História Stella: A Revolução (Ilustrada) - O segredo de Jonas

A praça central estava interditada, uma faixa policial amarela e preta estava em volta do local, um homem estava pendurado no peito da estátua do fundador da cidade, limpando o símbolo de Stella que estava até agora estampado no peito da escultura.

Alguns garis limpavam o local e equipes de policiais e investigadores estavam trabalhando para tentar descobrir alguma coisa. Apolo sabia que aquilo tudo era inútil, mesmo se achassem rastros de Nizak, não iriam continuar sua procura em cima dos prédios da cidade, afinal, além de porta-voz, o jovem era também um prodígio no parkour.

Ele estava tomando um café em um dos estabelecimentos do centro da cidade, enquanto aguardava seu amigo que traria a van que ele havia pedido. Suas coisas estavam em seu apartamento, mas não queria que soubessem onde ele morava, seu plano então era pegar a van e depois voltar para seu prédio para guardar tudo.

Minutos depois seu amigo chegou, tudo correu bem, Apolo não estendeu muito a conversa que o cara queria manter, até por que esse amigo não era uma pessoa lá muito interessante. Voltou para seu prédio, estacionou a van de qualquer jeito na fachada e foi pegar suas coisas que já estavam no andar térreo. O jovem porteiro Jonas como sempre ficou atento:

— Roubou a nave de quem? — Ele sabia bem que Apolo não era uma pessoa com muito dinheiro, como um ex-estudante que mora sozinho num apartamento pequeno teria grana para uma van?

— Eu aluguei, mas você não deve saber o que é isso, você é mais quebrado que eu. — Retrucou Apolo em tom risonho enquanto pegava um gabinete.

— Você diz isso como se eu fosse um porteiro em tempo integral, quando se tem dois empregos se tem o dobro do salário meu mano! — De fato, Jonas era porteiro apenas de segunda a quarta-feira, o resto da semana era o turno do Seu Eurico, um velho de setenta anos que mais jogava Caça-Palavras do que trabalhava.

— Acho que você podia calar a boca e me ajudar aqui. — Apolo estava realmente montando um setup¹ na parte traseira da van, não tinha feito um aluguel de um ou dois dias, e sim de um mês! Ele tinha certeza que Yaoc, mesmo se tivesse poucas pistas, ainda seria o primeiro passo para ele descobrir mais informações sobre o plano real de Stella.

— É, se você já teve alguma grana, não tem mais, esses equipamentos devem ser caros — Dizia Jonas enquanto pegava um monitor de 25 polegadas. — O que você tá tramando Apolo?

— Vou começar a passar menos tempo em casa, estou realizando um projeto — Apolo não estava mentindo, só estava escondendo o fato desse projeto ser uma investigação.

— Saquei..., mas é um projeto de quê? — Jonas era esperto, mas também tagarela e curioso. — Posso te ajudar se não for de segunda a quarta. — Apolo queria e precisava de ajuda, mas não era capaz de revelar para seu amigo que era um hacker, e pior: que trabalhava vendendo informações trocadas na Deep Web. Ele ia recusar quando Jonas insistiu — Se você me contar o que está tramando eu te falo qual é meu segundo emprego!

— Hm... — A informação não ia valer nada para Apolo, mas tinha curiosidade para saber o que seria o trabalho que fazia Jonas não morrer de fome. — Ok, diga-me qual é seu emprego — Apolo estava pronto para mentir sobre o que iria fazer pois essa informação lhe seria inútil.

— Eu vendo informações para um rebelde do governo! — Jonas disse sussurrando e Apolo congelou. Ele simplesmente disse o que ele estava prestes a fazer por Stella: ele seria seu informante em troca de uns bitcoins.

— Você o que? — Disse Apolo sem compreender direito, via Jonas como um jovem meio tapado, e não como um informante.

— Olha só isso. — Jonas largou um teclado na bancada do prédio e chamou Apolo para a fachada do pequeno prédio, ele então apontou o dedo para um poste e pegou seu celular no bolso direito. Era um celular impecável, fino e leve, devia ter umas 5 polegadas, quando a tela ligou não pareceria nem um iOS e nem um Android, parecia até um sistema profissional de desenvolvedor, parecia até mesmo um celular de... hacker.

