1. Spirit Fanfics >
  2. Starry Starry Night >
  3. Fugir

História Starry Starry Night - Fugir


Escrita por: helpisontheway

Notas do Autor


Demorei pra caralhokkkkkkk. Ai, ai. Desculpe. Umas coisas aconteceram e etc. De qualquer forma acho que ninguém deve ter sentido tanta falta assim.

Acho que eu devo ser a única pessoa que lê as regras de envio antes de postar os capítulos. Só queria dizer isso mesmo, tchau.

Capítulo 9 - Fugir


Eu poderia contar o que aconteceu depois que voltei para casa no final da tarde de domingo – da imensa bronca que eu levei dos meus pais, do castigo que eles me impuseram e tudo o mais. Mas eu não estou com vontade. Eu poderia, mas não quero. E, quando você não quer fazer uma coisa, você não deveria ser obrigado a fazer essa coisa.

Semana pré-recuperação. Será que tem coisa pior? É quando os professores só sabem falar disso, nos aconselhando a correr atrás do prejuízo, falando sobre notas, dizendo que a escola é importante e todas essas coisas que eles sempre falam. É um saco. E todos só sabem dizer a mesma coisa o tempo inteiro. Mas o engraçado é que nenhum deles convence. Se a pessoa não quiser estudar para a recuperação, ela não vai estudar. É assim que funciona. E, se ela estudar para isso tentando se enganar, da mesma forma só vai tirar notas baixas. As coisas nunca dão certo ou, pelo menos, nunca são do jeito que queremos.

No domingo choveu bem na hora que eu tinha decidido voltar para a casa a pé. Eu não tenho a menor paciência para fugir da chuva, então como consequência acordei resfriadíssima na segunda-feira. Estava, na verdade, derrotada. Não tinha forças nem pra segurar a lapiseira e fingir que estava prestando atenção em alguma coisa da aula.

É engraçado ver o comportamento humano na rua. Eu percebi isso quando estava voltando para casa na chuva, na maior calma do mundo. As pessoas andam correndo – isso quando não correm mesmo. E não era só porque estava chovendo. Elas atravessam os sinais de trânsito quando ainda estão vermelhos na primeira oportunidade e, se você não fizer o mesmo, se sente mal com isso, como se tivesse cometido o maior vacilo da face da Terra. É realmente bizarro. E o pior é que você nem percebe. Quando dá por si, já está atravessando a rua em plena cor vermelha. As pessoas se arriscam por isso. Tudo por um minuto a mais que seja no seu dia.  

A pressa está em todo o lugar do mundo. Eu achava que só existia nos shoppings ou nas estações, mas a verdade é que existe em qualquer lugar. Os shoppings e estações são apenas extensões do que acontece nas ruas, afinal. Nas ruas, todo o mundo está preso em seu próprio universo pessoal, o que não chega a ser exatamente ruim. O problema está no conteúdo desses universos. São universos adultizados. E isso é uma merda.

Nas ruas, quem manda são as crianças. Elas, sim, não têm pressa alguma. Elas não ligam de perder um mísero minuto esperando a droga do semáforo ficar verde para os pedestres. Elas não ligam. Elas andam cantarolando, chutando pedrinhas ou tampinhas, se divertindo. Elas não correm se os pais não pedirem (ou se não for para irritá-los). Elas não têm responsabilidades e, por isso, não têm pressa. E, quanto têm, é para assistir alguma maratona de desenho animado ou ir para ao parque brincar.

Eu posso não saber o que vai ser de mim no futuro, mas eu não quero me tornar alguém que tem pressa ao andar na rua. Tenho até medo disso.

Tudo isso circulava a minha mente de forma tão clara que eu só percebi que a aula já havia acabado quando os alunos começaram, um a um, a recolher o seu material e a sair da sala. Fui obrigada a fazer o mesmo.

Às pressas, me dirigi ao armário 503. Na última sexta-feira, quando eu disse que iria ser a última vez que eu passaria pelo armário 503, eu sabia que só estava tentando me enganar. Se enganar nunca dá certo. Eu tinha plena consciência disso, mas ainda assim continuava fazendo. É difícil parar.

