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História SteelYard 9: Tudo o que escondi dele - Capítulo Único: O que os olhos não vêem, o coração não sente


Escrita por: ukrayinska_sabc

Capítulo 1 - Capítulo Único: O que os olhos não vêem, o coração não sente


"Krissnaya!" - ouço alguém gritar. Isso instantaneamente me acalma, saber que tem alguém que me conheça.

O efeito do hexopronulol rapidamente se esvaía, eu estava recuperando meus sentidos, meu corpo estava doendo.

Sinto um frio percorrer meu corpo. Algo foi tirado de cima de mim.

Algo foi desconectado de meu braço, ao que parece, uma sonda intravenosa. Dói, mas não tanto quanto achei que doeria. Talvez a surpresa fez com que não doesse.

Sinto algo ser desgrudado de minha cabeça e de meu peito.

Tem algo em meu nariz. Mas assim que tiram, eu perco a capacidade de respirar.

Luto para encontrar uma maneira de respirar, mas é impossível. Algo parece fechar minha garganta, e eu tento tirar.

Subitamente, sinto algo ou alguém colocar algo e puxar a gelatina que me impedia de respirar. Assim que parte está fora, consigo expelir o que restou.

Tento me mover, mas mal consigo fazê-lo. Eu estou dormente, e as partes menos afetadas doem.

Eu não sei onde estou, mal sei como estou, e isso me chateia.

"Krissnaya, me deixa ver seus olhos, por favor." - ouço me chamar pelo meu nome, e pedir para que eu abra meus olhos.

Quem tem tanto interesse em meus olhos?

Tento abrir, mas não vejo nada. Estou cega, mas sei que posso movê-los.

Sabia... o Maystadt se fez presente. Me atormentou. Me machucou. É a dor.

Durmo. Estou incrivelmente cansada, porém, quero permanecer ativa, pois parece que fui despertada de um sono profundo.

Sei que não posso e nem consigo reagir da maneira que gostaria, mas minha mente funciona, e isso é ótimo.

Sinto a maciez das mãos da pessoa que me acordou. Logo depois, sou envolvida em linho. Eu reconheceria a maciez, linho é meu tecido favorito.

Sinto meu corpo coberto de gelatina. Misericórdia! Se houvesse algo em meu estômago, eu teria vomitado.

Sinto um frio novamente, mas esse é intermitente. Sou colocada em uma superfície gelada, ao que posso sentir. Água gelada percorre todo o meu corpo, incomodando minha pele, doendo mais ainda.

Sinto estar nua. Quem me tocaria dessa maneira, tão suave, sendo que nunca, ninguém fez isso? É claro, nunca deixei.

Mas mesmo assim, estou confortável. Parece que a pessoa que me lava me conhece bem, sabe que gosto do mais leve toque.

Apesar de toda a dor, a água aliviou meu corpo. Sou vestida com todo o cuidado, e sei que são minhas roupas favoritas, de linho.

Carregada no colo, sou levada até uma outra cama, ao que me parece, de um consultório.

Cada parte de meu corpo é revirada, numa tentativa de saberem se estou bem. Eu gostaria de gritar que sim, mas estou com preguiça.

São poucos minutos até que sou colocada na minha cama, que eu bem sei que é minha por causa dos lençóis de linho e da maciez do colchão.

Sinto uma sonda em meu braço, que eu nem tinha percebido que foi colocada, o que é um fato estranho, levando em consideração que uma simples pancada dói mais que arrancar um osso sem anestesia.

Todo santo dia, essa pessoa vem me pedindo para mostrar meus olhos.

Qual o fascínio dela por eles? O que eles têm de belo? São castanhos como os de qualquer outra pessoa. São comuns.

Mas abro os olhos mesmo assim, numa vã tentativa de ver quem é essa pessoa obcecada por meus olhos.

Queria poder ver o mundo ao meu redor, saber o que se passa, tentar entender porque estou cega. Sei que o Ultra Maystadt me faz ficar assim, mas não sei o que levou a me atacar com tanta ferocidade para sentir tantos ferimentos quanto sinto agora.

Sinto que cada centímetro quadrado de meu corpo está ferido. O lugar que deveria estar intacto é o mais arrasado.

Queria ter um pouco de hexopronulol agora. Sim, esse nome não me é estranho. O ouvi várias vezes no Centro, mas sempre em um estado onde não podia me lembrar.

