História Stay With Me - Livro II - Chapter 22

Jessica

Eu sabia que depois daquele momento eu nunca mais me sentiria daquele jeito.

Não sentiria seus lábios nos meus com aquele sincronismo inacreditável.

Não sentiria seu toque desejoso e delicado ao mesmo tempo.

Nem sentiria seus cabelos macios deslizando pelos meus dedos.

Então, eu queria gravar na minha mente o máximo de sensações que eu conseguisse.

Porém, eu esperava do fundo do meu coração que não tivesse a necessidade de recorrer a essas lembranças futuramente.

E então...

Foi tudo como uma preparação para uma queda livre e alguém impaciente com você te empurra de uma vez do avião. Só que naquela situação não teria a diversão.

O beijo com o Tyler era a adrenalina do momento.

A voz de Christian na porta era o empurrão.

—Jessica?

Eu me afastei de Tyler numa velocidade inimaginável.

—Eu sabia. -disse lentamente- Sabia, sabia. Só não queria acreditar.- ele balançava a cabeça em negação com uma calma inacreditável.

—Christian, eu... eu posso explicar.- eu poderia sentir minha garganta fechando.

—Não precisa explicar nada. Desculpe, não queria atrapalhar o momento.- Christian se virou em direção à saída e eu fui atrás dele.

Poderia sentir que Tyler estava bem atrás de mim também.

—Christian! Para...- eu adiantei o passo, consegui segurar a manga de sua camisa e virá-lo para mim. —CHRISTIAN!

—O quê? Você vai dizer que não foi nada daquilo que eu vi? Que eu estou cego agora e que você não estava o beijando ?- ele apontou para Tyler atrás de mim.

—Não, eu não vou dizer que o que você viu foi miragem.- eu suspirei — Só que eu sei que você vai interpretar errado.

Ele riu sarcasticamente:

—Você estava beijando um cara e queria que eu interpretasse que vocês são estranho um para o outro? 

Ficamos em silêncio.

—Olha, Jessica, eu sabia que alguma coisa tinha mudado nas últimas semanas, eu só não sabia dizer quando isso começou. Quando eu encontrei a foto de você e do seu ex namorado na gaveta do seu criado mudo, eu achei que era saudades. Ele estava do outro lado do oceano, não seria um problema. Eu achei que poderia dar conta de ocupar sua mente, e eu tentei, mas nada mudou.

Eu poderia sentir meus olhos se encherem de lágrimas, mas as segurei o quanto pude.

—Então, eu olhei a foto novamente tentando achar algum detalhe que passou despercebido. Ele parecia alguém familiar, eu poderia jurar que já tinha visto ele antes. Foi aí que eu me lembrei daquela ocasião na loja de doces quando vocês se esbarraram e que não parecia ter importância, mas que provavelmente foi um evento marcante para vocês dois.- ele apertou os lábios e respirou fundo.

Christian agora se dirigia a nós dois. 

—O cara da loja de doces era o seu ex namorado. Eu fiz um esforço para lembrar a feição dele porque era loucura que, de tantos lugares no mundo, ele tivesse vindo parar justamente aqui nos Estados Unidos, mais precisamente em Nova York.

Ele balançava a cabeça revelando como aquilo era surreal para ele.

—No começo, como você não comentou nada sobre ele, eu achei que você estava com medo de que ele viesse te procurar e que você queria deixá-lo no passado.-ele deu uma pausa e mordeu o lábio. —Mas você me evitava e estava definitivamente agindo estranho. Depois da noite em que você foi convidada para dançar naquela festa, eu tinha certeza que você iria acabar com tudo que existia entre a gente.

—Porém, mais uma vez, não foi isso que aconteceu. Sabe, Jessica, eu realmente preferiria que você tivesse sido sincera ou pelo menos acabado com tudo logo de uma vez. Eu preferia não ter confirmado uma suspeita dessas num corredor de hospital.

—Ela não tem culpa de nada.- me virei em direção ao Tyler, tentando fazer sinais para que ele ficasse quieto e não estragasse tudo ainda mais. —Eu fui atrás dela, eu não a deixei em paz, eu ignorei totalmente seus protestos para esquecê-la.

—Eu acho que você certamente não a forçou a vim aqui te ver. Ela também não parecia estar sendo forçada a te beijar. Enfim, eu não estou aqui para ouvir mais nada, eu sei o que tinha que saber e já vi o que eu tinha que ver. Eu não sei o que ainda estou fazendo aqui.- Christian voltou a andar direção à saída.

Eu tentei ir atras dele novamente, mas Tyler me segurou.

—Deixe-o ir, você não vai conseguir fazer ele te ouvir agora. Dê um tempo a ele.

Eu me soltei dele e pus o dedo na frente do seu rosto:

—Dar um tempo? O que você sabe sobre dar um tempo? Quantas vezes eu te pedi um pouco de tempo e você não respeitou? Não venha me dizer o que fazer agora.

Eu saí correndo atrás de Christian deixando Tyler e metade do meu coração para trás.

Tyler

—Você se sente bem? Nada de tonturas ou dores difíceis de suportar?- a enfermeira simpática me perguntava a mesma coisa pela milésima vez.

—Eu só quero ir embora.- eu disse também pela milésima vez.

Se ela quisesse considerar a dor no meu coração, minha resposta seria bem diferente.

—Okay, vou contatar o médico, provavelmente ele te passe um remédio para o caso da dor voltar.- ela saiu me deixando sozinho apenas por um instante já que Susie entrou pela porta no segundo seguinte.

—Pela sua expressão, não teremos boas notícias. - ela sentou na poltrona ao lado da minha.

Minha maca havia sido trocada por uma poltrona muito mais confortável já que eles perceberam que eu não estava correndo nenhum risco de vida.

—Será que não teria como você achar outro apartamento para a gente? Ou pelo menos para mim?-eu encostei a cabeça no apoio e desisti de deixar os olhos abertos.

—Eu não sou mais sua secretária, sabe disso.- ela disse rapidamente.

—Esqueci que estava sendo deixado e trocado por todos.- ela riu.

—Drama Queen, só estou enchendo o seu saco. Porém, não acho que seja muito maduro essa sua atitude.- ela argumentou enquanto eu a ouvia  brincar de reclinar a poltrona como uma criança.

—Com certeza você é muito mais madura do que eu.- eu apontei em sua direção e ela riu. —Se essa minha atitude é infantil, o que sugere que eu faça? Quer que eu fique vendo ela e o
príncipe encantado dela se agarrando pelos corredores.

—Primeiramente, você sabe que a Jessica não faz o tipo de ficar se agarrando com alguém pelos cantos. Faz quase um mês que moramos lá e você só descobriu que ela também  residia no prédio há uma semana.

—Eu sei, mas eu não quero pensar em nada disso agora. Eu só quero chegar na minha cama e dormir até meu corpo cansar de descansar. 

—E voltar para aquele seu estado pré-morte igual à quando a Jessica se mudou pros Estados Unidos? De jeito nenhum. Nem que eu tenha que apelar para os planos do Marc.- ela falava sério.

—Obrigado, Susie, mas me deixe nesse luto por pelo menos dois dias. Eu preciso disso.

—Tudo bem, se quiser nós tomamos conta da empresa nesses dois dias. - ela ofereceu e eu assenti com a cabeça.

Eu precisaria desses dois dias livres para encontrar algo que ocupasse minha mente completamente nos próximos anos.

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