De qualquer forma, não tinha nada de novo lá dentro do armário. Logo pensei que a garota tinha apenas se atrasado de novo, mas logo descartei essa ideia. Mas eu não queria que a gente simplesmente parasse de se corresponder. Foi muito pouco tempo para que isso acontecesse. Por isso, escrevi a primeira coisa que me veio na mente:

 

Sabe, eu tinha dito que preferia cachorro em vez de gato, mas, se eu fosse ter algum bichinho de estimação, eu teria uma tartaruga.

 

Eu sou uma bosta. Em minha defesa eu tinha muito pouco tempo para pensar em alguma coisa. Não tinha como pensar em algo decente. E eu realmente não queria “enviar” aquele texto que eu escrevi lá no Citizën. Totalmente decepcionada com a minha capacidade para conversar, joguei o papel de qualquer jeito dentro do armário, bati a porta do mesmo e saí correndo para a aula de Física.

O professor de Física é provavelmente o único professor que eu realmente gosto. Ele é muito maneiro, de verdade. Só não o admiro porque ele fala muita bosta... Principalmente na semana pré-recuperação, quando entrega nota. É o tipo de idiota que eu não quero analisar em quesito caneta preta ou azul justamente pra não me decepcionar.

Toda a vez antes de entregar as provas pros alunos ele faz um discurso falando a mesma coisa. Repetindo o tempo todo que não somos um número e que notas ruins não significam nada nas nossas vidas, não definem a nossa inteligência. Só que ele está enganado. Nós somos um número. Poderíamos até não ser míseros números, mas o problema é que nos tratam como números. Esse é o problema. Somos conhecidos pelos professores por nossos números na chamada. Quando nasci provavelmente se referiam a mim como o bebê do quarto 301. Se eu for em algum restaurante, eles me darão uma senha enumerada e só se referirão a mim por ela. Nos cemitérios os túmulos provavelmente são enumerados. Quero dizer, nós somos reconhecidos pelo Estado através do nosso número de identidade, do nosso CPF. Nós somos um número. E sempre seremos.

Eu gosto dele porque ele é o único professor que se preocupa em fazer um discurso de consolo, mesmo que seja o mesmo todas as vezes. Pelo menos ele se dá ao trabalho de fazer isso. A maioria dos professores não faz. A maioria está pouco se fodendo se você foi bem ou mal na prova deles. A maioria não liga. Mas ele liga. E o bigode dele é maneiro.

 

|x| |x| |x| |x| |x|

 

Desculpe, eu me atrasei de novo.

Por que uma tartaruga?

 

Ela me respondeu, em azul claro.

 

Não sei ao certo. Eu só as acho legais. Quero dizer, elas são incríveis. O quão maneiro deve ser carregar a sua casa com você aonde quer que você vá? É como estar de pijama o tempo todo. E, tipo, uma tartaruga me acompanharia pela minha vida toda, elas vivem bem mais do que os seres humanos.

 

Ao mesmo tempo que é bom responder esses troços todos, eu sinto como se só eu estivesse tentando realmente. Se parar pra pensar nisso, é tudo uma maluquice absurda.

 

Ok, me convenceu com a parada do pijama. Mas você não acha que seria um pouco cruel com a tartaruga? Como você disse, ela veria você morrer.

 

Ela me respondeu, dessa vez em vermelho.

 

Nunca tinha parado pra pensar nisso. Talvez até seja, mas ela poderia ficar para os meus irmãos ou para os meus sobrinhos depois que eu morrer. Então tecnicamente ela não sofreria tanto assim. Me perderia, mas nunca mais viveria em um pet shop.

 

Respondi, indo logo depois para a saída do colégio. Não tinha muita gente, mas eu saí do prédio bem na mira das bonitinhas, que, sem eu nem perceber, se aproximaram de mim antes que eu pudesse fugir. “Fugir” não, “sair sem ser notada”.

— Lauren! — Dinah exclamou animada, bagunçando o meu cabelo.

—  Oi.

— Vem cá, aonde é que você se mete o dia inteiro? Nós só te vemos na saída! —  ela perguntou.  —  E isso porque sempre ficamos um pouco mais tarde.

Fiz uma cara confusa quase exalando um “ué?”, mas apenas respondi que “por aí”. E eu lá sabia como responder uma pergunta dessas? Fico a manhã toda no colégio, oras. E sozinha. Onde mais estaria? Não me meto em lugar algum.

