1. Spirit Fanfics >
  2. Stand by You >
  3. The truth

História Stand by You - The truth


Escrita por: chadaescrita

Notas do Autor


Oi minha gente!
Desculpem a demora, mas estou aqui para trazer o capítulo que eu considero de suma importância pra fanfic.
Ele conta a história do passado do Taehyung, finalmente.
Já aviso que é um pouco maçante e triste, mas é porque... sei lá... pensei nessas coisas quando desenvolvi a fanfic e ao escrevê-lo acabou se tornando isso aí.

Obrigada pelos comentários e favoritos até aqui!
Ah! E leiam as notas finais, por favor! Tem taekook nova =)

Capítulo 11 - The truth


Fanfic / Fanfiction Stand by You - The truth

Jimin tremia de ódio como há muito tempo não fazia e os amigos nunca tinham o visto daquela forma. Não conseguia se acalmar, desejando ir atrás de Bogum e esganá-lo com suas próprias mãos. Porém, ao contrário dos seus desejos obscuros, ele apenas se levantou e foi em direção ao quarto de Taehyung com rapidez sendo seguido pelos demais.

— Tae! — chamou, batendo com força na porta fechada. — Abra a porta, por favor!

Não houve resposta e aquilo enlouquecia Jimin, somado com o fato de que não ouvia nada do outro lado da porta, nem mesmo uma mísera movimentação.

— Tae, pelo amor de Deus, abre essa porta. — Sua voz era uma súplica desesperada a cada batida. — Não me diz que ele entrou na sua mente de novo, por favor!

Nenhuma resposta, apenas mais desespero.

— Taehyung! — berrou irritado, esmurrando a madeira branca com ainda mais força. — Que merda! Abre logo essa porta!

Taehyung abriu os olhos de repente, tentando focar em algo que não fossem as paredes brancas. Estava assustado com os berros que ouvia junto às batidas, constatando ser a voz de Jimin quando finalmente se focou. Olhou a sua volta, reconhecendo que estava no quarto branco entediante da casa de praia de Namjoon.

“Eu desmaiei. Quanto tempo isso não acontecia…”, pensou, colocando a mão na cabeça por ainda senti-la latejar.

— Tae, por favor, abre a porta. — A voz de Hoseok era contida, mas extremamente preocupada.

Taehyung começou a assimilar a voz suplicante dos amigos e logo tornou a recordar os motivos de ter desmaiado. Não queria preocupá-los novamente; precisava ficar sozinho.

Jimin cuidou de si inúmeras vezes quando desmaiava de fraqueza ou por não suportar a pressão, portanto não era justo que o melhor amigo cuidasse de sua mente ferida mais uma vez.

— Vão embora! — berrou alguns segundos depois. — Todos vocês!

Jeongguk suspirou aliviado ao ouvir a voz do mais velho, apoiando a testa na parede gelada. Fechou os olhos, tentando entender o que estava acontecendo. Quem era Bogum? E quem era Jisoo? O que eles tinham a ver com o passado de Taehyung, Jimin e Hoseok a ponto de atordoá-los dessa forma?

— Tae! — A voz de Jimin estava embargada pelo medo, mas isso não o impedia de continuar desferindo golpes contra a porta, desejando derrubá-la caso não se abrisse. — Se você não abrir essa porta eu vou contar toda a verdade, aquela que você deveria​ ter revelado faz tempo!

Taehyung sentiu as lágrimas se acumulando no canto de seus olhos e logo descendo por suas bochechas, o salgado invadindo seu paladar. Tudo o que mais queria era ver seus amigos, mas estava ciente de que já havia feito Jimin e Hoseok sofrerem o suficiente com tudo isso. E, pior, sequer havia contado toda a verdade para Jeongguk quando teve tempo; não seria perdoado por aquela mentira.

— V-vai embora logo, Jimin! Eu não quero você se preocupando comigo outra vez! — A tentativa de controlar a voz para não denunciar o quão choroso ele estava foi em vão.

Jimin sentiu seu peito apertar ao ouvir a resposta tão costumeira de anos atrás. Aquilo não era bom.

— Você desmaiou agora pouco, não desmaiou? Eu te conheço. — Jimin suspirou frustrado. A raiva havia se dissipado, dando lugar apenas a preocupação. — Você costumava falar isso toda vez que desmaiava no banheiro com a porta trancada.

— N-não... Sim… — Engoliu em seco, sentindo-se um tolo por achar que podia enganar a pessoa que lhe conhecia melhor que si próprio. — Vai embora daqui, Jimin!

— Mas que merda, Taehyung! Abre logo essa porta! — Um soluço escapou de sua garganta, dando lugar às lágrimas que caíam enquanto batia as mãos contra a porta.

— Eu já falei que não! — Sua voz agora era séria mesmo em meio às lágrimas e pequenos soluços. Porém também era seca o suficiente para magoar o amigo do outro lado. — Me deixa em paz.

— Jimin, já chega. — Hoseok sussurrou ao pegar o amigo pelo pulso, trazendo-o para perto de si em um abraço carinhoso e apertado. — Para com isso, só vai piorar mais.

— Por que isso aconteceu de novo, Hobi? Por quê? — Jimin deixava mais lágrimas descerem pelo seu rosto enquanto o amigo afagava seus cabelos alaranjados a fim de lhe passar algum conforto.

— Você sabe que o Taehyung fica assim quando acontece e… nós sabíamos que isso podia acontecer. — O Jung tentava soar calmo, passando um pouco de confiança ao amigo. — Se não bastasse ver o Bogum e a Jisoo outra vez, ele também conversou com os dois mais tempo do que esperávamos. Foi muito para ele em um curto intervalo de tempo. Vamos deixá-lo sozinho por enquanto.

Naquele momento parecia que existia apenas os dois e mais ninguém ali. Os demais olhavam para a cena, confusos com cada detalhe não explicado. Isso é até Jeongguk pigarrear, chamando a atenção deles.

