História Stay Wild - Our family.

Sehun.

Eu colocava os pães doces dentro daquele saco preto o mais rápido que eu podia enquanto Baekhyun pegava todo o dinheiro que havia na caixa registradora e, após fazermos a limpa no local, ele abaixa a arma, nos desculpamos com as pessoas deitadas no chão e saímos correndo.

Esse era o primeiro assalto do dia, o primeiro assalto de muito outros que ainda iriam ocorrer. Não demoramos mais do que dez minutos para chegar naquele bairro que nenhuma pessoa com a mente sã ousaria cruzar, a maioria das casas eram velhas, tinham as paredes com a tintura gasta, algumas possuíam até alguns buracos feitos por balas. Em frente a algumas dessas casas haviam mendigos dormindo ou bêbados urinando nas poucas plantas vivas que haviam naquele bairro. Nossa casa era a única diferente, ela era velha e gasta como as outras, porém, não haviam buracos de tiro nas paredes, não haviam mendigos dormindo em frente à cerca que rodava a casa, não haviam bêbados urinando nas poucas plantas vivas que haviam ali, não, ninguém em sã consciência e até mesmo fora de si ousaria chegar perto daquela casa.

— Café da manhã. - Digo de forma alta ao entrar na casa e jogo o saco para Kris que estava sentado na poltrona ao lado do sofá que estava ocupado pelo corpo de um indivíduo que dormia.

A casa não era uma das melhores, quando todos nós estávamos ali era difícil se locomover. Na sala havia um sofá remendando e uma poltrona rasgada em alguns cantos, ali também havia uma escada que levava aos quartos e ao banheiro no andar de cima, eram dois quartos, alguns de nós dividíamos a cama um com o outro, outros dormiam no chão ou no sofá, era simples, quem chegava primeiro na cama a dividia, quem chegava por último dormia no chão ou no sofá. Seguindo reto pela sala havia a cozinha, ela era pequena, porém todos nós dávamos um jeito de caber ali, e no canto havia uma escada que também subia para os quartos. Como eu disse, a casa não era uma das melhores, mas era o nosso lar.

— Café da manhã! - Kris grita após se levantar e se aproximar da escada fazendo quem estava lá encima correr tão rapidamente até o lado da escada que levava a cozinha que era possível ouvir os passos pesados pelo andar de baixo. — Quanto conseguiram ? - Ele questiona após eu e Baekhyun estarmos junto a ele na cozinha.

— O suficiente para pagar a conta de luz e a de água, porém não temos como pagar o aquecedor e muito menos o aluguel. - Baekhyun responde colocando as notas sobre o balcão ao lado da pia.

— Não se preocupe, vamos dar um jeito, vocês fizeram um bom trabalho. - Kris diz e bagunça nossos cabelos.

Ele era como um pai para todos nós, ele cuidava de nós e, não importava o que a gente fizesse, ele nunca levantava a voz para qualquer um de nós, ele sabia que tudo o que fazíamos era para manter nossa família unida.

Dois indivíduos dessem a escada correndo, o garoto alto de cabelos pretos tinha o garoto baixo de cabelos castanhos preso em uma chave de braço, ambos riam, o mais baixo dava socos e cutuveladas fortes no estômago do mais alto, mas ele não se importava, nenhum de nós nos importávamos em agredir um ao outro.

— Parem de brincar. Kyungsoo acorde o Jongin, e Lay arrume um lugar na mesa. - Kris ordena e ambos se separam, Kyungsoo indo até a sala e Lay se sentando em uma das cadeiras da mesa enquanto passa a destra pelo abdômen.

Meus olhos são desviados para o garoto de olhos grandes que, na sala, balançava o corpo do garoto moreno dormindo no sofá. Ele acorda e, após Kyungsoo insistir muito, ele se levanta e caminha até a cozinha, seus olhos minimamente abertos e seus cabelos bagunçados.

