente
– Não precisa – sorriu e se sentou ao lado da menina – acharia ruim se eu fizesse algumas perguntas?
– Posso fazer uma primeiro? – Lauren assentiu – você o pegou?
– Não – suspirou – por isso preciso de respostas
– Vamos lá – Lauren colocou um gravador em cima da mesa que havia ali e ligou-o
– Do que você se lembra do dia em que foi sequestrada?
– Eu estava passando mal, meu estômago estava péssimo – fez uma careta – fui embora mais cedo do treino e escutei passos atrás de mim. Olhei para ver se era minha amiga, Ana Júlia, mas vi apenas uma pessoa de capuz – houve uma pausa – aquilo me assustou, então comecei a andar mais rápido, mas pouco antes de chegar na esquina, minha visão embaralhou e minhas pernas falharam, logo apaguei e quando acordei, já estava naquele lugar que me encontro. – a delegada ficou em silêncio, esperando que a menina falasse mais algo
– O que lembra daquele lugar? Ficou lá por quatro dias
– Era muito escuro – deu de ombros – eu ficava amarrada em cima de um colchão
– Quantas vezes ele ia até lá?
– Não sei dizer, mas ele nunca me feriu ou fez mal algum – olhou para a delegada – mas eu sempre tinha um grande medo daquela máscara e da forma que ele ficava me encarando, parecia a história de João e Maria, jurava que ele estava me tratando bem apenas para me matar a qualquer momento, e quando te vi...
– Quando me viu...?
– Eu já não tinha esperança de sair dali, você me trouxe isso de volta – Lauren assentiu
– Alguma vez você viu o rosto dele?
– Não, ele sempre ia de máscara para lá – negou com cabeça – mas teve um dia que me debati e o capuz dele saiu, deu para ver apenas o cabelo
– Pode descrever?
– É curto, um tanto claro e bem liso – fez expressão de quem tenta se lembrar de algo – e ah, tem uma tatuagem na nuca, parecia uma estrela
– Entendi – Lauren suspirou – quer falar mais algo?
– Se eu me lembrar de algo, peço para te chamarem
– Ótimo – sorriu e pegou o gravador, desligando-o – obrigada, espero que fique bem logo
– Obrigada novamente – sorriu e Lauren assentiu, saindo do quarto
Ao sair, vê Camila sentada na cadeira em frente e a mesma se levanta ao ver Lauren. Sem dizer nada, ambas vão andando até o carro.
– Como foi?
– Ela me deu algumas informações que podem ser úteis – deu de ombros
A delegada estava indo para sua casa. Olhou em volta procurando sua arma, abriu o porta-luvas e a viu ali, pegou-a e colocou em sua cintura, não poderia desgrudar dela depois de tudo que aconteceu. Parou o carro um pouco antes de sua casa, de uma forma que dava para vê-la inteira.
– O que foi? – Camila a olhou e Lauren estava encarando sua casa
– Ele está lá – a médica olhou também
– Você o viu? – negou – Como sabe então?
– A janela aberta – apontou
Logo viu uma pessoa sair de sua casa, abaixou-se junto de Camila, levantaram novamente e a mesma pessoa já estava quase na esquina. A delegada pede para Camila não sair do carro, trancar as portas e qualquer coisa, sair dali o mais rápido possível. Saiu do carro, colocou suas mãos no bolso de sua blusa e finge estar andando tranquilamente. O homem continuou seu trajeto sem perceber que estava sendo perseguido, Lauren mantém uma distância segura. Um minuto ou mais depois, o homem começa a desacelerar seus passos e retira seu capuz, Lauren olha seu cabelo e bate com a descrição de Fernanda, e então vê a estrela na nuca, é ele. O homem fez menção de parar, então Lauren se abaixou atrás de um carro estacionado que havia ali e espiou-o destrancar uma casa. A casa parecia perfeita para quem não quer chamar atenção, era simples e pequena, cores neutras, janelas fechadas. Observou-o entrar e saiu de trás do carro, se aproximando da casa. Quando ia pegar seu celular para anotar o endereço ali, a porta foi aberta bruscamente, assustando-a. O homem saiu de lá de capuz novamente, apontando uma arma para Lauren, que ia pegar a sua, mas o mesmo percebeu e começou a se afastar mais ainda. Ameaçou atirar engatilhando-a, mas não deixou a delegada com medo. Quando finalmente havia conseguido pegar a arma, o homem disparou dois tiros e correu ao ver a delegada cair.
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