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História Staring Back At Me - Capítulo Único - All I See Is You


Escrita por: HaruEunHae

Notas do Autor


Olá! Não quero me estender muito aqui, então:

É minha primeira fic, espero realmente que gostem!
As lembranças têm um fundo real, nas notas finais eu explico!
Tive a ideia da fic escutando "Mirrors", do Justin Timberlake, então quem quiser ouvir enquanto lê, fique a vontade.
Os trechos em itálico são partes da música, que não estão em sua ordem correta.
Revisei mil vezes, mas se passar algum erro, me avisem!

Acho que é isso. Até lá embaixo~! <3

Capítulo 1 - Capítulo Único - All I See Is You


Fanfic / Fanfiction Staring Back At Me - Capítulo Único - All I See Is You

Então foi aqui que tudo começou… Sempre me perguntei em que momento da nossa trajetória eu me apaixonei. E somente agora me dei conta de que de fato foi um amor à primeira vista. Ele sempre me disse, de todas as formas, de que havia sido assim, e eu em minha ignorância não acreditava completamente. Afinal, eu ainda era apenas um adolescente correndo atrás dos meus sonhos e que até o momento só tinha me interessado - ainda que levemente - por garotas.

É estranho pensar que aquele momento foi crucial para tudo o que vivemos após o mesmo. Se eu fosse mais observador, talvez tivesse notado que algo mais acontecia por trás daqueles olhinhos inocentes e sorriso infantil de dentes tortinhos. Agora, olhando de fora, consigo notar seu olhar curioso sobre o meu eu adolescente. Eu estava tão entretido, conhecendo os novos trainees - que o incluía  - que mal me dei conta disso. 

E então aconteceu.

Nossos olhares se cruzaram e se prenderam um ao outro por segundos. Poucos, mas decisivos. Os outros na sala sequer tinham os olhos em nós. Ele corou e pude ver que o meu eu de 15 anos lutava internamente para desviar o olhar, e pude sentir as mesmas sensações que ele sentia. Eu sorri, agora entendendo completamente o que significa “amor à primeira vista”. Inconscientemente, sorriram tímidos um para o outro, e eu pude ver que ele tremia levemente, apertando as mãos nas laterais do seu corpo, buscando os bolsos daquela calça larga que ambos gostávamos de usar na época. Ele abaixou a cabeça e finalmente o olhar se desfez.


Não é que você é algo para admirar?
Porque o seu brilho é algo como um espelho,
E eu não posso deixar de reparar:
Você reflete neste meu coração.

 

Os dias passavam rápido, e a medida em que convivemos, nos tornamos tão dependentes um do outro. A verdade é que ele sempre foi transparente, nunca escondendo seus sentimentos e necessidades, enquanto eu sempre fui fechado e tímido demais para assumir que eu precisava da companhia dele tanto quanto ele precisava da minha. O que gerava alguns conflitos e desentendimentos de vez em quando.

Como a vez em que assisto agora, quando eu e Junsu fizemos uma brincadeira com ele, e no final ele chorou. Aquilo foi como uma facada em meu peito, e enquanto Junsu ria tentando acalmar ele, eu não sabia como agir. Seus olhos tão profundos agora transbordavam, e eu me senti totalmente perdido. A tristeza era aparente em seu olhar, e aquilo me matava. Sempre foi tão difícil ver você chorar. 

Mas como adolescentes nunca aprendem, lá estava eu de novo, fazendo seus lindos olhos transbordarem novamente. Ele estava todo alegre, tínhamos acabado de chegar de um fanmeeting e as fãs sempre gostaram da nossa amizade. Chegamos ao dormitório e ele estava todo animado, comentando sobre as fãs e a respeito da nossa amizade.

— Hyuk, estou tão feliz que somos amigos! - disse sorrindo e indo em minha direção, provavelmente indo me abraçar pela milésima vez no dia.

— Não somos amigos, Donghae. Somos apenas colegas de trabalho. - soltei em um ato impensado tentando fazer uma brincadeira idiota.

Quando olhei para ele, seus olhos estavam marejados e me olhava visivelmente magoado. Antes que eu pudesse dizer ou fazer alguma coisa, ele disparou para o quarto. E naquela noite dormi no sofá. Não por vontade dele, e sim por covardia minha, que não quis encarar seus olhos tristes. Após esse ocorrido, era nítido o quanto ele estava chateado comigo, mas eu não sabia como agir, e cada vez ficava mais difícil lidar com a sua quase indiferença comigo. Eu sabia que ele estava sofrendo, mais do que eu, porque ele nunca gostou de ficar sozinho, e era eu quem sempre estava consigo.

Até que ele teve que ir para a China. Eu estava com o coração apertado, de saudades e de culpa. Minha consciência pesada não me dava um minuto sequer de sossego, e em meio a esse caos interno, Leeteuk me chamava para algo na sala. Saí do quarto em passos lentos. Quando cheguei a sala, ouvi sua voz e rapidamente meus olhos correram pelo ambiente procurando por ele, quando me dei conta de que os membros falavam com ele em uma vídeo chamada. Me aproximei devagar, e ouvi claramente quando ele reclamou para o Siwon que se sentia sozinho. Aquilo foi demais pra mim. Lágrimas caíam silenciosamente pela minha face quando fui puxado para a frente do computador e via seu rosto assustado. Ele parecia incerto quanto ao que fazer ou falar, e eu apenas o olhava, sentindo as lágrimas escorrendo.

— Er.. Oi Hyuk.. - ele disse meio incerto e pude ver seus olhos ficando levemente vermelhos.

Se eu achava que não aguentaria antes, agora era o fim. Eu chorava soluçando, não conseguia dizer nada. As lágrimas que anteriormente escorriam, agora jorravam de meus olhos, e eu tremia. Era a primeira vez em muito tempo que ele me chamava de Hyuk, e mais uma vez a culpa me assolava. Em meio às lágrimas vi que ele também chorava. Os membros percebendo a situação, ou talvez a mando de Leeteuk, se retiraram e nos deixaram sozinhos. Após um tempo um encarando o outro, as lágrimas começaram a cessar, ainda que algumas poucas insistissem em cair.

