História Stealthy - Cold Eyes

Meu primeiro dia na faculdade de teatro e já estava atrasado. Enfim tinha conseguido a tão esperada bolsa, me esforcei o máximo que eu podia, passei em primeiro lugar e agora estão apostando tudo em mim, inclusive meus pais. Ele sabiam o quanto eu queria fazer teatro, mesmo que não achassem que eu teria tanto êxito nisso, eles me deram todo o apoio que eu precisava.  Era meu sonho, algo que eu queria desde criança e se eu não conseguisse dar conta disso, me sentiria mal comigo mesmo. Sabe, eu sou um tanto competitivo, penso que tenho que fazer melhor do que posso, melhor do que qualquer pessoa. Isso muitas vezes é um problema e muitos de meus amigos não gostam dessa parte de mim. Mesmo que eu tenha que ter responsabilidade agora que tenho 18, eu ainda sou um pouco infantil. Não que eu faça de propósito, mas eu acho que as vezes é bom guardar um pouco da essência de quando éramos criança. Pode ser idiota o que estou dizendo, mas isso me faz sonhar mais e pensar alto. Foi assim que convenci meus pais a me apoiarem nessa ideia. Eu usei minha essência infantil para fazê-los pensar da mesma forma que eu ou quase isso. Todos a minha volta diziam que isso era estupidez, que eu nunca conseguiria um trabalho tão fácil e talvez nem tivesse sucesso como ator ou qualquer coisa do tipo. Diziam que eu deveria escolher algo que o mundo realmente precisa como médico ou advogado, mas eu realmente acho que o mundo precisa de arte. Algo que faça as pessoas pensarem mais, façam elas viajarem para outra dimensão, algo que mexa com a cabeça delas, sem ser drogas, álcool ou coisas do tipo. Algo realmente produtivo e que não faça mal a saúde. Eu passei tanto tempo estudando, me preocupando com notas, se eu seria ou não ser o primeiro da turma, se minhas notas ficariam sempre no dez. Percebi que nunca tinha vivido de fato a minha vida, pelo menos não de um jeito divertido. Não ia à festas, não ficava com ninguém, não fazia nada além de estudar. Teve um tempo que até me afastei de meus amigos por conta dos estudos, o que fez com que eles ficassem bravos comigo. Mas naquele tempo eu nem sequer pensava que estava passando dos limites comigo mesmo.    

       Por fim cruzei os portões da faculdade, indo em direção ao prédio de teatro. Passei correndo pela porta de vidro, o local era imenso e estava completamente cheio, ainda que já fosse hora de começar as aulas. Subi as escadas quase tropeçando em meus próprios pés, enquanto tentava pegar o papel do meu bolso onde dizia o número da minha sala, quase derrubando os cadernos que segurava. Cheguei ao segundo andar ainda correndo, enfim com o papel em mãos. Com a pressa esqueci de prestar atenção no caminho e acabei batendo em alguém. Meus cadernos se espalharam pelo chão e eu acabei caindo junto. Levantei a cabeça para olhar melhor o garoto que agora juntava meus materiais do chão. Ele parecia mais distraído que eu, seu corpo era mais magro que o meu, mas nem tanto. Seu cabelo era castanho claro e sua pele um pouco bronzeada, seus olhos davam a sensação de frieza. Ele veio em minha direção, ajudando-me a levantar.   

        — Aqui estão seus cadernos. — Ele sorria enquanto estendia os materiais para mim. Sua voz era grave, diferente de todas que já ouvi. Os peguei um tanto envergonhado por conta da situação.   

         — Desculpa, eu não vi por onde estava andando. — Agora ele ria, passando as mãos em meus cabelos, deixando-os bagunçados.    

      — Não tem problema, eu entendo. É o primeiro dia de aula e você está um tanto atrasado, não é mesmo?  —  Ele se inclinou para frente, sorrindo.    

        — Sim. Você estuda aqui? —  Ele endireitou a coluna ainda com o olhar fixo em mim. Agora pude notar que ele era mais alto que eu.   

          — Sim, estou no penúltimo ano da faculdade de teatro. —  Me surpreendi ao saber que ele fazia a mesma faculdade que eu, aquilo de um certo modo me deixou animado.    

     — Nossa! Sério? Eu também. Quero dizer, eu também estou na faculdade de teatro. — Minha animação se tornou visível, mas ele não pareceu se incomodar. Assim que terminei de surtar, ele deu um pequeno sorriso de lado. Mas a vergonha voltou a mim com força, assim que notei o quanto estava sendo idiota. Se ele estava no mesmo prédio que eu, era óbvio que ele fazia faculdade de teatro.   

          — Você é muito fofo... é... — Meu rosto corou imediatamente com o elogio. Um elogio que nunca recebi de ninguém antes.   

                  — Jeon Jungkook. — Estendi a mão e ele apertou-a.   

   — Taehyung. Kim Taehyung. Prazer em conhecê-lo, Kookie. Posso chamá-lo assim? — Assenti com a cabeça, dando um pequeno sorriso envergonhado por causa do apelido que Taehyung tinha me dado. — Quantos anos tem, Kookie?    

         — 18 e você? Obviamente deve ser mais velho que eu. — Ri sem graça, passando a mão em minha nuca. Taehyung tomou o papel que eu segurava, agora o encarando.    

 — Eu tenho 20. Não sou tão velho assim. — Ele riu dando um tapinha em meu ombro, me fazendo rir junto. — Esse é o número da sua sala?    

   — Sim, eu estava procurando por ela antes de nos batermos.    

   — Venha, vou te levar até lá. — Ele me pegou pelo pulso e me arrastou em direção contrária de onde eu estava indo antes.   

