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História Stay on these roads - Você alguma vez viu a chuva caindo em dia ensolarado?


Escrita por: LuhDrama

Notas do Autor


Oi gente!
Hoje eu decidi que ia tacar meus livros em um canto e ir escrever, vocês não tem noção de como eu estava com saudades de postar alguma coisa <3
Bem, eu tenho a impressão que desaprendi a fazer isso, mas aí a gente posta antes que desista da ideia. E isso aqui é basicamente o desenvolvimento de uma daquelas coisas nada a ver que eu escrevo nas notas do celular.
Mais uma coisa, normalmente nas fics que tratam do poliamor, das que eu li e escrevi pelo menos, elas tratavam de casos em que todos se relacionam entre si. Aqui isso não acontece, é apenas uma pessoa que se relaciona com outras duas, mas essas duas não se relacionam(romanticamente) entre si, okay? Okay.
Boa leitura!
Obs: Vou deixar o link das músicas que são citadas nas notas finais.

Capítulo 1 - Você alguma vez viu a chuva caindo em dia ensolarado?


 

Na estrada, o vento vindo das janelas escancaradas abafava as canções quase gritadas por uma Chanyeol jogada no banco de trás, a cabeça apoiada sobre a mala enquanto observava todos os quilômetros e vidas que deixávamos para trás.

E quando deitava-se no estofado puído cantando Lies em tom abafado , quase como se conversasse com alguém, Kyungsoo sabia que era sobre o relacionamento de fachada que mantiveram durante meses antes de Chanyeol levar um soco no nariz pelo punho do pai de Kyungsoo, que o deixara suavemente torto, e serem expulsos de casa. Kyungsoo tendo que acalmar uma Chanyeol possessa enquanto rasgava suas roupas e arrancava joias e grampos, parando apenas quando os enchimentos que usava como seios  pararam num grande latão de lixo.

You're too proud to say that you've made a mistake

You're a coward till the end

I don't wanna admit, but we're not gonna fit

No, I'm not the type that you like

Why don't we just pretend?

 

Apesar disso, ele a seguiu por quarteirões até pararem na minha garagem e não foi preciso tempo para pensar antes de entrarem no carro com apenas a roupa do corpo e um cartão que dava acesso à conta bancária de Kyungsoo.

O mais velho entre nós três então pulava para o banco de trás e empurrava o do carona até que tivesse espaço para se sentar no chão, já que Chanyeol era grande o bastante para mal caber no banco de dois lugares, quem dirá Kyungsoo conseguir se acomodar ali.

Os dois permaneciam por mais tempo do que eu conseguia controlar encarando-se em uma conversa silenciosa, pelo retrovisor interno sendo possível ver apenas os fios escuros e escorridos de Kyungsoo, além de parte das longas pernas de Chanyeol.

Nunca houve muitas histórias detalhadas por parte dos dois, talvez pelo clima tenso e desconfiado que mantinham com relação à outras pessoas. Chanyeol havia sido a primeira a falar, topando seguir uma viagem sem rumo pelas rodovias, e a única que se atrevera a roubar um beijo em agradecimento por finalmente poder se livrar de sua identidade antiga, algo que lhe causava uma raiva tremenda.

À noite Kyungsoo costumava voltar a sentar do lado do carona para vigiar o velocímetro, sua fobia de acidentes de carro o fazia superpreocupado com a força em que eu pisava no acelerador e até mesmo exigia que eu estivesse com as duas mãos sempre no volante.

Ele também costumava ser bastante exigente sobre o local em que parávamos para descansar ou comprar algo para comer, provavelmente por temer que algo acontecesse a Chanyeol e existir a responsabilidade de uma vida sobre suas costas, já encarregadas desde cedo de passar a frente à gerência dos negócios da família. Responsabilidade essa que ele fugiu sem hesitar ou pensar ao correr atrás de Chanyeol até aquela garagem suja de graxa onde eu consertava carros.

E foi preciso tempo o bastante para o velocímetro marcar longas distâncias até entender que sua cabeça era mais complexa do que minhas habilidades com motores era capaz de decifrar.

“Estou entediado, vamos fazer uma aposta.”