— Hyuk… - ele falava com a voz embargada, e eu respirei fundo.

— Hae, me desculpa, eu não quis dizer aquilo, você é meu amigo sim, você é mais que meu amigo, você é o meu melhor amigo. Eu não quis te magoar, era só uma brincadeira, idiota eu sei, mas eu sou idiota, eu não penso… Eu.. Sinto sua falta… - soltei antes que pudesse me dar conta, e vi quando seus olhos brilharam mais intensamente e quando seus lábios finos formaram um sorriso pequeno, tímido. Eu ofegava, e estava prestes a cair no choro de novo quando ouvi sua voz doce.

— Eu também sinto a sua falta, Hyuk. - sorriu docemente e tocou a tela, como se tocasse meu rosto.

E eu, inconscientemente, fiz o mesmo.


Se você um dia se sentir sozinho e, 
A luz intensa tornar difícil me encontrar,
Saiba apenas que eu estou sempre
Paralelamente do outro lado.

 

Com o passar dos anos, nós amadurecemos, e essas brigas desnecessárias deram espaço a uma amizade cada dia mais forte. Não fazíamos nada sem a presença um do outro, e quando isso acontecia, um sempre questionava o outro sobre. Eu continuava fechado, e ele continuava transparente. Eu continuava cego e ele continuava enxergando tudo. Eu me enganava e ele se controlava. Pensando em tudo isso hoje, perdemos muito tempo nisso. Nossos fanservices aumentavam com o passar do tempo, e cada vez ficava mais fácil e natural para ambos. 

Um dia, em meio a uma transmissão do SuKiRa, soube que ele havia deixado uma mensagem ao vivo para mim.

— Eu te amo! - ouvi sua voz animada e fiquei estático por alguns segundos, até sentir um leve chute de Leeteuk debaixo da mesa. Ri, disfarçando e respondi a única coisa que veio na cabeça no momento.

— YAH! Pare de levar nosso amor à público! - Leeteuk continuou com a transmissão enquanto eu disfarçava bebendo água.

Meu coração batia rápido e eu não sabia o que estava sentindo no momento. Era uma confusão sem precedentes, e eu não sabia o motivo da sua mensagem repentina, ao vivo. Era apenas fanservice? Não havia motivos para isso, uma vez que não estávamos no mesmo ambiente. Senti a mão de Teuk sobre o meu braço, como se tentasse me acalmar. Ele havia colocado uma música para tocar, me dando algum tempo. O líder me olhava compreensivo, e eu segurei sua mão, como se pedisse apoio. Talvez ele já soubesse? Ele sorriu e me puxou, para falar em meu ouvido.

— Fica calmo Hyuk, não tem necessidade de ficar assim. - apertou meu braço de leve - Quando chegarmos ao dormitório, Donghae vai estar lá, aí vocês conversam.

Apenas assenti. Conversar. Sobre o quê exatamente? Teuk sorriu e quando a música acabou, voltamos com a transmissão normalmente. No caminho para o dormitório fiquei pensando em tudo, e cada vez que a imagem dele aparecia, eu sentia um misto de excitação e medo. Meu estômago revirava e eu tinha a sensação de que algo iria mudar.

Quando chegamos, fui direto para o quarto, momentaneamente esquecendo de Donghae e desejando mais que tudo um bom banho. Assim que entrei no mesmo, fiquei estático ao ver ele em sua cama, sentado e olhando seu celular. Ele me olhou, seus olhos brilhando e ao mesmo tempo levemente tristes e tensos. Como era possível apenas um olhar carregar tantos sentimentos difusos? Respirei fundo e ele fez que ia levantar. Estiquei a mão e ele me olhou confuso.

— Preciso muito de um banho Hae - ele abaixou os olhos e assentiu com a cabeça, voltando pro lugar anterior. Me aproximei dele e puxei seu rosto para olhar em seus olhos. - Podemos conversar depois?

— Uhum. - disse baixinho e sorriu de lado. Pude ver um brilho de medo passar por seus olhos.

Fui em direção ao banheiro e enquanto me lavava, pensava em tudo novamente, juntando com sua reação instantes atrás. Saí do banheiro com a toalha enrolada na cintura e o encontrei na mesma posição. Ele só notou minha presença quando sentei em minha cama ao lado da sua. Rapidamente desviou os olhos dos meus e olhava para as suas mãos em seu colo. Soube naquele momento que teríamos uma das conversas mais sérias de nossas vidas, senão a mais séria.

— Donghae… Eu preciso te perguntar uma coisa. - respirei fundo. - E eu preciso que essa nossa conversa seja totalmente franca. Não quero que esconda nada de mim, assim como não esconderei nada de você. Pode ser?

Ele assentiu e notei quando respirou fundo.

— Primeiro de tudo: Porque me mandou aquela mensagem ao vivo na transmissão hoje? - eu não tirava os olhos dele, e estudava todas suas reações e movimentos.

— Eu.. Não sei Hyuk.. - soltei um suspiro e ele me olhou nos olhos. - Eu só senti vontade, somos amigos, eu estava sozinho aqui e com saudades de você.

— Tem certeza que é só isso? - por que a palavra “amigos” me deu um aperto no coração? - Por que você está assim então?

— Sim, é só isso. E eu tô normal... - desviou novamente seus olhos dos meus e respirou fundo de novo, apertando as mãos.

— Hae, olha pra mim. - enquanto olhava suas reações, fui me dando conta de que o que eu sentia talvez não fosse apenas amizade.

Notei que ele estava mais nervoso do que eu, e que era a primeira vez em uma conversa séria que ele mantinha seus olhos tão longe dos meus. Quando ele me olhou, senti meu coração acelerar, e notei que seus olhos estavam ficando vermelhos, e que ele estava se esforçando para não chorar. Me levantei de onde estava e me sentei na sua cama, imitando sua posição e ficando de frente para si. Segurei suas mãos e olhei fundo em seus olhos, vendo quando uma lágrima escorreu teimosa por sua face. A sequei com uma das mãos e ele abaixou o rosto, deixando que mais lágrimas caíssem. Sem ter muito o que fazer, o abracei e deixei que ele descarregasse suas lágrimas em meus ombros. Não seria a primeira e nem a última vez.