A garota imediatamente colocou um semblante malicioso no rosto, sendo acompanhada por Normani. Juro que não sei de onde surgiu tanta intimidade. Eu me sentia um ponto de interrogação humano ambulante ali.

—  Mas ela nem disse nada demais pra vocês pensarem besteira...  —  Ally resmungou, provavelmente tentando arrumar paciência. — Não ligue para elas, Lauren.

—  É, elas são idiotas. —  Camila completou, sorrindo debochada. Dinah deu uma cotovelada nela.

—  Você está melhor?

Ally perguntou, mudando completamente de assunto. De início eu não entendi ao que ela se referia. Tinha acontecido tanta coisa no final de semana que eu nem ao menos me lembrava da porrada que o poste me deu na sexta.

Fiz que sim com a cabeça e disse um “só ainda está um pouquinho vermelho”. Ela sorriu. E então ficamos em um silêncio muito divertido. Eu só conseguia olhar para o chão.

—  Então, Lauren, você vem na semana que vem ou já está livre depois desta semana?

Dinah perguntou, querendo puxar assunto. Péssima maneira de fazer isso, aliás.

—  Pois é, ela tem cara de nerd. —  Normani comentou, parecendo curiosa em ouvir a minha resposta.

Eu fiz uma careta. Respondi que provavelmente estava em mais matérias que todas elas juntas. Eu realmente não estava a fim de admitir em voz alta o quanto eu sou burra. Principalmente para desconhecidas-em-processo-de-conhecimento (se depender delas, pelo visto).

—  Impossível! A Dinah ficou em quase todas.

Camila explanou, brincando. Dinah deu outra cotovelada na menina.

—  Deixa de ser mentirosa, Camila! Eu estou em 6 só...

— Então nos vemos semana que vem. —  eu disse meio agoniada, querendo sair dali o mais rápido possível. Esse assunto é uma merda. Só me faz sentir deprimida. —  Tenho que ir buscar os meus irmãos. Já estou atrasada uns 10 minutos. Tchau.

Completei tão rápido quanto fui embora. Nem dei tempo de responderem à minha despedida.

 

|x| |x| |x| |x| |x|

 

Acho que, pela primeira vez na minha vida, eu cheguei atrasada na escola. Não me orgulho disso, na verdade. Meu pai teve uma reunião de emergência em plenas 7 horas da manhã e eu tive que levar os meus irmãos pra escola. A pé. Cheguei só 7 minutos atrasada e o professor de Inglês não me deixou entrar.

Fiquei circulando pelos corredores. Dois inspetores me pararam, resmungando que eu tinha de ficar do lado de fora, no pátio, até o próximo sinal tocar. Mas nas duas vezes respondi que apenas queria ir no banheiro. Como a transição do primeiro para o segundo tempo é minha, meus pés terminaram me levando para o armário 503 um tempinho depois.

Mal tinha virado o corredor e já podia ouvir os gritos. Não eram bem gritos, mas uma discussão em voz alta. O que não deixa de ser burrice, porque, se forem alunos, qualquer inspetor pode ouvir e vir tirar satisfação.

Pisei no corredor meio hesitante. Quando vi que se tratava de Austin Mahone e mais uma garota, decidi me esconder e recuar. Eu realmente não estava a fim de confusão. Mas na realidade me senti confiante o bastante para continuar andando, já que a fiel patota patética e intimidadora dele não estava presente. E de fato foi o que eu fiz: continuei andando.

— Cala a boca, seu idiota! Você não estava lá! Você não sabe o que aconteceu! — a garota gritou. Mesmo embargada, sua voz me pareceu bastante familiar. 

Eu andava calmamente pelo corredor. Nem ao menos virei a cabeça quando passei pelos dois. Mas Mahone não me ignorou como eu fiz com eles.

— Jauregui! O que você tá fazendo aqui?! — ele perguntou, alterado. Parecia a ponto de explodir. Vinha em minha direção, mas eu não estava muito longe dele.

— Jurava que o corredor do colégio era comum a todos os alunos... — eu respondi, calmamente. Mantinha um sorriso irônico no rosto.