    — Eu vou ter muitos problemas por chegar atrasado, não é? — Ele riu sem desviar o olhar do caminho.   

      — Você é novato, então eles Irão pegar no seu pé. Mas é só ficar perto de mim que nada vai te acontecer, Kookie. — Ele bagunçou meus cabelos novamente.   

    Chegamos à porta da sala, me despedi dele e sentei no único lugar que sobrou. Me desculpei com o professor pelo atrasado, mas ele não parecia ter se importado. Assisti a aula com muita atenção, fazendo anotações sobre tudo que falavam lá. Volta e meia Taehyung surgia sem aviso em minha mente, o que deixava confuso e por vezes me tirava a concentração. Não era normal um estranho - não tão estranho - aparecer assim do nada na cabeça alheia, não é? Passei os olhos pelo lugar para observar melhor meus colegas, alguns garotos do outro lado da sala me olhavam de forma estranha, sussurravam algo uns para os outros e continuavam a me encarar. Talvez fosse disso que Taehyung falava, mais tarde eles com certeza irão me perturbar e certamente não será nada agradável. Tratei de afastar tal pensamento voltando a fazer as anotações, era o primeiro dia de aula, eu já tinha me atrasado, não posso deixar nada passar.   

     Depois de duas horas o intervalo enfim chegou. Não que eu não estivesse gostando da aula, mas era tanta informação que meu cérebro parecia que ia explodir. Guardei minhas coisas para sair da sala. Minha barriga já reclamava de fome e por causa do atrasado acabei não comendo nada antes de sair. Peguei meus cadernos e me dirigi até a porta da sala. Ao sair da mesma, senti algo bater em minha testa, olhei para o chão procurando o que tinha me atingido. Era uma pequena bolinha de papel do tamanho de uma moeda. Juntei a mesma do chão e olhei para o outro lado do corredor, de onde a bolinha veio. Taehyung estava escorado na parede, com uma das mãos no bolso da calça e a outra jogava para cima mais uma bolinha de papel. Assim que o mesmo percebeu ser notado, sorriu e se aproximou de mim.   

        — Ei Kookie, não fique tão distraído. — Ele cutucou minha testa com o indicador, sorrindo. Retribui o sorriso devolvendo a bolinha para ele.   

       — Desculpa, estou com fome e não consigo pensar em mais nada. — Ele ri e eu faço o mesmo. Taehyung colocou o braço em volta de meus ombros, me forçando a caminhar junto a ele.   

        — Vamos comer então. É por minha conta. — O olhei surpreso, e o mesmo piscou para mim. Neguei com a cabeça. Não queria que ele gastasse seu dinheiro comigo, além do mais eu tinha o meu e poderia pagar sem problemas. Ele riu da minha cara e bagunçou meus cabelos pela terceira vez. — Não adianta, Jungkook. Estou te convidando, seria muita falta de educação não aceitar e você está me devendo uma por ter ajudado você a encontrar a sala, hein.    

        — Está bem. — Por um lado ele estava certo. Ele havia me ajudado com a sala e agora estava se oferecendo para pagar minha comida. Isso me deixava desconfortável de qualquer forma, mas não queria fazer desfeita.   

    Seguimos para um pequeno café que ficava ao lado do prédio que estudávamos. Taehyung pediu dois copos de café com leite e alguns pães de queijo. Durante aquele tempo conversamos bastante sobre muitas coisas e ele me contou um pouco como era estar quase terminando a faculdade. Taehyung era engraçado, divertido e muito bem humorado. Ele está sempre fazendo brincadeiras, sempre se divertindo como pode. Ele parece ser uma ótima pessoa e talvez seu jeito me ajude a ser menos tímido. Terminamos e já tínhamos que voltar para sala. Ele me levou até a porta novamente, agora deixando comigo seu numero de celular para que pudéssemos conversar mais vezes. Guardei seu número em meio as folhas do meu caderno, voltei a me concentrar nas explicações, agora mais tranquilo. As horas passaram rápido, já era hora de ir embora e eu estava morrendo de sono. Já estava descendo as escadas, quando Taehyung chamou minha atenção.   

 — Ei, Jungkook! Não esqueça de me mandar mensagem quando chegar em casa! — Ele sorria e acenava para mim.    

    — Pode deixar! — Acenei de volta, voltando a descer para o primeiro andar.   

   Não via a hora de chegar em casa, talvez se eu dormisse mais cedo não me atrasaria novamente. E com o sono que eu estava era capaz de eu cair na cama e desmaiar. A faculdade não ficava muito longe da minha casa, então optei por ir andando, também para pensar um pouco e relaxar minha mente. Agora teria que fazer novos amigos, já que os antigos preferiram fazer faculdade no exterior, eu havia ficado sozinho aqui. Eu queria mesmo me tornar amigo de Taehyung, mas o mesmo parecia tão livre, não parecia se apegar a ninguém e nem mesmo a amigos. Eu admirava isso nele, o fato de sua aparência muitas vezes parecer fria por conta de seus olhos, mas sua personalidade ser totalmente o contrário disso. Eu poderia me espelhar nele, mesmo que eu não o conheça completamente e só esteja criando hipóteses na minha cabeça. Mas mesmo assim ele me parecia alguém confiável e merecedor de admiração. Meus pensamentos foram interrompidos assim que uma pequena pedra atingiu meu ombro. Logo pensei em Taehyung, já que ele havia feito o mesmo com as bolinhas de papel mais cedo.    

        — Ei novato! — Me virei, avistando os garotos que me encaravam na sala mais cedo. Eram quatro, todos usavam capuz o que me impedia de ver seus rostos. Eles se aproximavam cada vez mais rápido, algo me dizia que eles não queriam conversar.