Após um tempo, notei que ele estava mais controlado, e que já não chorava mais. Separei o abraço devagar e sequei seu rosto com ambas as mãos olhando em seus olhos. Ele sorriu tímido e voltei a segurar suas mãos.

— Eu não sei o que está acontecendo, mas sei que está doendo, e você deve deixar isso sair em forma de palavras Hae, antes que te sufoque. - sorri de lado pra ele, tentando dar coragem para que ele falasse.

— Hyuk… Eu… Eu estou apaixonado. - senti um aperto no coração.

— E quem é ela, Hae? Preciso saber se eu aprovo. - ri levemente tentando disfarçar a dor que se espalhava pelo meu peito. O que estava acontecendo afinal? Ele me olhou confuso e respirou fundo.

— Não é “ela”. - suspirou desviando o olhar do meu novamente. - É “ele”. - arregalei os olhos. Donghae estava apaixonado por um cara? Como eu nunca percebi que ele era gay? Respirei fundo e tentei manter a expressão calma.

— Ok, então quem é o sortudo? - ele voltou seu olhar pro meu, e notei que ele estava cada vez mais impaciente.

— Hyuk, você tá brincando comigo?

— Por que, Hae?

— Primeiro assumo pra você que sou gay e você não tem nenhuma reação quanto a isso, e você realmente não tá prestando atenção ou eu não sou o único lerdo nesse grupo?

— Desculpa Hae, mas eu não tenho absolutamente nada contra você ser gay, então por que eu teria algum tipo de reação? E também, eu tô prestando muita atenção, fui eu quem quis conversar sobre a mensagem que você me mandou, em primeiro lugar. - ele me olhou e ergueu as sobrancelhas, como se eu tivesse finalmente chegado no ponto crucial.

De repente todas as peças se juntaram. Como se fosse um enorme quebra-cabeça, assisti tudo se juntando, cada pequeno gesto dele comigo, cada pequena palavra, tudo se tornando um símbolo maior, se tornando uma resposta clara na minha mente. Donghae havia se declarado pra mim. Ele não havia apenas assumido que era gay. Ele havia assumido que a pessoa por quem ele estava apaixonado, “o sortudo” como eu dissera, não era ninguém mais do que eu. Senti uma enxurrada de sentimentos invadindo meu ser, tomando todos os espaços do meu corpo, e só então notei que esses sentimentos sempre estiveram presentes quando se tratava de Donghae. Eu senti que poderia voar, ir até o céu e voltar, em um piscar de olhos.

Notando meu silêncio repentino, e a cara de idiota - que eu não sabia - que eu fazia, ele percebeu que eu havia entendido suas entrelinhas. Ele desviou seu olhar do meu e olhou para nossas mãos, suspirando baixo e as soltando. Voltei a consciência quando senti suas mãos longe das minhas, notei que ele olhava pra baixo e que suas mãos tremiam levemente.

— Desculpe… - ele falava baixinho - Vou entender completamente se você não quiser mais ser meu amigo. Só queria te falar isso, porque eu não aguentava mais guardar isso tudo sozinho, e eu queria que você soubesse, que apesar de tudo, você é a pessoa mais importante do mundo pra mim. - eu ainda estava meio sem reação, e quando notei que ele se preparava para se levantar, segurei suas mãos entre as minhas novamente, fazendo com que ele me olhasse.

— Hae. - respirei fundo - Eu realmente não esperava por isso, mas pensando bem e olhando pra tudo o que já vivemos juntos, acho que é mais do que normal, não é? - ele me olhava surpreso, seus lábios levemente separados - Na verdade, acabei de notar que eu também sou apaixonado por você. Há muito tempo. Não sei quando aconteceu, nem como, só percebi que sempre te amei. - ele me olhava num misto de felicidade e temor, e eu sorri meu sorriso gengival, o que ele tanto gostava.

E, antes que ele pudesse falar alguma coisa, selei seus lábios.


Porque com a sua mão na minha mão
E um bolso cheio de alma,
Posso dizer, não há lugar onde não podemos ir
Apenas ponha a sua mão no vidro,
Estarei aqui tentando puxar você.
Você só tem de ser forte

 

Depois do nosso primeiro beijo, nós nos abraçamos e dormimos na cama de Donghae. No dia seguinte, resolvemos conversar com Leeteuk a respeito do nosso futuro relacionamento. O líder nos escutou, e quando terminamos, apreensivos, ele simplesmente riu e disse que já sabia de tudo, e que nós fomos idiotas e lerdos o bastante pra não perceber que mesmo antes do debut já nos amávamos. Eu ri, afinal, fazia menos de um dia que havia me dado conta de que amava Donghae, e apesar de não saber quando aconteceu, não achava que isso estava escondido dentro de mim há tanto tempo. Foi quando eu ouvi a voz dele:

— Não sei você Hyuk, mas eu realmente te amo desde que nos vimos pela primeira vez. - ele sorriu docemente, afagando minhas mãos que se encontravam entre as suas. O olhei surpreso, e não consegui falar nada naquele momento. Ele apenas riu e me abraçou, selando meus lábios em seguida.

Aos poucos nossa relação foi ficando mais intensa, e todos os dias vivíamos plenamente o nosso amor. Cada dia que passava era mais mágico ao lado dele. Nunca imaginei que um dia estaria vivendo tão intensamente ao seu lado. Contamos aos outros membros sobre nosso relacionamento, e nenhum mostrou surpresa, o que nos fez rir. Todos nos apoiaram e se mostraram felizes que finalmente havíamos percebido o que acontecia conosco.

