Jonas estava dormindo no banco do passageiro, seus cabelos enrolados balançavam, seu pescoço estava retorcido e a boca estupidamente aberta. Apolo estava dirigindo há mais de duas horas, o que fez ele achar que estava perdido algumas vezes, mas a verdade é que a cidade era bem isolada em relação à distância comum entre as outras, o que justificava ser uma cidade deserta e caótica.
Depois de ser guiado por algumas placas, a van havia chegado em Yaoc, tudo parecia estar desligado, em plenas 13h da tarde, os prédios em sua maioria possuíam cores neutras, exceto o estabelecimento azul florescente do Neko Café de Yaoc, chamado de Nekawaii. Era tão chamativo com luzes neon e letreiros piscantes que você podia ter certeza que não ia se perder ali.
— Jonas, acorda cara — Apolo cutucava o amigo que parecia mais um corpo morto do que uma pessoa normal com sono.
— É aqui? Hum... ok.
Apolo estacionou na fachada de um dos prédios e foi para a parte de trás sem sair da van. Eles haviam montado um excelente setup, eram dois computadores, 6 monitores, sendo que haviam câmeras nas laterais, na traseira e na frente que transmitiam a imagem nos televisores. Jonas também tinha colocado seu laptop com adaptador de celular, o sistema de seu computador era ainda mais bizarro que do dispositivo móvel, mas tão genial quanto.
— Você viu ali? É o Neko Café, acho que seria uma boa a gente passar lá — Sugeriu Apolo para Jonas que agora não parecia tanto um zumbi.
Ele inclinou a cabeça para uma das janelas, afastou a cortina preta e olhou:
— Nossa, dá pra hackear aqueles letreiros — Disse Jonas sorrindo.
— Nem pense nisso, não podemos levantar suspeitas, só vamos fazer o que for necessário.
Os dois saíram da van pela porta maior, Jonas foi andando pela calçada enquanto Apolo trancava tudo. A medida que se aproximavam iam ouvido um som de k-pop vindo da cafeteria, achavam que ao entrar iriam ver uma loja vazia, mas ela estava até bem cheia para um lugar isolado.
— Pepper! Clientes de fora! — Gritou uma atendente antes dos garotos entrarem
Uma linda garota de cabelos vermelho vibrante, da mesma idade dos jovens chegou correndo para a porta, aparentemente todos que estavam no Café costumavam ir lá diariamente, então já não eram tão bem recepcionados.
— Bem-Vindos aos Nekawaii, posso oferecê-los uma mesa? — Disse a menina enquanto puxava a meia-calça mais para cima e arrumava o cabelo.
— Claro, contanto que a comida daqui não seja cara pra caral... — Apolo deu uma pisada em Jonas antes que ele falasse mais besteira, os olhos verdes daquela garota eram capazes de fazer qualquer um (menos Jonas) aceitar seu pedido de cara.
— Por favor, gostaríamos sim — Completou Apolo.
Eles entraram na cafeteria, o interior era completamente diferente do exterior: era feito de madeira e dava um ar confortável ao ambiente. Vários gatos de diversas raças estavam brincando, andando e sendo alimentados por clientes. Apolo e Jonas se sentaram em uma mesa próxima a uma janela encortinada, acima havia uma televisão que exibia o noticiário:
“Stella parece estar recuando para planejar uma nova rebelião, seu porta-voz divulgou em redes sociais que eles haviam descoberto mais informações sigilosas, e que revelariam publicamente se não houvesse o cancelamento do investimento exagerado em reforço bélico”
Apolo cerrou os punhos, ficar um dia sem falar com Stella não significaria que o movimento havia sido pausado. Estava estressado então tentou se distrair: olhou o cardápio, acariciou um gato que passava ao seu lado, e depois olhou ao seu redor. Seus olhos encontraram Pepper que estava atendendo algumas senhoras, aquela garota para Apolo chamava mais atenção que as inúmeras espécies felinas do local.
— Deve ser uma universitária — Disse Jonas, Apolo virou a cabeça rapidamente para o amigo, como se ele tivesse lido sua mente, mas percebeu que ele estava apenas chutando quem poderia ser Stella — Esse hacker não pode ser uma criança, e se fosse um adulto chamaria muita atenção, até por que você precisa de pelo menos metade do dia livre, e trabalho talvez tomasse muito tempo, e muito menos um idoso, até por que velhos não devem ter conhecimento ou facilidade com essas coisas
— É…, pode ser — Concordou Apolo enquanto voltava o olhar para Pepper.
— O que vão querer meninos?