— Jeongguk...

— Quem era aquele cara, Jimin? — perguntou, engolindo em seco e pensando em tudo que ele já tinha escutado, tentando encaixar, inutilmente, todas as peças em sua cabeça. Algumas faziam sentido, outras não.

Jimin suspirou frustrado. Não ter revelado tudo foi um erro.

— Merda de garoto idiota que apareceu na nossa vida aquele dia. Merda de dia. Merda. Merda. Merda! — reclamou esmurrando a parede, mas não respondeu.

Yoongi o abraçou por trás e segurou suas mãos tentando evitar que ele se machucasse mais ainda. Via os pedaços quebrados de Jimin apenas de olhá-lo, sentindo-se sufocado por não poder ajudar. Depois, desviou o olhar para a mão de Hoseok e notou que ainda sangrava, mas ele parecia sequer lembrar-se disso.

— Chega! Nós precisamos conversar — falou Hoseok de repente e os demais o olharam com confusão.

— Hobi?

— Agora! — demandou e a voz autoritária fez com que ninguém questionasse.

 

- B -

 

Mesmo com certa relutância eles resolveram que o mais sábio era deixar Taehyung sozinho no momento. Forçá-lo a sair do quarto apenas complicaria mais a situação e estava mais do que óbvio que os amigos desejavam explicações.

Na sala, reuniram-se com olhos atentos em Jimin e Hoseok, esperando que iniciassem a conversa.

Hoseok esfregou a mão cheia de sangue na própria roupa, despreocupado demais com as manchas ou a própria dor.

— Acho que está na hora de você contar a eles sobre o Bogum e a Jisoo — disse olhando para Jimin, e ali foi possível notar que o brilho de Hoseok não havia retornado. Era triste vê-lo assim.

Seokjin sentia-se frustrado com tudo o que ocorria, mas mais ainda em ver o amigo negligenciando um ferimento. Afastou-se por alguns segundos em meio ao silêncio instaurado e logo depois voltou com uma toalha que achou na cozinha. Aproximou-se de Hoseok, tocando a palma ferida com cuidado e enfaixando-a apenas para que o sangramento parasse antes de realizar os devidos curativos.

Hoseok agradeceu com um meio sorriso, voltando seu foco em Jimin.

— Sentem-se — gesticulou com as mãos para que eles ocupassem o espaço ao redor e ficassem confortáveis —, pois vai ser uma longa história.

— Bogum e Jisoo são amigos de infância e, como ela estudava conosco, Bogum veio no pacote. Ele e o Tae se deram bem com uma facilidade de outro mundo, vocês desacreditariam se vissem como fluiu a amizade dos dois; em pouco tempo estavam juntos e… Bom, eram inseparáveis e faziam bem um ao outro, sabe?

“Bogum tem três anos de diferença com a gente e quando entrou na faculdade acabou por fazer péssimas escolhas, acarretando em todos os tipos de merda possíveis. E quando digo todas, falo todas mesmo: drogas, muito álcool, sexo desenfreado e até cadeia. O Tae não é esse tipo de pessoa, mas o Bogum o arrastava para todos os cantos e ele não… Bom, Taehyung não reclamava. Felizmente evitou se envolver com as drogas e o álcool excessivo, mas o sexo e a cadeia foram... ahn, inevitáveis, eu acho.

A partir daí tudo mudou rápido demais. Não existia mais sexo com amor entre eles, só uma viagem alucinante de Bogum transar completamente chapado quando e onde bem entendesse com o Taehyung. Eu não sei que caralho ele falou pro Taehyung aceitar tudo isso, mas ele sequer parecia se importar sabe? Não sei, o Tae não falava nada; nem se abalou quando Bogum foi pego pela polícia com drogas e jogou a culpa nele.

Vocês entendem? Ele parou na cadeia por causa desse babaca e o Tae simplesmente aceitou essa merda. Era surreal nesse nível.

Mas claro que piorou; não tinha como não piorar. As drogas que Bogum usava já não eram mais suficientes, então ele começou a apelar para coisas mais fortes e que ele sequer sabia da procedência. Crystal foi uma delas, já ouviram falar? Algo que viciava muito rápido e... e aí sim tudo desandou de vez. Bogum ficou extremamente possessivo e queria que o Taehyung cortasse os laços com todos os amigos dele, principalmente nós dois, seus amigos e as pessoas que o acolhiam e conversavam com ele quando dava.”

— Por que o Tae aceitou isso? — Seokjin perguntou incrédulo interrompendo a história pela primeira vez.

Jeongguk agradeceu mentalmente aquele momento, podendo parar para respirar um pouco e pôr as ideias no lugar. Era informação demais para absorver e pensar em Taehyung passando por tudo isso era extremamente ilógico e inimaginável.

Não soava nada com o garoto alegre que conhecia.

— Honestamente? Bogum o deixou cego. Em algum lugar no coração do Tae, ele acreditava que o Bogum pela qual ele se apaixonou ainda ia voltar. — Um suspiro baixo escapou dos lábios de Jimin e um princípio de sorriso tristonho se formou ali. Lembrando-se de como o amigo sempre colocava os outros na frente de seus próprios problemas. — Ele achava que Bogum podia mudar e voltar a ser quem era; que só o protegia e por isso não queria abandoná-lo naquela situação deplorável de dependente químico.

— Entendo… — Seokjin esfregou as mãos na calça e viu Jimin engolir em seco, olhando-o silenciosamente. — Desculpe interromper, pode continuar.

— A realidade é que o Bogum começou a fazer uma espécie de lavagem cerebral no Taehyung já que ficava com ele a maior parte do tempo; praticamente moravam juntos. Falava que nós não éramos bons amigos e que o Tae só precisava dele, de mais ninguém. Taehyung não acreditava cem por cento, afinal nós éramos amigos antigos, mas depois de tanto ouvir você fica maluco com isso e passa a acreditar mesmo sabendo que não é real.