Nosso fanservice ficou mais intenso, o que fazia com que nossas fãs afirmassem, cada vez mais fervorosamente que EunHae era real. Infelizmente, devido ao país conservador e preconceituoso em que vivíamos, não podíamos realmente assumir nada publicamente, mas ficávamos imensamente felizes ao ver o apoio que recebíamos das ELFs. Agora que posso ver tudo de perto - e de fora - percebi o quanto eu fui cego e o quanto Donghae deve ter sofrido calado. Eu realmente gostaria de poder dizer que eu sempre amei ele também, agora que eu havia finalmente descoberto quando esse amor nasceu.


Você é especial, é original
Porque não parece assim tão simples.
E eu não posso evitar olhar, porque
Vejo a verdade em algum lugar nos seus olhos

 

Mais uma lembrança surgia à minha frente e sorri percebendo de qual se tratava. Era um dia muito frio, estávamos no meio do inverno, e resolvemos ir pra uma estação de ski aproveitar o escasso tempo livre que tínhamos. Depois de aproveitar o dia todo, resolvemos descansar um pouco quando anoiteceu, antes de irmos embora. Nos sentamos bem juntos, aproveitando um o calor do corpo do outro.

— Está muito frio, minhas mãos doem! - ouvi ele reclamar, fazendo um biquinho lindo. Revirei os olhos e lembrei de ter dito pra ele colocar luvas antes de sairmos do dormitório. Ao invés de soltar um “eu te avisei” resolvi simplesmente pegar as mãos de Donghae e as colocar em meus bolsos. Ele me olhou surpreso e sorriu.

— Melhor agora? - ele suspirou e eu sorri.

— Sim, muito melhor!

Eram momentos como esse que tornavam ele tão único pra mim, que faziam com que cada fibra do meu ser se ligassem a ele de uma forma tão perfeita, que eu desconfiava que havíamos nascido um pro outro. Toda aquela baboseira clichê sobre almas gêmeas passavam constantemente em minha cabeça agora. E vendo tudo isso do modo como consigo ver agora, vejo que tudo o que eu julgava ser clichê, não passa da realidade.

Nós temos o péssimo costume de não acreditar que coisas boas existem, de que o ser humano é capaz de coisas incríveis se abrir o coração para coisas boas. Mas eu conhecia alguém que não era assim. Que carregava em si toda a bondade e inocência do mundo, que acreditava nas coisas mais absurdas. Ele sempre me ensinou a olhar as coisas de uma perspectiva otimista, até sonhadora, diria.

Ele sabia que a maldade existia, mas nem por isso deixava de acreditar sempre que o bem venceria. Era difícil para ele quando íamos em programas e alguns MCs eram realmente rudes ou se mostravam desinteressados. Ele ficava visivelmente incomodado quando percebia esse tipo de comportamento. Em uma das ocasiões, ele não havia percebido o rumo maldoso que uma entrevista seguia, pois eu tentava distraí-lo. Mas, quando um dos MCs perguntou qual dos membros tinha os lábios mais bonitos dentre nós, ele simplesmente respondeu.

— Os de Hyukjae quando ele acorda.

Todos olharam pra ele, que se encontrava vermelho ao notar o que havia falado, e então, todos rimos para sair da saia justa. Pude perceber o olhar de asco que o MC direcionava ao Donghae, e por esse motivo fiz questão de distrair ele novamente, prestando atenção ao rumo que a entrevista seguia. Assim que o programa acabou, voltamos ao camarim, e eu e ele ficamos para trás enquanto uma assistente de palco retirava de Donghae os equipamentos do microfone.

Leeteuk me chamou e tive que deixar ele sozinho por uns instantes. O que infelizmente resultou no meu pequeno chorando compulsivamente nos meus braços após o MC passar por ele e o xingar de “viadinho nojento”. Todos estávamos irados com o comportamento daquele velho, o que resultou numa equipe de segurança e nossos managers nos puxando pra fora do prédio da emissora. Chegamos ao dormitório e levei ele ao nosso quarto. Ele ainda chorava baixinho, tentando conter a dor da humilhação. 

Era tão horrível ver ele chorar. Eu apenas fiquei do seu lado, tentando lhe consolar e dizer para que não ligasse, que o mundo lá fora era cruel.

— Não diga isso Hyuk! - ele disse exasperado.

— Isso o quê Hae? - o olhei curioso e ele respirou fundo, limpando os olhos e me olhando profundamente.

— O mundo não é cruel, o que acontece é que algumas pessoas não tiveram a sorte de conhecer o que é a bondade, a amizade, a solidariedade e o amor. É por isso que eu aceitei seguir o sonho do meu pai, sabia? - eu neguei com a cabeça e ele prosseguiu - Eu quis ser cantor, porque meu pai sempre dizia que a melhor forma de levar o amor para as pessoas, era através da música.

Eu não consegui dizer nada naquele momento. Meus olhos estavam marejados, e a única coisa que fiz foi abraçá-lo fortemente e depois de um tempo lhe dizer o quanto eu o amava e era eternamente grato por ele também me amar. Por ter uma pessoa tão incrível e com o coração maravilhoso daquele modo ao meu lado.


Nunca poderei mudar sem você
Você me reflete, amo isso em você
E, se eu pudesse, eu
Olharia para nós o tempo todo

 

E então tudo ficou escuro novamente. Por quanto tempo mais eu teria que estar assim? Eu tentava me lembrar o que aconteceu antes de eu estar desse jeito, mas tudo o que vinha em minha memória, eram as lembranças que tinha ao lado dele. De repente comecei a sentir uma presença estranha. Tentei gritar e perguntar quem estava ali, mas nada saía de minha garganta.

Uma luz azul se fez presente. No começo fraca, mas ganhando força gradativamente. Não feria meus olhos, mas me deixava apreensivo. Foi quando eu vi um homem caminhar em minha direção através da luz. Eu não conseguia enxergar direito sua fisionomia, porém, do que conseguia ver, notei que ele era belo, e talvez possuísse minha idade. Ele veio até mim e pousou sua mão em meu ombro. Instantaneamente senti um calor gostoso preencher meu corpo, e senti que conseguiria falar se tentasse.

— Olá, Hyukjae. - sua voz era angelical, doce, e trazia uma paz interior incrível.