— A gente tá conversando. Em particular. Dá o fora, mono-orelha. — ele resmungou, irado. Parecia realmente que ia explodir.

Foi só então que eu decidi olhar para a garota com que ele discutia. Era Camila, a que implica comigo das bonitinhas. Não expressei reação alguma. Ela parecia estar a ponto de chorar. E parecia constrangida por eu ter percebido isso.

— Em particular, sério? Se duvidar o colégio inteiro está ouvindo. Vocês estão gritando.

Depois disso Mahone ficou resmungando coisas impossíveis de serem entendidas, provavelmente com raiva do meu argumento perfeito e irrefutável. 

— Só vai embora, garota. — ele falou, finalmente, impaciente.

Olhei pro armário 503. É, de qualquer forma não poderia abri-lo na frente dos dois. Olhei pra Camila. Ainda não sabia o que fazer. Não tinha a menor ideia do que tava acontecendo. Ela queria dizer alguma coisa com os seus olhos, eu sabia disso, pelo menos conseguia perceber. Mas eu não sei fazer leitura ocular, não fiz cursinho pra passar no vestibular das bonitinhas. Não sei lidar com isso.

— Tá esperando o quê? — Mahone resmungou, impaciente ante a minha indecisão.

Apenas fui embora, mas não porque ele mandou. Não era da minha conta mesmo, certo? Não foi exatamente covardia. 

Decidi então não responder a garota do armário por hoje. Não tinha como responder agora e se eu voltasse a respondê-la depois ia ser muito estranho. É impossível entrar no colégio para assistir aulas no quarto tempo, ela iria estranhar. De qualquer forma, sei que não fará muita diferença pra ela.

O dia transcorreu normalmente. Isso só até o recreio. Eu estava lá, sentada no chão, encostada no meu armário, pensando no que desenhar, com o meu caderninho e uma lapiseira em mãos, quando Dinah, a grandona das bonitinhas, saiu gritando pelo corredor, parando um pouquinho antes de mim.

Qual é o seu problema, Lauren?! — ela perguntou, tentando soar agressiva. Não deu muito certo. Ela estava ofegante, apoiada em seus joelhos em uma busca por ar, provavelmente de tanto correr.

Me pus de pé. Eu realmente não estava entendendo.

— Qualquer ser humano com o mínimo de inteligência saberia que aquela situação não era normal, tá legal?! Pensei que nós éramos amigas! Amigos se ajudam, caso você não saiba.

— Do que você está falando? — perguntei, calma. Ainda não tinha captado. Ela falava grego pra mim.

A minha calma só a irritou ainda mais, porque ela me segurou pelo colarinho do uniforme do colégio e me colocou contra o armário, me levantando uns 5 centímetros do chão. Com uma mão só. Haja força.

— Você é idiota?! — ela gritou. Parecia realmente revoltada. — Eu tô falando sobre o que você viu acontecer entre o idiota do Mahone e a Camila durante o 1º tempo!

Ah.

— O que você queria que eu fizesse? — perguntei com toda a calma do mundo. — Eu não sabia o que estava acontecendo. Não sei qual é a relação entre eles. É óbvio que era uma conversa ruim, mas poderia ser necessária para o convívio deles, não podia? 

— A garota estava chorando! Como você não fez nada?!

Dinah ignorou tudo o que eu disse. Deixei-a esbravejar. Ela gritava uma porrada de acusações, ainda me segurando pelo colarinho, o que, bem, começava a doer. A mão livre da loira se posicionava sempre como se fosse me bater a qualquer momento.

Nessa hora todas as outras bonitinhas chegaram, ofegantes que nem ela estava no início de tudo.

— Larga ela, Dinah. — Ally disse, parecendo meio desesperada com a situação.

— Dinah, você ficou maluca?! — Camila perguntou, parecendo realmente desesperada.

— Ela já é maluca. — Normani respondeu a anterior, sendo a mais calma dentre elas.

— Eu não vou soltá-la. — Dinah rosnou. — Não até ela dizer alguma coisa.

— Mas você não escutou nada do que eu disse antes, sabia disso? — falei, suspirando depois, ainda tranquila. Tranquilidade essa que pareceu assustar as outras.

— Fala de novo, Lauren. Prometo que ela vai escutar. — Ally disse, olhando feio pra Dinah, que abaixou a cabeça em concordância.