— Você não... — gaguejou Apolo quando Jonas entrou em um aplicativo de mapas semelhante ao Google Maps, mas em tom monocromático vermelho. Possuía filtros, e muitos pontos indicando postes, semáforos, e tudo que era movido a eletricidade no bairro. Ele então selecionou o poste que estavam perto dos dois e a luz começou a piscar.

— Legal, não é? — Disse Jonas enquanto acendia e desligava o poste com o dedo polegar encostado na tela do ultra smartphone. Foi quando Apolo lembrou do que Stella havia dito, que trabalhava com um hacker especializado em dispositivos móveis... seria ele Jonas? O jovem porteiro que conhecia Apolo há mais de 5 anos, o seu único amigo naquele bairro, seria ele Kinitos? — Se liga — Jonas começou a mudar a cor da luz deixando-a intercalar entre várias outras cores, fazendo uma mini balada naquele trecho da rua. — Nosso governo usa lâmpadas coloridas para deixa-las vermelhas em caso de alerta civil.

— Desliga isso cara, vai que alguém te vê fazendo isso! — Apolo estava impressionado com a inteligência mesclada com a idiotice em Jonas. Ainda se sentia inseguro para revelar seu segredo, mas se não confiasse em Jonas, não poderia confiar em mais ninguém.

  Ambos voltaram para o prédio, Jonas estava rindo da cara de surpresa de Apolo, como se ele fosse o único hacker dali.

— Eu uso esse celular para descobrir algumas coisas e vender para as pessoas certas.

— E uma dessas pessoas seria Stella? — Apolo foi direto ao ponto.

— Claro que não, seja lá quem for essa pessoa ela fez muita merda em divulgar isso nos tempos atuais. A guerra começará em breve e a última coisa que precisamos é de rebelião, precisamos mesmo é de armamento e defesa, se não morreremos como vermes. — Perfeito, Apolo tinha a confiança total agora em seu melhor amigo.

— Bem, não preciso esconder mais nada, acho que está na cara que um equipamento avançado desse não é só para um cara comum. — Apolo aproximou-se do ouvido de Jonas: — Eu sou Blaze.

            A reação inicial de Jonas foi de risada, havia um top 10 de hackers mundiais, e Blaze estava atualmente na quinta posição, não podia ser, um garoto tão comum ser ele? Mas depois pensou e fazia todo o sentido: ele evitava trazer pessoas para seu apartamento, revelara ter um equipamento de computação avançadíssimo que era impossível de ser adquirido com menos de cem mil dólares e assim como ele, tinha uma máscara social (ex-estudante de Artes Cênicas) para não atrair suspeitas.

— NOSSA VELHO, É TU MESMO! VOCÊ É FODA CARA! — Gritou Jonas que assustou alguns pombos que haviam pousado na calçada do prédio.

— Cale a boca! — Bronqueou Apolo — Eu também sou contra Stella, mas eu estou fingindo ser seu parceiro para descobrir algumas coisas e reduzir suspeitas, e também por que essa pessoa me paga um salário suficiente para eu não precisar trabalhar caçando informações. — Apolo deu mais uma verificada ao redor — Tenho uma pista que achei que caiu do bolso do porta-voz de Stella durante aquela manifestação, ela revela que o próximo encontro dos apoiadores seria na cidade de Yaoc, mas ele não conseguiu dizer isso por que a polícia chegou bem na hora!

— Então você está planejando ir para lá pra ver se acha uma pista? — Deduziu Jonas que estava meio apreensivo com a ideia, ele era contra Stella, mas não a ponto de querer fazer uma investigação.

— Sim cara, se eu, ou melhor, nós não fizermos nada, é capaz desse hacker descobrir coisas piores e divulgar para o povo, o caos vai se estender de uma pequena parte do povo para mais de 80%! — Isso fez Jonas pensar melhor. Era quarta-feira, 11h da manhã. Foi quando pegou seu celular comum no bolso esquerdo. Ele digitou alguns números e fez uma ligação:

— Alô? Seu Eurico? Pode vir fazer hora extra, vou sair mais cedo hoje.

            Apolo deu um sorriso e pegou sua mochila no chão que era a última coisa que faltava. Jonas pegou de volta o teclado da bancada e foi junto a Apolo para a van enquanto desligava a ligação com o outro porteiro. Ambos se tornaram parceiros de trabalho naquele dia e eram talvez as únicas pessoas capazes de impedir o avanço da revolução de Stella.