“Isso tudo foi quando nós estávamos no colegial. Sei que não devíamos, mas tanto eu quanto Hoseok estávamos extremamente magoados com ele e com as desconfianças quanto a nossa amizade. Só que não podíamos abandoná-lo, era óbvio que não era culpa sua e ele nem sabia mais o que pensar com tanta pressão dos dois lados.

Quando o Bogum percebeu que isso não era suficiente, ele começou a trancafiar o Tae dentro de casa, impedindo-o de sair ou de nos ver no intuito de finalmente nos fazer desistir dele. Dizia ao Taehyung que ia protegê-lo das coisas ruins do mundo, que ali ele estava seguro, inclusive de nós dois, os amigos que só fingiam se importar com ele.

Imagina que bacana seu namorado, que diz que irá te proteger, falando na sua cabeça todos os dias o quanto os seus amigos eram uns bostas e que você não precisa deles, que você só os atrapalha e eles não gostam de você como dizem gostar. Era desesperador.

O Tae morava sozinho, pois não quis ser um fardo para a minha família e os seus pais já estavam no Japão. Eu insisti muito, mas ele fez questão de morar sozinho e se virar sem precisar se apoiar em mim mesmo tão novo. Bogum se aproveitou ainda mais da minha ausência e da de Hoseok, principalmente porque eu morava longe dele e não podia ficar por perto o tempo todo por mais que desejasse.

Quando o Tae começou a ser trancado em casa — e veja bem, nós não sabíamos disso —, nós não fazíamos ideia do que estava acontecendo porque só nos víamos no colégio e ele não contava as coisas com tanta frequência. Nós respeitávamos seu espaço e não pressionávamos para não afastá-lo ainda mais. E aí quando percebemos o afastamento dele de nós aumentando ainda mais... Bom, só piorou.

O que era bom no começo, transformou-se em um relacionamento extremamente abusivo na qual nós não sabíamos nem da metade do que realmente acontecia.

O ápice do inferno foi quando, em um dia Bogum presenteou Taehyung com aquele maldito colar com um “B” bem pequeno de pingente, o mesmo que a Jisoo estava usando.

Era um símbolo do “amor” dele. Sei lá, casais usam alianças ou pulseiras, mas Bogum era diferente; ele deu um colar único, não tinha par.

Um dia Jisoo arrancou o colar de Taehyung em uma briga ridícula que tiveram e quando o Bogum viu que não estava no pescoço do Tae, ele ficou tão agressivo que acabou por empurrá-lo contra uma porta de vidro. O Tae desmaiou entre os cacos de vidro e o próprio sangue aquele dia e ganhou aquela maldita cicatriz nas costas.

Eu tenho tanto ódio daquilo!”

Jeongguk recordou-se da cicatriz que a ponta de seus dedos tocaram naquele dia.

— O Tae ficou extremamente desconfortável quando eu descobri a cicatriz — murmurou, interrompendo Jimin sem de fato desejar por isso.

— Você viu a cicatriz aquele dia na praia? — Hoseok questionou.

— Não, eu senti… ahn… outro dia. Enfim — balançou as mãos pedindo para que ignorassem sua divagação —, continuem.

Jimin assentiu e respirou fundo. Sequer era o protagonista da história, mas parecia que era ele vivendo o pesadelo sem fim.

— Bogum não era mais estável e os hematomas que surgiam na pele do Tae não eram mais de uma noitada de sexo desenfreado como antes, eram dos descontroles do namorado. E, pior de tudo isso, é que nós só ficamos sabendo de tudo o que acontecia entre quatro paredes quando o Taehyung terminou com ele pela primeira vez.

“Lógico que o Bogum disse que o amava, que sentia muito por tê-lo machucado quando ficou nervoso e que isso se repetiria mais; era efeito das drogas e ele havia largado finalmente. Fez uma promessa a Taehyung e ele acreditou, voltando com Bogum pouco tempo depois. Contudo, é lógico que a mudança durou pouquíssimo tempo e logo as agressões tornaram a se repetir e o ciclo voltava para a mesma situação. O Tae terminou outras vezes, mas o final era sempre o mesmo: os dois juntos outra vez e várias promessa quebradas.

Durante o segundo colegial inteiro o relacionamento deles foi assim, entre términos e retornos.

Vocês tem que entender que não importa o quanto nós falássemos, Bogum sempre estava um passo à nossa frente. Ele havia feito um trabalho tão bem feito na mente do Tae que poucas eram as coisas que o faziam se desligar daquele encosto ou até mesmo acreditar na gente.

Bogum repetia como um mantra que o Tae nunca ia achar ninguém melhor do que ele, que ele era único, que ninguém nunca ia gostar do Taehyung como ele gostava; amava até. Dizia que nunca seria verdadeiro como era o sentimento dele, sabe? Ele já tinha enchido a cabeça do Tae de tanta besteira que, aos poucos, isso se tornou comum. O Tae me confessou que em um determinado momento a maior dificuldade era não ouvir Bogum dizendo as coisas na sua mente o tempo todo, como uma segunda voz o lembrando do quanto era incapaz e das coisas que ele não podia. Era difícil lutar contra.”

As lágrimas invadiram a face de Jimin e ele precisou conter um soluço. Hoseok também já não enxergava um palmo à sua frente em meio às lembranças atordoantes.

Um silêncio se fez perante eles, esperando que os dois se acalmassem e pudessem continuar. Hoseok pigarreou, enxugando as lágrimas com as costas da mão e tomando a frente da explicação.