Enquanto durmo, flashes de alucinações atormentam minha mente. Sinto meus ferimentos aparecerem novamente.

A espada.

As lâminas.

O gosto da radiação.

Kiev Palais.

Cúpula Holográfica de Kiev.

Chernobyl.

Krissnaya Grachiyova, vulgo Ninel Igranova. Imperatriz da Ársia. Soberana de um povo que me adora.

Casada com um cara apaixonado pelos meus olhos azuis, o Imperador Evgeny.

Recém liberta de Korama, o Campo de Sangue.

Grávida. Fruto de um estupro.

Irmã de um louco.

Bom, independente de tudo, serviu para lembrar quem sou, onde estou, o que faço, e quem era apaixonado por meus olhos azuis.

Isso me faz me remexer na minha cama em Nova Kiev. Evgeny, com sua compreensão, me abraça. Sei que é ele, pois só ele me abraça dessa maneira tão forte, tão presunçosa. E é suficiente para me acalmar.

Essas terríveis memórias vinham me atormentando há dias, mas só hoje que tive a plena compreensão delas.

E depois de tantos dias sem poder ver, finalmente, quando abri os olhos e vi o maravilhoso teto de minha suíte, eu fiquei muito feliz.

Geralmente, era Evgeny que pedia para ver meus olhos. Hoje, era minha vez.

O seu sorriso ao me ver era tão... reconfortante. Mesmo que eu estivesse profundamente machucada, eu estava muito feliz, e pedi para que ele me levasse a Siapratka.

Mesmo mal podendo me sustentar em pé, subi na Waterbowl. Mas foi entrar lá, que uma dor diferente de tudo o que senti, começou.

Me afoguei ligeiramente. Mal podia entender o que essa dor significava.

Jogo meu cabelo para trás rapidamente, espirrando água até no teto de Siapratka.

Me ergo, mas cada vez mais incapacitada pela dor. Me afasto de Evgeny, mesmo sem entender porque fiz isso.

Enquanto estou novamente de pé na Waterbowl, a dor volta pior, e me faz perder um pouco da sensibilidade nas minhas pernas, me fazendo cair novamente.

Evgeny me levanta, enquanto luto para não gritar.

Ele me leva a um médico, mas eu imploro para que ele me leve de volta a Ariyatka.

Assim que chego em Ariyatka nos braços de Evgeny, o espero até que feche a porta para, ao menos, tentar falar.

Mas não consigo pronunciar qualquer palavra correta. Evgeny acha que estou sofrendo um aborto, quando na verdade, eu sei, que certamente, estou dando à luz.

Tal pensamento me assombra. Se a dor começou insuportável, quando acabar, estarei morta?

A dor é como uma espada ardente rasgando meu interior.

Quando finalmente consigo dizer isso para Evgeny, ele, visivelmente, fica enjoado.

Não sinto minhas mãos e pés. Mas posso movê-los, e sei que estou segurando a mão de Evgeny.

O chamo para que se sente atrás de mim. Eu o precisava por perto, eu o queria ali, eu não sabia o que fazer, mas ele me dava a direção.

E assim passamos algumas horas, comigo gritando e ele só aguentando.

Um trator parece estar esmagando minha barriga. Meu corpo se sente obrigado a forçar, mas está fraco e abalado.

Não consigo entender porque a dor ainda não me cegou, já que é a pior dor que se possa sentir no universo.

Evgeny tenta me convencer a irmos para um médico, ou, ao menos, aplicar anestesia. Anestesia não pega em mim. Só existe uma droga capaz de adormecer meu sistema nervoso, que é o hexopronulol.

Os médicos de Prayamar nos separariam. Não deixariam que ele ficasse comigo, por mais que eu fosse a Imperatriz Ninel e os mandasse manter-nos juntos.

Mas, não o faço por um motivo ainda maior. A minha preservação para com Evgeny.

A dor era como um osso sendo arrancado de mim sem aviso, um corte que jorrava sangue do mais profundo do meu interior.

Me vi indagada a desafiar meu próprio limite e forçar o fruto de minhas entranhas para fora.

Eu ia para a frente, usando toda a força que era possível, mas era inútil.

Por mais que eu quisesse me livrar da dor, não consegui, e com isso, acabei com uma porcentagem da minha energia restante.

Ofegante, reclino a cabeça no peito de Evgeny.