— O-Olá. - gaguejei e tossi, limpando a garganta que estava levemente congestionada.

— Você sabe quem eu sou? - neguei com a cabeça - Eu sou seu anjo da guarda. - o olhei espantado e ele continuou antes que eu o interrompesse. - Temos pouco tempo - explicou. - Você sofreu um acidente, e agora está em coma. Não se desespere, isso pode ser ruim. Tente manter a calma. 

— Como isso aconteceu? - perguntei tentando me manter calmo.

— Você estava voltando para o dormitório, quando o motorista da van perdeu o controle, saiu da pista e bateu de frente com um caminhão que vinha na direção contrária. - enquanto o anjo falava, eu começava a me recordar do ocorrido, e lembrei que além de mim, Donghae também estava na van. Não consegui conter o desespero, e antes que eu questionasse, ele prosseguiu - Calma! Donghae está bem e a salvo, não teve nada além de leves arranhões. Você o salvou. 

— Como assim? - perguntei sentindo dificuldade em respirar. Por um momento o anjo fechou os olhos e em alguns minutos a dificuldade desapareceu, dando lugar novamente a calma.

— Quando a van bateu, você foi rápido o suficiente para deixar Donghae em segurança e ele não receber todo o impacto que cairia sobre ele. Mas não conseguiu evitar que esse impacto o atingisse, por isso nesse momento você está em coma. - ele me deu um sorriso triste em seguida - Foi difícil trazer você de volta, os médicos foram incríveis, e sem a ajuda deles, eu não teria conseguido te proteger.

Permaneci em silêncio digerindo aquelas informações. Eu salvei Donghae. Se não fosse por mim ele teria morrido, então?

— Sim. - o olhei sem entender - Se não fosse por você, Donghae teria morrido, sim. Era o que estava previsto para acontecer, inclusive. Mas você mudou o rumo das coisas quando o protegeu. O que me traz novamente ao ponto em que precisamos conversar.

— O que?

— Normalmente pacientes em coma conseguem ter lembranças de suas vidas, e ouvir o que as pessoas que os visitam dizem para eles. Mas você não está respondendo bem aos estímulos, nem ao menos escuta algo a sua volta. Sua alma está se desprendendo de seu corpo físico aos poucos. - respirei fundo tentando compreender - É por isso que estou aqui. O que você fez, mudou o rumo das coisas, foi uma espécie de sacrifício, e no momento em que você decidiu salvar Donghae, automaticamente abriu mão de sua vida. É por isso que sua alma está aceitando que você pode morrer.

— Não! Eu não quero morrer! - falei desesperado.

— Eu sei que não. Por isso estou aqui conversando com você. Você precisa se prender a muito mais do que lembranças se quiser continuar vivendo. Você precisa fazer sua alma entender que você ainda está preso neste plano, se esforçar para responder aos estímulos dos médicos e se prender a realidade.

— Como eu faço isso? - ele sorriu triste novamente.

— Não posso dizer, Hyukjae. Você tem que descobrir isso sozinho. Sua força de vontade irá te levar onde você precisa. Seu lar nesse plano, é muito importante. Você tem que lembrar do que fazia com que você vivesse, e se prender a isso. - respirei fundo, tentando juntar todos os fatos. - Tenho que ir. Seja forte, Hyukjae.

Então ele se foi, junto com a luz azul, e tudo ficou escuro novamente. Suspirei e tentei juntar todas as peças em minha cabeça, mas quanto mais tentava, mais cansado me sentia. 

Meu lar. O que fazia com que eu vivesse.

Ele se referia ao dormitório ou a casa de meus pais? Quanto mais pensava, mais confuso eu ficava. E eram tantas coisas que me faziam viver. Senti um estalo e lembrei de Donghae. Durante muito tempo, eu vivia pra ver seus olhos e seu sorriso. Sentir seus beijos, abraços e fazer ele feliz. Sorri me lembrando de seu sorriso infantil, cheio de dentes tortinhos, mas que ficavam perfeitos em sua boca.

De repente senti um puxão e como se fosse mágica eu via meu próprio corpo deitado em uma cama de hospital, ligado em vários aparelhos e no soro. Respirei fundo tentando entender o que acontecia, e foi quando eu o vi. Ele estava ali. Donghae estava ali, do meu lado. Segurando minha mão e olhando para mim com os olhos vermelhos e inchados. Chamei por ele, mas como suspeitei, ele não me ouviu. Me sentei na cama, ao lado do meu corpo e perto dele, e coloquei minha mão por cima da dele, que segurava a mão do meu corpo. Lágrimas começaram a jorrar de seus olhos e ele abaixou a cabeça, sem conseguir contar os soluços. Eu ouvia, mas o som estava baixo, como se estivesse longe.

— Por que você fez isso Hyuk? Era pra eu estar aí, não você. - senti meu peito arder ouvindo suas palavras, que gradativamente ficavam mais altas. - Você não tem o direito de me deixar, eu não aceito viver uma vida da qual você não faz parte. - ele chorava compulsivamente e falou baixinho - Não me deixa Hyuk, não vai embora, por favor…

Eu queria chorar, mas as lágrimas não vinham, e eu sentia meu coração cada vez mais apertado. Nessa hora uma das máquinas começou a apitar e rapidamente alguns médicos e enfermeiros entraram no quarto, junto com Sungmin, que entrou para amparar Donghae e o retirar do quarto. Eu observava de longe os médicos mexendo em meu corpo, e pela janela da porta do quarto eu via Sungmin segurando Donghae que chorava mais compulsivamente que antes.

— Rápido, desfibrilador, ele está tendo uma parada cardíaca!

Ouvi um dos médicos falando e suspirei. Por que aquilo tinha que acontecer? Por que eu simplesmente não acordava e acabava com isso? Observei os médicos tentando me reanimar, e me lembrei do que o anjo disse. Eu tinha que começar a reagir aos estímulos. Quem sabe assim eu não conseguia compreender melhor o que ele quis dizer com o meu lar. Me aproximei do meu corpo e fechei os olhos. Lutei em minha mente para entrar dentro dele e sentir os choques que eu sabia que levava. Outro puxão, e de repente senti uma alta carga de energia percorrendo meus músculos. Ouvia sons a minha volta, mas tudo estava escuro e eu não conseguia abrir meus olhos. Senti dificuldade em respirar e meu corpo pesado. Será que eu havia conseguido? Tentei me mexer e nada.

