História Stay With Me - Livro II - Chapter 20

—Jess, eu não sei por onde começar.- Tyler disse se jogando no sofá na minha frente.

Eu ri seca.

—Não vai dizer que você montou esse circo todo para não ter a mínima da desculpa que vai me dar dessa vez?- levantei uma sobrancelha tentando me manter controlada.

—Você acha que eu te trouxe aqui para dar uma desculpa esfarrapada e esperar que você caía em meus braços?- ele tinha uma expressão de decepção.

—Não é isso que você sempre faz? Ou melhor, não é isso o que eu sempre faço? Cair nos seus braços depois de você me machucar?- Tyler ficou em silêncio.

—Vocês estão namorando, mesmo?- a voz de Tyler era quase um sussurro depois de séculos em silêncio.

—Parece que sim, não? Você não acha que eu mereço? Que eu mereço alguém que me dê segurança, paz e amor?-eu cruzei os braços encarando-o.

—Ele não te ama. Não na mesma intensidade que eu.- ele se ajeitou sua postura no sofá e me olhou no fundo dos meus olhos.

—E ainda sim ele não pisa tanto na bola quanto você. Interessante, não?

—Você sabe que eu nunca iria te machucar propositalmente.- ele levantou e veio andando em minha direção. —Você sabe, não sabe?

Tyler pegou minha mão e me levantou do sofá.

—Você não faz nada para mudar isso. Eu sinto que você...não luta por nós como deveria.  Eu não sei se teríamos um futuro ou não. Eu não quero ter incerteza sobre casar e ter uma família um dia. Estou sendo honesta com você, Christian me dá uma esperança sobre isso, você não.

Pude ver a dor em seus olhos, mas eu tinha que deixar claro o que eu pensava e queria para a minha vida.

—Eu quero casar e ter uma família com você, Jessica. Será que você não consegue ver isso? Não consegue ver que se não for com você, não vai ser com mais ninguém?- ele segurou o meu queixo.

—Acho que estamos ignorando sinais, Tyler. Começamos o nosso relacionamento do jeito errado, você mentiu para mim então Meredith não quis nos deixar juntos e agora o seu pai. Eu não sei nosso destino é ficarmos juntos.

—E o fato de eu ser transferido para a mesma cidade que você e ter sido seu par naquela festa? Ter vindo parar no mesmo  edifício que vocês, esses sinais não contam?- ele acariciou minha bochecha numa súplica.

Fiquei em silêncio, fechei os olhos e apenas senti seu toque em minha pele.

Ele era meu paraíso e meu inferno pessoal ao mesmo tempo.

Peguei sua mão do meu rosto e ele entrelaçou os dedos nos meus.

—Você sempre faz tudo o que seu pai quer. Ele falou tudo o que acha sobre mim, e acredite, não faço a mínima questão de ouvi-las novamente. Às vezes me pego pensando se você não toma  uma atitude concreta, porque você também pense que nem ele.

Eu abaixei a cabeça.

—É lógico que eu não penso que nem ele, mas tem coisas em que eu tenho que obedecê-lo, nem que seja fingindo. Se eu não fizer o que ele quer, ele vai acabar com minhas oportunidades na vida. Eu quero te dar uma vida decente, boa. Porém, se ele ver que eu estou contrariando-o, eu vou acabar sem nada para te oferecer.- eu olhei para ele incrédula.

—Então para tudo dar certo teríamos que estar juntos fingindo não estar juntos?- eu tirei minha mão da dele. —Eu tenho dois braços e duas pernas, Tyler. Eu não preciso que você me dê uma boa vida, eu tenho capacidade suficiente para que nós ajudemos um ao outro.

—Eu não quis dizer isso, Jessica, eu...

—Você quis dizer exatamente isso, Tyler. Você pensa que nem ele, ou melhor, que nem a maioria das pessoas pensariam. Eu não quero estar com você por causa de dinheiro ou de status. Eu não preciso que você me ofereça nada além de você e o seu amor, que você diz ter. Mas já que você pensa assim, acho que estamos perdendo tempo aqui.

Tyler

Eu era um idiota mesmo.

Jessica tinha entendido tudo errado. Óbvio que eu sabia que ela era autossuficiente, mas eu não me expressei bem e fiquei parecendo o idiota do meu pai.

Parabéns, Tyler.

Eu não conseguia ao menos tentar consertar a situação pois minha voz não saía.

Não gostava de machucá-la, mas não sabia parar de fazer isso. Ela estava certa.

