História Stalker - Eu não estou sozinha

– Oi, Lauren – revirou os olhos reconhecendo a voz de Felipe – liguei para saber se ouviu minha mensagem.

– Ouvi sim

– Então...?

– Ah, eu te ligo mais tarde, pode ser? – tentou enrolar e nem deixou o rapaz responder  – beijos

Desligou e foi rápido para o banho, colocou algumas músicas para se distrair. Terminou, se vestiu social novamente, pegou seu distintivo e seu revólver colocando-os em sua cintura, pegou sua pasta e desceu as escadas pensando em o que iria comer de almoço. Decidiu parar em uma loja de produtos para quem faz academia e comprou algumas barras de cereal.

– Boa tarde nesse calor de Rio de Janeiro, Srta. Jauregui – disse sua secretária ao chegar na delegacia, passando ao lado de Lauren

– Boa tarde, Kate – a delegada sentiu o cheiro de seu perfume e logo reparou que era o mesmo que Camila usava – espere – segurou o braço de sua companheira de trabalho, que a olhou fixamente – qual nome do seu perfume?

– Gabriela Sabatini – a olhou confusa – não gostou? Eu posso usar outro na próxima ou até ir em casa trocar de roupa e...

–  Não, não – a interrompeu e soltou seu braço – tudo bem, gostei sim

Entrou em sua sala e suspirou um tanto nervosa por tudo estar te fazendo lembrar sua ex namorada de tanto tempo. Se sentou e colocou os papéis em sua mesa, começando a fazer o relatório que seu chefe havia pedido, quando ouve três leves batidas em sua porta, falou um “entra” sem desviar o olhar de seu computador.

– Boa tarde, Srta. Jauregui – disse um oficial

– Boa tarde, senhor Antonio  – apontou para uma das cadeiras, logo o senhor se sentou na mesma – o que traz para mim?

– Um desaparecimento – a delegada para o que estava fazendo e o olha

– Passaram as devidas 24 horas? – o senhor balança a cabeça afirmando – nome da pessoa?

– Fernanda de Mello Louzada, 16 anos – colocou fotos da jovem na mesa para que a delegada pudesse avaliar

– Quando foi a última vez que ela foi vista? – perguntou enquanto olhava as fotos, sentindo que conhecia aquela menina de algum lugar

– Estava treinando até 18 horas dessa segunda-feira, que foi o horário do término do treino, mas a mesma não chegou até sua casa.

– Local do treino?

– Arena Fight Vila da Penha – Lauren suspirou – deseja falar com algum familiar?

– Não, ainda não – mordeu o lábio inferior – com quem ela falou por último?

– Parece que com Ana Júlia, sua amiga do treino – deu de ombros

– Parece? – o senhor confirmou, Lauren suspirou, odeia meio termos e incertezas – quero falar com ela e com a mãe de Fernanda.

O senhor assentiu e saiu da sala da delegada, que não desgrudava os olhos de uma das fotos da jovem Fernanda, que estava sorrindo. Cabelos negros, pele clara, olhos castanhos e boca bem rosada. Tinha que admitir, era uma menina linda. Foi arrancada de seus pensamentos por um barulho da porta sendo aberta bruscamente por uma mulher com seus 45 anos chorando, com dois policiais tentando conte-la.

– Por favor, senhora delegada, ache minha filha – a mulher estava em prantos – eu te imploro

– Senhora, se acalme, você não pode entrar aqui

Lauren permanecia imóvel, apenas observando a cena. A senhora foi acalmada e levada para fora de seu escritório, então Lauren começou a procurar sobre a jovem Fernanda, quando deu por si já eram 20 horas.

– Srta. Jauregui? – disse a secretária após duas batidas na porta

– Kate? O que faz aqui ainda? – reparou que a moça tinha olheiras

– Esperando para ir embora logo depois da senhorita – segurou um bocejo

– Me desculpe, não vi o tempo passar – suspirou – mas faz o seguinte, só cumpra seu horário, por favor, não quero que me leve na justiça por trabalho escravo – disse fazendo a moça rir

– Tudo bem, Srta, não perdi nada demais estando aqui – deu de ombros ainda em pé na porta

– Nada demais? – arqueou a sobrancelha – então perdeu algo, me diz o que?

– Um jantar com um amigo, mas de qualquer forma não estava muito a fim de ir – fez uma careta que fez a delegada rir

– Bom, parece que estraguei um encontro seu – se levantou pegando seu blazer – terei que recompensa-la – disse se aproximando

– Ah é? – disse a secretária, observando-a – e como pretende faze-lo?

– Te levando para jantar comigo, aceita? – parou ao seu lado, se encostando na parede e encarando-a

– Aceito – a moça sorriu e logo saíram da delegacia.

Foram no carro da delegada para uma pizzaria ali por perto, escolha de Kate. Pediram a pizza e resolveram comer na praia para ficarem de frente ao mar.

– É sério, até hoje não entendo o porquê fiz aquilo – disse rindo junto com Lauren – e ai? O que fez você perder o horário hoje? – mordeu a pizza e olhou para sua chefe

– Lembra da mulher que entrou no meu escritório chorando? – Kate confirmou – o caso da filha dela

– Fernanda, certo? – Lauren assentiu – vi fotos da menina, ela é linda – a delegada suspirou lembrando que achou o mesmo – Lauren?