Meus ouvidos iam se acostumando aos sons aos poucos, e percebi que tudo ficava mais silencioso aos poucos. Por minutos - que pareceram horas naquela escuridão - ouvi uma porta sendo aberta e passos se aproximando. Ouvi um choro baixo e a voz de Sungmin fraca.

— Viu Hae? Tá tudo bem agora. O Hyuk tá bem. - ouvi um fungar ao meu lado - Vamos pro dormitório. Você precisa descansar, e comer um pouco. Teuk disse que está a caminho, ele fica com o Hyuk enquanto você descansa.

— Não vou sair daqui Minnie, desculpa. - a voz dele estava chorosa, e quis muito abraçar meu pequeno naquele momento - Eu sei que todos vocês estão preocupados, mas eu não posso sair do lado dele. Ele tem que saber que eu estou aqui esperando por ele.

Eu quis chorar por estar dando tanta dor e tristeza para ele. Sungmin suspirou e ouvi novamente o barulho da porta e mais pessoas entrando no quarto. Percebi que era Leeteuk e pela voz desconhecida respondendo, devia ser o médico responsável por mim.

— Preciso que vocês se afastem um momento, não precisam sair do quarto, só quero checar algumas coisas. - ouvi passos novamente e tudo ficar quieto.

E em meio a escuridão, vi uma luz amarela bem fraca clarear um pouco, e pisquei momentaneamente assustado pelo aparecimento repentino da mesma. Em seguida, ela simplesmente sumiu. Tudo ficou quieto novamente e ouvi uma respiração mais forte se aproximando.

— Doutor, aconteceu alguma coisa? - ouvi Donghae perguntando temeroso, e eu quis responder que eu estava bem e que logo voltaria para os seus braços, mas nada pude fazer.

— Estranho… - ouvi a voz do - provavelmente - médico perto de mim.

— Desculpe, o que é estranho doutor Park? - era a voz de Teuk.

— O coração dele estava normal até Donghae falar. E então acelerou. Agora está normalizando. - ouvi ele suspirar. - Venha aqui Donghae, por favor. - ouvi passos novamente e senti um leve formigamento em minha mão. Tentando entender o que acontecia, ouvi a conversa se iniciar novamente. - Fale com Hyukjae como se não estivéssemos aqui.

Tudo aconteceu muito rápido em seguida. Ouvi sua voz me chamando novamente, e pedindo para que eu acordasse logo e voltasse para ele. Quis responder e nada. Quis abrir os olhos e nada. E logo em seguida ouvi novamente a voz do doutor Park.

— É incrível! Desde que chegou aqui, Hyukjae não tinha reagido a nenhum estímulo. Quando ele teve a parada ainda há pouco, eu tinha quase certeza de que não íamos conseguir reanimá-lo. E agora além de responder á luz, o comportamento do coração quando ouve a voz de Donghae mostra que ele finalmente está nos escutando. - ouvi e me senti feliz, finalmente minha alma estava compreendendo que não era a hora de partir desse mundo.

Me sentia cansado, então deixei que o cansaço me levasse momentaneamente para o mundo dos sonhos, havia tido um grande progresso hoje, e em breve eu retornaria para os braços do meu Donghae.


Ontem é história
E amanhã é um mistério
Posso ver você olhando de volta para mim
Mantenha seus olhos em mim

 

Senti a consciência tomando conta de meu ser ao ouvir duas vozes sussurrando ao longe, e me forcei para tentar entender o que diziam e quem eram.

— O que o médico disse, Minnie? - reconheci a voz de Siwon e continuei me esforçando para ouvir a conversa.

— Ele disse que pode ser que o Hyukjae acorde, ele está lentamente começando a responder aos estímulos… - ouvi um suspiro cansado vindo de si.

— Isso é bom não é? - silêncio. Talvez Sungmin tenha respondido sem palavras. - Se o hyung já está fora de perigo, por que então o Donghae não sai de perto dele um segundo?

— Não consigo entender isso também. Pensei que assim que o médico dissesse que o Hyuk já não corria mais risco, ele fosse pelo menos até o dormitório para tomar um banho, mas nem isso ele quis. Ele só come porque o Teuk está o chantageando, senão nem isso ele faria.

Senti um formigar em minha mão novamente e um aperto em meu peito. Não era justo ele se sentir assim, quando eu estava ali, prestes a voltar para ele. Quis gritar que estava tudo bem novamente, mas não consegui. Ouvi um barulho de alguém se mexendo muito próximo de mim, e reconheci sua voz fraca e sonolenta.

— O que estão fazendo aqui a essa hora?

— Oi hyung! Eu saí ainda há pouco de uma gravação, resolvi vir visitar o Hyuk, mas não quis te acordar. - escutei Siwon explicar. - Você não quer ir comigo pro dormitório, descansar um pouco e amanhã cedo eu te trago de volta?

— Não Siwon, obrigada. - senti o formigamento em minha mão se intensificar aos poucos e percebi o quão fraca a voz do meu peixinho estava. Se eu não acordasse logo, ele ficaria doente.

— Tem certeza Hae? São só algumas horas, eu fico aqui com o Hyuk e te ligo se ele acordar. - Minnie tentava convencer ele, o que eu sabia ser inútil. Quando Donghae colocava uma coisa na cabeça, não tinha cristo que mudasse ele.