Jongin se senta em uma das cadeiras restantes na mesa e se debruça sobre a mesma acabando por ser repreendido por Kyungsoo com um tapa na nuca, ele era o único que ousaria fazer isso com Jongin.

Os pães são retirados de dentro do saco, cada um recebe um, o pouco leite que tinha dentro da geladeira é divido entre nós seis. Nossa família estava ali reunida em um típico café da manhã, Baekhyun, Lay e Jongin sentados em uma das cadeiras da mesa, Kyungsoo sentado sobre o balcão, Kris em pé ao lado dele e eu escorado na parede ao lado da escada, esse era o primeiro café da manhã após semanas apenas jantando ou roubando salgadinhos de máquinas em frente à mercados, nossa vida era difícil, mas enquanto nossa família estivesse unida, tudo estaria perfeito.

As pessoas se perguntavam como nossa família havia se formado, cada um de nós possuía uma história diferente e única, porém, todos nós tínhamos algo em comum, todos nós tivemos uma vida horrível e fomos encontrados e resgatados pelo Kris hyung.

Eu tinha nove anos e vivia com a minha mãe que tinha câncer terminal, sempre tive mãos leves e assim roubava remédios para ela e comidas para mim já que, enquanto ela estivesse de cama e eu não soubesse cozinhar, essa era a única forma de eu não morrer de fome. Depois que ela morreu eu fui morar com meu tio que me usava como alvo para treinar seus tiros, Kris me achou antes de eu enlouquecer e matar aquele homem.

Baekhyun tinha onze anos quando Kris o encontrou, mesmo sendo pequeno e de certa forma frágil ele sabia como assaltar uma loja sem que nada desse errado, a mãe dele havia sumido o deixando com o pai alcoólatra que o espancava todas as noites até que ele resolveu fugir de casa, ele viveu na rua até Kris o encontrar. 

Lay tinha quinze anos quando foi encontrado, ele mau sabia falar coreano e vivia com mais treze crianças dentro de uma casa sendo forçado por uma mulher, junto às outras crianças, a fazer joias e colares falsos em troca de um alimento, bebida ou ida ao banheiro a cada final de semana. 

Kyungsoo tinha treze anos quando foi encontrado vivendo na rua, antes disso ele vivia em um orfanato, mas fugiu de lá e começou a viver na rua e a trabalhar em boates limpando as sujeiras que o povo fazia nos quartos, às vezes ele ganhava dinheiro fazendo "favores" para alguns clientes, afinal, seus lábios em formato de coração sempre chamaram atenção.

E finalmente, Jongin, não se sabe nada sobre ele, a primeira aparição dele foi quando eu tinha dezesseis anos. Eu e Kyungsoo estávamos batendo carteiras no meio de uma luta clandestina, um garoto estava debruçado no chão enquanto o outro, que estava acima dele, batia diversas vezes a cabeça desse garoto contra o chão, naquele momento eu não havia prestado muita atenção no garoto que esmagava a cabeça do outro contra o chão, eu só prestei atenção nos olhos dele e em como aquele olhar louco me fez tremer. Depois de um tempo, enquanto eu e Kyungsoo fugíamos de um cara, ficamos encurralados em um beco, eu me lembro de ter apanhado e, enquanto estava no chão ao lado de Kyungsoo, o cara apontou uma arma para a cabeça dele, eu fiquei com medo, pensei que aquele cara o mataria, mas então a arma caiu no chão, sangue saiu pelo boca do cara cujo o pescoço havia sido atravessado por uma lâmina, e, após o cara cair duro no chão, meus olhos se fixaram nele, sua expressão serena como se não tivesse feito nada demais, ele se abaixa, retira o canivete do pescoço do cara e, antes de se erguer, olha para mim, meu corpo treme no exato momento em que, de forma rápida e anormal, a pupila de seus olhos ficam extremamente dilatadas. Aquela cena tão agressiva e aquele olhar lunático sobre mim nunca iriam sair da minha cabeça. Depois desse dia ele sumiu e só voltamos a vê-lo quando decidimos ir até ele e torná-lo parte da nossa família.