Apostas foram a maneira que encontrei de me aproximar para além de suas barreiras defensivas, chegava a ser injusta a forma que ele se fazia invisível comigo e cheio de cuidados para com Chanyeol. Eu havia os tirado de uma vida ferrada, com direito a carona e um conhecedor de carros e guia de estradas, pelo menos uma conversa não monossilábica eu merecia.

“Diga e decidirei se irei aceitar.”

Sem dizer coisa alguma, estacionei sobre o chão de terra recoberto por grama ao lado da rodovia, saindo do carro em seguinte e tentando não achar graça dos olhares curiosos sobre mim enquanto abria a mala emperrada e tirava algo de lá.

“Um passarinho me disse que você gosta de cantar... Então te desafio a cantar uma música, que eu escolher, claro.”

Chanyeol costumava não se intrometer nesse assunto, sabia melhor do que ninguém o quanto os olhos dele faiscavam diante de um desafio, mas daquela vez entreguei o violão já fosco em suas mãos e deixei que sentasse sobre o porta-malas para ajudar Kyungsoo no desafio.

Enquanto isso ele parecia me encarar meio incrédulo, acreditando que eu já estaria cansado de ouvir alguém abrindo a boca para cantar uma sílaba se quer depois de tantos shows particulares de Chanyeol. No entanto, era exatamente o contrário, eu queria ouvi-lo e não me importava com Chanyeol cantando contra o vento, pois a dava a sensação de que estávamos vivos e vivendo.

Não pude deixar de me indignar quando Kyungsoo simplesmente não reconhecera a letra de “Have you ever see the rain?” e me dispus a cantar junto à medida que Creedence Clearwater Revival tocava baixinho na rádio para Chanyeol poder acompanhar, isso até uma nuvem escura intrusa fazer chover em um dia ensolarado e termos que seguir estrada, agora os três cantando à pleno pulmões com as roupas molhadas.

Someone told me long ago
There's a calm before the storm
I know, it's been comin' for some time
When it's over, so they say
It will rain a sunny day
I know, shinin' down like water

I wanna know, have you ever seen the rain?
I wanna know, have you ever seen the rain
Comin' down on a sunny day?

 

“À propósito, você perdeu a aposta.”

“Mas eu nunca nem tinha escutado essa música!”

“Vou querer salgadinhos de queijo na próxima parada.”

“Está bem... Vamos apostar agora então quem consegue ficar mais tempo em silêncio.”

“Vocês dois não tem coisa melhor para fazer não?”

 

-x-

 

Nas madrugadas calmas, quando um jazz tocava como música de fundo na rádio, eu via os olhares de Chanyeol para um Kyungsoo adormecido, deitado do jeito que podia no chão.

"Ele gosta muito de você."

"Ele é um babaca." resmungava, os olhos perdidos em lembranças que talvez eu nunca fosse descobrir. "Ele precisou perder tudo para descobrir o que valia a pena."

"Você?"

Porém sua cabeça balança convicta, por mais que sua boca estivesse tentada a formar palavras de confirmação.

"A liberdade de escolha, Jonginnie."

 

Chanyeol tinha os cabelos nos ombros, mas gostava de usar apliques e imaginar os fios até o meio das costas. Inicialmente apenas Kyungsoo podia vê-la enquanto trocava de roupa, pois achava seu corpo errado, como uma roupa de medidas desajustadas que nunca pudesse tirar.

Às vezes ela também se sentia mal por estar usufruindo de minha condução e do dinheiro de Kyungsoo, chegando a dar ideias absurdas para poder compensar todos os gastos que tínhamos consigo. Por final, acabou oferecendo serviços temporários de maquiagem e manicure com o que arranjava durante o tempo que passávamos em alguma cidadezinha, sendo sempre vigiada por nossos olhos cautelosos com medo de que fizessem algo a si caso descobrissem sobre seu gênero biológico.

Chanyeol, em contrapartida, tentava nos acalmar e saia sempre que podia quando acreditava que estávamos dormindo para explorar ruelas desconhecidas e lojas de conveniência que vendessem café em copos de papel. E quando tinha algum dinheiro sobrando, visitava lojas de roupa feminina e por alguns instantes sentia falta do armário da mãe, sua fonte de roupas e presilhas desde pequena.