— Infelizmente o Tae estava completamente dependente do Bogum pelo abuso que sofria. E, mesmo quando não estava mais com o Bogum, ele saia do colégio e ia direto para a casa, com medo dele aparecer ou fazer alguma coisa; era automático e o Tae vivia em paranoia. Quando eles voltavam e tudo parecia “bem”, ele ficava mais alegre e até tentava nos trazer de volta para vida dele aos poucos, acreditando que tudo havia mudado. Isso até o Bogum se descontrolar novamente.

“No final do segundo colegial o Bogum resolveu fazer um intercâmbio, mas não contou que era para a Europa, nem quanto tempo ficaria fora e muito menos que a Jisoo ia com ele.

Eu e o Tae descobrimos no dia da viagem que os dois estavam, na verdade, juntos. Jisoo namorava comigo para disfarçar que tinha um caso com Bogum e odiava o Taehyung por estar no lugar dela, como a pessoa que era “mostrada” para os outros. Foi por isso ela brigou com o Tae aquele dia e arrancou o colar, pois sabia que o Bogum ia se descontrolar e, de alguma forma, desejava que eles terminassem de vez.

Não foi o que aconteceu, é claro.

A realidade é que o Bogum usava o Tae e a Jisoo como duas marionetes o tempo todo e aquilo ficou óbvio naquele momento. E, por incrível que pareça, o Tae também percebeu. Talvez fosse o choque da realidade ao ver a Jisoo e o Bogum se beijando ou apenas um lapso momentâneo, mas o importante foi que, naquele instante, ele arrancou o colar do próprio pescoço e jogou na cara da Jisoo.

O problema é que isso sequer os abalou, pois no mesmo momento o Bogum apenas riu debochado e disse para não se preocupar porque ele voltaria logo; ele sempre iria voltar. Soava como uma promessa, mas era mais uma ameaça óbvia de que Taehyung nunca se veria livre dele, que ele sempre viveria ali em algum lugar atormentando a vida do Tae.

Quando eles finalmente embarcaram e nós fomos embora, o Tae não aguentou muito tempo e acabou desmaiando, provavelmente pelo choque que tudo aquilo já tinha lhe causado.

Bom, foi aí que os ataques começaram. Ele passou uma semana no hospital em observação e sua condição era péssima; estava anêmico, depressivo, incrivelmente cansado, sem brilho algum no olhar. Era um corpo sem alma que andava por aí, sem qualquer vontade de realmente continuar. E aí o Taehyung começou a ter constantes pesadelos e às vezes chamava por Bogum quando acordava; foi difícil convencê-lo da realidade, mas o estrago já tinha sido feito.

Honestamente? Meu maior medo era de que se Bogum de fato morasse com o Tae, ele tivesse desenvolvido problemas muito piores. Cheguei a pensar na Síndrome de Estocolmo e de como teríamos perdido o Taehyung.”

Jimin respirou fundo, limitando-se a um sorriso fraco quando recebeu um aperto em sua mão de Yoongi. Afagou as costas de Hoseok gentilmente, indicando que podia completar o final daquela história onde eles apenas desejavam enterrar tudo no passado.

“Nessa época o Hobi já tinha passado na faculdade e veio para a Seul. Então, eu passei o terceiro colegial inteiro cuidando do Tae e tentando fazê-lo esquecer de tudo relacionado aos dois; tirando o foco dessas coisas e mudando para coisas alegres. Resolvemos tirar umas “férias”, afinal o Taehyung estava a base de remédios para depressão e para dormir, com acompanhamento médico e precisando de cuidados, não estresse.

Bom, foi aí que eu conheci o Yoongi. O problema é que conciliar trabalho, o Tae e o Yoongi ao mesmo tempo era muito difícil, mas eu dava o meu máximo. Até que no final acabou dando errado e o resto vocês sabem.

Enfim. Quando o Tae começou a melhorar eu decidi que poderíamos tentar a faculdade e nos mudar para a Seul. Eu fazia tudo por ele porque o Taehyung sequer tinha condição de agir sozinho e ele não tinha ninguém aqui além de mim; eu tinha medo que ele tentasse suicídio mesmo não havendo um indicativo disso — que eu soubesse, é claro.

Então, aos poucos eu percebi que desde que o Tae não visse e nem ouvisse falar do Bogum ou da Jisoo, as coisas pareciam ficar relativamente bem, sabe? Ele começou a conseguir seguir em frente junto com a ajuda do psicólogo que ele frequentou todo aquele tempo e que meio a contragosto deu alta para ele quando nós decidimos nos mudar, mas pediu para manter os remédios por certo período e mantê-lo informado também.

O Tae disse que estava pronto para recomeçar e eu quis acreditar. Porém, quando eu vi que nós moraríamos separados, eu surtei; sabia que não podia deixá-lo sozinho. Mas… mas aí ele me garantiu que os pesadelos não eram mais recorrentes e que ele ainda possuía os remédios indicados pelo médico, além do contato dele no telefone. Algumas vezes eu ficava apreensivo, claro, e passava no seu apartamento só para ter certeza de que tudo estava realmente bem. Bom, foi aí que eu vi que parecia que as coisas começavam a melhorar de verdade.

Quando ele começou o namoro com o Jeongguk eu fiquei preocupado demais com o que poderia acontecer. Eu tinha medo que algo desse errado e que ele se lembrasse de tudo que viveu com o Bogum ou até mesmo que projetasse aquele relacionamento assombroso nos dois. No entanto, por incrível que pareça ele aguentou bem, aceitou bem e foi mais forte do que eu imaginava. Bom, agora eu entendo que foi mais fácil porque vocês não namoravam de verdade, então não havia sentimento nem realidade.

Só que ele me disse que estava disposto a tentar de novo logo no começo, antes de descobrir sequer que gostava do Jeongguk de verdade e eu acreditei.

Eu ainda acredito.”

O silêncio de outrora voltou a recair entre eles enquanto as informações dadas eram assimiladas aos poucos. Era tudo muito complexo, triste, inimaginável e extremamente doloroso. Os olhos castanhos e alegres de Taehyung nunca deixaram transparecer tanta dor, portanto era impossível imaginar que ele havia passado por tudo aquilo tão jovem.