"Empurre com toda a sua força! Tire forças de onde você não tem!" - Evgeny diz, feroz. De onde ele tirou isso? Eu nunca falei sobre estas exatas palavras com ele.

Só sei que era isso o que faltava. Um empurrão.

Usei de todo o restante de minha força, gastei minha voz até o último grito.

Ter algo saindo de mim foi uma coisa ruim, uma dor forte e inigualável, assim como a dor das próprias contrações. Me rasgou, me feriu.

Era inapropriado para passar por tal saída, era tão parecido com uma bola, que isso dificultou sua passagem por dentro de mim.

Mal podendo respirar, sem forças, posiciono minha cabeça no ombro de Evgeny, e sentindo um cansaço enorme, fechei os olhos.

Eu sentia Evgeny se mover para a frente, colocar algo em meus braços e o envolver junto a mim.

Tento levantar a cabeça. O que carrego em meus braços é quente, está envolvido por uma gosminha, o cheiro é salgado. Quando abro os olhos... Escuridão. Fiquei cega.

Eu tento olhar ao meu redor, mas não consigo. Justo agora que eu gostaria de ver o que está havendo, o que carrego em meus braços, como está minha aparência.

Sinto um peso cair em meu corpo. Não consigo sustentar minha cabeça, mal posso respirar, e volto a deitar no ombro de Evgeny.

Acho que fui desconectada da tomada.

[...]

A luz e os burburinhos me incomodam.

Tento abrir os olhos, mas a luz é muito forte.

Acho que estive sob efeito do hexopronulol de novo, mas não sinto nenhuma dor que me tire do sério.

Sinto algo em minha mão. É a mão de Evgeny.

Assim que consigo vê-lo bem, olho no fundo de seus olhos, com a certeza de que ele deve estar ansioso para ver os meus.

Tentei dizer um simples 'oi', mas não consegui, porque tinha algo entalado em minha garganta que me impedia apenas de falar. Me desespero.

Evgeny me promete que voltarei a falar. E quando ele promete, ele cumpre.

E fica lá, segurando minha mão como se ela estivesse grudada a sua.

Num dos dias, Evgeny não está, estou sem cano e estou com muita fome.

Chamei o serviço de quarto.

Veio um médico por primeiro.

"Está bem?" - ele me pergunta. Aceno com a cabeça.

"Teve sorte, minha Imperatriz. Seu caso era gravíssimo." - ele diz, enquanto olha a prancheta na ponta da cama.

Caso grave? Ok, o que aconteceu? Acho que fui desligada da tomada por um tempo.

"O que aconteceu?" - pergunto roucamente.

"Não lembra do que aconteceu?" - ele me pergunta intrigado.

Nego com a cabeça. Não, eu não lembro de nada.

"Vossa excelência apresentou a Síndrome de Hubrarosa, uma reação natural não muito rara, durante e após o parto." - ele me explicou calmamente.

"O que é isso?" - forço a minha voz a sair.

"Não tem uma causa específica, mas devido ao esforço, o corpo começa a soltar muito sangue, e depois ele apaga, bem como um sistema de baterias em estado crítico." - ele termina.

"Mas, o que houve depois?" - eu pergunto. De dar à luz, eu lembro.

"Vossa excelência desmaiou, chegou aqui nos braços do Imperador, completamente banhada em sangue, foi para a cirurgia para retirar a placenta e depois, foi colocada em coma e recebeu várias transfusões de sangue." - ele me diz.

A única dor que vim a sentir era um corte, logo abaixo meu umbigo. Quando percebo o que era, ah não! Já não basta ter uma cicatriz que vai de cima a baixo de minhas costas, vários ferimentos, e agora, é mais uma cicatriz para a lista. O que é que Evgeny vai achar?

A impressão que tenho é que Evgeny nunca mais vai me amar.

Estou com raiva. Depois de tudo o que passei, depois de achar que já havia perdido meu filho, me acontece uma coisa dessas? Ora, por favor. Já não basta ter perdido meu filho, perdi aquele corpo perfeito que Evgeny tanto amava e se deliciava. O prazer em satisfazê-lo foi perdido.

"Evgeny sabe disso?" - pergunto com a voz rouca.

"Não, minha Imperatriz. Ele não sabe." - ele me responde.

É... Agora é esconder ao máximo dele. Se ele descobrir, já é outra história.

E agora? Perdi toda aquela gama de sensações que Evgeny me proporcionava. Ele não vai querer nem chegar perto de mim.



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