Ela deveria sair pela aquela porta e nunca mais voltar, mas eu não podia deixá-la fazer isso. Eu não conseguia digerir a ideia dela com outra pessoa. A ideia dela sem mim.

Eu tinha que lutar por ela como nunca tinha feito por ninguém antes. Eu tinha que provar que eu sabia do caráter dela.

Ela me observava esperando por algo que eu não conseguia fazer. Deveria mas não conseguia.

—Foi o que eu pensei.- ela disse baixo.

Jessica se afastou em direção a saída e eu a puxei para mim como nas milhares de vezes anteriores. Não me orgulhava disso, mas era o que eu poderia fazer no momento.

Seus lábios se encaixavam nos meus perfeitamente como haviam feito desde a primeira vez.

Minhas mãos percorriam seu corpo desesperadamente porque eu não aguentava mais a mínima separação que fosse incluindo aquelas roupas que caiam bem como uma luva nela.

Já as suas mãos puxavam meus cabelos dolorosamente mas de um jeito bom, se é que aquilo era possível, bem, elas fizeram isso até que uma onda de algo que eu não pude reconhecer no momento passou pelo corpo dela.

O clima mudou e ela alimentava aquela mudança. Agora seu tato foi para o meu tórax e se fincou firme ali, firme o suficiente para acumular força e determinação para me empurrar para longe dela.

Eu fiquei meio desnorteado até entender o que tinha acontecido. 

Estávamos separados, mas ainda sim perto o necessário para que sua mão acertasse em cheio o lado direito do meu rosto.

—Eu cansei, Tyler. Eu digo isso de todo o meu coração: eu estou cansada de tudo isso. Cansada de seus joguinhos, cansada dessa relação doentia que temos, cansada de toda essa palhaçada. Eu não aguento mais. Eu juro que eu tentei, Deus sabe como eu tentei, mas agora chega.- o seu tom de voz revelava que cada palavra do que ela dizia era verdade. 

—Jessica, não faz isso...

—Não faz isso? Olha, Tyler, quando você resolver realmente o que fazer do seu futuro, e se eu tiver incluída nele, você me procura, okay?- ela andou em direção a porta e eu a segui.

—Jessica, eu vou acertar as coisas o mais rápido possível, confia em mim.- meu tom de voz ficou alto devido a música do lado de fora que estava ainda mais ensurdecedora.

—Faça o que achar melhor, mas talvez quando esse seu "mais rápido possível" acontecer seja tarde demais.- então eu segurei o seu braço. —Me larga, Tyler.

—Jess, não faz isso...

—Você não a ouviu? -ouvi uma voz atrás de mim e nem precisei virar para saber quem era.

—Eu estou conversando com ela. - eu pude ver Jessica arregalar os olhos do meu lado.

—Parece que ela já cansou dessa conversa. Larga ela.- ele tinha uma expressão séria e eu soltei o braço dela ainda sem perder minha postura.

—Quem você acha que é para dizer o que eu devo ou não fazer?

—Tyler, para.- ouvi a Jessica dizer atrás de mim.

—Eu sou o namorado dela e você é quem para tratá-la desse jeito?- ele veio para cima de mim mas eu não recuei.

—Vocês dois parem com isso, as pessoas estão começando a prestar atenção.- Jessica pôs a mão no ombro do namorado com um olhar suplicante.

—Foi esse babaca que começou. Não tinha nada que ter se metido na conversa.- não demorou dois segundos para eu sentir um impacto perto do canto da minha boca e sentir o lugar esquentar.

—Esse foi para você aprender a respeitar a garota dos outros. E esse... - senti outro impacto no meu supercílio e um líquido quente escorria pelo meu rosto. - Foi pelo babaca.

  Meu ouvindo estava zunindo e minha cabeça girava. Pude ouvir de Marc e Andrew atrás de mim, me dando apoio já que eu estava cambaleante. Minha visão estava meio embaralhada e eu via dois Christian na minha frente.

Eu lembrava que na época de escola eu odiava brigas, pois nunca fui bom nelas, mas naquele momento era questão de honra.

A voz esganiçada e quase chorosa de Jessica me fez focar no que eu queria fazer. Eu tinha que ser rápido, apesar do delay eterno de meus movimentos. Consegui desvencilhar dos braços dos meus amigos e juntar todas as minhas forças para socar a cara daquele idiota.

Acertei algo que defini como seu nariz:

—E esse foi para você saber que ela não é sua propriedade.- e depois disso eu nem vi mais nada, apenas ouvi o grito de lamento de Jessica e fechei os olhos desejando que se eu não acordasse com ela ao meu lado, eu não precisava nem acordar.