— Tenho Minnie. - ouvi ele respirando fundo e prosseguir - Olha, eu sei que vocês estão tentando ajudar, que estão preocupados tanto comigo quanto com o Hyuk, mas eu não posso deixar ele sozinho. Eu tenho que mostrar pra ele o caminho de volta. Eu tenho que mostrar que eu nunca saí do seu lado. - sua voz se tornava chorosa, e eu tinha nítida a imagem de seus olhos profundos e tristes. - Ele tem que saber que eu não vou abandonar ele e que ele tem que voltar logo pra casa. - senti um arrepio percorrer meu corpo - Não posso viver em um mundo onde ele não exista, não consigo sair do lado dele, e eu sei que ele está lutando pra voltar pra mim. Por isso não posso sair daqui, o coração dele tem que achar o meu de novo, e só assim poderemos ser o lar um do outro novamente.

Como se tudo ficasse claro, suas palavras me despertaram como nunca nada antes o fez. É claro. Donghae era meu lar. Ele sempre foi e sempre será o lugar para onde eu sempre irei retornar. Quis me bater por não ter percebido isso antes, e queria chorar de felicidade por ele me mostrar novamente o caminho. O formigamento em minha mão se intensificou e senti percorrendo meu corpo inteiro, como se leves descargas elétricas me acordassem pouco a pouco. Sabia que aquele era o momento. Era agora ou nunca. Com uma força que tirei diretamente do que sentia por Donghae, e tendo apenas ele em mente, tentei me mexer, e após muito esforço senti que teve um resultado ao conseguir levantar os dedos das mãos, e consequentemente, senti o toque de seus dedos quentes contra minha mão fria. Sorri me dando conta de que havia conseguido e comecei a ouvir sua voz me chamar.

— Hyuk? GENTE ELE TÁ SE MEXENDO. CHAMEM O MÉDICO, RÁPIDO! - ouvi barulhos de passos apressados e imaginei que Sungmin e Siwon tivessem saído correndo do quarto. - Hyuk, eu tô aqui meu amor, volta pra mim. Anda. - senti seus dedos percorrendo a lateral de meu rosto e mexi novamente meus dedos. - Abre os olhos pra mim, abre…

Senti seus lábios doces selarem o canto da minha boca e me forcei a abrir os olhos, como ele havia me pedido. A princípio foi difícil, era como se milhares que quilos pesassem minhas pálpebras, e meu olhos estavam secos. Pisquei algumas vezes, e notei que o quarto estava mal iluminado, mas ao olhar pro lado e quando minha visão focou, enxerguei seus olhos vermelhos, fundos e inchados me fitando em expectativa. Sorri fracamente e tentei levantar meu braço para lhe tocar, mas senti uma dor muito grande e ele me parou.

— Shh.. Calma. Eu tô aqui Hyuk, fica calmo, o médico já está vindo. - e sorriu aquele sorriso de dentes tortinhos que eu tanto amava.

Ouvi barulhos no corredor e logo um médico e duas enfermeiras entraram, pedindo que Siwon e Sungmin se retirassem junto com Donghae por alguns momentos para que pudessem me examinar e ver se estava tudo ok. Ele sorriu pra mim acariciando novamente meu rosto, me tranquilizando e dizendo que logo voltava, e saiu do quarto. Meu corpo todo doía, e eu não tinha mais tanta consciência do que havia acontecido. A única coisa que se mantinha em minha mente eram as palavras de Donghae.

 

 

Após o doutor me examinar, ele chamou todos de volta ao quarto. Estava bebendo água quando ouvi a porta se abrindo e Leeteuk, Siwon e Sungmin entraram. Sorri para eles, e continuei olhando para a porta, esperando que Donghae entrasse. Desviei minha atenção para Sungmin que chegou perto de mim e pousou sua mão sobre meu ombro. O doutor começou a explicar que eu estava bem, que as dores que eu sentia no momento era por estar muito tempo inerte na cama e que agora seria questão apenas de tempo para que eu tivesse alta. Teuk ouvia tudo atentamente, como se fosse minha omma, e ri do pensamento. Depois do doutor sair do quarto acompanhado pelas enfermeiras, me voltei para Sungmin.

— Onde ele está? - disse com a voz ainda fraca por falta de uso. Ele me olhou e antes que pudesse responder, Teuk se intrometeu.

— Hyukjae, descanse, você passou por muita coisa. - respirou fundo - O Donghae depois vem te ver. - olhou para Siwon e Minnie e percebi uma troca de olhares estranhas entre eles.

— Mas ele tava aqui quando eu acordei, onde ele foi? - disse me sentindo estranhamente vazio e sozinho. - O que aconteceu? Tem alguma coisa errada e vocês não querem me falar.

Leeteuk ia começar a falar quando ouvimos passos apressados no corredor e uma mulher gritando. De repente a porta se abriu com um estrondo, e lá estava meu Donghae. Ele estava ofegante e vi que seu braço sangrava. Quando eu ia começar a falar, ele correu até mim e se jogou nos meus braços, seu cheiro tão único me invadindo de uma vez, e novamente me senti em casa. Era ali que eu pertencia. Ouvi seu choro baixo e afaguei seus cabelos com a mão que estava livre de agulhas e percebi que eu também chorava. Vi quando uma enfermeira chegou no quarto, ofegante assim como ele, e vi Teuk se dirigir a mesma, a acalmando. Olhei para Minnie e o mesmo tinha lágrimas nos olhos, mas ria com a situação.

— Hae, calma pequeno, eu tô aqui. - o apertei em meus braços - Nunca mais vou sair do seu lado.

Eu percebi que o mesmo tentava falar, mas os únicos sons que saiam de sua boca eram soluços. Olhei para o Minnie perguntando o que havia acontecido e porque ele estava daquele jeito.