Ninguém diria que Taehyung era capaz de estampar o sorriso mais lindo no rosto mesmo depois de tanto sofrimento. E pior, ainda era capaz de se preocupar com os outros antes de si mesmo, como fez com Jimin e Yoongi.

— Jeongguk — a voz embargada de Hoseok o chamou, fazendo-o levantar os olhos para o mais novo —, eu sei que vocês começaram com o pé esquerdo, mas dá para ver que isso mudou com o tempo. Talvez a farsa tenha sido, inicialmente, para ajudar o Jimin e o Yoongi hyung, mas no final eu acho que acabou ajudando o Tae também.

— E-eu...

— O que a gente viu aquele dia na varanda foi uma prova disso. — Hoseok sorriu fraco. — Bogum tinha retornado na vida do Tae e eu posso te garantir que ele não se preocuparia com mais ninguém além dos próprios fantasmas, sondado pelo medo e fechando-se para todos ao seu redor.

— Ele me perguntou de você nas duas vezes — Jimin interrompeu, puxando a atenção para si. — Quando o Tae entra nessa “fase Bogum”, ele não pergunta de ninguém, de nada. Ele simplesmente sofre e afasta todo mundo sem pensar duas vezes, mas… mas ainda assim ele me perguntou de você. Então, para mim, isso tem que significar algo.

Jeongguk cravava as unhas curtas na palma da mão, sentindo-as perfurar a carne com a pressão devido ao ódio que a história lhe causou. Ele desacreditava que pudesse existir uma pessoa com uma mente tão perversa a ponto de machucar alguém daquele modo; manipular os outros sem medir as consequências. Principalmente Taehyung que era genuinamente uma pessoa incrível, pura e bela, por dentro e por fora. Arrependeu-se no mesmo instante de não ter arremessado todas as garrafas de cerveja, cadeiras e facas presentes na direção de Bogum.

— Quando eu contei para o Tae sobre o assédio que sofri na América e o meu trauma — disse, olhando para Yoongi e depois para os demais, recordando-se no dia em questão —, ele me abraçou e pediu desculpas inúmeras vezes. Eu não tinha entendido o motivo, mas agora eu vejo que era porque ele não conseguia me contar o próprio segredo como eu fazia com o meu…

— Não o culpe por isso, ele ia contar — Hoseok murmurou.

— Eu sei. — Jeongguk sorriu fraco, abrindo as palmas e vendo pequenas crescentes com sangue nelas. — Era isso o que ele ia me contar hoje quando o Bogum apareceu na praia, certo?

— Sim...

— Foi por isso que ele me afastou aquele dia? O dia do lago. Foi quando ele viu o Bogum pela primeira vez, certo? — Jeongguk esfregou as mãos na roupa, sentindo que iria vomitar a qualquer momento se continuasse ouvindo o nome daquele idiota. — Mas… mas por que ele não fez isso antes então?

— Eu prometi para o Tae que não ia contar para ninguém o que aconteceu no lago, por isso não mencionamos antes. — O sorriso de Jimin era um misto de pedido de desculpas misturado com tristeza genuína. — Ele não teve tempo de falar muita coisa porque eu cheguei bem na hora e a Jisoo não estava junto, mas o Bogum tentou se fazer presente de algum modo; tentou invadir a mente dele mesmo que sutilmente.

— E conseguiu né? — Jeongguk riu sem qualquer resquício de emoção, visivelmente irritado. — O Tae ficou mexido com o que aconteceu.

— Nós achávamos que sim, mas… mas eu percebi que mexido não é a palavra certa. Ele ficou com medo, essa é a verdade — Hoseok disse, a voz saindo arrastada e cansada demais. — Bogum sempre fez ameaças mesmo que não fossem diretas. Sempre deu a entender que o Taehyung nunca teria ninguém, não importava quem. Quando o Tae viu o Bogum novamente, ele se lembrou disso e sabia que te afastar era mais fácil porque só geraria mais sofrimento te manter por perto.

— Na cabeça do Tae ele te perderia de qualquer jeito, seja porque achava que você não gostava dele igual ou pelas coisas absurdas que o Bogum sempre insistiu em dizer. — A voz de Jimin saía igualmente cansada, como se todas as suas energias estivessem se esvaindo a cada fala. Então, ele respirou fundo e ponderou por alguns segundos se deveria continuar com os seus pensamentos. — Jeongguk, eu… eu sei que você o ama e não tenta negar. É muito mais do que gostar e ele precisa disso agora. De alguém que prove que ele pode ser feliz sem aquele imbecil ficar tentando destruir tudo…

Depois daquele dia na varanda todos perceberam que o sentimento que havia se desenvolvido pelos dois era muito maior do que imaginavam. Não era mais um simples gostar, era algo mais forte que foi crescendo sem que eles percebessem e tomou uma proporção que nunca imaginaram.

— Jeongguk, ele precisava de você — Namjoon falou pela primeira vez após ouvir a história toda. Tocou o ombro do mais novo com gentileza, dando-lhe um pouco de força. — Esse garoto destruiu o Taehyung por dentro e só alguém que sente algo por ele de verdade seria capaz de recolher os pedacinhos e colá-los novamente, além de, é, claro, o principal: permanecer ao seu lado e apoiá-lo na recuperação. E eu acho que já está claro para todo mundo aqui que você está mais do que disposto a fazer isso, não? Senão, por que motivo você insistiria tanto nele como naquele dia?

— A gente vê que ele conseguiu se recuperar de tudo o que esse garoto causou com muita força de vontade — Seokjin umedeceu os lábios lentamente e cravou o olhar no mais novo —, mas enquanto o Tae não achar alguém que o ame de verdade, isso nunca será uma cura cem por cento. Se toda vez que ele tiver alguém esse babaca voltar e o Tae se achar incompetente, vai ser um ciclo sem fim e ele nunca vai ser feliz. Prova para ele, Jeongguk; prova que tudo o que o Bogum disse no passado é mentira.