Lembrava-se dos sapatos grandes para seus pés e das caldas de vestido que fazia Kyungsoo carregar pelos corredores da casa quando seus pais estavam ocupados demais conversando na cozinha.

Quando por descuido ela deixou a informação escapar em tom nostálgico, fiquei pensando se talvez Chanyeol não sentisse falta de casa.

Suas palavras incertas sempre negavam qualquer coisa que eu insinuasse, por mais que os lábios tremessem para concordar comigo. Chanyeol era orgulhosa demais para admitir muitas coisas.

 

Durante os dias que os raios solares transpassavam as janelas sem filtro, ela escondia o rosto em nossos pescoços, recebendo afagos nos fios e que sabíamos ser algo que a agradava. Nas noites em que não havia cidades por perto, nos apertávamos entre os bancos e dormíamos ali mesmo, uma sinfonia de resmungos se formando no dia seguinte pelas más posições durante o sono e que provocavam dores pelo corpo e principalmente nas pernas espaçosas de Chanyeol.

Havia também as noites que passávamos em claro e uma estação de rádio entre as que pegavam era escolhida de forma aleatória, nos revelando músicas diferentes e que não se resumissem ao “country do Jongin” como Kyungsoo apelidava.

“Para nessa.”

“Mas hoje é minha vez de escolher... Mas até que essa não parece nada mal.”

“Eu sou bom em escolher músicas, diferente do Jongin.”

“Lembrem-se que o rádio é meu! Mas tenho que admitir que o Kyungsoo escolheu bem.”

 

A luz interna piscava sobre nossas cabeças e, diante da escolha da noite, acabei por apagá-la, estabelecendo como iluminação apenas a luz fraca de uma lua crescente junto às infinitas estrelas que eram impossíveis de se admirar nas cidades.

Com os mosquitos infestando o carro decidimos sair e deixar as janelas com uma abertura apenas para que o som saísse dali, subindo em cima do teto e estirando os corpos ali de modo a olharmos melhor o céu.

Stay on these roads
We shall meet, I know
Stay on, my love
We shall meet, I know
I know

Where joy should reign
These skies restrain
Shadow your love
The voice trails off again

 Nós não conversávamos sobre o futuro, muito menos comentávamos o passado, nos restringíamos ao possível tempo do dia seguinte e apostávamos quem sabia o nome de mais constelações. Chanyeol falava de suas clientes, segurando nós dois com seus braços em meios abraços pelo medo de que rolássemos por estarmos nas pontas, já Kyungsoo brincava com meu gosto musical e chegou a expor seu sonho de seguir desejos antigos que tinha abandonado e eu me limitava a estipular o tempo que o carro levaria para parar de vez novamente.

E, algumas horas mais tarde, quando fui o último a permanecer deitado ali em cima, segredei em pensamento para as estrelas de que viajar acompanhado era milhões de vezes melhor do que sozinho.

 

Nos fins de tarde ensolarados eu estacionava num daqueles acostamentos de estrada que poderiam ser usados de escape ou causadores de acidentes em potencial, já que não havia nenhuma barreira de proteção, apenas uma ribanceira que se estendia por metros abaixo. Kyungsoo e eu retirávamos as blusas para que não ficassem suadas e Chanyeol não hesitava em nos imitar, deixando o sutiã de bojo à mostra.

Recostávamos-nos no capô e ali tudo parecia em perfeita ordem, como se estivesse predestinado a acontecer. O sol criando sombras nas montanhas e contrastes nas poucas nuvens, a brisa que tornava o calor suportável, o cheiro de vegetação, eu, Kyungsoo e Chanyeol.

Todos juntos em uma combinação que parecia incomum, mas que completava que persistia e nos fazia seguir mais alguns quilômetros em frente. Não nos preocupávamos durante quanto tempo mais viveríamos como nômades por autoestradas, ainda que soubéssemos que haveria um fim.

Chanyeol voltaria para casa, Kyungsoo seguiria em frente e meu carro provavelmente acabaria mais uma vez enguiçado naquelas avenidas movimentadas.

Mas, enquanto isso, nos manteríamos por aquelas estradas e um dia ainda haveria a possibilidade de nos reencontrarmos em mais alguma garagem por essas curvas da vida.


Notas Finais




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