— Eu só não entendi ainda o que exatamente você queria que eu fizesse. Eu não estava em posição de fazer nada naquela situação. Você queria o quê? Que eu pegasse Camila pelos cabelos e a arrastasse dali? Eu não. Mal a conheço, não tenho intimidade para isso. E, além disso, eu não tinha como saber qual a relação dela com Mahone. Não sou de me meter na vida dos outros. É óbvio que aquela era uma conversa ruim. Mas conversas ruins muitas vezes são necessárias, sabia disso? Você não pode continuar protegendo tudo e todos de tudo o que é ruim. Você não vai conseguir. Percebe que não existe felicidade sem a tristeza? Não tem como ser feliz o tempo todo, Dinah. Não tem como ser feliz sem sentir dor às vezes. Deixe as pessoas terem os seus momentos de tristeza, em vez de obrigá-las a serem felizes o tempo inteiro.

Todas se entreolharam, impressionadas provavelmente com a minha calma. Eu sei que eu mesma estava. Não era realmente situação para se ficar tranquila. Se Dinah quisesse, ela poderia me bater a qualquer momento que eu não teria como me defender. E, bem, não é exatamente uma pessoa fraca que consegue levantar outra com uma mão só. Mas eu estava calma porque eu realmente não me importaria de apanhar pra quem tem certeza do que está fazendo. Se quiser me bater, vá lá. Cada um tem seu próprio senso de justiça.

— Você não disse nada com nada. — Dinah resmungou, apertando com mais força o meu colarinho. — Você só deu desculpinhas sem noção. Você estava com medo, isso sim. E você sabe disso. Eu já vi Mahone e sua trupezinha zoando você. E Camila mesmo disse que ele te chamou por um apelidinho bem pejorativo.

— Então você queria que eu partisse para cima dele? Fosse gritando na direção dele, agarrasse ele pelo colarinho e levantasse ele do chão contra um armário? Como você está fazendo agora?

Revirei os olhos. Isso tudo já estava ficando irritante. As outras bonitinhas só observavam, quietas.

— Sim.

— É, só que tem um pequeno problema: eu não sou você. E o que é certo pra você pode ser errado para mim, que é exatamente a situação. — eu disse, sorrindo. — E, sabe? Você disse que já viu Mahone e o resto me zoando uma vez. Por que eu não vi você indo pra cima dele, ó santa defensora dos fracos e oprimidos?

Ela afrouxou o aperto no meu colarinho.

— Ué, porque...

Pela primeira vez, quem a interrompeu fui eu.

— Exatamente, Dinah. Eu não fiz isso com Camila pelo mesmo motivo. 

Ela finalmente me soltou e ficou olhando para baixo. Mas me largou mesmo, caí de bunda no chão. Eu apenas, depois de cair, peguei a minha lapiseira e o meu caderninho que, afinal, tinham também caído no chão com tanta loucura. Quando me levantei, Dinah parecia ainda estar em choque, assim como as outras bonitinhas. Sei lá o porquê. E não fazia o menor sentido.

E então o sinal bateu. Graças a Deus.

— Bem, tchau pra vocês. — eu disse, ainda com serenidade. Dei um meio tchauzinho também, que pareceu mais uma continência informal. Passei por elas e atravessei o corredor a caminho da aula de Inglês.

— Tchau, Lauren! — Ally gritou, quando eu já virava à esquerda e alunos começavam a ocupar os corredores.

Depois disso as aulas demoraram mais que a minha irmã tomando banho. Ela demora porque fica brincando o tempo inteiro. Até mesmo leva brinquedo pro banheiro. Uma vez descobri uma Polly presa no ralo da banheira. 

O caso é que, quando tocou o sinal para ir embora, caiu a ficha de que eu tinha basicamente declarado guerra contra as bonitinhas. Eu não conseguiria encará-las tão cedo. Aí então me pus pra pensar. Elas sempre ficam até um pouquinho mais tarde. Provavelmente devem demorar a sair da sala, guardar o material no armário e etc. Como eu não passaria no 503, se eu fosse direto para a saída agora, por lógica não me depararia com elas. Não que eu quisesse fugir ou coisa parecida.