Desejavam apenas que uma pessoa com energia negativa tão ruim jamais tivesse adentrado um ambiente que tinha tudo para ser regado a muito amor e carinho.

Jeongguk não foi capaz de dizer nada naquele momento, apenas encarando a varanda onde ele confessou o que sentia por Taehyung dias atrás. Tudo o que ele via era o mais velho sorrindo largo, olhando-o com os olhos amendoados brilhando de uma alegria sem fim. Suspirou com a lembrança; queria aquele sorriso para sempre.

E de repente Jeongguk entendeu.

Compreendeu que conhecia Taehyung melhor do que a si próprio. As coisas que o mais velho gostava e como gostava; seus favoritismos e suas preferências. Sabia absolutamente tudo que era possível devido ao tempo que passaram juntos sem sequer se dar conta, pois simplesmente fluía naturalmente entre eles.

Começaram assim e, consequentemente, evoluíram dessa forma. Foi algo que beirava o insuportável no começo e, de repente, sem ele sequer perceber, o Kim invadiu todo o espaço que tinha em seu coração e o preencheu com coisas boas. Queria, então, fazer o mesmo pelo mais velho; preencher sua memória e seu coração com coisas alegres e cheias de amor do modo que ele merecia. Apoiá-lo e ficar ao seu lado no que ele precisasse.

Jeongguk amava tanto Taehyung que se desistisse deles agora, um pedaço seu iria junto e ele se tornaria apenas uma casca vazia. Havia falado sim o quanto gostava do Kim, mas Seokjin tinha razão: precisava provar que podia e iria ajudar o mais velho no que fosse preciso, ficando ao seu lado a todo momento e refutando as palavras estapafúrdias de Bogum.

O Jeon não era bom em cuidar dos outros e sabia bem disso, mas com Taehyung era diferente. Desejava cuidar, mimar, agradar e tudo mais o que estivesse ao seu alcance. Portanto, se isso significava recolher todos os pedacinhos quebrados de Kim Taehyung e colá-los um a um novamente, ele o faria e não se importava de quanto tempo fosse demorar. O mais velho podia não querer nada com ele pelo resto da vida, ainda assim Jeongguk estava disposto a ficar ao seu lado curando todas as suas feridas para que ele pudesse confiar em si mesmo outra vez.

Então, diante da realização do que estava bem a sua frente, Jeongguk se levantou abruptamente e dirigiu-se ao quarto dos dois sem dizer uma palavra sequer aos demais.

Precisava fazer isso.

 

- B -

 

Taehyung estava com a cabeça encostada na parede fitando o teto sem graça do quarto, focando-se em algum ponto qualquer.

— Mas que inferno — murmurou irritado.

Sua cabeça rodava e seu estômago estava embrulhado. Tudo o que via em sua mente era o maldito colar no pescoço de Jisoo e todas as lembranças supostamente enterradas retornando de uma vez só como agulhas em seu corpo.

Era pior do que o dia do lago; tinha pulado do precipício dessa vez, não estava mais só na beirada. Ao menos ele não sentia que ia desmaiar novamente e conseguia respirar em um ritmo constante para evitar que perdesse o eixo outra vez.

Agora, acreditava definitivamente que Bogum era seu carma eterno. Tinha razão quando lhe dizia que não acharia ninguém e que não faria outra pessoa feliz. Jeongguk não ia querer mais nada consigo depois de descobrir sobre o seu passado e de todas as verdades ditas. Pior, só faria o mais novo sofrer, como fez com Jimin e Hoseok; como ainda fazia.

Jeongguk merecia coisa muito melhor que ele, sem dúvidas. Era uma pessoa incrível e não tinha defeitos como Taehyung tinha, tampouco um passado que voltava para assombrá-lo e as pessoas a sua volta a qualquer momento, fazendo-as sofrer por isso.

— Eu não mereço nem a amizade do Jimin e do Hoseok ou de qualquer um dos meninos. Eu preciso ir embora antes que eles sofram mais… — sussurrou para si mesmo ainda encarando o teto.

Novamente, Bogum tinha razão, sequer podia manter seus amigos sem ser um fardo a eles. Foi um erro pensar que poderia retomar a amizade com os dois tranquilamente quando seu ex foi embora de sua vida por um breve momento.

Bogum sempre voltava.

Ele tinha razão.

Ele sempre tinha razão.

Seriam sempre os três, em um ciclo eterno: Bogum, Taehyung e Jisoo. Ele voltou e ia destruir tudo outra vez sem pensar duas vezes.

Taehyung teria seus pedaços quebrados em dobro agora.

Contudo, Taehyung tentava lutar consigo mesmo sendo difícil. Embora as coisas que Bogum lhe dissesse viessem facilmente, as memórias carregadas de sofrimento também surgiam. Começava a se recordar dos momentos que ficou trancado em casa, dos socos, chutes e agressões gratuitas; do colar maldito, de Jisoo o arrancando e, principalmente, de Bogum o empurrando contra a porta de vidro, deixando-o em meio ao sangue e machucados.

Deixou que seus dedos tocassem a pele de suas costas, contornando a cicatriz na parte esquerda.

“Não. Seu imbecil. Para de pensar isso. Você desperdiçou o ano inteiro do Jimin, gastou tempo e dinheiro com psicólogo e remédios. Você é mais forte do que isso, expulsa esse babaca da sua mente”, seus pensamentos positivos tentavam ser mais fortes.

Fechou os olhos e se lembrou do toque sútil de Jeongguk sobre a cicatriz. De como ele o afastou quando o sentiu tocando sua marca cheia de fantasmas do passado.

