História Star Tabby Interativa - 010 ;; Our Crazy Girl

Light ;; 26/07/99

Seoul, 2013.

Estudar e treinar. Se Kim Harin precisasse resumir sua vida atual em duas palavras, ela provavelmente escolheria essas.

Os livros da escola estavam de certa forma espalhados pela mesa do refeitório, enquanto Myoung Siena estava a sua frente, lendo um livro em coreano, afinal ela precisar melhorar ainda mais para não ter que enfrentar as aulas de coreano.

Droga!, murmurou. Ela não conseguia entender nada daquelas formas matemáticas. Os pensamentos sobre se tornar uma idol estavam tomando mais tempo que o necessário, a garota sonhava acordada com o dia que ela subisse no palco pela primeira vez.

Conferiu o relógio no celular e percebeu que, finalmente, uma hora havia passado. Sua mãe pediu que ela estudasse por pelo menos uma hora por dia, não deixaria a filha parar de estudar só porque era uma trainee agora. Fechou todos os cadernos e livros e colocou-os na mochila preta com caveiras coloridas.

— Já terminou? — Siena perguntou, arqueando a sobrancelha e deixando seu livro de lado.

— Sim. — Mentiu e sorriu, para que a mentira surtisse um bom efeito.

Olhando para aquele refeitório, lembrou-se do tempo que fora escolhida para se tornar uma trainee. Foi apenas dois anos depois que ela chegou a Coreia do Sul com sua mãe, um olheiro encontrou os vídeos que ela postava em sua parada conta no YouTube, com diversos covers de músicas brasileiras e americanas, e claro, haviam também os vídeos em que Harin tocava ukulele. Aquele olheiro percebeu que ela havia uma beleza incomum, como se o ocidente e o oriente se chocassem e seu resultado fosse aquela garota.

Lembrou-se também do tempo que seus problemas começaram. As discussões entre seus pais estavam cada vez mais frequentes. Sua mãe, uma ex-modelo, fazia questão de jogar na cara de seu pai, um cirurgião plástico, o quanto se arrependeu por sair de seu país, por sair de sua recente porém muito bem-sucedida carreira na Coreia para se mudar para o Brasil como se eles realmente se amassem. Afinal, todo o casamento deles se resumiu a dinheiro. E claro, aos filhos. Mas nada mais que isso.

Nem podia acreditar que se iludiu achando que, naquela época sua vida era ótima. Tinha um irmão ciumento que a protegia de tudo e todos. Ah, e claro, tinha tudo do bom e do melhor. Foi ai que o irmão começou a tomar atitudes de rebeldia, ignorando totalmente a existência da irmã. Os sorrisos bobos? Não existiam mais. Não muito tempo depois, ela descobriu que seu pai havia traído sua mãe. Nem a reconhecia mais, tudo por causa das malditas bebidas. O lar cheio de felicidade não existia mais.

Assim, sua mãe decidiu pedir o divórcio e entrou na justiça para conseguir a guarda da filha. Faltando apenas um mês para o aniversário de doze anos da garota, elas finalmente saíram daquele lugar de trevas e entraram em um avião com destino para Seul, na Coreia do Sul. Agora, Amy Martini havia se tornado Kim Harin.

— Terra chamando Amy Kim. — Siena mexeu nos cabelos negros da brasileira, que piscou algumas vezes e olhou para a garota. — Seu celular está tocando. — Apontou para o aparelho.

Kim Harin pegou o celular com rapidez, logo vendo no visor que quem estava ligando para ela era seu irmão, Alec.

— Amy? — O garoto perguntou, assim que ela atendeu a ligação.

— Alec! — Harin exclamou e abriu um sorriso de orelha a orelha. Sentia tanta falta do irmão, apesar do que ele fez. Desde que chegou na Coreia, eles nunca mais se viram. Era apenas ligações de telefone ou por Skype.

— Só liguei para saber se você está bem. Está estudando? — O mais velho perguntou.

— Sim, estava estudando matemática agora pouco. — Não havia muito o que conversar, infelizmente. Ironicamente, naquele dia Harin usava uma camiseta grande e antiga dele. Gostava de fazer isso sempre que sentia falta do mesmo.

— Hm, ok. Você tem que treinar, não é? Depois nós conversamos mais. — O irmão foi rápido em terminar a chamada, sem dar tempo de Harin responder. Ela não ligou muito para aquilo, afinal, era cerca de três horas da manhã no Brasil.

[...]

Somewhere over the rainbow, blue birds fly and the dream that you dreamed of, dreams really do come true...

Os olhos de Harin estavam fechados enquanto ela tocava aquela música no ukulele. Ela conseguia sentir a música. Lembrava do tempo em que tudo começou a desmoronar em sua casa. Então ela ouviu essa música que chegou ao fundo da sua alma. As lágrimas começaram a descer de seus olhos ao passo que ela cantava.

— Não disse que ela era talentosa? — Siena sussurrou no ouvido de Im Yeji que apenas assentiu com a cabeça e continuou prestando atenção na música e na letra.

Assim que terminou, as duas garotas aplaudiram e Harin fez uma reverência, logo enxugando as lágrimas com as costas da mão. Pressionou os lábios e esfregou ao mãos cheias de calos devido o uso do violão e do ukulele.

— O que acharam? — Abriu um sorriso, fingindo que a poucos segundos atrás não havia chorando. Se havia uma coisa que Harin não gostava, era chorar na frente dos outros. — Sejam sinceras.

— Muito lindo. — Foi o que Yeji disse, com um sorrisinho nos lábios. Quando Siena disse que gostaria de lhe mostrar sua amiga cantando, Yeji quis dizer não, mas claro que teve que aceitar visto o quanto Siena insistia.

— Não preciso dizer nada, não é? — Siena também sorriu e levantou do chão, fazendo alongamentos e bocejou. Não havia dormindo mais do que duas horas naquela noite.

— Obrigada, unnies. — Harin se curvou mais duas vezes, para demonstrar respeito, o que fez Siena rir.

— Yeji unnie, ouvi falar que agora você está treinando rap. — Siena comentou, tomando um pouco de água da sua garrafinha.

— Sim. Os treinadores acharam que eu tenho uma “cor diferente para o rap”. — Yeji fez aspas e revirou os olhos. — Isso é um desperdício de seis anos de treino vocal.

As garotas começaram a conversar e parecia que elas estavam falando uma língua totalmente diferente, afinal os olhos de Harin estavam focados no teto daquela sala de treino.

— Concorda, Harin? — Yeji perguntou.

— Aham. — A mais nova concordou, mas logo olhou para as duas mais velha e perguntou, meio confusa: — O que você tinha dito mesmo?