Guardei o meu material voando e fui direto pra saída. Odeio sair no meio da multidão de alunos que sempre toma os corredores assim que bate o sinal. Mas era preciso.

O problema foi que, afinal, eu tinha subestimado as bonitinhas. Elas já estavam no pátio assim que botei os pés pra fora do prédio. Até tentei me infiltrar na multidão e, assim, passar despercebida por elas, mas Camila olhava bem na minha direção e cutucou as outras, avisando-as sobre mim.

E de novo bateu aquele impasse: continuava a andar ou ficava parada? Porque elas também estavam paradas, o que nunca havia acontecido antes.

Pela primeira vez na vida decidi ir na direção delas. Já estava ficando cansada de ser tão covarde. E elas me encaravam enquanto eu fazia isso, o que era uma merda. E constrangedor.

— Escuta. — chamei, quando estava próxima o suficiente. Elas me olhavam curiosas, exceto por Dinah, que encarava o chão. — Esse dia foi uma merda, certo?

E então eu ri de nervoso. Definitivamente não sei falar com pessoas. Passei a mão pelo meu cabelo. Elas me encaravam com uma cara do tipo "é sério que você falou isso, garota?". Eu já tinha um discurso perfeito na minha cabeça, mas cheguei lá e fiz uma cagada dessas. Depois suspirei, tentando me acalmar. E aí recomecei a falar:

— Olha, eu realmente não sei quem está certa ou errada nessa história toda. Mas é que eu já tô cansada de tudo. Desculpa, Dinah. Desculpa, Camila. Por qualquer coisa que eu tenha feito que possa tê-las magoado, ofendido ou qualquer coisa assim, tudo bem?

Elas pareciam realmente surpresas com o que eu havia dito. Provavelmente esperavam que eu fosse ser bem orgulhosa.

— Você não precisa pedir desculpas, Lauren. — Dinah murmurou, um pouco contrariada. Ela olhava para tudo, menos para mim. — Quem precisa sou eu, certo? Fui hipócrita e te envolvi numa situação da qual você não sabia de nada. Me desculpe.

Foi a minha vez de ficar surpresa. Estava jurando que Dinah iria me ignorar. Imediatamente corei feito um caminhão de bombeiros com ebola. Não sabia como agir nessas situações. Mas, felizmente ou não, não precisei respondê-la. Mahone havia chegado e se posicionava atrás de mim e isso já atraía a atenção das bonitinhas.

— Jauregui, meu amor! — ele exclamou, exalando ironia. — Que raro te ver por aqui na hora da saída! Que honra!

Era exatamente por isso que eu sempre fazia hora dentro do colégio. Ele mal havia acabado de falar e eu já esboçava uma careta no rosto.

— O que você quer? — perguntei, já irritada. Ia ser mil vezes pior ele fazer alguma coisa contra mim agora, na frente de todo o mundo, do que quando estou sozinha.

As bonitinhas, novamente, só observavam. Estou cansada de repetir essa frase. Ao menos a gangue de Mahone não estava presente.

— Quem disse que eu quero alguma coisa, meu amor?! — ele perguntou, rindo. Deu uma ênfase completamente desnecessária no "meu amor". Se eu tivesse coragem, já teria socado a cara dele. Depois, bagunçou meu cabelo. — Pelo menos não com você, já pode voltar para o pinel. E não agora também, quero dizer. Você sabe que temos contas a acertar mais tarde. — e começou a olhar fixamente para Camila.

Ela suspirou e murmurou:

— Vai embora, Austin. 

O pátio do colégio estava esvaziando aos poucos. Porém, Mahone, infelizmente, continuou parado. Depois disse, adotando uma postura séria:

— Eu não terminei de conversar com você.

— Não terminou de gritar, você quis dizer... — murmurei baixinho. Mas acho que todos escutaram.

— Cala a boca, Jauregui. — Mahone rosnou.

— Ela não tem nada mais pra conversar com você, Mahone. — Dinah interveio, ficando na frente de Camila. Ally e Normani repetiram o gesto. As três estavam sérias, se esforçando para manter a pose de durona.

Eu não fazia ideia do que estava acontecendo. Estava lá só de enfeite mesmo. Nem sei por que motivo não havia ido embora nessa hora.