— Jeongguk — sussurrou olhando em volta. Tinha o cheiro dele no ambiente todo, além de duas coisas. Era bom e... reconfortante.

Taehyung suspirou, pendendo a cabeça para o lado. De alguma forma Jeongguk sempre aparecia na sua mente em algum momento, fosse ele bom ou ruim. A merda podia toda estar acontecendo em sua cabeça, deixando-o cada vez mais perto de sucumbir, mas o Jeon sempre aparecia tentando ocupar o espaço. Curiosamente, era o mesmo que havia feito com seu coração; não tinha espaço para ninguém anteriormente, mas o mais novo fez questão de procurar uma fresta para entrar, invadindo sem pedir licença.

A situação em si, inclusive, assemelhava-se ao jantar. Bogum tentava constranger Taehyung, mas o mínimo toque e olhar de Jeongguk desviava um pouco que fosse a sua mente daquilo.

Como ele conseguia ter tanta influência assim?

Taehyung sentia seu corpo tremendo conforme a tristeza o consumia, as lágrimas rolando sem sua vontade. Lutou tanto para esquecer seu passado e, de repente, tudo estava de volta no melhor momento de sua vida. Afinal, ele realmente não merecia ser feliz? Queria tanto fazer Jeongguk feliz.

“Por que esse bosta voltou arruinando tudo? Por quê?”, pensou frustrado.

Então, como se pudessem ouvir seus pensamentos, uma batida suave na porta ressou pelo ambiente.

— Tae? — Reconheceu no ato a voz de Jeongguk. Soava mais preocupada do que antes e Taehyung balançou a cabeça com força em meio às lágrimas. — Abre a porta, por favor.

— Vai embora Jeongguk. — Sentia-se tão sujo e tão horrível em meio àquelas lágrimas desprezíveis e esse conflito interno que travava. O mais novo não precisava participar daquilo. — Eu não quero ver ninguém!

— Tae, por favor. Eu… eu preciso conversa com você e... — Jeongguk suspirou e pareceu desistir de falar ou até mesmo de bater na porta outra vez, deixando Taehyung sentir a frustração pela não insistência.

Então, ouviu o mais novo sentando-se do outro lado e encostando-se à porta. Não havia ido embora afinal.

— Nós não temos nada para conversar. O Bogum tem razão, ele sempre vai voltar e eu… eu não posso ter ninguém! — gritou em meio aos soluços.

— Tae...

“Eu não posso mesmo ter ninguém? Nem mesmo você?”, ousou se questionar em pensamentos.

Naquele momento era como se Taehyung possuísse um diabinho e um anjinho consigo, cada um sussurrando de um lado. O diabinho claramente estava vencendo, mas o anjinho não parecia desistir tão fácil.

Soava conflitante consigo mesmo e sua cabeça doía de tanto pensar e lembrar. Não conseguia parar de chorar; a dor em seu peito era enorme. Era um misto de tudo, das lembranças dolorosas e da dor que ele causava em Jeongguk e nos demais. De novo. O mais novo sofreu antes e sofreria agora.

Era tudo culpa dele.

Era sempre culpa dele.

— Eu só trago tristeza para os meus amigos e o mesmo vai acontecer com você! — disse frustrado, batendo a cabeça de leve contra a parede enquanto apertava os olhos que ardiam.

— Taehyung! — O mais novo berrou do outro lado da porta e por um instante breve o Kim se assustou com o tom. — Para com isso! Não importa o que o Bogum falou para você anos atrás ok? Você tem seus amigos e tem a mim. Ele pode voltar quantas vezes quiser e você sempre nos terá! Por favor… Você já me empurrou para fora da sua vida uma vez e a gente se resolveu, mas não faz isso de novo. Deixa eu te ajudar...

Jeongguk não demonstrava irritação, mas sim uma frustração sem tamanho de não poder atravessar a maldita porta e colocar o Kim em seu colo, mimando-o como se sua vida dependesse disso.

Entretanto, por mais que as palavras do mais novo fossem calorosas, a voz de Bogum insistia em ecoar em sua mente como uma vitrola quebrada.

Taehyung não aguentava mais aquele som irritante e aquelas frases inúteis que só o machucavam. Colocou as mãos em suas orelhas, cobrindo-as com força a fim de evitar ouvir o que quer que fosse e balançou a cabeça violentamente tentando eliminar tudo aquilo de si.

Seu pensamento oscilava entre Bogum e Jeongguk o tempo todo, lutando contra o que sabia e o que queria.

“É o Jeongguk falando. Talvez ele tenha razão... Talvez eu possa tentar…”, pensou ao abafar o som.

— Jeongguk! Ele está sempre aqui... Faz ele parar de falar! — Não conseguia evitar que as lágrimas escorressem por sua bochecha e parecia que implorar daquele jeito resolveria alguma coisa mesmo ele sabendo que não, nunca resolvia.

Seus pensamentos se misturavam com as vozes e as lembranças. Ele queria berrar e arrancar aquilo de uma vez; queria ouvir apenas o que Jeongguk dizia e não o que aquele imbecil falou anos atrás.

Por que era tão difícil empurrá-lo para trás?

Taehyung bateu a cabeça na parede mais algumas vezes tentando afastar Bogum de vez, mas parecia inútil e tudo o que ele conseguiu foi fazê-la latejar ainda mais.

— Tae… — sussurrou ao ouvir o mais velho batendo em algo. — A única coisa que ele me disse era que eu não seria capaz de fazer você o esquecer. Você quer que eu acredite que ele tem razão? Que você sempre vai sentir algo por ele? Que eu devo desistir de você? Deixa eu tentar Tae, por favor.

Taehyung não respondeu. Ele não queria que Jeongguk desistisse dele, mas Bogum em sua mente dizia o contrário.

— Faz ele parar de falar na minha mente, Jeongguk! — falou em meio às lágrimas.