— Depois que você acordou e saímos do quarto pro doutor te examinar, o Hae desmaiou. - o olhei assustado e ele fez sinal que continuaria. - Então uma enfermeira levou ele pra um quarto. Ele ficou fraco porque todo o tempo em que você esteve aqui, ele não saiu do seu lado um segundo sequer. Quando chegava no limite, trazíamos roupas pra ele e ele tomava banho ali no seu banheiro, e voltava para o seu lado. Ele dormiu todo esse tempo na cadeira ao lado da sua cama, e não estava comendo também. - respirei fundo sentindo um nó em minha garganta. - Nos últimos dias ele só tem comido porque Teuk-hyung o chantageou, disse que se ele não começasse a se alimentar direito, ele ia proibí-lo de ficar aqui…

Respirei fundo e percebi que o braço dele estava com sangue, quase seco já. Depois que Minnie me explicou tudo, a enfermeira se aproximou, dizendo que assim que acordou, ele puxou a agulha do soro e saiu correndo antes que alguém o segurasse. Eu me desculpei com a mesma e percebi que a respiração dele estava mais pesada e compassada. Ele havia dormido ali em meus braços. Perguntei para a enfermeira se ele poderia ficar ali comigo, e ela, não vendo outra maneira de manter ele quieto, aceitou desde que o soro pudesse ser novamente injetado. Me ajeitei na cama, que era espaçosa e tinha espaço para ambos, e ela limpou o sangue e novamente injetou a agulha do soro em seu braço.

Depois disso, liberei Sungmin, Leeteuk e Siwon e disse que estava tudo bem, que agora eu quem cuidaria do Donghae. Agradeci por tudo e vi quando eles saíram do quarto. Eu estava feliz, tudo estava bem. Eu estava novamente nos braços do meu Donghae, e ele estava nos meus. Nada mais iria nos separar. Um era o lar do outro, e eu me sentia inundar de uma felicidade sem tamanho ao constatar isso. Ele dormia tranquilamente e eu só conseguia olhar para cada detalhe de seu rosto, agradecendo aos céus por ser tão sortudo e abençoado. Acariciei a lateral do seu rosto devagar, e vi quando seus olhos - tão lindos - me olharam profundamente. Correspondi ao seu olhar, sorrindo. Ele sorriu de volta e tentou levantar a mão para acariciar meu rosto também, mas foi impedido pelo fio com o soro. Ele olhou aquilo confuso e eu abaixei novamente sua mão, entrelaçando seus dedos aos meus.

— Você tem que se cuidar melhor, peixinho. - sorri - Como posso voltar pra casa, se você não se cuidar, hm? - ele me olhou de olhos arregalados e falou baixinho.

— Você escutou?

— Cada palavra. - sorri mais vendo seu rosto corar ligeiramente. - O que eu faria sem você, Hae?

Ele me olhou, com um sorriso lindo nos lábios e levantou a cabeça para selar meus lábios aos seus. Deixei esse leve toque me tomar e novamente senti meu coração se acelerar, recebendo uma enxurrada de amor e paz.

— Que bom que voltou Hyuk. - ele disse baixinho ainda com os olhos fechados e os lábios encostados aos meus. - Eu não saberia viver sem você.

— Eu nunca deixaria você. - olhei nos seus olhos e eles me fitavam com aquela profundidade e inocência tão bem conhecidos por mim.


Porque eu não quero perder você agora
Estou olhando bem para a minha outra metade
O vazio que se instalou em meu coração
É um espaço que agora você guarda
Mostre-me como lutar pelo momento de agora
E eu vou lhe dizer, baby, foi fácil
Voltar para você uma vez que entendi
Que você estava aqui o tempo todo
É como se você fosse o meu espelho
Meu espelho olhando de volta para mim

 

Ficamos em silêncio apenas aproveitando um a companhia do outro, quando eu senti em meu coração, que aquela era a hora.

— Hae, eu não estava planejando isso para agora, e nem para ser assim, mas eu não quero deixar isso pra depois. - ele me olhou curioso e eu sorri. - Lee Donghae, você aceita se casar comigo?

— Hyuk.. Eu.. - ele me olhava com os olhos novamente transbordando, seu sorriso lindo cada vez maior em seus lábios, e eu apenas o fitava em expectativa. - Claro que eu aceito, Lee Hyukjae! Você é o amor da minha vida!

Sorri ouvindo sua resposta e colei novamente nossos lábios em um beijo calmo, cheio de amor e significados que apenas eu e ele entendemos. Significados esses, que somente podiam ser entendidos porque eu e ele éramos um. Porque eu e ele pertencemos um ao outro por completo, porque éramos alma-gêmeas, porque um completava o outro com perfeição. Porque um era o lar do outro.


Eu não poderia ficar maior
Com mais ninguém ao meu lado
E agora está claro como esta promessa
Que estamos fazendo
Dois reflexos em um
Porque é como se você fosse o meu espelho
Meu espelho olhando de volta para mim
Olhando de volta para mim


Notas Finais


Sobre as lembranças:
- Primeiro, o Hyuk vê todas as lembranças como um espectador.
- Pelas minhas pesquisas, o Hyuk e o Hae se conheceram quando ambos tinham 15 anos, pois o Hyuk entrou na SM em 2000 e o Hae em 2001.
- É verdade que o Hyuk e o Junsu (TVXQ/JYJ) fizeram o Donghae chorar em uma brincadeira.
- Também é verdade que o Hyuk gosta de brincar falando pro Hae que eles são apenas colegas, mas o Hae sempre se magoa com isso.
- Realmente houve uma vez em que Donghae foi pra China sozinho, e os membros fizeram uma video-chamada com ele, e é verdade que o Hyuk não conseguia falar nada de tanto que chorava e tremia vendo o Hae,
- Também é real a mensagem que o Hae deixou ao vivo em uma transmissão e a resposta do Hyuk. (Só não sei se foi realmente no SuKiRa).
- A parte em que o Hae reclama do frio nas mãos, também aconteceu. O Hyuk realmente colocou as mãos dele nos seus bolsos e perguntou se estava melhor, mas claro que tem toda uma fantasia ali incluída pra dar sentido a história.
- O Hae realmente disse que os lábios do Hyuk são lindos quando ele acorda.
- O sonho do pai do Hae era mesmo ser cantor, o que fez com que ele quisesse tornar esse sonho realidade.

Acho que é isso kkk Pra quem quiser um bônus, pra fechar com chave de ouro, existe uma entrevista em que uma fã perguntou para os dois o que um significava para o outro, e a resposta do Hyuk foi... "Donghae é como um espelho".
Espero que tenham gostado! Estou com um projeto de uma long, mas ainda não sei se ela vai render alguma coisa :P

Chuuuuu~!


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