— AAAH— Gritou Apolo, chamando a atenção de pessoas e gatos. Ele nem havia percebido que a atendente asiática, amiga da ruiva escarlate, estava do seu lado.
— Não precisa ter medo de garotas Apolo! Eu vou querer esse cappuccino com marshmallow.
— Ok... e você? — Perguntou a atendente como se esperasse outro susto.
— Ah... desculpe, pode me trazer um café puro sem açúcar. — Respondeu envergonhado. Apolo nunca tinha muito contato com garotas, até por que não possuía muitas “colegas de trabalho”, o que acabou fazendo com que ele se comportasse diferente com as que ocasionalmente conversava.
A atendente anotou e saiu de perto dos garotos. Foi quando Jonas fez uma pergunta:
— Qual era mesmo o nome do porta-voz?
— Nizak.
— Hum... você percebeu que esse nome é em árabe? — Observou Jonas.
— Não cara, é em bósnio, significa “baixo”, e até que faz sentido, pois de acordo com o símbolo de Stella, o porta-voz é a ponta inferior. — Contestou Apolo.
— Não cara, é em árabe, mas a escrita é diferente, Nizak é apenas a pronúncia, olhe.
Jonas pegou um guardanapo e sacou uma caneta no bolso de sua camisa. Fez uma palavra em árabe a mostrou para Apolo.
“نيزك”
— Nizak Significa “Meteoro”, é um ótimo nome para um parceiro de Stella.
Fazia sentido, até por que “Stella” seria um nome italiano para “Estrela”.
— Eu tenho uma teoria — Continuou Jonas — Stella pode ser alguém da Itália, e Nizak alguém da Arábia, assim fica mais fácil identificar os parceiros.
— Não, isso é óbvio demais, chega a ser ridíc... — Mas Apolo parou para pensar num instante, Stella adorava o óbvio, era bem provável que essa teoria fosse verdadeira.
— Cara, eu só fiz essa observação por que tem um cara naquela mesa que tem muita cara de muçulmano. — Ressaltou Jonas apontando com os olhos para uma mesa distante atrás de Apolo.
— Não vou olhar, se for Nizak, vai saber que estamos falando sobre ele.
Jonas pegou seu celular de hacker e em menos de 20 segundos acessou uma das câmeras do estabelecimento, apontou a lente para o árabe e mostrou a tela do celular para seu amigo. Havia um gato atormentando o jovem rapaz. Aquele homem tinha o tamanho daquele que Apolo perseguiu no dia da rebelião, além de tudo era jovem, magro e forte, um perfil exato de quem pratica parkour.
— Tive uma ideia – Sussurrou Apolo — Se conseguirmos ouvir a voz dele eu vou saber reconhece-lo, no dia da rebelião ele gritou para o povo.
— Caraca, ele realmente gritou para o povo? E alguém escutou ele de lá?
— A voz dele estava meio ecoada, com certeza obteve acesso às caixas de som de lojas perto da praça central, é algo bem simples até. — Explicou Apolo.
Foi aí que Pepper chegou na mesa dos garotos. Ela estava cansada, mas não deixava de lado seu bom humor.
— Oi garotos, espero que estejam gostando daqui! Eu estava atendendo e dando comida para uns gatos, posso fazer mais algo por vocês?
Jonas olhou para Apolo e em seguida olhou para o celular, na tela havia um ícone de áudio que dava acesso ao áudio das câmeras. Apolo percebeu o que Jonas queria.
— Na verdade pode sim — Disse Jonas ignorando as pisadas de Apolo em baixo da mesa — Tá vendo aquele sujeito um tanto quanto parecido com um terrorista? Você pode perguntar para ele se ele deseja mais alguma coisa? — O pé de Jonas com certeza ia ficar roxo naquela noite.
— Hum... por acaso vocês são investigadores? — Pepper parecia desconfiada.
— Somos sim, da polícia central. — Jonas sacou um distintivo e mostrou para Pepper, Apolo não sabia se aquilo era verdadeiro ou falso, mas vindo de seu parceiro imprevisível não podia chutar nada. — Meu amigo aqui deve ter esquecido o distintivo dele, cara esquecido...
— É…, acontece — Apolo não acreditava que estava participando daquele teatrinho.
— Ok... esperem um instante. — Ela balançou os cabelos e foi em direção ao jovem.
Jonas riu com a língua de fora para Apolo, o que confirmou que aquilo era falso, logo plugou um fone de ouvido que estava em seu bolso e ambos colocaram atentos para ouvir o som da câmera com a voz do sujeito.
— Com licença moço, posso te ajudar em mais alguma coisa?
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