Enquanto ao Kris, não precisávamos saber muito sobre ele, para nós ele era a pessoa que havia nos resgatados, e isso já era o suficiente.

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— Você ficou maluco ? - Lay questiona da forma mais calma possível. — Isso é quase como uma carta anunciando uma guerra.

— E o que mais podemos fazer ? Precisamos de dinheiro, e além do mais, teremos um lugar para ficar e não precisaremos nos preocupar se iremos comer ou não. - Kris responde olhando para cada um de nós, eu sentado no chão ao lado de Lay, Kyungsoo e Jongin sentados no sofá, Baekhyun atrás do mesmo e ele sentando na poltrona.

— Você sabe como é esse lugar, não podemos fazer nada do que fazemos diariamente, não fomos feito para esse lugar, além do mais, eles estarão lá, se lembra do que fizeram comigo ? Acha que vamos conseguir nos controlar ? Acha que eu vou conseguir me controlar ? - Baekhyun diz fazendo Kris suspirar alto.

— A menos que algum de vocês tenha dinheiro suficiente para pagar o aluguel e também o aquecedor, ou se algum de vocês não se importa em ficar semanas ou um mês sem comer, tomando banho de água gelada e não tendo papel higiênico para oferecer a um dos mendigos na casa da frente nós teremos que ir. - Ele diz de forma séria e nós apenas suspiramos e abaixamos a cabeça. — Ótimo, iremos ao Colégio Kira.

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E lá estávamos nós, todos dentro de uma van eu, Kris e Baekhyun estávamos nos bancos da frente, nos de trás estavam Lay olhando pela janela, ao seu lado Kyungsoo que mexia no celular e Jongin que estava dormindo com a cabeça deitada em seu ombro, tsc, esse era o único momento em que ele parecia alguém normal, porém, o acordar era como assinar o próprio atestado de óbito, ele odiava ser acordado, apenas Kyungsoo podia fazer isso, ele aceitava tudo que viesse de Kyungsoo, mas quando se tratava de outro de nós a história era diferente, ele se tornava o verdadeiro psicopata que ele é, mesmo se esse outro de nós fosse o Kris.

— Eu espero que todos vocês se comportem, não importa o que aconteça, não importa quem os olhe torto, quero que se controlem. - Kris diz e todos nós concordamos. — Kyungsoo, ele será ainda mais responsabilidade sua, espero que nada de errado aconteça. - O tom dele é sério, o que faz Kyungsoo engolir em seco e desviar o olhar do celular para Jongin que ainda dormia.

Depois de uma hora que se pareceu mais com uma eternidade, chegamos no colégio, a van adentra os portões e, apenas alguns minutos após estacionar em frente ao prédio dos dormitórios, diversos garotos começam a sair do mesmo parando e ficando a olhar para a van enquanto falavam entre si. 

— Isso vai ser um inferno. - Baekhyun diz rindo soprado. — Devo dizer "Que a batalha comece" ? - Ele questionado fazendo Kris rir soprado.

— Se controlem. - Ele ordena.

Porém, todos nós sabíamos que aquilo seria realmente um inferno, éramos um bando de selvagens saindo da floresta e indo para a cidade grande, nós não nos adaptaríamos ali, e, com toda a certeza do mundo, alguma merda iria acontecer uma hora ou outra. 

Kyungsoo acorda Jongin que, após coçar os olhos, pega a mascara preta no bolso da blusa que ele trajava e a usa para cobrir os lábios e o nariz. A porta da van se abre, Kris sai primeiro, depois Baekhyun, depois eu, Lay, Kyungsoo e por ultimo Jongin.

Nós estávamos ali em frente aqueles garotos, selvagens no meio de pessoas civilizadas, porém, entre tantas coisas que eu imaginei, encontrar ele ali não estava entre elas, ele me olhou com os olhos arregalados, seus lábios se entreabriram, e, em meio ao tumulto de vozes que havia ali, eu pude ouvir muito bem ele pronunciar o meu nome