— Tae, por favor, só abre a porta e me deixa tentar te ajudar — pediu preocupado e fungando; as lágrimas rolavam pelo seu rosto novamente. O mais velho deixava ele sentimental demais; queria pegar toda a dor que ele sentia para si e mergulhar no mar levando-a embora.

Sentia-se descontrolado lutando contra tudo aquilo e nunca tentou tanto por si mesmo afastar Bogum de sua mente. Normalmente sentava em seu quarto ou no banheiro e se lamentava, chorava até apagar por mais que o psicólogo não indicasse aquilo.

Mas dessa vez era diferente, ele sentia que podia ouvir o Jeon.

Arrastou-se até a porta com muita dificuldade e ficou imaginando Jeongguk do outro lado falando aquelas palavras. Questionou-se se o mais novo estaria chorando como daquela vez na varanda quando o ouviu fungar.

E, de repente, ao lembrar-se das lágrimas de Jeongguk, algo dentro de Taehyung fez um click perfeito. Era quase como se o anjinho tivesse finalmente imobilizado o diabinho e o feito parar de matracar um pouco que fosse para que sua mente pudesse se clarear.

Bogum não devia mais ter influência, afinal ele havia consigo empurrá-lo para longe antes, então por que não conseguiria agora?

Aliás, ele tinha Jeongguk também, não tinha? O mais novo não desistiu dele até agora em nenhum momento mesmo depois de todas as mágoas que Taehyung o causou. Desde o primeiro beijo eles já tinham algo diferente e o tempo todo que estavam juntos nenhuma lembrança triste retornou.

Era recíproco, não era? Eles se provocavam, queriam se esganar, mas ao mesmo tempo se preocupavam um com o outro e se queriam bem.

Jeongguk realmente expulsava tudo com tão pouco e começava a ocupar sua mente por inteiro. Ia preenchendo todos os buracos e retirando vagarosamente as frustrações e tristezas que Taehyung sentia; empurrando para o cantinho de sua mente. Era como um calmante; uma droga viciante, mas uma droga boa.

Sentia que finalmente podia substituir as memórias ruins pelas boas. Sentia que ele podia se lembrar do dia em que beijou Jeongguk e foi retribuído com igual ou mais vontade.

— Tae... — A voz rouca de Jeongguk o chamou, mas não de fato esperando por uma resposta. Era quase um sussurro suplicante. — Ouve o seu coração. O que ele te diz? Porque o meu diz ama você, Tae. Muito mais que qualquer coisa e dói, dói tanto ver você assim, mas… mas dói mais ainda saber que você está me afastando da sua vida sem me deixar ao menos tentar. Porque eu sei que eu posso, eu sei que eu posso te encher de memórias boas iguais as que nós já fizemos nesse tempo juntos, como amigos, namorados de mentira ou… algo a mais.

Taehyung ouvia tudo que Jeongguk dizia com muita atenção. A voz do mais novo agora tomando conta de seus pensamentos e o tranquilizando aos poucos. Era a primeira vez que Bogum parecia se calar por completo por um intervalo um pouco maior e ele se sentia vitorioso por aquilo.

“Eu quero que aquele babaca do Bogum vá para o inferno. É isso que eu quero; que ele pare de mandar na minha vida mesmo quando não está aqui”, pensou com confiança.

Tirar Jimin e Hoseok da sua vida uma vez foi um erro e eles não mereciam que Taehyung fizesse isso outra vez. Bogum não venceria mais essa batalha novamente. Ele nunca esteve sozinho e precisava aceitar isso e permitir que seus amigos ficassem ao seu lado, ajudando-o como sempre desejaram.

Não tinha o que temer.

Era besteira deixar um idiota com mente doentia que destruiu sua vida uma vez, destruí-la de novo e de novo. Seu psicólogo o alertou das recaídas e disse que, em momentos como esse, o primordial era ser forte e lutar contra os pensamentos negativos; não afastar Jimin e Hoseok jamais. Conseguiu uma vez e conseguiria quantas vezes mais fossem necessárias até estar, de fato, curado.

“Espera aí”, pensou de repente. “O Jeongguk acabou de dizer que me ama?”

Seria certo e possível, então, dizer ao mais novo que ele o amava de volta? Que ele era todo quebrado por dentro, mas que desejava que Jeongguk o consertasse e o ajudasse a colar cada pedacinho de novo?

— Você colaria todos os pedacinhos de uma pessoa quebrada por dentro, Jeongguk? — murmurou baixo ao encostar a mão na porta, mas sem esperar que ele ouvisse.

— Quantas vezes fosse preciso isso, Tae — respondeu fungando. — Por quanto tempo fosse necessário, o quanto você quisesse e como você quisesse.

Taehyung arregalou os olhos, pois não esperava que o mais novo o ouvisse e ainda mais que respondesse. Olhou para a porta à sua frente e colocou a mão na maçaneta fria. Se ele abrisse veria o Jeongguk que dizia que o amava e que estava disposto a colar cada pedacinho espalhado dentro de si, certo?

Mordeu o lábio inferior com o pensamento e respirou fundo.

Ele podia mesmo ser feliz?


Notas Finais


Peço desculpas desde já por qualquer erro, mas não importa quantas vezes eu revise sempre aparece uma trollada do meu word ou dos meus dedos.

Para quem está se perguntando: Park Jisoo aqui nessa fic nada mais é do que a Jihyo do Twice. Nada contra ela ou coisa do tipo, só escolhi o nome porque envolvia "Park" e a princípio ela seria irmã de Bogum, mas optei por ser amiga de infância.

Cross The Line é a Taekook nova que eu postei ontem e ainda está em desenvolvimento; meio clichê e ao mesmo tempo não.
Quem possuir interesse: https://socialspirit.com.br/fanfics/historia/fanfiction-bangtan-boys-bts-cross-the-line-5307286


Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...