– Sim? – a olhou enquanto bebia seu refrigerante

– você já pegou casos de vários desaparecimentos, certo? –a delegada assentiu, esperando Kate dar continuidade – você sabe que a maioria termina em morte da vítima, correto? – Lauren assentiu novamente, suspirando por pensar nessa possibilidade para Fernanda – acha que Fernanda está viva? – Lauren suspirou com a pergunta e olhou para o mar

– Eu espero que ela esteja – olhou para Kate – vou fazer de tudo para achá-la

–  É impressão minha ou você já se agarrou ao caso?

– Não, acho que não – deu de ombros, bebericando seu refrigerante

– E na garota?

– Que? Não – falou rápido – você mesmo disse que ela pode estar morta, não poderia me apegar nela sabendo disso também.

Kate a encarou desconfiada, mas resolveu deixar para lá. Ambas estavam muito cansadas e já eram 23 horas e estava ficando frio, então Lauren emprestou seu blazer para Kate e arrumou as coisa que haviam sujado para levar a secretária para sua casa.

– Mais uma vez, desculpa por ter feito você furar em seu encontro – disse a delegada ao parar em frente a casa de sua secretária

 – Não tem problema algum, a noite com você foi ótima – sorriu e foi para dar um beijo de despedida em Lauren, deixando seu lábio pegar no canto da boca da delegada, que percebeu o ato e sentiu seu coração acelerar ao sentir o perfume da mulher – boa noite, Srta Jauregui

Kate saiu do carro e Lauren ficou observando seu corpo de longe, sempre achou a secretária muito sexy. Suspirou tentando esquecer a provocação e foi para sua casa. Estava tarde e a rua onde mora é bem parada, sossegada, mas considerando o horário que estava chegando, isso não era bom. Abriu o portão da garagem ainda dentro de seu carro e entrou olhando para os lados. Ela sabia o número incontável de assassinatos que aconteciam por uma pessoa estar guardando o carro e não ver outra pessoa entrar na garagem. Fechou o portão ainda dentro do carro e sentiu um aperto no peito, um pressentimento, se sentiu observada. Ligou as luzes do carro e olhou pela garagem toda novamente, ninguém. Para garantir, pegou seu revólver em sua cintura e deixou pronta para um disparo. A segurou firme e saiu do carro abaixada, deu a volta e abriu a porta que dava para uma escada que sairia na parte do fundo de sua casa, acendeu a luz e olhou para cima, limpo. Fechou a porta e certificou-se de que havia trancado-a, subiu as escadas ainda com a arma e olhando fixamente para o topo da escada. Chegou no último degrau, teve devido cuidado para olhar para os dois lados e só então abaixou a arma, se sentindo um pouco tola, porém mais segura. Entrou para seu quarto, trancou a porta e foi tomar banho. Da sua cabeça não saia o caso de Fernanda e o cheiro de Kate. Ao terminar o banho, colocou pijamas confortáveis, pegou seu computador e se sentou na cama para dar finalidade ao relatório. Ao fazê-lo, entrou em sua página do Facebook e foi procurar pelo nome de Fernanda Louzada. Encontrou no mural de Fernanda várias mensagens de amigos.

“Seja onde você estiver, espero que seu anjo da guarda esteja junto, te cuidando para voltar para nós”

“Eu sinto sua falta, por favor, volte em segurança, eu te amo”

“É muito vazio sem você, espero que esteja bem e volte o mais rápido possível”

Suspirou vendo aquilo tudo e resolveu ir até a cozinha comer algo. Abriu a geladeira e então ouviu seu telefone começar a tocar, mas o toque estava longe, então olhou para onde costuma deixar o objeto e reparou que não estava lá, estranhou pois tinha a certeza  que deixara ali mais cedo. O toque continuou e Lauren o seguiu, entrou pela porta dos fundos e ele ficou mais alto, mas ainda não estava ali. Olhou para a escada e foi descendo devagar, lembrou-se que estava sem a arma, então suas mãos começaram a suar frio a medida que chegava mais perto da porta e ouvia o toque ficar mais alto. Quando colocou a mão na maçaneta, o toque parou e então ouviu sua própria voz na gravação: “Aqui é Lauren Jauregui, não estou no momento, deixe seu recado, plim”. Lauren continuou estática, esperando que alguma voz deixasse uma mensagem qualquer, esperava que fosse Felipe novamente reclamando que Lauren não teria ido para o jantar. Mas começou a ouvir ruídos novamente, os mesmos de mais cedo, junto com a respiração ofegante. Os ruídos vão ficando mais alto e então ela escuta a voz de alguém rapidamente e cortada, não dando para entender o que disse. Fim da mensagem. Lauren abre a porta da escadaria e acende a luz da garagem. Vazia. Olha em volta a procura do telefone e então ele começa a tocar novamente, ela vê de onde a luz está vindo, dentro de seu carro. Ela o abre e pega o telefone, que começa a tocar em suas mãos. Ela reconhece o número dessa vez, tendo certeza de que era Felipe, resolve não atender, e o garoto não deixa mensagem dessa vez. Lauren tranca a porta novamente e volta a subir as escadas com o telefone em mãos, o mesmo começa a tocar novamente. Lauren não ia olhar o número, tendo quase certeza que seria Felipe, mas acabou olhando e era seu número de celular. Parou no meio da escada e olhou para o fim dela.

– Que droga está acontecendo?