— Não podem protegê-la da realidade por muito tempo... — o garoto disse, parecendo realmente preocupado.

E o clima havia de repente ficado ainda mais tenso. Todos ficaram em silêncio. Eu só queria sair dali, já estava atrasada de novo para buscar meus irmãos. Suspirei, cansada.

— Jauregui. — Mahone me chamou.

Apenas olhei para ele, confusa.

— Está na hora de acertar contas.

Ele disse, depois sorrindo macabramente. Mantive a calma.

— Agora? — esperei ele confirmar com a cabeça para então continuar a falar. — Agora eu tô atrasada...

Mal terminei de falar e já saí correndo portão afora. Ele até tentou me seguir (e assim o fez por duas ruas), mas depois desistiu. Essa era provavelmente a única coisa na qual eu sou boa: fugir. Não é exatamente uma coisa da qual é passível de se orgulhar, mas, bem, qualidade é qualidade, certo?

Corri tão rápido que até mesmo consegui compensar o meu atraso ao chegar na escola dos meus irmãos.

Patético.

No dia seguinte, parece que meu pai ficou com remorso por ter feito eu chegar atrasada no colégio e me levou pro colégio depois de deixar meus irmãos. O que nunca tinha acontecido. Acabei chegando 20 minutos mais cedo do que normalmente chegava. Não tinha ninguém no prédio, além dos inspetores. Arrisco dizer que nem mesmo havia professores ainda.

De qualquer forma, deixei as minhas coisas no meu lugar habitual da sala de aula e decidi dar uma volta pelo lugar. 

Meus pés acabaram me levando para o lado externo da instituição. Pensei em sentar na grama por um tempo, mas já tinha gente chegando e eu não estava a fim de dar de cara com Mahone logo na primeira hora do meu dia. Por isso continuei andando.

Ao passar pelo estacionamento, dei de cara com as bonitinhas saindo de um carro. Todas as quatro. Quanto amor. Elas me encararam quando perceberam minha presença. Como de costume, eu não sabia o que fazer. Dessa vez, elas se aproximaram. Eu olhava para os lados procurando algum caminho de fuga, mas não consegui me decidir rápido o suficiente. Elas me alcançaram, afinal.

— Oi, Lauren! — Ally comandava as bonitinhas.

— O-oi... — murmurei, sem jeito. Fiquei triste ao constatar que o sinal do colégio não poderia me salvar desta vez, já que faltavam ainda uns 15 minutos pras aulas começarem.

— Você sabe quando que é o próximo jogo dos meninos? — Dinah perguntou. Parecia decidida a esquecer o dia de ontem.

Encarei-a meio surpresa. Realmente não esperava.

— Não sei. Eles estavam em terceiro lugar na competição, pela acumulação de pontos. Devem enfrentar o que está em primeiro na próxima. Provavelmente na semana que vem. 

Respondi, um pouco receosa.

— Caramba, eu realmente não entendo nada de futebol... — Camila murmurou.

— Muito menos eu! — Dinah exclamou. — Ser uma boa irmã é muito difícil.

E o silêncio constrangedor se fez presente. O chão era mil vezes mais interessante, sinceramente.

— Jauregui!

Chamaram o meu nome à distância, atraindo não só a minha atenção como também das bonitinhas.

Fiquei perdida por alguns segundos. O sol batia nos meus olhos com intensidade, me deixando cega.

— Quem é? — perguntei às bonitinhas, agoniada. Coloquei a mão nos olhos, tentando bloquear a luz que queimava-os, fazendo-os lacrimejarem.

— Mahone... — murmurou Camila, já colocando-se na defensiva.

— Ai, caralho... — resmunguei. — Ele tá correndo, é?

Eu não enxergava coisa alguma. E isso já estava ficando irritante.

— Está. Bem rápido. Acompanhado pelos fiéis escudeiros. — Dinah disse, com desprezo na voz.

O pânico crescia em mim a cada segundo. 

— Tchau! — exclamei, do nada, quando consegui distinguir as sombras. Eles já estavam muito perto. 

Depois me pus a correr para o lado oposto ao da gangue. 


Notas Finais


É, acabou meio de repente. Acontece.

Se tem alguém aí, agradeço por ter lido até aqui. Menor ideia de quando sairá o próximo.


Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...