Às vezes me pergunto: Oque eu estou fazendo aqui? Digo, aqui na terra? Não, é sério porque, aparentemente, eu não tenho nenhum talento, não sou bonita, não sou comunicativa e meu corpo não se encaixa nos padrões de beleza, me pergunto isso porque às vezes me passa pela cabeça que eu deveria simplesmente desistir e sumir.
Ultimamente o teto do meu quarto tem sido muito interessante, me pego observando-o com certa frequência enquanto estou deitada na cama tentando justificar minha existência, costumo me imaginar tendo uma vida perfeita, com uma família de dorama, uma casa de dorama e irmãos de dorama, irmãos perfeitos que não mexam nas minhas coisas, obedeçam oque eu digo e me ajudem nas tarefas de casa, mas eu não vivo num do...
-KAORI, VEM PREPARAR O ALMOÇO!
-NE, OMMA!- levanto-me da cama decepcionada, eu estava quase pegando no sono com um sorriso bobo nos lábios imaginando como seria o namorado perfeito.
Desço as escadas sem pressa, meus irmãos mais novos estão correndo pela casa atrás do gato, minha irmã mais velha estava digitando freneticamente em seu notebook e minha outra irmã está jogada no sofá lendo revistas, uma cena normal e triste ao mesmo tempo, por que tem de ser eu a preparar o almoço? Chego à cozinha desanimada e pronta para fazer uma massa com molho, que era algo rápido, bom e fácil de fazer, mas fui interrompida de sequer pensar em uma sobremesa.
-Hola muchacha, tudo bem?- pergunta Hay como um sorriso travesso nos lábios.
-Bien- respondi mesmo não sabendo se era assim que se falava “bem” em espanhol. –Oque veio fazer aqui?
-Te salvar
-Quê?- ela se aproximou rapidamente, segurou meu pulso e me arrastou de volta ao quarto.
Hay é uma garota de sorriso travesso, cabelos coloridos e que gosta de ser “rapper” nos karaokês da vida, acredito que ela seja uma espécie de vidente porque ela sempre aparece quando estou caindo e precisando de algum tipo de ajuda, Hay costuma dizer que é porque eu “perco o brilho e isso é notável e doloroso” e que por isso ela precisa me fazer brilhar quando estou apagando.
-Vamos sair
-Quê?
-Vista-se, coloque uma roupa confortável. Você tem cinco minutos- ela olhou para o celular e fez um joinha.
O tempo estava correndo e eu também, fui de um lado ao outro do quarto procurando alguma coisa para vestir, peguei um vestido azul, uma sapatilha e me vesti, corri para o banheiro iniciando uma tentativa de maquiagem rápida que falhou, um olho acabou ficando com o delineado maior que o outro e no final das contas eu havia virado um panda, mas eu achei que ficou legal.
-Um minuto- saí do banheiro e peguei minha bolsa jogando dentro dela todo o necessário: carteira, celular, carregador(nunca se sabe onde a Hay pode me levar) e meus fones de ouvido.
-Pega o cartão do ônibus
-Aonde você vai me levar?
-Só pega o cartão e vamos- fiz oque ela disse e então deixamos do quarto... PELA JANELA!
-Você entrou pela janela? Essa casa tem portas, sabia?
-Sabia, mas se sua mãe ou algum dos seus irmãos me vissem não iam me deixar entrar e nem deixariam você sair caso eu pudesse entrar, então resolvi te sequestrar- Hay desceu com facilidade, meu quarto ficava no segundo andar da casa e por isso eu nunca sequer havia pensando em pular a janela ou escalar por ela, mas Hay parecia ter prática naquilo.
-Coloca o pé ali
-Aqui?
-Quer morrer? Ali, no lado da janela – segui todas as recomendações e cheguei ao chão com certa dificuldade.
-KAORI?!!!-ouvi minha mãe gritando e então saí correndo com Hay gargalhando ao meu lado.
Corremos até estarmos longe o suficiente da minha casa.
-Okay, calma deixa eu respirar... Ahhh estou fora de forma... Okay, vamos pegar o ônibus.
-Aonde vamos?
-Você fica linda com esse vestido
-Aonde vamos?
-Mas essa sapatilha não combinou
-Não vai me contar?
-Se eu contar, qual a graça de ter te sequestrado e corrido pela rua fazendo você mostrar oque não devia por culpa do vento que ergueu a sua saia?
-QUÊ?!- Hay começou a rir e eu senti meu rosto queimar.
Ao contrario de mim, minha melhor amiga usava calça jeans, tênis e uma camisa de banda, sua bolsa era feita de vinis e seus cabelos estavam atualmente rosas na parte de baixo, na semana passara eram azuis.
-Tem escrito ultimamente?
-Não, bloqueio criativo
-Dê um jeito de desbloquear, você precisa publicar o próximo capítulo daquela fanfic.
-Não é tão fácil assim
-Não quero saber, poste nem que seja um “Gente, vai demorar”, quero atualizações naquela maravilha! Estou enlouquecendo!- comecei a rir da careta que ela fez.
Entramos no ônibus e nos sentamos no fundo, dividimos os fones de ouvido e Hay colocou Stay para tocar, estávamos viciadas nessa música.
-Kakao, estou com medo.
-Do quê?
-Do que você vai fazer quando chegarmos lá- ela baixou a cabeça e começou a mexer no celular.
Fiquei observando-a por um longo tempo tentando imaginar o plano dela, o local para onde estávamos indo e tentando entender por que eu havia embarcado nessa aventura louca.
-Ho Seok não está me respondendo, deve estar me traindo.
-Calma, você sabe como ele é ocupado
-Sei, mas eu mandei essa mensagem... ONTEM!- ela quase gritou. Tentei acalma-la e mandei uma mensagem para JooHeonnie.
“Aconteceu algo com o Ho Seok?”
Baixei o celular e esperei, Hay cantava e dançava TT agora em uma visível tentativa de não surtar.
“Ele está sem celular, o HyungWon derrubou ele no chão e BUUM!”
-Ele está sem celular, JooHeon disse que quebrou- Hay sorriu aliviada.
-Você está sempre salvando o meu relacionamento, Kakao- ela me abraçou apertado quase me esmagando.
“Ele pediu para avisar que vai esperar pela Hay no lugar deles às 20 horas. Preciso ir, nos falamos mais tarde! XOXO”
Mostrei a mensagem para Hay e ela sorriu ainda mais, eu gostava de vê-la feliz porque, se ela não estivesse feliz: 1- WonHo estaria desesperado tentando descobrir como anima-la novamente e 2- Eu estaria agora segurando uma caixinha com lenços de papel.
Seguimos ouvindo músicas aleatórias em uma rádio aleatória e que por coincidência tocou Stay duas vezes.
-Estamos chegando- e então tudo ficou em silêncio, olhei pela janela e vi um parque, mas eu não conhecia aquele parque.
-Em qual parte da cidade nós estamos?
-Na melhor- Hay, ela apertou o botão para descermos na próxima parada e quando o ônibus parou e as portas se abriram, ela fez sinal para que eu descesse na frente e quando eu havia desembarcado, ouvi o som das portas se fechando.
-HAAAY!
-Divirta-se! – gritou ela com a cabeça para fora da janela enquanto o ônibus se afastava.
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